A Mulher que Fazia Chover escrita por Senhorita D


Capítulo 4
Quanto tempo, Regina


Notas iniciais do capítulo

Alguém inesperadamente volta para a vida de Regina.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/606288/chapter/4

Em um canto escuro e privativo, escondida da vista da grande clientela, encontro minha mesa sozinha, a minha espera. Sempre que venho à cafeteria do Empire State Building escolho aquela mesa. Oficialmente a cafeteria não é do edifício, contudo o público a chama assim por ela estar de frente dele. Já passei horas nessa minha “toca” privativa, redigindo caso e lendo processos para ficar longe do meu apartamento vazio.

Ás vezes me sinto realmente fraca por estar aqui, por ser uma de minhas ridículas manias. Sempre escolhendo a mesma cafeteria, mesma mesa, mesmo pedido. Por mais que eu adore ficar na cafeteria nos finais de semana, deixa-me vulnerável para qualquer um.

Como aconteceu agora.

De manhã, recebi uma mensagem de um número não identificado me mandando ir para a “minha cafeteria”. Claro que eu não iria! Porém, antes de eu mandar o número para Gold identificar, percebi o quanto seria estúpido alguém que quer me atingir me mandar ir para um lugar cheio de gente.

Poderia ter sido David, mas ele só descobriria essa cafeteria se estivesse dias me espionando ou...

– Quanto tempo, Regina.

Olhei para cima para ver a dona da voz que interrompeu meus devaneios. A mulher se sentou em minha frente, ágil. Ela usava um capuz que quase era impossível ver seu rosto, entretanto a voz era inconfundível.

– Zelena? – Perguntei realmente espantada. Há quanto tempo eu não vejo minha irmã, e do nada ela está aqui, na minha frente.

– Bom te ver também, querida. – Disse Zelena com seu inseparável sarcasmo. – Parece que a sorte foi a para a irmã errada, não é mesmo?

– Zelena, por que está vestida assim? – Perguntei ignorando sua ironia. – Você está metida em encrenca? Olha, se o problema for dinheiro...

– Quando a esmola é demais, o santo desconfia.

Estava demorando para ela soltar algum ditado.

– Zelena! Eu sou sua irmã, por mais que não goste! Sabe quantos anos não nos vemos? 20 anos! 20 malditos anos! E realmente preciso te lembrar que você precisa se cuidar? Tire esse capuz de criminoso! – Exclamei irritada. Por mais que Zelena me odiasse, eu sempre a amei. Depois de tantos anos eu tinha desistido de procura-la e resolvi esquecer essa outra parte do meu passado, mas parece que essa também voltou.

Será que ela sabe o quanto eu a procurei? A quantos hospitais eu fui para saber se ela estava doente? A quantas delegacias prestar queixa ou se ela foi presa? A quantos... necrotérios?

– Zelena, Está me ouvindo?!

Zelena olhava de um canto ao outro da cafeteria mesmo não tendo ninguém. Ela se virou para mim e falou como se eu tivesse feito um pergunta que sempre tinha a mesma reposta: o sarcasmo.

– Daria uma excelente terapeuta, Regina. Quando eu precisar, lembrarei de lhe pedir orientação.

Bufei derrotada por hoje.

– Certamente você não veio até aqui para me mostrar o quanto você me odeia. Então, sem preliminares, Zelena.

Ela tirou o capuz negro devagar e com cuidado.

– Sim, não vim perguntar qual vai ser seu carro zero desse mês. – Ela fez uma pausa, chagando mais perto de mim. – Sabe como está nossa mãe?

A pergunta me pegou totalmente de surpresa, e só agora eu pensei em como minha mãe deveria estar. Faz alguns meses que eu não a vejo e a última vez foi constrangedora demais para querer uma próxima. Sem hora marcada ou premonição de Deus, Cora estava sentada no sofá do meu escritório conversando com Malévola, Cruella e Úrsula sobre algo que deveria ser hilário. Talvez fosse em como minha mãe consegue me fazer de palhaça.

Na hora que entrei quase tive um treco ou sei lá.

– Regina, minha filha! Estava aqui, conversando com suas amigas. – Cora sorri radiante para mim e todas sorriram também. Será que só eu percebo que é falso?

– Não nos disse que tem uma mãe tão extrovertida, querida. – Cruella disse, sem deixar o forte sotaque inglês.

Bem, aquele foi um dia vergonhoso.

