Eva escrita por Annie Soldier


Capítulo 5
Cap. 4




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Às cinco horas da manhã, a carruagem me buscou juntamente com as minhas malas e após uma despedida rápida de meu pai e meu irmão, seguimos nosso caminho até o porto da cidade.Não consegui me despedir de Ian oralmente,pois ao atravessar o gramado rapidamente em direção ao celeiro, na escuridão da madrugada, encontrei-o dormindo em sua desconfortável cama. Com pena de o acordar, escrevi-lhe um rápido bilhete e o coloquei debaixo de seu travesseiro,avisando de minha partida e lhe fazendo mais juras de amor, assim como a promessa de que eu tentaria escrever para ele sempre que fosse possível.Apesar de minha tristeza por ter de deixá-lo, eu estava um tanto quanto animada em relação a este passeio por um lado, pois Genebra é um dos locais do mundo onde nasceram muitos homens voltados para ciência, para as descobertas, com suas ideias Iluministas. Sempre gostei muito de ciência,de teorias evolucionistas , o corpo humano e tudo o mais relacionado à física e a química,assim como sempre tive uma grande vontade de cursar uma faculdade de ciências naturais, contudo as mulheres nesta época eram proíbidas de se entreter com esse tipo de conhecimento assim como cursar uma universidade, então eu apenas me contentava em ler os velhos livros de ciências medicinais e naturais que pertencera ao meu pai quando este era mais novo. Meu pai me dizia que o que eu estava lendo era uma bobagem para a minha cabeça, e que eu deveria me dedicar a coisas que valessem mais a pena, como aprender a tocar um novo instrumento como uma lira ou aprender a tecer coisas mais complexas, mas por mais que eu tentasse me dedicar à essas tarefas exclusivamente femininas , nada daquilo de fato me interessava. Eu amava aqueles livros e como meu pai me olhava com uma expressão severa sempre que me pegava lendo-os, eu passava a ler escondido debaixo das cobertas quando não tinha sono.
Ao chegar ao porto, Sophia já estava debruçada no navio e sorriu ao me ver. Quando subi a bordo, o capitão deu ordens aos marinheiros e zarpamos. O clima estava fresco e gostoso, com seu céu totalmente branco e alguma ou outra nuvem acinzentada mas nada que nos desse motivo para preocupação, assegurou-nos o capitão, já que de acordo com sua experiência não haveriam muitas chances de uma tempestade surgir. Sophia disse que outras pessoas participariam de nossa excurção a Genebra , mas estas vão estar nos esperando juntamente com o guia. A bordo só havia além de mim e minha amiga como passageiras, a Sra. Blass, o coronel Webster e seu filho que nos convidaram para jogar cartas com eles. Na falta de distração, acabamos aceitando e eu não pude deixar de rir discretamente das caras engraçadas que Henry fazia para Sophia , numa tentativa de conquistá-la (imaginei que ele estivesse tentando mostrá-la algum tipo de olhar sedutor) mas estava fracassando totalmente. Também não pude deixar de disfarçar uma risada ao ver a expressão de reprovação de minha amiga, que puxou seu chapéu de veludo azul para mais perto do rosto, para ocultar seu olhar com o do rapaz convencido. Durante a noite, enquanto todos estavam em sua cabine dormindo, à exceção do sentinela que estava a postos no topo do convés,eu gostava de passear pelo navio quando não tinha sono, ou entreter-me com um dos livros de meu pai que eu escondera na bagagem , ou dando rápidas escapadas até a despensa para comer alguma coisa rápida. Em uma dessas minhas excursões noturnas, encontrei em meio a caixas de madeira que continham vinho e outros mantimentos, uma garrafa empoeirada de rum. Nunca fui apaixonada por álcool,porém fui tomada por uma súbita vontade de bebê-la, então enchi um copo, fiz um brinde mental ao meu romance não-assumido com Ian e o tomei, voltando em seguida rapidamente para o meu quarto.
