Depois do amor escrita por Hana


Capítulo 11
Nunca Fiz Isso Antes.


Notas iniciais do capítulo

Presente.



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Acordo na manhã de terça-feira me sentindo um trapo. Meu corpo dói, minha cabeça lateja e minha vontade de sair daquela cama é zero, mas essa ultima parte eu sinto todas as manhãs. Checo meu celular e vejo uma mensagem de Jhonatan: "Escola hoje, vc n pode faltar mais"

"Estarei lá :(" Respondo.

Quando minha cabeça está vazia de problemas, eu consigo me concentrar muito bem nas coisas ao meu redor. Mas quando um pensamento me atormenta, eu viro um tipo de robô, ou também uma criança de 10 anos que não consegue simplesmente atravessar a rua sozinha. Por exemplo nessa manhã em que eu quase fui atropelada por um Sienna prata, que ainda teve a cachorra de falar:

_ Olha por onde anda!

Parecia que aquele dia não seria assim tão fácil, não é mesmo.

Quando finalmente cheguei ao colégio, vi Sarah e Jhonatan. O tempo estava nublado novamente, mas muito mais confortável e gostoso do que semana passada. Conversamos sobre um milhão de coisas, e um milhão de pessoas (em sua maioria desconhecidos) chegaram em nós para perguntar o que havia acontecido com Lia. Pude apenas falar que estava tudo bem, que ela estava ótima e a justiça faria sua parte. É claro que menti, em todas as partes.

Tivemos aulas chatas de biologia, e eu tentei não me perder em sua matéria, tal que eu tinha muita dificuldade. Queria saber porquê as coisas não poderiam ser tão simples quanto matemática.

Passamos o recreio no canto dos amassos, atrás do banheiro feminino. Quando chegamos, Sarah disse:

_ Cara, acho que vai ser difícil prender aquele filho da puta.

_ É eu queria saber como andam as coisas. - Disse.

_ Bom, eles marcaram um julgamento. - Disse Jhonatan. - O pai de Lia tem seus esquemas, ele vai conseguir sim colocar aquele canalha na cadeia.

_ OK, os pais de Lia tem os esquemas, mas o pai de Léo é irmão do juiz. - Disse ela. - E agora?

_ O que? - Disse eu, sem acreditar. - Isso é contra a lei, colocar um parente para julgar o caso. É errado! Eles precisam mudar isso!

_ Amanda, muita coisa nessa vida é errada, e contra lei. - Disse ela. - Mas elas continuam acontecendo, porquê quem tem dinheiro, tem poder.

_ Que... Merda! - Disse eu. Bloquei o resto da conversa de tanta raiva que fiquei. Aquele canalha deveria ser preso sim! E só porquê sua família está no meio da justiça ele vai ficar imune mesmo depois de cometer um crime tão grave! Quanto mais eu crescia, mais eu descobria sobre esse mundo, e não me agradava nem um pouco.

TERÇA-FEIRA.

Quando estava saindo da escola, coloquei meu fone de ouvido e meu moletom cinza com cordas brancas, que mesmo não sendo uniforme da escola, era a blusa que eu mais usava no mundo, até mesmo no calor. Sarah ia embora de carro com seu pai, porquê morava praticamente do outro lado da cidade. E Jhonatan pegava o metro para o outro lado. Então eu sempre ficava sozinha na hora da saída. Enquanto passava pelo portão de ferro, tive uma surpresa. Lá estava Fernando, parado em pé perto do seu Gol preto, olhando para mim com uma feição séria. Eu me perguntei se eu deveria ou não falar com ele, até que decidi ir lá pelo menos para dar um oi e perguntar o que ele estava fazendo ali.

_ Lia não está vindo pra escola. - Disse, sorrindo. - Para sua informação.

Ele deu um sorriso de leve, e virou a cabeça para o lado. Ele estava usando uma calça jeans preta e um casaco preto e vinho nas mangas. Suas mãos estavam no bolso, e seu olhar estava meio perdido.

_ Vim te ver. - Disse ele brevemente.

Subiu um ar quente pela minha espinha, e aquela ânsia tremula de nervosismo. Mas continuei muito calma aparentemente, mantendo a compostura. Foi nesse momento que eu percebi meu cabelo desgrenhado, meu moletom velho e minha cara sem maquiagem. Novamente só pude pensar: Ei! Eu posso fazer melhor, você sabe disso, viu na festa! Minha única sorte era de estar usando minha calça jeans em vez do moletom escolar.

_ Que surpresa. - Disse, sem saber o que falar. - Surpresa. - Repeti, e imediatamente me perguntei o porquê eu havia repetido aquela palavra.

_ Eu só queria conversar um pouco, quer entrar? - Disse ele, parecendo muito natural, eu queria saber como ele consegue fazer isso sem gaguejar ou falar besteira. Talvez ele não esteja flertando, é por isso que é tão fácil.

Entrei no carro, mesmo sabendo que perderia o ônibus e teria que esperar 40 minutos até o próximo.

_ Bom... - Disse. - Eu fiquei sabendo sobre Léo ser sobrinho do juiz que vai acompanhar o caso, e eu...

_ O que? - Disse ele, e parecia realmente surpreso. - Eu não sabia disso.

_ Não? Eu pensei que você veio falar sobre isso comigo, eu pensei que sabia, a nossa...

_ Não, eu vim dizer que... - Disse ele, mas percebeu que o caso do juiz era importante então disse. - Mas perai, me conta isso direito.

Então eu contei para ele a pouca informação que eu havia adquirido naquela manhã de terça-feira.

