-The Next- Fairytale: The Fantasy escrita por Rausch, The Next


Capítulo 4
Capítulo 3 - Contos de Humanos


Notas iniciais do capítulo

Eu, particularmente, amei escrever este capítulo. Espero que vejam as fadas com outros olhos.



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Saímos correndo do lugar, Violet a me puxar com força pelas ruas. Seria idiota ainda estar pensando em seu primeiro beijo estranho? Não sei. Duas imagens não me deixavam a mente. O beijo e a imagem do objeto se espatifando ao chão, tão simples, tão fácil de quebrar. Será que as pessoas tinham visto o que vi? Porque se tivessem, haveriam muitos como eu estava. Nada revogava a expressão de medo que a ruiva ostentava em seus belos contornos faciais. Quando ela dizia sobre sentir algo estranho, ela não era a única. Eu senti também, e foi naquele beijo.

Terminamos batendo na praia, o mesmo lugar em que estivemos antes. Deserta. Conseguimos diminuir a velocidade da corrida ao ter areia em nossos pés cansados. Violet respirou tão forte quanto eu. O álcool ainda parecia fazer efeito, quando gentilmente ela tocou minha têmpora e disse algo num idioma diferente. A língua doce, porém chamativa e capaz de te fazer querer assistir sua pronuncia. Foi como se toda a bebida nunca tivesse existido em meu corpo. Continuamos caminhando, mesmo que sem a pressa de esconder-se. Ao estarmos longe o bastante de qualquer lugar familiar naquele dia, cai na areia sentado. Cansei.

– Me desculpa, Violet. Eu não aguento mais. – Os cabelos suados, as pernas sem conseguirem se mexer. Nem mesmo sabia do que estava fugindo.

– Me desculpe também por isso, foi demais mesmo. – Ela disse de pé. Vio colocou os cabelos cor de fogo para trás – Havia uma força naquele lugar, que estava acima de mim mesma.

– Quando vai parar com isso de fadas, Vio? Já passamos da idade. – Falei.

– Quando vai entender que não há uma idade certa para deixar de acreditar? – Ela me encarou fixamente, olhos nos olhos.

Meu rosto caiu em minhas mãos e inspirei profundamente o ar. Além de estar desconsertado pro toda a situação, já não aguentava mais a mesma ladainha da minha amiga. Queria voltar para o orfanato e descansar a cabeça no travesseiro velho, porém meu. Nada era mais meu do que as coisas velhas que juntei no decorrer da vida, mas que me eram mais fiéis do que as pessoas. Violet aproximou-se de mim e sentou-se à minha direita. Ombro com ombro.

– Como é não ter uma família? – Ela me pegara de surpresa com uma pergunta tão singela, mas jamais feita por ninguém.

Devia ter respondido aquilo umas mil vezes sem precisar da pergunta, já que eu mesmo o fazia.

– É um vazio, como um pote de doce vazio. – Ela olhou sem entender – Quando temos um pote de doce cheio, ficamos felizes que ele está cheio, mas quando está vazio é apenas um pote, apenas existe. Ele não tem valor nenhum. É acordar todos os dias para olhar na janela do instituto e ver o sol nascer, sabendo que para outras crianças ele traz a mãe que a acorda animada para levar na escola, com um delicioso café esperando, e saber que aquilo nunca vai ser seu. É não ter ninguém para você no mundo e ao mesmo tempo ter um mundo inteiro só para você. – Conclui ao olhar as águas irem e virem. A lua iluminava tudo – Por que está me perguntando isso?

– Porque a minha família inteira está morrendo, meu povo. Em breve eu vou ser como você, ou talvez morra com eles. – Ela comentou ao olha de lado para mim – Pode ter motivos para não acreditar em nada, no entanto, preciso que venha comigo.

– Violet, olha... – Sou interrompido por ela. Ela colocou o indicador em meus lábios e ficou de frente para mim. Sentou-se naquele lugar – Nunca notou nada estranho em você? Uma marca? Coisas estranhas? Nada?

