-The Next- Fairytale: The Fantasy escrita por Rausch, The Next


Capítulo 5
Capítulo 4 - O outro lado do mundo


Notas iniciais do capítulo

Milena é uma singela homenagem à minha adorada irmã. Acho que ela sempre foi uma princesa que não precisou de príncipe, eternamente a Chapeuzinho. Uma garota destemida, que usou o trauma do passado para seguir em frente.



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– Ainda precisamos caminhar mais, Aster. – Violet disse de lado. Ela vasculhava tudo ao redor.

– Mas por que temos de ir para tão longe? – Já estava cansado da caminhada que durou a noite inteira.

– É melhor estar totalmente afastado da zona urbana, tenho vários motivos para isso. Uma fada nunca pode oferecer dano à outro ser humano, a menos que seja em sua legítima defesa. Abrir um portal não é totalmente perigoso, porém se sua intensidade for grande, pessoas podem ser afetadas. E temos o fator daquela força que senti antes. – Ela mexeu na bolsa de lado, retirou um pequeno frasco – Deve ser o último que tenho neste mundo.

– O que é isso? – Perguntei curioso.

– Pó de fada. Não há nada tão poderoso quanto isso, Aster. Parece idiota pelo título, mas não há nada que não possa fazer. Quando estamos no reino, não precisamos dele, já aqui, ele é necessário em demasia. Acho que este vai ser suficiente para nos levar à diante.

Cada vez mais longe das propriedades, Violet e eu notávamos como a praia parecia abrandar-se nas quebras de ondas. Aquilo era um tipo de peregrinação, uma vez que, caminhamos a tentar achar o nosso ponto de equilíbrio, ou no caso, propício ao que ela devia fazer. Não vou falar que não estava assustado, pois estava, muito. Ajudar as pessoas requer sacrifícios que independem da quantidade de medo que você pode sentir. Ainda podíamos ver construções ao longe, porém chegamos num lugar com tamanha calmaria, que era possível escutar cada som e distingui-lo perfeitamente. O mar calmo, a areia fria.

Um pouco ao norte, falésias se erguiam em sua solidão, com suas cores quentes e alaranjadas, eram as únicas construções que estavam mais próximas de nós. As construções dos homens ficaram para trás. Violet passou a caminhar na frente, avaliava cada perímetro do lugar, eu sabia que ela planeja tudo minuciosamente. Num dado momento, parei a perguntei:

– Até quando vamos andar?

– Exatamente aqui. – A ruiva deu meia volta e me encarou de pé. Olhou para além dos meus ombros, voltou aos meus olhos.

O ar misterioso de Vio era inquietante, ainda mais por eu saber que era conivente com ela. Instalei as mãos nos bolsos da calça e esperei que dissesse algo.

– Vou precisar que fique quieto, faça o máximo de silêncio.

Violet abriu o potinho com o pó de fada e um doce aroma saiu dali. Era tão gostoso quanto o perfume das rosas recém colhidas do orfanato. Orfanato, e então me lembrei que não havia pegado nada para levar.

– Violet, e o orfanato? Eu não tenho nada para levar na viagem. Eles vão dar por nossa falta.

– E quem disse que vamos precisar disso, Aster? Provavelmente, se tudo der certo, não vai mais precisar voltar para cá. – Ela disse sem nem mesmo me olhar a face, examinava sua substância em mãos. Não foi capaz de notar minha expressão triste.

Em anos, mesmo com todo desconforto, a situação nada farta, ainda era o único lugar que tive. Era, por assim dizer, a minha casa. Decidi não dizer anda, já que eu havia aceitado tudo aquilo. Poucas roupas, um binóculo velho, o quarto cheio de infiltrações. Era pouco, mas era ideal. Como sentiria falta daquilo. E das crianças, de ensiná-las. Das traquinagens de Alex. Violet fez um tracejado na areia, uma linha reta. Dentro do tracejado ela passou a ir derramando o pó de fada, e ao fazer isso, pude ver o quanto ele cintilava em diversas cores. Turquesa que ia para um azul, sequenciado por um dourado. Enquanto derramou o pequeno conteúdo do potinho, minha amiga voltou a pronunciar aquela língua melódica e encantadora. Era como estar num transe, entre as cores acesas e a voz dela.