Depois de passar a curiosidade em como estaria minha mãe (provavelmente casada com algum milionário e passando as férias em um iate no Bahamas), senti uma tremenda raiva de Zelena. Minha mãe não para um segundo para prestar atenção em minha irmã, que a mesma me procura preocupada com Cora. Mereço.

– Deve estar em algum lugar do Caribe dando dedo pra a gente. – Bufei, irritada.

– Tal mãe, tal filha. – Zelena falou, dando uma piscadela. Não respondi. Não sabia o que mais eu poderia dizer para tentar acertar nosso relacionamento.

Na verdade, eu tinha dado uma trégua a mim mesma quando vim para Nova York. Queria um recomeço de tudo. Porém a vida é uma caixinha de surpresas. Fui trabalhar na empresa do meu (ex) padrasto, amiga de trabalho de um antiga moradora de Storybrooke, além de David e Mary Margareth jogando problemas para mim. Agora Zelena voltando das cinzas.

Contudo ela está viva e vivendo desse jeito estranho dela. É tudo que importa.

– Você visitou nossa mãe? – Zelena cortou o silêncio que tinha se instalado.

– Se quer saber, por que não vai você mesma vê-la? Ela é uma cachorra, mas não morde. – Falei rindo baixo. Nesse momento um garçom chegou com o meu café expresso, não deixando Zelena retrucar. Ela virou o rosto, tentando esconde-lo.

– Se você não notou, nossa mãe não fala comigo há 20 anos.

– Talvez porque você nunca tentou. – Disse, bebericando o café.

Um silêncio se instalou na mesa. Zelena não parecia se importar, brincava com os dedos, sem mesmo olhar para mim. Ao contrário dela, eu não sabia o que fazer. Passaram-se tantos anos, entretanto eu não tinha nenhum assunto para tratar com ela. Acho que nunca teríamos.

– Nossa mãe costumava dizer que é tolice machucar a si mesmo. E é o que você está fazendo, Zelena. Está machucando a si mesma quando não se permite vê Cora. Está sofrendo. – Falei e olhei bem nos olhos dela.

Zelena pareceu pensar em minhas palavras, mas o pensamento foi rápido demais.

– É apenas um ditado, dito por um ditador. – Ela retrucou com um ar triste.

– Bem, você é quem sabe. – Disse após tomas todo o café. Peguei um papel e uma caneta da bolsa. – Vou anotar o último endereço dela em Storybrooke.

“E, mesmo que você não querendo minha opinião, eu vou dar. Acho que você deve sim ver ela. Conversar sobre isso de uma vez por todas. Se precisar de alguma coisa, você já deve ter meu cartão, ou é só me seguir de novo.”

Fui embora, deixando em meu canto escuro e privativo, uma Zelena confusa com seus próprios sentimentos.

***

Eu sempre fui uma garota diferente.

Quando eu ainda era um adolescente sem todos aqueles problemas, não conseguia fazer muitas amizades. Não só por causa da minha mãe louca, como também por causa de que eu não tinha uma personalidade parecida com as garotas da época. Nunca fui de fazer fofoca, contar segredinho, muito menos usar a “alta tendência”. Era uma garota simples (mesmo nossa família tendo herdado a herança do meu pai) e que amava esportes, principalmente equitação.

Equitação era minha vida. O único lugar que eu podia esquecer minhas frustrações era no estábulo da cidade. E foi também onde eu conheci Daniel.

Daniel era o único que me entendia, que me conhecia. Ele que me fez tomar coragem, vergonha na cara (por ter tanto medo do diabo, vulgo Cora) e fugir da minha mãe com ele. Bem, o resto da história você já sabe.

Entretanto o ponto em que eu quero chegar não é sobre minha fuga falhada. O ponto é que, por mais que eu tenha mudado de cidade, opinião e mentalidade, não tenho a capacidade de entender a mente desse tipo de garota. Minha função é identificar mentiras, mostrar verdades e solucionar. Sou apenas uma advogada famosa – e sexy. Não uma colegial.

Mas, mesmo eu tentando, Malévola, Cruella e Úrsula não conseguem entender.

Há alguns anos atrás, Cruella estava estressada e cheia de problemas. Quando ia se separar do marido adúltero, descobriu que ele estava falida da cabeça aos pés. O charlatão era um empresário que enganou a todos, inclusive a mulher e os sócios. No fim, os policias federais apreenderam todo o seu patrimônio, deixando, por alguma palhaçada do universo, seu especial casaco de pele e o carro extravagante com um grande toque de personalidade.

