-The Next- Fairytale: The Fantasy escrita por Rausch, The Next


Capítulo 3
Capítulo 2 - Cristal Quebrado


Notas iniciais do capítulo

I kissed a girl - Katy Perry



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Violet estava louca, e olhe que achei que fosse impossível piorar. Depois da declaração acerca de fadas, oi? Tive a plena certeza de que era melhor retornar aos antigos padrões e isolar-me em meu recinto infeliz, dentro de mim mesmo. Subi as escadas correndo e Vio fez questão de correr gritando e tentando se explicar. Era impossível não achar o acontecimento do carro estranho, bem como, o da queda ao tentar salvá-la. Eu não preciso que ela me diga nada, porque me sentir estranho era algo que sempre fez parte da minha própria configuração pessoal.

Bati a porá do quarto e pus as mãos na cabeça, meu instinto de ir até a janela e olhar para ver os arredores é maior do que qualquer outra coisa. O carro já havia mesmo ido embora, porém não significava que não estivesse por perto. Me encosto na saca:

– Aster, abra esta porta. Eu estou falando sério.

Se ela falava em fadas, por que não usou magia para abrir a porta? Tudo balela dela. Eu tinha a impressão de que era como se todos quisessem me fazer de idiotas, como se meus pais já não tivessem feito isto o bastante. Desejei nunca ter saído dali para a praia, não ceder aos caprichos da minha amiga. Era melhor estar cuidando das crianças, aliás, qual coisa seria melhor para mim? É mais uma condicionalidade do universo, e não sou o primeiro rapaz a ter de fazer isso. Ainda bem que a minha condição não me fez virar uma Esther ou Kevin.

Precisava de um banho, um bem demorado, como não me dava o privilégio de fazer há muito tempo. Economizar a água, energia elétrica e afins, tornou-se um ponto sério para mim. Poupar significava sobrar mais para as outras crianças, só que a tensão que abate-se por mim é insuportável. Ao adentrar o banheiro, era inevitável não olhar meu reflexo no espelho acima da pia velha. Tudo ali era. A construção não era reformada desde os meus sete anos, quando lembro de quase morrer por uma crise devido à poeira.

Lá estão elas, tão horrendas quanto cada vez em que as vi, ou pelo menos, em que parei para reparar. A marca da pele deformada em forma de um traço reto na pele. A pele mais sensível ao meio de uma pequena cratera fechada na pele. Me contorço um pouco e com o dedo indicador da mão direita, eis que toco na deformidade. Ela não me causou dor, longe disso, causava até cócegas. Não posso dizer quando ela apareceu ali, uma vez que, desde que entendi o que enxergava, distingui, ela sempre esteve. As outras crianças riam constantemente do menino com as costas defeituosas, nos dias de averiguar o peso, no qual tínhamos de ficar completamente nus. Quando isso não mais era preciso, deixei de tirar a camisa na frente dos outros. Na verdade, nunca exibi mais do que as mãos, as camisas eram de mangas longas.

(...)

– Olha para ele, que coisa feia. É um monstro da televisão, gente. – Gritou Francis Gordon, um menino dois anos mais velho que eu.

A tia das medidas me dizia para ignorar, mas às vezes era mais chato do que o normal. É bem ruim ver as pessoas te olhando com pena, se bem que ninguém ali estava muito na condição de rir de mim, no entanto, eu tinha este fator extra.

– Não ligue, querido. Pessoas são especiais por serem diferentes, todos somos.

– É chato, tia. Manda eles pararem. – Falei com a voz entristecida.

E então senti algo se estalar pelas minhas costas, Gordon havia jogado um tomate que ao se chocar contra minhas costas emitiu um odor horrível. Ele havia me jogado um tomate estragado, provavelmente que pegou no lixo que ficava aos fundos do orfanato. Estremeci ao ter aquela sensação gosmenta nas costas e prendi o choro, quando a tia levantou e passou a gritar com eles. Não esperei ele voltar para terminar com as medidas, corri para o meu esconderijo secreto. Ele ficava no armário do zelador, no final do corredor principal do térreo. E sujo tanto por fora, como pelos meus pensamentos tristes, chorei mais um dia ali. Queria sumir.

