BOBBY

Olhei atentamente pelo vidro da porta entre a cozinha e a sala, era incomum a visão que se dava por aquele vidro na hora, um moça, muito bonita de cabelos vermelhos e olhos azuis, magra e pequena. Estava atenta a algo da cozinha, não parecia saber exatamente para que as coisas que tinham ali serviam, não pude julgá-la, fora o liquidificador, o fogão e a geladeira, tudo era um mistério para mim também.

– Pode ficar com ela por um tempo? - John perguntou de repente.

Olhei para ele seriamente, e esperei que ele dissesse algo inteligente que o livrasse da situação.

– Está louco?! - Exclamei para ele, jogando as mãos para o alto - Ela não vai ficar comigo aqui, ela nem sabe quem é, deve confiar em você.

– É só mostrar que ela pode confiar em você...- Ele falou imediatamente, não parecia muito emotivo.

– Leva ela contigo - Falei - Os meninos não vão se importar...

Olhei para ele e vi que ele não conseguia me encarar diretamente.

– Ela sabe dos meninos, não?

Ele suspirou profundamente e depois soltou o ar e se largou na cadeira, tomando uma garrafa de cerveja.

– Ela não precisa saber...

– NÃO PRECISA?! - Gritei - Você é um grande imbecil Winchester! É claro que ela precisa saber!

– Não grite, ela vai ouvir! - Ele exclamou para mim.

– Espero que ouça - Tomei um longo gole da cerveja gelada, esperando que aquilo me acalmasse.

– Olha, ela não precisa saber, não vai conhece-los, não vejo necessidade, além disso, ela só vai ficar com você um curto tempo - Ele começou - Eu vou, vejo os meninos e volto. Sem mais.

– Já foi para cama com ela John? - Perguntei mais descaradamente que necessário.

– O que? - Ele disse com um tom extremamente falso - Não! Nem pretendo.

– Foi o que você falou daquela mulher em Chicago - Disse - Dormiu com ela três dias e depois teve que fugir do casamento.

– Como eu poderia saber que a família dela era religiosa? - Ele falou - Se ela transou comigo e a família ficou brava a culpa é dela.

– JOHN! - Exclamei furioso - Você age como um adolescente as vezes, você tinha mais de trinta anos quando isso aconteceu, agora tem 43! Não se pode dar a esse luxo!

Ele parou e pensou por um longo tempo, suspirei e olhei para a menina que estava sentada comendo biscoitos na minha cozinha. Ela não parecia ser o tipo de garota que dá trabalho, e ela era extremamente gentil.

– Posso ficar com ela - Falei revirando os olhos e John se preparou para agradecer - Mas você fica aqui uma semana para ela se acostumar comigo e com você.

– Ok - Ele falou, um pouco tenso pegou o telefone e ligou para os filhos.

– Idjit - Eu falei para ele que arqueou as sobrancelhas e riu.

***

KATRINA

Ficamos alguns dias na casa de Bobby, ele nos recebeu com muita alegria e apesar do que John tinha me falado nos tornamos amigos rapidamente, conversávamos bastante e todos os dias passávamos quase uma hora tentando descobrir o que eu era. Ficamos nesse esquema por quase uma semana e assim me aproximei dos dois, Bobby e John, apesar de descobrir praticamente todo o passado de Bobby, John ainda era um mistério, isso não mudava o cuidado que passamos a te um com o outro.

Após ficar uma semana na casa de Bobby, John falou que tinha um caso a tratar do outro lado do país, esperei que ele me levaria junto, mas pediu que eu ficasse com Bobby, afinal ele voltaria logo. Nesse dia, ele e Bobby ficaram conversando horas e horas na oficina atrás da casa de Bobby, depois de terminarem a conversa, John se aproximou de mim, me deu um beijo no rosto e falou que voltaria para terminar com o meu caso e simplesmente partiu.