Quando descobrimos (depois de muito tempo) fizemos alguns empréstimos para ela e Malévola inventou de criar algum tipo de “clube das luluzinhas”. Todo sábado à noite (dia que nunca encontramos alguém na firma) íamos para a firma e levávamos vinhos e alguns petiscos. Malévola alegava ser um “tratamento psicológico” e estaria com as amigas. Até a própria Cruella achou isso ridículo. Sempre achei Malévola a mais maternal das quatro.

Resolvemos o problema de Cruella, mas até hoje os encontros permanecem.

Estamos, dessa vez, na sala de Úrsula. As luzes estão apagadas, mas ainda consigo enxergar por conta da luz do luar e uma luz azulada emanada pelos diversos aquários que tem pela sala. Diferente do meu, o escritório de Úrsula é vibrante, com tonalidades entre azul e verde e estofados brancos. Duas palmeiras pequenas enfeitam dois cantos do recinto. O lugar parece tanto um oceano que minha mente me faz sentir um odor de peixe.

Tenho uma taça em minhas mãos, enchida até a metade de vinho tinto. Vou bebericando aos poucos, aproveitando o sabor do vinho que Cruella trouxe da Suécia. Tento pensarem outra coisa além de que queria minha cama. As três estão conversando alegremente algo que pouco me importa. Parei de prestar atenção quando Malévola me perguntou quando eu teria um relacionamento sério de novo.

Do jeito que estou trabalhando ultimamente, meu relacionamento é ir no bar da esquina e transar com qualquer bonitão.

Uma hora a vida vai te perguntar trabalho ou vida pessoal. Batalhei demais para escolher a segunda opção.

– Regina! – Malévola elevou a voz, chamando-me. – Você está me ouvindo?

– Sim? – Perguntei, logo depois bocejei involuntariamente.

– Você está bocejando? Sério, Regina? – Úrsula disse, irritada. Cruella soltou uma risada.

– Continuem. Só bocejo quando estou interessada. – Disse com sarcasmo. Malévola bufou e as três começaram a conversar de novo, agora sobre algum caso ambiental que Úrsula tinha pegado.

Levantei-me do sofá e me aproximei do aquário mais perto. Alguns peixes, percebi, tinham ido dormir, provavelmente no mini navio naufragado que tinha no interior do aquário. Outros ainda estavam acordados, nadando de um lado ao outro da caixa de vidro. Eu poderia ser um peixe. Porém eu acho que até sendo um peixe eu seria diferente. É o efeito de Cora em sua vida.

Olhei para o papel que eu tinha em uma das mãos. O endereço que David me deu do hotel que está hospedado ainda estava liso, sem nenhuma dobra. Uma hora ou outra eu tinha que vê-los para conversar sobre a apólice. E tinha que ser o mais rápido possível se eu quisesse terminar isso logo. Contudo um arrepio passava pela minha pele toda vez que eu pensava em vê-lo. Da última vez, eu tive um choque só por ele ter tocado no meu braço.

– Vou indo, garotas. Até segunda. – Peguei minha bolsa e fui me arrumando para sair.

– Já, querida? Nem deu meia-noite. – Cruella exclamou.

– Eu preciso de uma cama logo. – Comentei.

Sai da sala e atravessei quase metade do corredor que dava ao estacionamento quando uma voz me chama.

Olho para trás e vejo Malévola correndo em minha direção.

– Regina. – Diz quando chega mais perto. – Você sabe que se estiver com algum problema...

– Eu sei, Malévola. Não se preocupe. – Disse antes mesmo de ela terminar a frase. – Não estou com nenhum problema.

– Você se esqueceu que eu também sou advogada. Sei quando alguém está mentindo. – Ela disse calmamente.

Não respondi. Sai o mais rápido possível e com vergonha de mim mesma. Por estar deixando tudo à mostra.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Queridos leitores, perdão por ter demorado tanto para postar esse capítulo. Estava de mudança, além de provas e mais provas no meu colégio. Realmente estava sem tempo.
Queria dizer que a música Suddlenly I See de KT Tunstall me inspira um pouco para escrever uma narrativa entre Zelena e Regina. Nem me pergunte o porquê. Acho que é essas doideras minhas, haha.
Desculpa qualquer erro de português. Não verifiquei o capítulo e postei tudo logo na pressa. Perdão mais uma vez.
Esse capítulo vai ser muito importante em um ponto da história. Então, fiquem ligados!
Espero que tenham gostado!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Mulher que Fazia Chover" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.