(...)

A escorreu pelo meu corpo à media que todas as memórias desenfreadas me assolavam a mente. Quão pequeno me sentia, quão normal isso havia se tornado. Algo pode se tornar normal em nossas vidas, mas não significa que pare de doer. Deixo que o fluxo das lembranças seja como a água corrente, se esvaem, vão ao fundo dos meus pensares. Eles serão trazidos à vida uma outra hora, tenho certeza.

Enquanto me enxugava com a toalha e saia do banheiro, fui até o armário e podia perceber a silhueta que iluminava a janela. A lua surgira, era noite. Procurei algo para vestir dentre as poucas roupas, algumas, ou grande parte herdadas de alguns da minha díade que haviam ganhado a liberdade. Aqueles seriam eu em algumas semanas quando fizesse dezoito. Ao fazer 18, somos advertidos a ficar por apenas mais dois meses e se não acharmos nada neste espaço de tempo, não podemos mais residir no orfanato. Ir embora não é uma opção, mas sim, uma determinação a nós imposta.

Vesti a calça jeans apertada, provavelmente de alguém mais magro do que eu. Algo impossível. E a camisa que resolvi casar era a minha favorita, também velha, mas com um grande significado. “Vivendo num sonho adolescente”, assim diziam os escritos em cores neon nela. Marlon, o menino que me deu, havia conseguido um emprego na Flórida e ao sair, por ter recursos para mais, acabou dando parte do que possuía para alguns habitantes do orfanato. Eu fiquei com a camisa e binóculo velho. Estava pendurado nas chaves quebradas do armário.

Decidi que não deixaria toda a confusão mental me dominar a cabeça, não, não mesmo. Nunca fui do tipo rebelde, mas tinha minhas horas nas quais regras eram algo obscurecido por uma vontade maior. Desde que pude sair a primeira vez do orfanato, sempre foi para fazer o que Violet queria. Desta vez eu queria sair por minha própria conta e visitar um lugar que nunca pensei querer. Uma balada.

Destranquei a porta do quarto e sai dali, estava com o pouco de dinheiro que tinha ajudado ao auxiliar o Sr. Edwards na jardinagem do recinto. Era pouco, mas para bebida barata tinha de dar.

– Aster Monroe! Você vai me pagar, não pode me deixar sozinha e falando sozinha. – Ela surgiu atrás de mim, descia as escadas apressada.

– Pode me deixar sozinho ao menos uma hora? Obrigado. – Tento ser o mais educado possível.

– Aster, virou inconsequente de uma hora para a outra? Eu sei que é demais para sua cabeça, mas precisa me ouvir. – Violet argumento ao me ver terminar de descer.

Olhei para trás pela primeira vez e ela havia mudado a roupa. A garota estava vestindo um vestido decorando por pequenos naipes de baralho. Caminhei pesadamente na direção dos fundos do lugar. A porta era trancada às sete, já erma oito, ou seja, eu iria pular o muro pela primeira vez.

Uma tradição entre os mais ardilosos internos, vulgo, os que eram pequenos marginais, era pular o muro de trás do orfanato. Ele ligava com um beco deserto atrás da propriedade. Era necessária a ajuda de uma outra pessoa, mas nem que eu me cortasse inteiro nas pedras, iria. Estava com a cabeça transbordando, ansiava por um momento diferente:

– ASTER! – Ela protestou mais uma vez – Ah é, pois eu também vou.

– Você não vai para lugar nenhum, Violet. Se poupe. – Reclamei e abri a pequena trava do portão traseiro da casa. Por alguma razão desconhecida aquilo era controverso com relação à porta da frente que era protegida até os pinos das grades.