Marcas, foi em tudo que consegui focar na frase dita pela ruiva. Senti vontade automática de tocar no que deveriam ser feridas, logo nas minhas costas. Me contive, olhei para ela. Não disse nada.

– Aster, veja, vou te contar uma história.

– Vai começar com “era uma vez”? – Perguntei.

– Não exatamente. Era uma vez só existe neste mundo, foi uma sigla criada para causar impacto e chamar atenção. Vai aprender uma hora. – Ela cruzou as pernas em posição de yoga e colocou as mãos em cima dos joelhos de lado – Numa terra distante, certa vez uma princesa das fadas foi parar. Haviam duas princesas em nosso mundo, filhas do grande casal, eram Ekaterina e Lyra. Duas princesas muito bonitas. Não havia anda tão belo quanto qualquer uma delas. As fadas irmãs possuíam personalidades totalmente diferente uma da outra, apesar de manterem uma cumplicidade invejável. Ekaterina era mais rígida, a mais séria, queria ser Rainha desde criança. Lyra era doce, gostava do povo e de viver entre os mais pobres. Lyra era uma aventureira, o que não agradava à irmã, principalmente quando ela decidiu visitar o mundo real. Ela não era uma fada madrinha para isso, apesar de ser da realeza. Os pais foram contra a ideia dela, todavia, eis que cederam depois. E foi nesta viagem ao seu mundo, que Lyra conheceu George, um humano. E o que os contos de fadas descrevem como amor verdadeiro, aconteceu com uma fada, da maneira mais estranha que poderia acontecer.

O jeito sonhador e maravilhado com o qual Violet narrava os fatos, fazia com que eu quisesse realmente saber como aquela história terminava. A ruiva vivia naquela realidade, pelo menos em seu pensamento.

– Ela passou mais tempo aqui do que prometeu ao seu povo, retornado por pressão da irmã. Os pais morreram numa fatalidade, fazendo Ekaterina assumir o poder, já que a Rainha por direito estava longe. Lyra sempre foi a mais velha. Quando ela retornou ao reino das fadas, não poderia ter acontecido nada pior. A fada Lyra estava esperando um filho do humano. A raiva que estava em Ekaterina, evoluiu, tomou proporções exorbitantes. Ela havia advertido a irmã para não misturar os povos. E da raiva de Ekaterina, ela fez algo monstruoso. Utilizando a influência que as fadas tinham no seu mundo, ordenou a morte do rapaz. E assim o fizeram, o que causou o primeiro desgosto da irmã. Ekaterina poderia ter sido deposta, mas possuía uma ideologia que elevaria as fadas ao seu maior poder. O povo desejava aquilo, e através das concepções errôneas da mais nova, condenaram a mais velha. Lyra nunca quis ser Rainha, e depois da morte de George, tudo piorou. Ekaterina não parou ali, ela fez um golpe maior. Permitiu que a mais velha tivesse o bebê. – Ela parou bruscamente.

– E o que aconteceu depois? – Fiquei aflito, não sabendo o motivo, mas fiquei.

– Ela tomou o bebê da irmã, condenou que suas asas fossem arrancadas, pois ele era um fruto estragado de uma relação infrutífera e proibida. Por fim, Ekaterina mandou a criança para este mundo aqui. – Violet olhou o céu, toda sua dimensão.

– E a Lyra, o que houve com ela?