Após praticamente um mês a bordo, finalmente desembarcamos no porto de Genebra. Enquanto minhas malas eram carregadas até a carruagem que me levaria à casa de Sophia, aspirei com delícia aquele ar Genebrino e pude me dar conta de que estava com saudades daquele lugar, afinal, cujo céu era cinzento, e o solo oscilava entre verde e esbranquiçado devido à neve, com sua grande quantidade de florestas e as montanhas que podiam ser vistas ao longe em qualquer ângulo, com seus picos totalmente brancos devido às nevascas das altitudes. Joguei por cima de meus ombros um chale cor de marfim tricotado à mão por mim mesma e ao me preparar para subir na carruagem , escutei um assovio, como se alguém estivesse chamando outro alguém. Virei-me para os dois lados, mas não vi ninguém.Achando que fosse minha imaginação, coloquei novamente o pé nos degraus da carruagem quando ouvi o suposto chamado novamente. Virei-me novamente para os lados e ao olhar melhor, escondido atrás de um pinheiro ao lado da carruagem que conduziria pai e filho Webster, um velho marinheiro , que gesticulou para que eu me aproximasse. Cautelosamente, escondi entre as dobras do meu vestido negro, sem que ninguém visse uma faca, caso fosse necessário defender-me, afinal eu não conhecia o homem e não sabia o que diabos ele queria. Mas a curiosidade é um mal terrível, pois ao invés de eu me recusar a atender seu chamado ou fingir que não o tinha visto e voltar logo para a minha carruagem, pedi ao cocheiro que me esperasse rapidamente por cinco minutos pois queria verificar uma coisa, e caminhei lentamente em direção ao velho. Começara a ventar muito naquele momento, um vento gélido e assustador.
''Perdão'' eu dissera de forma tímida, mas tentando ao máximo não demonstrar o quanto estava apavorada , ''o senhor gostaria de falar comigo?''
''Certamente. Diga-me senhorita, de onde vem? ''
''Bruxelas, senhor.''
''E para onde vai?''
Resolvi estudar melhor aquele velho e notei que ele não deveria passar dos oitenta anos. Seus cabelos eram totalmente brancos, sua pele era enrugada, pálida e com pequenas manchas marrons nas mãos. Trajava um sobre-tudo negro, com calças da mesma cor e sapatos marrons de aparência gasta. Um cachimbo de madeira pendia do canto esquerdo de sua boca, que por sinal ainda tinha dentes, mas este não estava aceso. A tirar pelos sapatos, sua vestimenta parecia nova e de excelente qualidade. Com um pouco de receio , resolvi responder-lhe.
'' Estou me dirigindo para Genebra. Porque ? ''
''Ah, Genebra! '' -- Ele soltou uma exclamação, deixando-me ainda mais estarrecida, pois eu não entendia qual era o problema. ''Que os céus a protejam desse palco de desgraças! Não pude deixar de notar que a senhorita lia livros de anatomia enquanto descia os degraus em direção à sua carruagem, estou velho mas meus olhos funcionam perfeitamente bem, mesmo na distância. Ah , a anatomia! Essa ciência desgraçada , que fez com que eu pude testemunhar acontecimentos tão assombrosos anos atrás ! Por favor, minha querida, atenda a um desejo deste pobre ancião , atenda! '' -- Ele me implorou , ao ponto de se debruçar em lágrimas. Eu achava aquela conversa cada vez mais estranha e já começara a duvidar da sanidade daquele velho, porém fui educada e perguntei com formalidades o que ele queria de mim afinal.
''Fique longe da casa onde morou a família Frankenstein. Jamais, jamais pergunte sobre quem foi Victor, e acima de tudo , não faça qualquer tentativa de procurar saber a respeito desse homem. Ouça o que digo, ou se arrependerá. ''-- Ele me avisou de forma sombria. Um calafrio percorreu minha espinha.
''Mas não compreendo ! Quem é Victor afinal? É seu filho ? Seu parente ? O que está havendo ? '' -- Assustei-me, porém o velho se afastou de mim a passos rápidos, praticamente correndo e não respondeu a quaisquer de minhas perguntas.
'' Meu recado já está dado! Não se aventure nesta ciência amaldiçoada! Adeus! '' -- Ele gritou, se apressando a cada vez mais.
'' Ao menos , diga-me seu nome ! '' -- Exclamei
'' Walton, senhorita ! Meu nome é Walton ! '' -- E ele desapareceu entre as árvores, deixando-me ainda mais confusa.


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