Dei-me de encontro com a luz forte da luz e com o vasto céu estrelado. Coloquei parte do cabelo para trás e fui até a parte do muro que ficava atrás do canteiro de rosas que eu ajudava a cuidar. Não devia ser difícil, a julgar pelas falhas nos tijolos. Marcas dos que abriam caminho. Enquanto Violet reclamava e dizia cosias, comecei a subir e escalar. Para minha surpresa atingi o nível mais alto, bem mais fácil do que achei que iria. Avistei o beco pouco abaixo e ainda olhei par aa cara da ruiva. Dei um impulso e cai no chão. Comecei a caminhar e não mais ouvi as reclamações de Violet. Após caminhar alguns passos, senti a mão puxar minha camisa:

– Está me forçando a fazer algo que não posso, Aster. Me ouve.

– Espera aí, como escalou e pulou tão rápido? – Espantando, eu estava daquele jeito.

– Eu sou uma fada, quando vai entender? – Ela vem de novo com a história de fadas. Reviro os olhos – Olha, se quiser me acompanhar, tudo bem. Agora não vem falar essas coisas, você está chapada.

Saímos do beco e eu mesmo olhei de um lado ao outro da avenida, nenhum sinal do carro.

– Precisa vir comigo, Aster, coisas muito ruins estão acontecendo.

– Ir para onde, Violet? – Perguntei ao cruzar a avenida que ligava com a principal, a que possuía a boate.

– Reino das fadas. – Ela disse sorridente, um pouco com uma esperança tachada nos olhos.

– Okay, quer me levar para Andalásia também? – Perguntei ironicamente ao virar para a ruiva.

– Não, lá está um caos. – Meus olhos pegaram-se encarando-a ainda chocado – Olha, Aster, eu passei muito tempo procurando você, quer dizer, a fada perdida.

Resolvi não dar mais tanta bola e andei até chegar à boate. O barulho forte dos caixas de som contornava os arredores do estabelecimento. A identidade me entregaria como sendo de menor, e olhei para Violet, que certamente passaria o mesmo. Não sabia como entraria:

– Fui burro, você venceu. Havia me esquecido que a identidade ainda consta como menor. – Falei vencido e irritado.

– Vamos ver se via duvidar de mim novamente. – Deixando-me alguns metros antes, Violet se afastou e vi quando achegou-se ao segurança da boate.

Eu não sei o que ela fez, ou como fez, porém a menina retornou com duas pulseirinhas laranjas na mão.

– Violet, o que você fez? – Perguntei.

– Indução. Poderia aprender se quisesse. – Ela me estendeu uma das pulseirinhas.

– Como assim? – Peguei a pulseira.

– É uma das nossas disciplinas, moldar pessoas. Por que acha que contos de fadas mexem tanto com o psicológico humano? – Ela colocou a pulseira e eu coloquei a minha.

– Eu não sei mais de nada, podemos aproveitar só a festa? – Perguntei ao tentar afastar de nós aquele clima deveras estranho.

– Vamos conversar sério depois. – Ela pegou meu braço e sai me puxando para a entrada da boate.

Não sei por qual motivo, no entanto, podia jurar que estava sendo observado de algum lugar. Olhei bem ao redor, antes que me perdesse nas luzes.

(...)

A música forte não me permitia ouvir nada, e pelo visto o mesmo acontecia com Violet. Girávamos em volta um do outro, aquela tensão anterior parecia ter sumido junto coma mente polidamente sóbria. Um drink, dois ou três, perdemos as contas. Não estávamos totalmente bêbados, porém tombava o corpo em alguns momentos. Uma música de Madonna era reproduzida.

– Vou buscar outra bebida daquela, Violet. – Disse cantando “Up, up up” e batendo as pernas. Me afastei da bela de cabelos ruivos e fui até o bar, coloquei o dinheiro no balcão e pedi a vodka com soda.

– Uma para mim também. – Uma voz grossa disse ao meu lado e meu pescoço virou para encarar.

