Antes da Meia-Noite escrita por Vingadora


Capítulo 3
Parte 3 -


Notas iniciais do capítulo

Vocês não fazem ideia do trabalho que deu re-escrever essa parte (risos nervosos).
Eu tive que transformar dia, em noite, acrescentar diálogos, reflexões... Nossa (suspiro) deu trabalho.
Espero que tenha valido a pena.



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Ficamos ali durante um tempo, um encarando o outro. Loki não abaixou sua mão, parecia petrificado ─ assim como eu ─ no momento atual. Seus olhos deixavam transparecer um turbilhão de emoções ainda não ditas. Esperança. Angústia. Solidão. Força de vontade. E, pela segunda vez em um mesmo dia, as palavras fugiram de minha mente. Eu não sabia o que pensar, fazer, dizer. Só conseguia sentir. E o sentimento que se apoderou de mim cresceu aos poucos, a partir do momento em que Loki começou a compartilhar comigo sua história.

Eu iria fazer? Iria perdoá-lo? Conseguiria perdoar?

Mãe, como eu preciso de você agora! Gritei mentalmente, buscando em minhas memórias algum tipo de conselho que servisse para um momento como esse.

Mas, certamente, minha mãe nunca que iria imaginar que um deus nórdico viria a terra para pedir meu perdão.

Dei um passo a frente e segurei a mão de Loki, que acabou se mostrando ainda mais gélida que o vento a minha volta. Apertei seus dedos gelados e tentei forçar um sorriso, que deveria ter saído como uma careta, já que o brilho travesso de Loki apareceu novamente em seu olhar transformando-se em uma máscada disposta a esconder os sentimento que pairavam ali.

─ Eu posso tentar.

─ Acho que, por hora, é o suficiente.

Loki concordou quando eu disse que já era hora de descermos e nos unirmos aos outros. Pelas minhas contas, já faziam longas doze horas desde a minha última refeição. Meu estômago estava implorando, desesperadamente, por comida. O clima pesado entre nos dois pareceu se dissolver no momento em que eu segurei sua mão.

Ele realmente estava arrependido? Esse pensamento rondava minha mente quando pressionei a campainha do apartamento de Jane. A porta foi aberta e Thor ─ o que parecia ser nosso anfitrião ─ nos encarou com aquela imensa fagulha de esperança chamuscando em seus olhos azuis. Seu olhar passeou entre eu e Loki o tempo todo, seus lábios não se moviam, mas eu sabia o que ele queria dizer: E então? Está tudo certo?

Loki soltou um suspiro e ergueu o pulso ─ o do bracelete ─ e deu de ombros.

─ Oh... ─ foi tudo o que Thor conseguiu dizer.

Entramos, tirei meu cachecol e fui direto para a mesa.

─ Onde é que foi parar o macarrão? ─ olhei confusa para a travessa vazia disposta na mesa de jantar.

Darcy e Jane olharam no mesmo instante para Thor.

Bufei e revirei os olhos.

─ Ah, fala sério. ─ resmunguei enquanto caminhava direto para minha mala pegar outro sanduíche que eu havia separado para a viagem.

─ Você foi lá para cima descalça? ─ só depois de Jane ter dito isso que reparei que acabei andando de um lado para o outro com minha meia branca.

Dei de ombros e sorri.

─ O que é uma meia suja a mais para se lavar em New York?

─ Ou Londres. ─ Loki, de repente, soltou o comentário e deixou-o parando no ar até que todo mundo o encarava ─ Que foi? ─ ele nos olhou, um pouco surpreso com toda a atenção ─ Ela bem que podia ficar em Londres, não é mesmo? Foi isso que Jane disse a manhã inteira.

Voltei-me para Jane, um pouco perplexa com a noticia.

─ Verdade, Jane? ─ indaguei. Peguei meu sanduíche e dei uma boa mordida nele.

─ Que é? Agora não acredita em mim? ─ Loki disse ofendido, porém todos o ignoraram.

Jane estava novamente molhando os lábios, procurando palavras em sua mente. Decidida a arrancar a verdade dela, dei mais um passo em sua direção e ergui a sobrancelha.

─ Jane?

─ Ah! Quer saber? É verdade sim! ─ explodiu ─ A tia Ester vive dizendo o quanto você está mal em New York, não saí mais com seus amigos, é obrigada a dividir o mesmo espaço que o Edgar no hospital, se quer passa pela Time's e muito menos perto da torre Stark. Eu me sentia péssima o tempo inteiro em que pensava em você. Presa naquela clínica. ─ ela estava ofegante, irritada e com os olhos brilhando pelas lágrimas formadas ─ Então a tia Ester começou a insinuar que talvez seria bom para as meninas Fosters unirem-se novamente... Dizendo que novos ares fariam bem para você... E eu pensei... Quer dizer... Comecei a pensar... ─ ela apontou para o corredor ─ Até esvaziei o antigo quarto do tio Eric pensando que...

