–Não acredito que ele mandou você fazer isso! - eu digo surpresa.

–Mandou, mas não afetou o bebê, o efeito só durava duas horas.- diz Bill indiferente.

–Não sei como conseguiu enganar Mycroft, fazendo-o dormir como um anjinho! - Mary diz rindo e Mycroft rola os olhos.

–É muito fácil enganar meu irmão... - diz Sherlock e em seguida lança um olhar para Mycroft. -Se lembra da sua caixa de música?

–Sim. Eu a perdi na mudança.

–Pois é...

–Sherlock, o que você fez? - Mycroft já estava ficando vermelho e eu com medo.

–Nada. Molly porque não toca para nós?

–Sherlock! - chama Mycroft, e ele o ignora, olhando para mim.

–Ah... Se vocês quiserem... - eu disse tímida. Sherlock ainda lembra que eu toco. Meu coração acelerou com isso.

Fomos todos para o quarto em que ficava o meu piano solitário.

Todos ficaram em volta do piano quando eu comecei a tocar as primeiras notas.

A música foi fluindo naturalmente, como se eu e ela fossemos feitas uma para a outra. Eu tocava de olhos fechados e escutava com toda atenção a linda melodia que os meus dedos, em movimento, me davam. Todos estavam em pleno silêncio, absorvendo cada som emitido pelo meu velho amigo de madeira.

...

A música acabou e eu abri os olhos.

Silêncio.

Depois, aplausos.

Eu fiquei um pouco envergonhada, confesso, pois era a primeira vez que tanta gente me escutava tocar. Eu escutava vozes misturadas de todos ao mesmo tempo, elogiando, me deixando zonza. Consegui desvencilhar-me e ir para o corredor respirar.

–Sinto falta de ouvir você tocando às manhãs.

Viro-me abruptamente para olhar Tom que tinha me seguido.

–Oh, Tom, é você.

–Sou eu. - ele sorri torto. Acho que está fazendo isso de propósito. Ele sabe que eu amo quando ele sorri assim. Eu suspiro.

–Eu sei. - sorrio. - Como vai a nova vida?

–Bem. Eu levo Bob uma vez por semana ao parque. Eu mal me disperso por dois minutos e ele já sai correndo atrás de outros cachorros, me obrigando a correr atrás dele por todo o parque. Todos ficam me olhando, é constrangedor. - ele ri baixando a cabeça de olhos fechados, provavelmente se lembrando.

–Parece divertido. - eu rio.

–Eu não confio em ninguém para cuidar dele enquanto eu trabalho. Ele está um pouco solitário... - ele levanta a cabeça, agora me olhando no fundo dos olhos. - Você devia ir visitá-lo as vezes.

Eu vejo o pesar em seus olhos, como se ele estivesse implorando. Eu sei que não é só por causa do Bob. Meu coração aperta.

–Eu...

–Molly, eu quero mais vinho.

Mas, o que...?! Sherlock nos interrompe de repente. De onde ele surgiu?! Respiro profundamente.

–Está na cozinha, Sherlock. É só pegar.

–Eu sei.

–Então...vai lá. - eu digo estranhando a presença dele.

–Quero que coloque vinho para mim. - ele estica a taça.

–Sherlock, eu não sou sua empregada.

–É o que eu sempre digo à ele. Deve ter algum problema de audição. - diz Sra. Hudson passando pelo corredor. Ok, eles estavam bisbilhotando. Respiro profundamente pela segunda vez, tentando me controlar.

–Tudo bem, já estou indo. - eu digo e Sherlock sai caminhando pelo corredor em seguida.

–Já volto. - eu digo para Tom que sorri e acena a cabeça.

Na cozinha, Sherlock já está segurando a taça e a garrafa me aguardando.

–Não sei qual é a dificuldade de realizar um simples movimento de braço... - eu digo despejando o liquido escuro em sua taça.

Assim que o faço, coloco a garrafa na mesa e me direciono para o corredor novamente.

–Molly... - Sherlock me chama e eu me viro novamente rolando os olhos, até que vejo sua taça.

–Você tomou tudo em um gole só?! - eu pergunto surpresa ao ver a taça vazia.

–Quero mais. - ele diz, ignorando a minha pergunta. Estica o braço, pedindo mais. Eu o faço.

Desta vez fico olhando com a garrafa na mão. Ele toma tudo em questão de segundos. Eu o olho boquiaberta quando ele termina.

–Mais. - inacreditável.

–Vai ficar bêbado assim... Você sabe que já são quase meia noite? E que depois vamos abrir o champanhe? Quer mesmo se entupir de vinho?

–Mais, por favor. - ele insiste.

–Okay...

Depois de acabar com a garrafa de vinho, Sherlock finalmente desiste de empurrar mais liquido para seu estômago.

–Acho... - ele coloca a mão na cabeça. -Acho que preciso me sentar.

–Quer ajuda?

–Não. Eu estou bem.

Ele anda passando as mãos pela parede se certificando se está indo para o lugar certo, que no caso, seria a sala. Eu rio baixo. Ele está um pouco bêbado.

Meia noite. Ano Novo. Champanhe. Fogos de artifícios. Metas.

Eu não tenho metas para esse ano, acho que o tempo e o destino se encarregarão de fazê-las. Todos se divertiram, acho que consegui ser uma boa anfitriã essa noite.

Estavam indo embora quando eram umas duas da manhã. Eu estava muito cansada.

–Mycroft, não vai levar seu irmão? - eu pergunto.

–Porque eu deveria, ele já é adulto.

–Mas ele é seu irmão... E está bêbado.

