Depois do amor escrita por Hana


Capítulo 7
Recomeço.


Notas iniciais do capítulo

Presente



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Mas, eu falando tanto assim, desabafando, quase me esqueci de Ian. Acho que o começo já esta contado, sobre como eu fique 2 anos sem nenhum amor próprio. Os nossos primeiros 6 meses foram apenas uma pequena amostra do modo com Ian fazia as coisas. Eu achava, claramente, que ficaria com ele pro resto da minha vida. Que seriamos felizes para sempre, teríamos a mesma profissão e 2 lindos filhos. Bullshit! Foi difícil, demorou muito até eu perceber que eu conseguia me amar mais do que amava ele. Depois de ele sair sem avisar, terminar por besteira, me esconder coisas e pessoas, trair, destratar... Eu consegui dizer:

_ Estou indo embora!

Foi um pouco antes das aulas acabarem no segundo ano. E depois, durante 3 meses tive que aguentar suas mensagens de "volta pra mim" "eu te amo". É claro que eu não voltei, e ele mudou de escola, foi embora pra bem longe de mim! Uma vez meu pai me disse que há males que vem para o bem, e eu acredito que esse tenha sido um desses. Só que, na real, é complicado gostar tanto de um filho da puta.

QUINTA-FEIRA.

Acordei naquela manhã chuvosa de quinta e pensei em ignorar o terrível som do despertador e voltar a dormir. Mas, infelizmente, a ultima prova daquela semana seria aplicada exatamente nesse dia, então fui saindo debaixo do meu cobertor rosa com uma terrível vontade de chorar.

_ Amandinha, você vai querer comer o que? - Pergunta Ana, a empregada do meu pai.

_ Não estou com fome não Ana, obrigada. - Disse, descendo as escadas e pegando minha mochila azul, que era apenas alguns tons mais clara do que o azul do meu uniforme.

A caminho do ponto de ônibus, coloquei minha playlist no aleatório, esperando me surpreender com alguma musica inspiradora, mas só pude ouvir a batida viciante de "Shake it off". Já embarcada, e milagrosamente sentada no veiculo à caminho a escola Neupocentro, vi um menino incrivelmente gato entrar. Suspirei levemente e sem ao menos perceber arrumei minha franja, um ato totalmente automático. Ele passou pela catraca, e seu cabelo preto recém cortado brilhou a luz cinza daquele dia. Seus olhos, castanhos, foram rondando a procura de um lugar no ônibus, seguida de uma cara triste por não encontrar nenhum.

É, é uma pena. É uma pena que nós não tenhamos um roteiro do nosso dia, lá eu saberia que ia me encontrar com esse gato hoje de manhã, até acordaria mais cedo e passaria um corretivo nas olheiras, um rímel para ressaltar meus olhos que com esse tempo deveriam estar cinzas, e não verdes. Tentaria até usar uma calça jeans e não esse moletom feio e azul marinho da escola... É, é uma pena.

O moço bonito, que eu apelidará de Rafael, por ter cara de Rafael, ficou em pé bem ao meu lado. Eu não ousei olhar para cima, mas a todo momento tentava parecer legal de algum modo para chamar sua atenção, mesmo sabendo que paixões de ônibus morrem aonde nascem: em nossas mentes. Puxei o celular do bolso e coloquei uma musica que eu considerada cool, "Take to church", e pensando que isso o faria pensar "uau essa menina deve ter um ótimo conteúdo". Ficava olhando pela janela com aquela cara de "vida difícil, vários problemas, mas tamo ai seguindo o mundão". Mas por mais que eu tentasse, Rafael não se manifestava nem mesmo com um olhar.

Poxa... Eu já tinha planejado tudo Rafael! Como seria nosso casamento na praia; Nossos filhinhos, um moreno e um loiro, Cloe e Sebastian; O dia em que eu abrir meu restaurante na Barra da Tijuca e você falar que sente muito orgulho de ser meu maridinho; Ou também, quando viajarmos para o Egito conhecer as pirâmides, eu já tinha em mente as poses certinhas para postar no Instagram. Poxa, Rafa!

Então, no meio da foto com a Esfinge, o bendito Rafael aperta o botão do ónibus. Só me resta um suspiro, até ele descer e nós nunca mais nos vermos.