Violet parou seus movimentos e voltou-se par ao meu lado. As cores que outrora brilhavam na linha reta feita por ela, pareciam começar a expandir-se rapidamente. O próprio brilho chicoteava dentro de si, pareciam braços que iam se chocando um contra o outro, quando uma parede foi surgindo diante de nós. Olhei de lado a tempo de ver os lábios da ruiva contraírem-se no mais delicado sorriso. Afinal, não havia felicidade maior do que estar voltando para casa. A parede luminosa era um pouco mais larga do que nós juntos, seu alicerce demonstrava estar fixado no chão, aparentemente.

– Está pronto? – Violet perguntou-me.

– Para qualquer um dos efeitos, sim. – Disse ainda admirado para com a magnificência do acontecimento.

Vio passou o braço no meu e apertou forte.

– Podemos ir juntos se estiver assustado. Imagine um piscar de olhos, vai ser bem mais rápido.

Demos o primeiro passo em direção ao portal, eu cheio de incertezas, ela não, ela estava certa do que fazer. Nossos pés tocaram a parte inicial que ficava por fora e tocava um pouco do solo arenoso.

– Os dois, parados. – Eu segurei o braço de Violet. Ambos paramos ao ouvir a voz grave e ameaçadora que surgiu a trás de nós.

Por mais estranha que fosse a situação, tive a breve impressão de já ter ouvido a voz. E para comprovar o que meio ao pensamento, foi eu quem virou. Senti o gosto dos lábios alcoolizados, as palavras ditas antes de tudo. Era o homem da boate. As roupas estavam as mesmas, no entanto, ele segurava um arco grande nas mãos e a flecha já estava pronta para ser atirada. Seu rosto era feroz, a mandíbula que se cerrava. Os mesmos olhos claros que me fitaram entre as luzes, eram os mesmo que me encaravam ao ameaçar.

– Quem é você? O que quer? – Violet foi hostil ao virar.

– Alguém numa missão, ou deveria dizer, na mesma missão que você, fada aprendiz? – Seu tom era como se ele soubesse e fizesse parte de tudo que Violet me contou.

– Já sei, ela também tomou ciência da solução para o reino, não é? Está tentando manter sua pose de boa Rainha.

– Não me interessa o que ela tenta fazer, só que tenho algo para levar para ela. Ou melhor, alguém. – Os olhos do rapaz recaíram em mim. Estava me sentindo mais válido do que em toda vida.

Ele puxou mais a corda do arco e mirou em mim. Nos seus olhos, era possível ver que havia realmente a vontade de cumprir a missão que veio fazer.

– Diz, quanto ela te pagou para fazer isso? Sabe que vamos todos morrer e ainda está tentando ajuda-la? – Violet indignou-se.

– Não importa, me dê a fada.

A tensão do momento piorava, algum de nós poderia sair morto dali. Violet dirigiu seu olha para mim:

– Isso deve contar como legítima defesa.

Violet abriu os braços, as mãos espalmadas para a frente e a areia que estava abaixo de nós, ergueu-se feroz e atingiu o rosto do homem com força. Ele gritou ao ter os olhos atingidos pelo elemento. Automaticamente ele deixou o arco cair, estava preocupado com a dor que lhe cobria os olhos. Ao vê-lo cair no chão, a mão de Violet puxou meu braço e dando uma última olhada para trás, ainda o vi conseguir levantar e pegar o arco. Cruzamos a luz azul tão rapidamente, porém, Violet puxou minha cabeça numa guinada para baixo. Quando tudo aconteceu, ouvimos um cantar de morte.

O pobre pássaro jazia no chão com a flecha atravessando seu pequeno corpo. Meus olhos contemplaram uma estrada de terra antiga, rodeada por árvores. Violet estava deitada no chão comigo e olhamos brevemente para trás, o portal havia sumido. Passei algum tempo ainda jogado no chão, como aquele lugar era tranquilo, tirando o som dos pássaros. Sentei e olhando de canto a canto, árvores, árvores. Tudo se baseava em árvores. Violet foi a primeira a se levantar e olhou estranho para o lugar.