– Lyra sumiu. Uns dizem que fugiu, não suportou o que viu. Mas a maioria diz que o mais provável é que tenha morrido, porque não aguentou que tirassem o filho dela. A pior coisa que você pode fazer à uma mãe, é machucar um filho seu. Isso faria ela sentir mais do que qualquer coisa. Ekaterina queria a paz no nosso reino, admito que ela conseguiu depois de tudo que fez, no entanto, depois desses anos todos, muitos, as fadas começaram a morrer. Não precisavam de um carrasco para mata-las, pois sua própria essência as mataria. Dizem que começaram a morrer pela ira de Lyra, que tenha se tornado uma espécie de ser vingativo com o seu reino. Outros falam que é um tipo de apocalipse, como dizem no seu mundo. Só que eu acredito que tenha a ver com a ponte, pois aquela criança jogada fora e massacrada por Ekaterina, era certamente a ponte que ligou definitivamente as fadas e os humanos. Isso é uma lenda muito antiga, é como os contos de fadas para vocês. É um conto de humanos, porque são fascinantes para nós, tal como somos para vocês. E sobre aquele sapatinho na festa? Significa que Cinderela foi afetada pela nossa queda, significa que está morrendo. Pense bem, essas histórias são conhecidas como contos de fadas, há uma razão para serem conhecidas assim. Elas podem ter acontecido em nosso mundo, mas se não tivesse que as contasse e achasse maneiras para isso, as pessoas nunca as teriam conhecido. Contos de fadas trazem ensinamentos para as pessoas desde que o povo celta foi obscurecido pelos humanos, quando suas tradições foram oprimidas. Se não há fadas para contar histórias, não há personagens para vive-las, não importa o quão real eles sejam. Branca de Neve foi a primeira a ser afetada. Quando vim para este mundo, há exatos dois anos, ela tinha sumido junto com o seu reino. Imagine uma memória se esvaindo como poeira da sua mente? Foi assim. Agora Cinderela encontrou o seu destino, e não vai demorar até que outra pessoa encontre. Sem a esperança dos contos de fadas, o seu mundo vai cair em guerras, ele vai voltar ao primeiro momento, justo quando as fadas o acharam, Aster. Eu estou aqui por causa de um mito que todos desacreditaram por toda a existência, pois só ele pode nos salvar. E nada vai tirar da minha cabeça que você é o mito. Você é a fada perdida.

Minha expressão contorceu-se em desconforto, algo dentro de mim incomodou, as costas doeram, as omoplatas pareceram sentir uma dor lancinante, como se algo fosse tirado dali. Não resisti e levei uma das mãos às costas. Toque a região da omoplata direita, local onde ficava uma das cavidades monstruosas.

– É muita coisa para acreditar, mas eu queria tanto ajudar você, Violet. Tem sido uma boa amiga nestes anos, na verdade, a única amiga de uma vida toda. – Virei de costas para ela e puxei a camisa do corpo. Ela foi arrancada pela minha cabeça.

Pude ouvir o som de espanto que veio da boca de Vio. Notei os passos de aproximação dela e parou bem perto de mim.

– É real. Você existe. – Ela tocou delicadamente a superfície da cavidade esquerda – Eu achei. – Naquele momento ela pareceu feliz.

Com a cabeça a mil, sentimentos conturbados e sem direção, me vi prestes a fazer uma coisa que sempre fui capaz de fazer por todos, renunciar-me. O fiz pelas crianças do orfanato, estava disposto a tentar ajudar. Se fosse verdade o que ela me disse, certamente eu iria saber de onde vim, e mesmo não tendo pais, teria a chance de saber que não sou só um monstro humano.

– O que posso fazer para ajudar você?

– Vir comigo para o meu reino. – Ela disse e vesti a camisa. Me sentia ainda desconfortável. Engraçado, depois da meia noite eu senti o meu poder mais forte, é assim com algumas datas em seu mundo. Que dia é hoje?

– Quatro de julho, dia da independência. – Falei.

– É isso, quando os humanos estão transbordando em sentimentos, ficamos fortes. Por isso que quando crianças crescem ouvindo nossas histórias e tornam-se pessoas melhores, há momentos em que o poder é imparável. Hoje é o dia em que o portal pode ser aberto mais facilmente – Violet vasculhou o céu. A menina parecia conhecer todas as estrelas – Tantas constelações alinhadas.

As constelações de Violet foram deixadas de lado, quando ao céu as luzes foram ficando mais forte e sons estrondosos ouvidos. Fogos de artifício. Dia da independência.


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem, é, repetirei muito isso. Deixe reviews e até logo.



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