-The Next- Fairytale: The Fantasy escrita por Rausch, The Next


Capítulo 2
Capítulo 1 - Garoto da Califórnia


Notas iniciais do capítulo

Até aqui, quase nada a dize. Espero que gostem.



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– Alex! – Fui rude com a pequena menina. Ela pulava em cima da mesinha de colorir das crianças. – Se não descer daí, vou chamar os orientadores.

– Vem me tirar, bobão. – Ela mostrou a língua.

Prontamente fui até ela e a segurei pelos quadris, deixando que recaísse deitada em meus ombros. Ela esperneava e batia em minhas costas. Quando você se dispõe a cuidar de um bando de crianças, eis que isso pode ser até pior. A falta do que fazer, muitas vezes a monotonia exagerada, ou o simples fato de estar sozinho, me guiaram até isso. O orfanato é divido em alas, áreas nas quais as idades são o fator da separação. Sou voluntário dos 4 aos 6 anos, porém ocupo a última. A que vai dos 15 aos 18.

Não havia outro lugar que eu conhecesse, se não, este orfanato em St. Barbara, California. Era capaz de lembrar de cada rosto que vi, desde o primeiro choro ao último sorriso, ação que geralmente ocorria. Ação que nunca pratiquei, pois nunca chegou a minha vez. É uma estupidez egoísta sentir-se assim, vendo que tantos consegue sair sem serem adotados, e tantas vezes constroem algo bem melhor. Acho que estava disposto a ser bom para as crianças pelo simples fato de nunca terem sido bons para mim, ou apenas por querer ser bom. Tanto faz.

Mesmo com os puxões de orelha, das caras de choro que faziam após uma reclamação minha, eu era a pessoa que eles corriam para pedir histórias, e a pessoa que chamavam tantas vezes de tio, e em alguns poucos casos, pai. O sistema recebe muitas crianças abandonadas por períodos, e há alguns períodos em que a chegada duplica. O que leva um casal a deixar tão pequenos seres? Essa dúvida jamais será sanada, apesar de eu querer tanto. Aliás, eu sou o motivo um deste questionamento. Eu nunca vou parar de me perguntar o porquê de nunca ter tido uma família. Ou melhor, a razão por terem me dado.

Tudo que restou foram as marcas disformes nas omoplatas ou as machas estranhas nas mãos, revelando uma coroa de flores. Sou estranho do começo ao fim, mas posso sentir. Há um pouco de dor em cada história que eu via, no entanto, quando se trata de crianças, ver a forma sonhadora e esperançosa com a qual veem a vida, chega até a proporcionar o mesmo pensamento para os espectadores.

– Me desculpe pela traquinagem, tio Aster. – Alex disse após a conversa.

Minhas mãos estavam nos joelhos e a encara de igual para igual. A expressão carrancuda se fora, o coração um tanto derretido pela carinha de anjo, que mesmo sabendo a conduta errada, ainda me ganhava.

– Isso é tudo de vocês, não pode sair quebrando nada por aí, Alex. Sabe que a gente recebe bem pouco para comprar tudo? Ás vezes é até um milagre. Tem de cuidar bem do orfanato.

– Eu sinto muito, prometo melhorar. – Ela disse com a cabeça baixa. Estava arrependida, eu sabia, do mesmo jeito que sabia que ela voltaria a fazer a mesma coisa no dia seguinte. Crianças são crianças. Apesar de eu não ter sido uma tão desesperada.

(...)

– Qual é, Ast? Vamos à praia, a gente pode pular o muro. Eles nunca notam. – Violet sacudia meus ombros.

– Não sei a graça que você vê nestas praias. Não vive dizendo eu veio do Colorado? Seria mais fácil gostar do clima frio, Violet. – Coloquei o resto dos brinquedos nas prateleiras.

Minha desconfiança das pessoas não encontrava limites, mesmo que com relação à Violet, minha melhor amiga. Diferente de mim, que cheguei aqui após o nascimento, a menina ruiva só se juntara às crianças há três anos atrás. Violet. Ruiva, pele alva e postura divertida, Violet Williams tinha trazido bom humor par ao orfanato. Era cômico como uma garota abandonada podia fazer tanta piada sobre si mesma e sobre abandono. Meu pé atrás sobre a minha amiga, desconfiou dela desde o dia em que ela chegou. É impossível alguém conseguir relevar um fato como esse, sobretudo fazendo piadas. Algumas vezes eu pensava que Violet tinha vindo com um destino certo, só não sabia qual.