Então comecei a pensar que a ruiva estava perdida, e na realidade, estava:

– Não era para virmos para cá. Eu tenho certeza de que fiz a conjuração certa. – Ela esfregava os pulsos.

– Como assim?

– Era para termos saído próximos à taberna dos aprendizes. Isso daqui me parece o reino afastado.

– Olha, não vai fazer muita diferença se me falar isso. Não conheço nada. – Falei, desta vez maravilhado com uma macieira à minha frente. Adorava maçãs.

– Eu vim aqui apenas uma vez. Eu era amiga de uma menina daqui na infância. – Ela falou.

– E por que não vai até ela e pergunta onde estamos?

– Ela passa tempo caçando, ela faz muito isso depois que superou o trauma. – Violet olho para o norte.

– Trauma? – Fiquei confuso.

– É, depois que um lobo assassino quase mandou ela e a avó dessa para melhor.

Não acreditei, está mesmo falando de Chapeuzinho Vermelho? Só consigo lembrar dela quando ela me disse aquilo. Quanto mais quero desacreditar de tudo, mais o improvável se torna possível.

– Chapeuzinho Vermelho? – Supus.

– Isso, Chapeuzinho, na verdade, Milly, ou Milena. Chapeuzinho era só apelido.

– E por que ela caça agora? – Perguntei.

– Porque na tentativa de aprender a se defender, Milly se viu versada nas artes de caça. Ela decidiu que seria sua profissão, agora exercendo-a. É primavera, provavelmente está caçando para vender no inverno, é bem propício. – A ruiva mexia em suas vestes, como se estivesse incomodada com elas.

– O que foi? – Levantei do chão.

– Essas roupas humanas estão me incomodando aqui, o clima muda, a atmosfera também. Se me permite? – Ela não esperou qualquer resposta minha, com um gesto das mãos a passar pelos braços, Violet começou a redesenhar sua roupa. Estava mudando-a. O toque suave que ia contra sua pele, fazia com que as antigas roupas fossem sumindo e dando lugar para um outro tipo de vestimenta.

Era um vestido, mas não um vestido que esperassem ser clássicos. Na verdade, aquele vestido era bem curto. As pernas alvas dela estavam expostas, já que o tecido de coloração dourada colocava-se bem acima do joelho. As mangas não existiam, os braços dela eram livres, enquanto que um pequeno tomara que caia moldava seus seios joviais e discretos. Por fim, ela passou as mãos pelos cabelos ruivos e os moldou num coque, ficando totalmente diferente da imagem que sempre tive. Ainda era a mesma pessoa, porém, com uma atmosfera divergente:

– Permita que eu me apresente, meu caro. Violet, a fada aprendiz. – Ela prostrou-se numa reverência.

– Que polidez, permita-me também, senhorita. Aster Monroe, das terras do outro mundo. – Coloquei a mão no peito e abaixei um pouco a cabeça.

– Um dia não vai precisar do seu segundo nome.

– Por que?

– Não temos segundos nomes, não é necessário. Poderiam nos conhecer sem nem mesmo ter o primeiro. Fadas são criaturas conhecidas pela essência, embora venhamos da mesma, cada um possui uma diferente. Por isso temos várias classes de fadas, mas deixamos para outra hora. Agora precisamos nos situar, porque tenho a impressão que vamos fazer uma longa caminhada. – Violet olhou para dentro das árvores.

– Outra caminhada, Vio? – Protestei ao mesmo tempo em que perguntei.

– Sim. Eu não sei o que ocorre de mais diferente aqui, no entanto, algo ocorreu para eu não ter conseguido parar onde desejei. Não encontraremos Milly, porém, iremos na direção de sua moradia, há um caminho mais perto ao centro do reino. – Ela nem ao menos me espero, empertigando-se por entre as árvores. – Vai ficar parado aí?

Meus olhos giraram em reprovação, mas ainda consegui pegar a suculenta maça que vi na outra árvore. Ela valeria por qualquer coisa. Ao entrar na floresta, a atmosfera novamente mudou. Tinha a sensação de que tudo mudaria dali em diante.

– E antes que eu me esqueça, bem vindo de volta. – Ela virou e piscou os olhos para mim.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, porque o próximo capítulo é um dos que mais gosto na história. Deixem suas reviews, os vejo amanhã.



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