–A culpa é sua. Não devia ter feito o que ele pediu. Você sabe que ele não é uma pessoa que se diga... Responsável. - diz Mycroft dando uma última olhada em Sherlock deitado no sofá com as bochechas levemente rosadas, e sai pela porta.

–John? - eu o chamo pedindo com o olhar.

–Não, obrigado. Já tenho um bebê para cuidar. - ele diz e Mary sorri para mim com pena, talvez nem tanta, e depois eles se despedem de mim.

Eu não iria pedir para a Sra. Hudson por um motivo obvio. Sherlock não se aguenta em pé. Tentei com Bill. Ele até tentou, mas Sherlock balbuciou algo como " me deixa dormir" e depois tentou empurrá-lo, mas seus reflexos estavam horríveis.

–Melhor deixar ele ai. - disse Bill desistindo.

Não tentei com Tom. Ele não era tão íntimo dele e eu não teria a cara de pau de pedir. Lestrade disse que essa não responsabilidade dele.

–Que amigo você é... - eu digo antes dele fechar a porta piscando para mim. O que será que ele quis dizer com isso? Balancei a cabeça.

–Já vou indo Molls, boa noite querid- Janine me olha e me vê sentada na beira do sofá ao lado de Sherlock. Eu a olho da mesma forma que olhei para John.

–Nem vem, Molly. Eu não vou levar ele.

–Então, vamos juntas.

–Não. Eu nunca mais vou pisar na Baker Street.

–Nem por mim? - eu faço biquinho.

–Olha, Molly... Eu vou embora antes que você me faça mudar de ideia. - ela beija o meu rosto, se despede e sai.

–Droga, Sherlock! O que eu faço com você? - eu digo cruzando os braços.

–Me deixa dormir... - ele diz um pouco rouco.

Eu o levo até o quarto de hóspedes.

–Porque esse quarto tem o cheiro do perfume da Janine? - ele pergunta quando cai em cima da cama.

–Porque ela sempre dorme aqui. Tem certeza que não quer tomar banho ?

–Tenho.

De repente me lembro das palavras de Mycroft dizendo que eu não devia fazer o que ele pede. Decido levantá-lo novamente colocando seu braço em volta do meu pescoço.

–Sherlock, você é pesado, então por favor, me ajude.

–O que está fazendo? Eu... Quero dormir... - ele diz bocejando.

Eu o levo para o banheiro e o sento.

–O que pensa que está fazendo?! - ele pergunta quando eu começo a desabotoar sua camisa branca.

–Tirando sua roupa.

–Porque?! - ele pergunta e em seguida segura meus pulsos.

–Sherlock, por acaso você toma banho de roupa? - eu pergunto rindo da sua cara de desespero.

–N-não. Eu posso fazer isso sozinho. - ele cora, mas não sei foi por causa da bebida ou...

Eu ligo a torneira da banheira e saio do banheiro fechando a porta. Não demora muito para eu ouvi-lo trancá-la. Rio baixo com isso e vou em direção à cozinha guardar as sobras na geladeira.

Em seguida arrumo a cama para Sherlock e coloco em cima dela algumas roupas de Tom. Ele sempre deixava algumas a mais, quando estávamos noivos, para o caso de... Enfim, depois fui para a sala assistir algo, no intuito de me deixar acordada.

Quando escuto a porta do quarto bater, me levanto em direção ao banheiro. Não demoro muito no banho e vou de toalha até o meu quarto. O quarto de hóspedes, ou o " quarto da Janine" como ela diz, ficava ao lado do meu, então passei por ele. A porta estava aberta agora, a luz acesa, Sherlock jogado na cama com as roupas de Tom, que coincidentemente couberam perfeitamente nele e eram do mesmo estilo das que ele usava, dormindo.

Entrei no quarto não ligando por estar de toalha, já que ele está dormindo. Pego um edredom e o cubro. Até bêbado dorme como um anjinho. Eu sorrio com a cena e beijo sua testa. Apago a luz e fecho a porta.

Depois de colocar minha camisola, caio mole na cama e puxo meu edredom, caindo no sono rapidamente.

...

Sinto algo me empurrando para o lado e depois puxando meu edredom, me deixando com frio. Acendo a luz do abajur.

–Sherlock! O-o que faz aqui?! - eu pergunto puxando o edredom de volta me cobrindo. Minha camisola era só um "pouquinho" transparente. Foi um presente que Tom me deu.

–Molly... Cala a boca, estou com sono.

–Mas o quê...?! - foi ai que percebi. Ele é sonâmbulo. Que estranho... Ele não era quando éramos crianças. Talvez seja por causa da bebida. Ele realmente exagerou. Olhei para o relógio da cômoda ao meu lado. Eram cinco da manhã.

–Molly, você está ai?

–Estou aqui... - eu digo apagando a luz do abajur e deitando ao lado dele.

De repente sinto seu braço me envolvendo na cintura e me puxando para mais perto dele.

–Você está quente... - ele diz.

O calor dos nossos corpos se misturavam debaixo do edredom. Ele só está sonâmbulo Molly, não esta consciente. Mesmo assim, gostei de sentir seu braço me envolvendo. Passei minha mão em seu braço sentindo seus músculos que sempre estavam escondidos debaixo daquele sobretudo. Ele sentiu minha mão e afundou seu rosto em meu peito respirando fundo. Não sei precisar bem quando fui dormir. Só sei que acordei com a claridade em minhas pálpebras e me deparei com Sherlock deitado e acordado olhando para o teto o mais longe possível de mim que a minha cama de casal permitia.