– Eu gosto de praias, não tinha isso. Praias são legais. Vamos. – Ela juntou as mãos em oração.

– Eu vou, porém não passarei de uma hora.

– Yes. – Ela girou em comemorativa e me deu um beijo estalado na bochecha.

Garotas de biquíni, drinks nas mãos da maioria, meninos e meninas ficando por trás de um dos muitos píeres espalhados pelo local. O cenário configurado da praia próxima ao orfanato seria esse. Podia criar uma sequência fílmica para tudo e contar cada detalhe. Não gostava da atmosfera de praias, na verdade, não gostava de nada que requeresse a exposição do seu corpo. Não podia deixar a marca à mostra, já era feia o bastante para si mesmo. Uma longa camisa de mangas azuis cobria todo meu corpo, enquanto vestia uma calça jeans em contraste. Quem me olhasse, certamente faria mais uma piada que eu anexaria ao meu vasto vocabulário infame. O biquíni que Violet usava era laranja e com pequenas miniaturas de sóis espalhados por ele.

A hora era boa, era a que eu ao menos podia fazer algo. O pôr do sol, se visto do lugar certo, te faz viajar ao lugar próximo lugar certo. Olhei para Vio de relance e ela corria pela orla da praia. Uma criança. Custava a acreditar que ela era desse mundo, porque praias não eram exatamente uma raridade terrena.

– Vem também, Ast. A água está quentinha. – Ela gritava e pulava pela água.

Depois de negar com um aceno da cabeça, no mínimo umas mil vezes, ela entendeu. Ou melhor, fingiu, porque voltaria a fazer isso outra hora. As poucas cangas e toalhas espalhadas com pessoas, me faziam ainda mais querer voltar para casa. Lugar estranho, gente esquisita. Penso o que pode haver na cabeça dessas garotas e o que as faz olhar para mim e ter o direito de rir.

– Garotas da Califórnia. – Ouvi a voz de Violet se aproximar. Ela prendia os cabelos num coque. – É tudo tão divertido. Por que essa cara?

– Quero voltar logo, não suporto estes protótipos de Barbie que ficam me olhando estranho.

– Vai ver estão te achando um gatinho. – Ela segurou em meu braço, puxando-me para andar. – Afinal, você também é da Califórnia. Um garoto da Califórnia.

– Não irei rir disso, se assim foi uma piada, Violet. – Digo.

– Falei sério. – Ela olhou para trás e depois para mim. – Ainda estão olhando. Viu? Convenhamos, Aster, você é um doce.

– Já te falei que não funciona como espera. – Subimos o pequeno píer e começamos a caminhar de volta ao orfanato.

– Ué, também pode ser um doce para os garotos. Você viu a barriguinha do que estava no meio das meninas?

– Se eu não olhei nem para a cara delas direito, iria olhar os componentes inteiros do grupo? – Soei chateado.

– Quando vai ser realmente o menino que se veste de doces ou príncipe para a s crianças? Você precisa simplesmente seguir em frente e fazer sua vida, seja em seu próprio mundo ou não, Aster. – Violet vestiu o short curto e com as mãos em seus bolsos, ela me olhou de lado.

– A melhor realidade da vida, é aquela que você consegue fazer as pessoas acreditarem. Muitas vezes elas valem mais à pena do que você. – Ergo a cabeça e olho o restinho do sol a se por. – Nem todos conseguem ver a vida como você, Vio. É bom não pensar nas coisas, em relevar e fazer piadas, mas nem todos veem a vida como contos de fadas.

– Quando você acredite em algo que não pode tocar ou viver, significa que não tem espaço limitado no seu ser. Quando você desacredita, está certamente mais perdido que os outros que não conhecem. É como o Deus dessas pessoas, e sua fé soa bonita. Eles não o podem ver ou tocar, porém observe que ainda acreditam fielmente. – Curiosamente Violet parou de caminhar e sentou num banco de uma pequena praça à orla da praia.

– Vio, as vezes fala como se não fosse desse mundo.

– E se eu não fosse? Mudaria algo para você? – Ela perguntou ao me encarar.

– É, está viajando mais do que eu ao escrever, hoje.