_ Filho da puta! - Disse ele, batendo bruscamente no volante.

Eu estremeci. Fernando era muito legal, mas ele também tinha um temperamento horrível, de um verdadeiro ogro. E aposto que se não fosse irmão de Lia estaria por ai falando que a culpa foi da menina, e não de Léo. Mas tudo bem, eu preferi deixa-lo extravasar.

_ Desculpe. - Disse ele. - É que eu... Eu não suporto mais essas pessoas doentes e nojentas que vivem por dinheiro, que acham que podem fazer o que querem só porque tem algum poder e nome. Eu não suporto nem olhar na cara dos meus "amigos", eles todos são uns ignorantes babacas! - Disse ele, tudo tão rápido. Parecia que ele precisava falar o que sentia, e achou um momento. - Você acredita que o Nelson chegou em mim e disse que minha irmã deveria parar de querer mais problema pra cabeça dela envolvendo a justiça já que a culpa é dela de ter provocado o Léo? Eu quebrei a cara daquele desgraçado! Ele que não se atreva a olhar mais na minha cara, filho da puta!

Mal sabia o que falar, e mesmo assustada eu coloquei a mão em seu ombro e disse:

_ Fê. - Comecei. - Minha mãe, ela era vista como uma mulher... Fácil pelos homens, um pouco antes de começar a namorar. Todos falam pelas suas costas, que ela não tinha valor ou moral. Mas sabe o que ela fazia? Ignorava. Era difícil, e ela teve que passar muitos anos ignorando comentários e vivendo a vida do modo que ela achava certo. Porquê por mais que cem pessoas digam que ela não deveria sair com vários homens, ela acreditada que não tinha problema algum nisso e era o que a fazia feliz. E ela só acreditava na verdade dela. Podem ter cem, mil ou um milhão de pessoas falando que a culpa é de Lia, mas você deve acreditar na sua verdade, e eu tenho certeza que a sua verdade é que Lia não fez nada para merecer isso, nunca. - Eu respirei um pouco, pensando se o fiz entender ou o confundi ainda mais. - Bom, ela arrumou um namorado muito legal hoje em dia, que gosta muito mesmo dela. O tempo passou, e as pessoas não a chamam mais de vadia. Lia vai ficar bem, eu prometo.

Ele olhou para os meus olhos, e sua raiva pareceu ir embora, esvair-se de seus olhos castanhos e brilhantes. Então ele se aproximou de mim, e eu continuei focando em seus olhos, e seus olhos, na minha boca. Ele se aproximou, e foi chegando perto, até finalmente colar seus lábios nos meus. Nós nos beijamos, e foi tão sútil, quase doce e sereno, parecia que estávamos nos consolando de algo. Ele passou sua mão pela minha cintura, costas, coxas, peito. Parecia dançar por entre minha roupa, descobrindo pequenos pedaços de pele. Diferente da primeira vez que ficamos, que foi tudo tão estranho e rápido. Mas eu tive que sair daquele beijo tão maravilhoso, tive que sair do pequeno tempo de sonho.

Eu desgrudei a boca da sua, e ao olha-lo de tão perto, não fiquei envergonhada ou embaraçada, me sentia bem porquê ele me olhava como se eu estivesse bem.

_ Eu vim te falar um coisa. - Disse ele, dando aquele sorriso malicioso e infantil ao mesmo tempo.

_ Pode falar. - Eu disse.

_ Bom eu andei pensando. - Disse ele. - Muito, aliás, sobre muita coisa. E é a primeira vez que eu faço isso, então, não se assuste, ok?

Um milhão de ideias vieram a minha mente. Em sua maioria ele tentaria ficar comigo e não deixar ninguém ficar sabendo, tipo naqueles filmes que um dos personagens gosta do outro mas tem vergonha de deixar as pessoas sabendo.

_ Ok... - Disse.

_ Se você não for fazer nada, no domingo, porquê sábado é a audiência, assim, você tipo, não queria ir no cinema comigo? - Disse ele, e sorriu, mostrando seu sorriso com dentinhos.

Eu fiz uma careta, e ri também. Era estranho ouvi-lo me convidando para ir no cinema, porquê nós já fomos tantas vezes.

_ Só nós dois, eu quis dizer. - Completou ele.

_ Ahhhh sim, entendi. - Disse. - Tipo um encontro?

_ É! - Disse ele, rindo, parecia embaraçado. - Tipo um encontro.

_ Domingo... - Fingi pensar no que ia fazer domingo. - Tenho que analisar minha agenda, mas sim, vamos sim. - Sorri.

_ Que ocupada! - Riu ele. - Ok, é que, bom, desde que a gente ficou eu ando pensando nisso e sei lá, eu nunca fiz isso.

_ Tudo bem, Fê - Disse, tentando deixa-lo menos nervoso. - É divertido, tem pipoca e filme. E se ficarmos sem conversa não precisa falar nada já que... Bem, né, o filme e tal.

Ele riu: _ Claro! O filme.

Nós nos olhamos, e ficamos em silencio. E a única coisa que eu conseguia pensar era: WHAT THE FUCK. Mas um sorriso de fofinha não conseguia deixar minha boca.

_ Bom, eu tenho que ir, se não perco ônibus - Já perdi. - sabe como é né. - E abri a trava do carro.

_ Não, Mandi, não. - Disse ele. - Eu te levo, não tem problema nenhum, é aqui pertinho.

_ Tem certeza. - Sorri.

_ Absoluta! - Respondeu ele.


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Notas finais do capítulo

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