QUINTA-FEIRA

_ Tem uma festa pra nós irmos nesse sábado. - Diz Lia, enquanto arruma seu cabelo que vai até a bunda. - A festa do Leo Vieiro, ele mesmo me convidou e mandou eu chamar os amigos.

_ Hum... Léo Vieiro é? - Diz Jhonatan - Já quer te pegar pelo jeito.

Lia ri enquanto se olha no espelhinho portátil que ela nunca desgruda, com um ar malicioso: _ E vai pegar. - Diz.

_ Como você consegue ficar com caras mais velhos? - Pergunta Sarah, sentada ao meu lado.

Estávamos no horário do recreio, e enquanto eles falavam sobre a festa eu só conseguia pensar no fracasso que eu tinha sido da prova de matemática. Nossa escola tinha acabado de ser reformada. Tinha um pátio grande, com bancos de cimento e um gramado bem cuidado com flores minúsculas. A quadra da escola era toda fechada, junto com a piscina que só era usada pelos alunos de natação. No andar de cima, ficavam as várias salas de aula e laboratórios de biologia e informática. Nos dias de sol gostávamos de deitar na grama e aproveitar nossos queridos 20 minutos de recreio. Mas como hoje chovia, e não pouco, nos escondemos atrás do banheiro sem a menor importância, mesmo sabendo que as vezes ainda aparecia um casalzinho do primeiro ano com a intenção de dar uns pegas naquele espaço, e ao dar de cara com nós, voltavam envergonhados e provavelmente decepcionados para o pátio. Mas o que poderiam fazer? Nós erámos os veteranos e podíamos sim escolher qualquer lugar pra passar o recreio. Eles que esperassem!

_ O Léo não é exatamente mais velho, Sah. - Respondeu Lia, guardando o espelho no bolso da calça jeans. - Ele só não é mais adolescente.

_ Qual é, Lia. - Retruquei me intrometendo. - Ele já passou de ser "só não é adolescente", o cara já tem 27 anos!

_ Imagina só sair com um cara de 27 anos, ele deve saber muita coisa que a gente nem imagina. - Disse Sarah.

_ É como se nós ficássemos com alguém de 10. - Disse Jonathan, fazendo todas nós rirmos.

_ Pode até ser bem mais velho que eu. - Disse Lia. - Mas eu realmente não ligo, pelo contrário, gosto muito! Já não me agrada mais esses pirralhos de 17. Quero dez anos a mais de experiência. Será como um professor.

Sarah continuou colocando seu ponto de vista, falando que passaria vergonha se saísse com um cara bem mais velho. Mas se Lia acredita que consegue, vá fundo!

_ Gente, eu estava pensando. - Disse eu, mudando a conversa. - Eu devo estar muito mal aparentemente.

_ Porque diz isso, querida? - Perguntou Lia.

_ Bom, hoje tinha um menino muito gatinho no ônibus sabe, e eu fui tentar flertar com ele, mas o moço sequer percebeu que eu estava ali. - Disse. - Vocês acham que Ian fez macumba pra mim?

Jhonatas riu e disse: _ Que besteira! Você é linda, totalmente linda. Loira, alta, magra, com esse seus olhos verdes. Quem não ia querer te pegar?

_ Besteira mesmo, Amandinha! - Disse Lia. - Isso acontece tanto comigo. E talvez ele tenha olhado e você não percebeu.

Já Sarah, teve uma opinião mais séria: _ E por acaso as pessoas tem que olhar sempre que você passa?

_ Obviamente não! - Respondi, um pouco magoada. - Mas é sempre bom ser notada.

E eles continuaram falando, balbuciando como desocupados. Normalmente eu sempre presto atenção nas conversas, por mais vazias e insignificantes que sejam. Mas mal conseguia ouvir Sarah defendendo seu ponto de vista sobre como as pessoas são exibicionistas demais hoje em dia. E Lia, por sua vez, achava mais do que natural. Eu estava apenas longe, talvez perdida em ideias que me importavam demais, mas não deveriam. Eu só queria saber se eu ficaria por muito tempo assim, tão só.


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Notas finais do capítulo

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