– Não me respondeu, Aster!

– Claro que não, Violet. Só é meio estranho falar isso, já que é uma garota de quase dezoito. A menos que seja um dalek. – Ao fazer a referência à Doctor Who, a ruiva me olhou com expressão de riso. Ela não conseguia se conter.

– Não, eu não sou um dalek. – Ela levantou-se do lugar e colocou o braço ao redor da minha cintura. – Mas acredite, posso não querer dominar o mundo, no entanto, estou numa grande missão.

– Sério? E qual seria? – Caminhamos.

– Rir muito, rir de tudo. A melhor missão da vida. – Meus olhos giraram e dei um cascudo nela.

– Você é uma palhaça, Violet.

– É ótimo ser uma palhaça. Já viu alguém triste perto de um palhaço? – Ela perguntou ao cruzarmos a primeira quadra.

– Triste não, mas com medo sim!

– ASTER MONROE, está dizendo que as pessoas têm medo de mim? Porque é você quem vai correr de medo agora. – Ela enraiveceu e com a batida que deu no chão, foi meus pés quem responderam primeiro.

Com um sorriso no rosto, comecei a correr pela rua quase deserta e ela vinha gritando atrás de mim. A primeira diferença que Violet trouxe em minha vida, foi justamente a capacidade de sorrir. Fui uma criança que desconhecia esta atitude, mas ela conseguiu moldar toda a situação. Foi depois que descobri como sorrir era gostoso, que eu quis fazer as crianças sorrirem. Virei para trás e mandei um beijinho para Violet, que revoltada me caçava ferozmente.

– Eu te pego, seu palhaço número dois. – Gritava Violet.

Com as mãos ao alto, virei-me para ela e com a cara coberta de raiva, Violet me acertou vários tapas pelo corpo.

– Exterminate, exterminate! – Imitei o som dos daleks e nem mesmo ela aguentou.

Risadas. Era crescentes. Eram gostosas. Risadas. E ao girar pela rua e rir, não percebemos o carro que aproximava-se em alta velocidade. Violet estava bem no meio da pista, e tudo que consegui pensar, tirando a possibilidade de uma morte, foi em salvar a ruiva. Meus braços puxaram o corpo da garota e no giro que ela deu, meus braços envolveram o seu corpo delicado. Ao atingirmos o chão, pela primeira vez não senti a sua superfície dura abaixo. Não, não senti. A fina camada que separava a nós do chão era ínfima, mas eu definitivamente não o tocava. E num piscar de olhos eu o senti, todavia sem a dor. Pousei no chão com o rosto assustado.

O carro buzinou e passou direto. Só estávamos nós, ou foi o que pensei, quando de relance pude ver o mesmo parado alguns metros à frente. Vidros fechados, situação estranha. Parecia observar algo, e a julgar pelo deserto em que a rua se encontrava, só poderia ser a mim e Violet:

– Você tá legal? – Pergunto.

– Estou, o que foi isso? – Ela me olhava e não percebia o carro parado.

– Eu não sei, vai ver foi o devaneio ou algum tipo estranho de vertigem. – Digo. – Vio, precisamos sair daqui.

E a expressão de Violet mudou totalmente. Ela ficou estática e com a visão vaga:

– Alguém está olhando, sinto algo muito ruim, Aster.

Me levantei e puxei ela comigo, tirando-a do transe momentâneo. Passei a caminhar até o final da rua, local do orfanato. O carro continuou parado por alguns minutos no lugar e olhava para trás constantemente. Não sei como, mas Violet acertou. Ela não precisou ver para saber que tinha algo atrás. A puxei demasiado rápido e nesta corrida, ela perguntou:

– Você sentiu, não é?

– O que?

– Algo estranho.

– Sim.

– Acabei de sentir outra coisa. – Ela disse ao chegarmos na soleira da porta do orfanato.

– O que? – Perguntei novamente.

– Senti que acabo de achar a minha grande missão. – A expressão no rosto de Violet mudou, foi de assustada à convicta.

– Você não está bem, Violet Williams. – Disse ao entrarmos.

– Não mesmo, aliás, nenhuma de nós está. As fadas estão morrendo, todas. – Ela me encarou. - E você é a única salvação.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, mutias surpresas ainda vão acontecer. Aguardem os próximos capítulos. E claro, não esqueça das reviews. Vou amar lê-las.



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