Depois do amor escrita por Hana


Capítulo 9
Lia.


Notas iniciais do capítulo

Presente.



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Sinto a luz quente e viva do sol passar pelas cortinas do quarto de Lia, me reviro no colchão mais de três vezes até finalmente perceber que não vou conseguir voltar a dormir, por mais que o sono esteja me matando. Coloco as pernas para fora da coberta e levanto os braços pra cima, me espreguiçando.

_ Conseguiu dormir? - Indaga Lia, que estava deitada na sua cama logo acima de mim.

Encosto minha cabeça no travesseiro novamente, e a olho com preocupação: _ Consegui. - Digo. - Mas pelo visto... - Olho para o relógio em uma das paredes do quarto cor de rosa, lá marcam 7h45. - Só dormi umas duas horinhas desde que chegamos.

_ Eu não pisquei o olho. - Completa ela, e força seus lábios a se contrair, sinal de que quer chorar.

_ Quer conversar? - Digo.

_ Eu estou com medo, Amanda! - Diz ela, e me olha com o rosto calmo, sem expressões, mas vejo o desespero em seus olhos. - Eu deveria entrar na faculdade ano que vem, curtir minha juventude, ter tempo para cuidar apenas de mim... Não de um bebê! Eu não acredito no que aconteceu.

_ Li, - Digo, o mais calmamente que consigo. - Você tomou a pílula do dia seguinte, vai ficar tudo bem! Vamos pra faculdade e ainda ter muito tempo pra curtir. E logo tudo o que você passou vai ser esquecido, eu prometo.

_ Não, Amandinha! - Diz ela, um pouco mais alto do que deveria. Em seus olhos brotam lágrimas que não consegue conter. Ela coloca a mão na testa, como se tentasse tirar as ideias que a deixavam tão preocupada de lá. - Já é a sétima vez que eu tomo, você sabe disso! E já não basta eu ter sido... - Ela fecha os olhos e deixa as lagrimas rolarem. - E agora, ainda tem essa preocupação! - Sua voz quase some.

_ Li, do que adianta você ficar se torturando? - Levanto-me do colchão, e sento na cama dela. Tiro suas lagrimas do caminho e tento acalma-la. - O que tiver de ser será. O que já aconteceu é passado, você ainda tem muito tempo pela frente e eu nunca mais vou me descuidar de você. Eu entendo que seja difícil piscar o olho depois de tudo isso. Mas ele vai se arrepender, Li, e você ainda vai esquecer tudo.

Lia não responde, só me olha nos olhos e concorda com a cabeça.

_ Agora, tenta descansar, e esquecer o que aconteceu ontem. - Completo.

SÁBADO.

Foram poucas as vezes que corri tão rapidamente quanto na noite da festa, passava pelas pessoas como um jato e nem me importava com os meus saltos.

Ao chegar na casa onde a maioria dos organizadores ficavam, já gritei:

_ Onde a minha amiga está?

As meninas e meninos ali rindo e conversando, fumando e bebendo, pararam no mesmo momento o que estavam fazendo e olharam para mim com desgosto. O menino de cabelo enroladinho que deixou Lia entrar antes na festa se aproximou de mim e depois olhou para cima, atrás de mim:

_ Cara, ta procurando a Lia? - Disse ele. Então eu percebi que em todo esse momento Fernando estava bem atrás de mim.

_ É, mano, você sabe onde ela tá? - Respondeu ele.

_ Ela saiu do quarto agora a pouco, estava chorando, irmão. Mas calma o Léo foi atrás dela. - Era como se eu fosse totalmente invisível aos olhos daqueles babacas.

_ Calma? - Disse eu. - Ele deve ter feito algo pra ela! Como vou ficar calma com isso?

_ Ou, calminha ai, moça. - Disse ele, agora olhando pra mim. - O Léo não é nenhum sacana não, relaxa!

Mas mal pude responder ou ouvir o final da frase, pois saí correndo para fora, olhando para todos os cantos a procura da minha amiga. As luzes coloridas me davam dor de cabeça, e eu comecei a sentir o frio da noite. Perto de uma arvore qualquer no jardim, lá estava um cone laranja com a cabeça abaixada chorando, e um moço vestindo uma camisa rosa, tão chamativa quando o vestido de Lia, tentando acalma-la.

_ Ei! - Disse Fernando atrás de mim, muito mais alto do que eu pensei que ele conseguisse falar. - Tá maluco, tio? Sai de perto da minha irmã agora!

E quando eu pude perceber Fernando já estava muito a minha frente segurando a blusa de Léo com os punhos cerrados. O cone rosa, por sua vez, tentava acalmar o até então amigo, mas Fernando não deve ter escutado nem mesmo uma palavra porquê meteu um soco certeiro no rosto de Léo.

_ Não! - Disse eu, enquanto corria para apartar a briga. - Fê, se toca! - Disse, entrando na frente dele, mas o menino mal conseguia me ver, só tinha olhos para seu inimigo que agora estava no chão com o rosto sangrando. - Fê! - Gritei, e segurei seu rosto com as duas mãos. - Foda-se ele, Fê, foda-se! O importante é a Lia, caralho!