Corri até ela e a abracei.

Jane retribuiu o abraço, quase que amassando meu corpo de encontro ao dela.

Quem é Edgar? ─ ouvi Thor perguntar baixo a Darcy parecendo confuso.

─ Certo, certo. Já chega de assistir essa melação inteira. ─ Loki bufou atrás de nós e foi sentar-se no sofá.

Soltei-me do abraço esmagador de Jane e limpei algumas lágrimas intrusas que resolveram desfilar por meu rosto.

─ Isso é um sim? ─ Jane perguntou, limpando suas lágrimas também.

Dei de ombros.

─ Claro que, antes, vamos precisar conversar sobre essa tralha toda que fica na sala, sobre a sujeira em cima da mesa, mas... ─ um sorriso animado cresceu em meus lábios ─ Acho que posso aceitar ser sua companheira de apartamento.

Jane, dessa vez com o auxilio de Thor, resolveram contar como foi que se conheceram. A medida em que os fatos eram revelados, Loki fazia um ou outro comentário sobre o que se passava no reino de Asgard. Eu absorvi tudo, feito esponja, como se aquela fosse a primeira vez que eu ouvia a história. Hora ou outra Darcy deixava escapar um comentário irônico sobre como foi totalmente estranho ver quatro asgardianos desfilando nas ruas do Novo México.

Para comemorar minha decisão de morar em Londres, Jane preparou outra fornada de macarrão enquanto Darcy e eu jogávamos uma partida de Halo 4. De tempo em tempo eu olhava para Loki e, sem saber porque, sorria. O sorriso era retribuido com outro mais distante, quase forçado. Loki estava incomodado com alguma coisa. Deu para ver isso, porque ele não parava de olhar para seu bracelete vermelho sangue metalizado. Darcy e eu pausamos o jogo para aproveitar o macarrão que tinha acabado de sair, quando Loki e Thor desaparecem no corredor para conversarem a sós.

─ Será que aconteceu alguma coisa? ─ resolvi perguntar enquanto Jane me servia de macarrão.

Darcy trocou olhares cúmplices com Jane, mas nada comentaram.

Bufei, sentindo-me mais uma vez isolada na família.

Enquanto comia calada, resolvi refletir sobre meu momento com Loki no terraço.

Eu ainda tinha dúvidas quanto a confiança.

Mas será que para perdoar é necessário confiar? Uma vozinha soou fraca em minha mente.

─ Será? ─ deixei a palavra escapar.

─ Será o que? ─ Thor perguntou, voltando ao lado de Loki e sentando-se novamente a mesa.

─ O que? ─ perguntei, tentando evitar o assunto.

Thor franziu o cenho e me encarou confuso.

Terminei de comer meu macarrão quando percebi que não sabia qual era o prazo para Loki receber o perdão.

─ Quanto tempo o Loki anda tem para receber o perdão? ─ joguei a pergunta no ar, na expectativa de que alguém a capturasse.

Este foi Thor.

─ Até... Até a meia-noite.

Olhei, pasma para Thor e depois para meu relógio.

─ Mas... só faltam... Um pouco mais que meia hora! ─ eu gritei, exasperada, fazendo a mesa trocar olhares de surpresa com minha ansiedade. Não fazia ideia de que o tempo tinha passado tão rápido assim ─ Precisamos fazer alguma coisa! ─ levantei com um salto e corri para minha mala. Vesti um casaco mais quentinho e encarei Loki ─ Vamos! Vamos na rua e você vai pedir desculpas a todas as pessoas que conseguir. ─ fiz uma pausa ─ Sem revelar, claro, que você é o deus Loki. ─ outra pausa para que eu pudesse organizar meu plano ─ E, se alguém perguntar que roupa estranha é essa. Podemos falar que... Acabamos de sair de uma peça de teatro sobre a ressurreição. ─ Bingo! Era um plano perfeito.

─ Sarah... ─ Jane me chamou ─ Hã... Acho que esse plano não vai dar certo.

─ Claro que vai! ─ fechei minha mala e esperei que algum deles, além de mim, mostrasse esperança e interesse pelo plano.

─ Sarah... ─ Thor trocou olhares com Loki antes de continuar ─ Loki precisa do seu perdão.

E, com toda a certeza, eu poderia afirmar que pela terceira vez em um mesmo dia eu estava sem palavras.

Meu perdão?

─ Sim. ─ Loki pareceu ler meus pensamentos ─ Seu perdão.

─ Mas... ─ eu não conseguia compreender. Por que meu perdão era tão importante assim?

