-The Next- Fairytale: The Fantasy escrita por Rausch, The Next


Capítulo 1
Prólogo - O labirinto


Notas iniciais do capítulo

"A gravidade machuca, você fez isso tão doce." - Wide awake



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A história acaba agora, o fim. Caminhei pelo escuro labirinto, sentindo todo o frio que emanava do lugar. As vestes pretas e os cabelos totalmente modificados, que em púrpura queimavam ao associar-se com o negro original. Ergui o pequeno lampião ao alto, nada significativo, nada certo. Abaixo dos meus pés tudo ruía, o solo era arenoso. Não havia nada que me guiasse, senão a lua cheia no céu. Em conjunção com as estrelas, do breu ela tirava todo o pavor. Cruzei duas paredes, dois corredores, até que ouvi a voz:

- Eu estou aqui, por favor, me ajude – Inconfundivelmente era uma voz de criança.

Alarmei-me automaticamente e com mais voracidade me escondia ainda mais entre as paredes do lugar. O comprimento demasiado da vestimenta arrastava no chão e os gritos da criança me faziam desatentar dele, que rasgava-se ao ser pisado pelos meus passos apressados.

- Criança? Cadê você?

- Aqui, me ajude – A sua voz soava com medo, pavor, desespero.

Ao virar mais uma curva dentro do lugar, olhei para dentro de um pequeno cubículo. Era um pequeno espaço, com paredes que erguiam-se aos céus, assim como todas as partes do labirinto. O pequeno menino me fitou com gratidão e correu até mim surpreso pela aparição da ajuda. Os braços pularam em meu pescoço, fazendo com que eu o apertasse. Ele já não mais chorava:

- Obrigado, senhor – Pronunciou ao meu ouvido, quão doce voz.

E estava estranho, pois eu conhecia aquela voz. Coloquei o rapazinho ao chão e me abaixei em seu nível. Os olhos encontraram-se, os corações batiam comumente. Não só batiam, como ambos eram um. Os oceanos em nossos olhos eram a janela de toda e qualquer explicação. Éramos a mesma pessoa, em épocas diferentes. O gesto lento de sua mão a levantar-se, os olhos brilhantes de uma criança imaculada, e sobretudo a sua aura de inocência e curiosidade, fez com que eu repetisse o movimento calmamente. A palma de sua mão estendida ficou a poucos centímetros da minha.

Era como se algo rodopiasse brilhante ao redor dos dedos que assemelhavam-se, das pequenas linhas finas e determinantes do futuro e do passado. Passamos um tempo nos olhando, nada a dizer, somente o momento a contemplar. Os cabelos do pequeno eram negros, usava as mesmas roupas brancas daquele dia fatídico, mas eu via esperança nos olhos seus. Coisa que não existia nos meus há muito. Um barulho ensurdecedor seguiu-se de perto, ele dizia:

- Me salve. – Uma lágrima discreta escorreu pela face delicada.

Apertei o meu passo, trazendo-o em minha proteção e correndo o mais rápido que podia. As ramificações do labirinto se faziam cada vez mais densas. Algo era curioso ali, a pequena ramificação de uma raiz numa das paredes do labirinto. Ela era de um velho galho que, todavia parecia frutífero em sua ponta, esta, resultando numa linda fruta. Um morango. Meus olhos encontraram os meus infantes, e senti que a criança diria algo, porém ao fim de tudo, ela disse:

- Me salve. – E mesmo querendo salvá-la, arranquei o morando da sua origem.

Ainda firmemente segurando em sua mão, comecei a puxá-lo novamente. Sem direção correta, sem uma saída aparente, nada além da suposição. O guiei por dentro daquele mistério que era o labirinto e sempre orientando-me pela sombra da lua. Após tanto correr, um único corredor apareceu, diferenciando-se de qualquer outro. Ele era estreito, mas em seu final havia uma luz. Aquela luz foi a que segui. O pequeno me vinha no encalço, atingimos o ápice da corrida e ao perdermos os sons da estranha criatura, desta vez nos vimos de fronte à uma sala rodeada por espelhos. Eram vários reflexos simultâneos, e várias luzes em flash nos atingiam. O maior dos espelhos bloqueava a nossa passagem. Olhei para a criança e olhei para a fruta na outra mão. Calmaria. A tentação foi mais forte do que a vontade de fuga e o mordi. Foi delicioso, diferente, fatal.

O corpo cedeu e comecei a decair. Pude ainda ouvir suas últimas palavras antes daquele efeito:

- Não desista de mim. Me salve.

E antes de cair completamente, a palma da minha mão deslizou pela superfície do espelho. Estilhaçando-se ao meu toque, jurei ter visto borboletas no lugar dos cacos que despedaçaram-se dele.

Os olhos arregalados acompanharam o corpo que tremia, cada parte do corpo suava bastante. Todos os membros estavam eletrificados, guiados pelas mais estranhas sensações. A voz de alguém ecoava em minha mente, parecia pedir ajuda. Porém, nada foi tão estranho do que o último sinal. Levantei a mão direita na altura dos olhos. Um morango mordido e apodrecido estava nela. Eu o havia perdido. Havia perdido a mim mesmo. Era o trigésimo sonho assim.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, planejo uma história bem diferente. Tem muita coisa para mostrar. Deixem seus reviews, adorarei lê-los.