Ficamos eu e Bobby na casa, não que tenha sido um problema. Todos os dias ele me ensinava algo novo sobre carros e procurávamos arduamente por algo que pudesse desmascarar o mistério de quem eu era, nenhum dos livros tinha qualquer informação. Depois de uma semana, paramos e desistimos.

– Esperamos John voltar - Bobby falou - E vemos o que fazer, você é um mistério moça.

Sorri torto para ele, John disse que não demoraria muito, mas fazia quase duas semanas que ele tinha partido, ligava todos os dias falando como estava e dizendo que caso estava sendo mais complicado do que esperava, um dia falando com ele jurei ter ouvido a voz de um garoto atrás, ele não falou nada, apenas que podia ser o bar, mesmo assim soube que ele estava mentido, mas decidi ignorar.

Em uma manhã percebi que estava usando as mesmas duas calças jeans há duas semanas e tive que recorrer a Bobby, ele me levou para a cidade mais próxima dali e eu comprei algumas calças e até camisetas, apesar de gostar de roupas largas as do Bobby eram exagero.

– Não entendo por que não se contenta com uma camiseta de pijama que eu te dei - Ele disse enquanto andávamos na unica rua da cidade.

– É porque você é um homem muito grande Bobby e sua grandeza é muito pra mim - Ele sorriu um pouco até perceber que eu o estava chamando de gordo, ri um pouco de sua velocidade e só ouvi "Idjit" imitei seu jeito de falar e rimos juntos no caminho de volta até sua casa.

***

Chegando na casa dele olhei para uma mesinha que nunca tinha notado na entrada, nela havia algumas fotografias que me passaram desapercebidas, três na verdade, uma de Bobby com um homem negro e alto, tinha um rosto simpático, mas dava a impressão de ser um pouco rabugento, estavam abraçados e ao lado deles John que sorria sem graça para a câmera, estava mais jovem e não parecia muito feliz. A outra foto era de uma mulher, muito bonita, loira com um vestido mais antigo e um colar de prata que parecia ser daqueles que se guardava uma foto dentro, com certeza era a falecida esposa de Bobby, a última foto foi a que me chamou mais atenção.

Eram dois garotos, um de dezesseis e o outro de doze, aproximadamente, eram garotos bonitos, mesmo sendo novinhos, o mais novo era baixinho e magrelo, mas passava um ar esperto que faltava no outro, esse parecia narcisista, e sua pose me fazia rir.

– Bobby! - chamei ele.

Escutei um murmúrio de resposta na cozinha, senti o cheiro da comida dele e sorri antes de continuar.

– Quem são os garotos da foto? - Escutei um barulho de vidro se quebrando na cozinha e um "Bolas!" vindo do mesmo lugar, corri para ver o que tinha acontecido - Bobby?!

Ele tinha derrubado a garrafa de cerveja e escorregado no chão molhado, parecia estar indo em direção a entrada, a cena me fiz rir um pouco, fui andando na direção dele e dei a mão para ajudá-lo a levantar.

– Você está bem? - perguntei e vi ele assentindo para mim enquanto colocava a mão na parte de trás do quadril, massageando para ver se melhorava a dor do tombo.

– Onde viu esses garotos? - Ele perguntou com a voz meio torta e dolorida, continuei rindo de sua situação enquanto respondia.

– Tem uma foto deles na entrada.

Ele pensou por um tempo e ficou me observando antes de responder.

– Dane-se, faz quase um mês que ele viajou - Ele falou do nada e me fez arquear a sobrancelha - São os filhos de John.

Inexplicavelmente eu me senti gelas, um calafrio percorreu a minha espinha e meu estômago embrulhou.

– Desculpe não ter contado - Bobby falou - Ele pediu, para não te preocupar.

– Bobby - Eu falei, estava com muita raiva do John naquela hora por não ter me contado, vi ele levantar a cabeça em resposta ao meu chamado - Me fala mais, sobre o John.

Ouvi um suspiro de Bobby e me sentei na sua frente, para ouvir.