─ Odin escolheu você, Sarah. ─ Loki revelou, por fim ─ Entre todas as pessoas no mundo, ele escolheu você. Foi a única humana que não estava necessariamente envolvida na batalha que eu tive contato físico e verbal. Apesar de, certamente, ter insultado você. ─ ele olhava-me de forma triste ─ E eu sinto muito por isso. ─ sussurrou.

Olhei no fundo daqueles olhos verdes e esperei.

Esperei alguma coisa acontecer, assim como aconteceu no terraço. Esperei algum sentimento tomar conta de mim e permitir que eu perdoasse Loki. Mas não aconteceu.

Frustrada, corri para o quarto de Jane e tranquei a porta atrás de mim. Abaixei-me no chão e, com as porta como apoio, descansei minha coluna e deixei as lágrimas escaparem novamente.

Os pensamentos ruins voltaram e começaram a tomar conta de minha mente novamente. Lá no terraço ele fez parecer tão fácil. Eu senti a conexão com ele. Uma linha fina estava nos ligando naquele momento. Eu sentia o que ele sentia. Conseguia ver o que ele dizia e pensava. Era quase como se fossemos um só. E isso deturpou meus pensamentos. Durante esse curto tempo eu deixei-me levar pelo momento e me esqueci de quem Loki era. Loki era o deus das trapassas. E se isso tudo não passasse de um jogo para ele? E se, no fim das contas, eu o perdoasse e ele voltasse a tentar invadir e destruir meu planeta? E se?

Argh! Eu estava tão confusa! Chutei para longe a minha bota que estava caída logo aos meus pés.

O que fazer? O que fazer?

Suspirei e tentei por meus pensamentos em ordem.

Voltei no tempo mentalmente e refiz meu caminho até esse momento.

Eu estava ansiosa no aeroporto. Com um pouco de receio de vir para Londres e acabar odiando a viagem. Havia gastado uma boa parte da minha economia nessa viagem. Eu havia passado vergonha no metrô, conhecido um taxista simpático e me surpreendido pelo fato de que Jane tinha se esquecido de mim. Encontrei-me com Loki novamente e deixei todas minhas emoções fluírem por um tempo. Acabei desmaiando. Acordei, depois de um tempo e tentei matá-lo com qualquer objeto que encontrei em frente. Eu chorei. Chorei muito. Apavorada com a realidade em que estava vivendo. Ele estava aqui!. Acordei, disposta a ignorá-lo, mas foi só vê-lo que o desejo de matá-lo surgiu novamente. Ele resolveu se desculpar. E, de fato, se desculpou. Compartilhou um pouco da sua vida comigo, deixando transparecer todos os sentimentos oprimidos, talvez em anos. Ele confiou a mim estes sentimentos. E, naquele momento um sentimento curioso tomou conta de mim. Mas o que era aquilo? Compaixão. Eu senti compaixão por aquele homem que fora revelado a minha frente! Eu sabia, no fundo, que ele realmente estava dizendo a verdade. Eu sentia que ele merecia ser perdoado.

Levantei com um salto e abri a porta escancaradamente.

─ Onde está Loki? ─ perguntei, estupefata quando percebi que nem ele, Thor ou Jane estavam na sala.

─ Eles subiram, Sarah.. Já é meia-noite. ─ ela disse as palavras de forma triste e assustada.

Não! ─ deixei o sussurro escapar.

Corri em direção a porta e não parei até conseguir destrancá-la. Subi os degraus da escada depressa, acabei correndo depressa demais com minhas meias e escorreguei no degrau de madeira, batendo com meu queixo no degrau da frente. Dane-se! Pensei enquanto levantava-me depressa e voltei a correr, segurando com mais força no corrimão.

─ LOKI! ─ esbravejei quando abri a porta do terraço.

Ele estava sendo sugado, junto de Thor, lentamente, por uma luz vermelha brilhante que vinha do céu.

─ Loki! ─ gritei e corri até ele ─ Eu perdoo você! ─ gritei, desesperada.

Loki olhou-me confuso, como se não me compreendesse.

─ Ele não ouve você, Sarah! ─ Jane gritou, igualmente em desespero.

Lancei-me na fenda cristalizada vermelha e segurei sua mão que já estava pelos ares.

─ Eu perdoo você, Loki! Eu perdoo você! ─ gritei e percebi que segurava a mão que o seu bracelete estava.

De longe ouvi o Big Ben bater a última badalada da meia-noite.

Um pó caiu sobre minha mão e percebi que era do bracelete.

Um sorriso encantador surgiu nos lábios de Loki após ele dizer:

─ Obrigado, Sarah Foster. Obrigado por me perdoar.

E ele se foi.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado desse especial de Páscoa!
Não deixem de comentar sobre, deixando seu elogio ou crítica :3

Obrigada, obrigada E obrigada.