Então Fernando escutou o que eu disse, e com uma feição assassina concordou com a cabeça. Logo corri e me abaixei ao lado de Lia, e disse preocupada:

_ Li, o que aconteceu? - Disse, preocupada sem saber aonde segura-la.

_ Amanda, graças a Deus. - Disse ela. - Me tira daqui, vamos embora, agora!

E assim fizemos. Fernando insistia e pega-la no colo, mas ela gritou com ele e disse que estava bem para andar. Peguei sua mão e fiz o possível para arrasta-la para longe do grupo que havia se formado em volta de nós por causa da briga. Andamos até o carro de Fernando, e quando ela entrou disse:

_ Eu transei com ele. - Disse, com os olhos molhados, mas uma certa calma existia em sua voz.

_ O quê, sério? - Retrucou Fernando, com ódio. - E é por isso você esta chorando, caralho? Se toca Lia, eu bati naquele otário por nada?

_ Vai se foder, Fernando! - Retrucou ela. - Eu não queria dar para aquele palhaço!

_ O quê, como assim? - Disse eu, preocupada.

_ Antes da gente vir pra festa, os meninos passaram na adega pra comprar bebida. - Disse ela, aos soluços. - O Léo estava lá.

_ Eu sei, eu também estava. - Respondeu Fernando, com ódio. - E o que tem demais nisso?

_ Então, enquanto vocês estavam feito maricas demorando meia hora pra comprar a porra de uma vodka, Léo me ofereceu um baseado. - Continuou ela. - Eu pensei que era só maconha, mas depois que eu fumei, eu viajei demais! Eu me sentia dormente, e mal conseguia manter os olhos abertos. Foi totalmente estranho. Horrível!

_ Tava misturado. - Completei.

_ Claro que estava. - Disse ela. - Aquele canalha achou que eu ia continuar bebendo até o final da festa, e que eu só tinha a piorar. Mas graças a Deus vocês vieram comigo, e não me deixaram beber mais. - Ela fez uma pausa, e seus olhos começaram a molhar e sua voz a fraquejar. - Eu melhorei, a brisa já tinha passado fazia bastante tempo. - Ela parecia tão desacreditada no que estava falando, como se não conseguisse entender como isso foi acontecer, e que se mudasse uma bobagem a alguns minutos atrás tudo voltaria a estar bem. - Quando você brigou com aquele babaca a saio na balada, Léo veio falar comigo. Eu estava tentando conversar com ele, mas a música estava muito alta e ele não me escutava, só dizia "vamos para um lugar comigo", "vamos para dentro da casa". E eu fiquei tão irritada com aquela repetição, que resolvi ir... - Agora, ela parecia envergonhada, como se tivesse culpa. - Ele me levou pro quarto e eu comecei a falar com ele, mas ele não queria conversar e já foi me beijando, eu sabia o que ia rolar, mas ele simplesmente me agarrou no primeiro momento que chegamos lá e começou a tirar minha roupa e... - Ela segura o choro. - Eu queria ficar com ele, mas quando ele começou a forçar eu... Eu... Não sei o que deu em mim, eu fiquei com nojo. - Disse ela, já chorando.

_ É claro que você ficou com nojo, por Deus, Lia! - Disse eu, horrorizada.

_ Ai eu comecei a mandar ele parar e sair de cima de mim, eu comecei a ficar com medo e assustada, mas ele... Ele... Ai meu deus! - Ela falava, chorando. - Ele enfiou mesmo assim. - Ela suspirou. - Eu deveria ter gritado, mas eu fiquei sem reação, envergonhada. Eu queria que ele parasse e eu falava "por favor, me deixa sair, por favor, eu não quero!" mas ele só falava pra mim calar a boca, falava que eu estava bêbada e não me lembraria de nada. Mas é ele quem estava!

_ Lia... - Disse eu, com os olhos cheios de lágrimas, mal pude acreditar que minha amiga havia sido estuprada ali embaixo dos nossos olhos, e nós não pudemos fazer nada para tira-la de lá.

_ O que? Lia, POR QUE VOCÊ NÃO GRITOU POR AJUDA? - Disse Fernando, aos berros. Quando olhei para os seus olhos, parecia que havia fogo saindo por eles. Seus punhos estavam cerrados e a pior feição que já vi nele até então.

_ Fernando! - Disse eu, já cansada de ouvi-lo colocando a culpa em Lia. - Você não é nenhum ignorante que eu saiba, então pare de agir como tal. Por Deus, é tão difícil entender que sua irmã acabou de ser estuprada? E que jamais a culpa será ou foi dela! Em nenhuma circunstancia!

_ Eu vou matar aquele filho da puta! - Respondeu Fernando, com os olhos assassinos.

_ NÃO - Disse Lia, sentada no carro. E com lagrimas nos olhos, ela pediu. - Eu só quero ir pra casa, por favor Fernando, pelo amor de Deus eu quero ir pra casa, eu quero esquecer tudo isso, eu quero... Esquecer.


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Notas finais do capítulo

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