Olhos tão claros quanto os meus, corpo provavelmente definido, e uma expressão que passou a me avaliar. Desviei o olhar e esperei minha bebida.

– Já alto?

– Animado, animadinho. – Disse com a voz embolada.

– Eu disfarço, mas já devo estar me encontrando com Úrsula, vou fazer uma troca pela dignidade. – Ele comentou a rir.

– Contos de fadas? Fadas? Outra pessoa me falando isso? Não. – O moço do bar entregou minha bebida e de Violet.

No momento em que fiz o comentário, o rapaz me olhou a alterar a expressão, parecia nutrir algo desconhecido. Recebeu a bebida e seguiu para uma outra direção, não sem ficar olhando para trás. Fui até Vio e entreguei o copo à ela:

– Aqui!

– Olha aí, eu digo que você é um rato. O cara estava tão na sua e você veio para cá. – Ela ria, pegou a bebida e começou a beber.

Ao dirigir o líquido ácido par a aboca, Violet me cutucou. Apontou rápido para a direção oposta e vi o que ela queria mostrar. Abrindo passagem por entre as pessoas vinha o rapaz do balcão. Ao aproximar-se o suficiente de mim, ele parou e disse:

– E aí?

– Vai me perseguir mesmo, Úrsula? – Ironizei ao por o copo na boca e balançar o corpo parecendo um idiota com o copo entre os lábios.

– Vou, até que eu faça o que eu quero. – Ele disse firme.

– O que? Roubar minha voz? Desculpa, eu não tenho. – Ele segurou forte em minha cintura e puxou meu corpo par ao dele, sentindo a sua rigidez por baixo da camisa.

Nunca havia beijado ninguém na vida, aquela sensação foi diferente, acima de tudo, inesperada. Estava desarmada, além de bêbado e não o afastei. Era tudo tão diferente, que a forma como uma língua contornava o interior da boca do outro era estranho. Sempre ouvi dizerem que era um momento único, mas para mim, além de único foi algo sem explicação. Quando ele terminou, respirei um pouco descompassadamente e ele piscou para mim. Senti algo puxar minha camisa e ao virar, o semblante de Violet estava mais pálido que o normal. A bebida havia se esvaído da ruiva, ela segurou em mim:

– Precisamos sair daqui, sinto coisas ruins, Aster. – Sua voz tremia.

– O que está havendo, Vio? Ainda é cedo. – Disse, a cabeça confusa, mas ainda podendo entender tudo. Olhei para trás e o homem tinha se afastado.

– Não é cedo, precisamos ir para casa. Precisamos viajar. – Ela estava convicta.

– Que horas são? – Perguntei.

– Meia noite. O tempo das doze badalas. – Ela falou e se apoiou em meus braços.

E alguns metros à minha frente um estalido se ouviu, algo caíra do balcão de bebidas. Só podia ter sido dali. Virei para a direção a tempo de ver um pequeno objeto chocar-se contra o chão e produzir um som de vidro se quebrando. Límpido, resplandecente, não era aquilo vidro. Quando meus olhos se fixaram no objeto, não mais vi um copo, mas sim, um sapato, não qualquer sapato, um sapatinho de cristal. Ele se espatifara no assoalho. Estava totalmente quebrado.

– É um sinal. Aster, este lugar está infestado por forças ruins, precisa vir comigo.

– Mas aquele é o sapatinho de...

– Sim, é o sapatinho de Cinderela. Foi um sinal para mim, ela foi afetada pela perda essência. – Ela olhava apavorada – Queira ou não, vai precisar acreditar em mim, você tem de nos salvar.

E concordando pela primeira vez com a loucura, ou talvez fosse a bebida:

– E o que preciso fazer?

– Venha comigo, você vai descobrir.


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Notas finais do capítulo

Ouçam os sinais, pessoal. Eles vão aparecer muito agora. Aguardo suas reviews, até logo.



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