Eva escrita por Annie Soldier


Capítulo 6
Cap. 5




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Ao mesmo tempo em que passei uma noite de bom sono , hospedada em um dos quartos de hóspedes de Sophia, eu me perguntava quem era aquele estranho velho e porque ele praticamente me proibira de procurar saber quaisquer informações sobre esse tal Victor Frankenstein cujo qual eu nunca ouvira falar. Depois tentei me convencer de que talvez ele estivesse me confundindo com outra pessoa, e assim ignorei o que acontecera.
No dia seguinte, após o café da manhã, nossa carruagem seguiu até o parque principal de Genebra, onde haviam carruagens com algumas damas e cavalheiros nos esperando, cerca de aproximadamente dez pessoas. As carruagens tiveram seus tetos removidos para que as pessoas pudessem apreciar as paisagens de um ângulo melhor e enquanto o guia ia na frente em seu cavalo, explicando cada detalhe e seu passado, notei que Sophia passara boa parte do programa mais preocupada em retocar o batom e aplicar tantas camadas de pó de arroz do que com o passeio de fato. Era algo que me soava ridículo , uma vez que sua pele era tão pálida quanto a minha (logo não precisaria se preocupar com tanta maquiagem) e eu particularmente nunca gostei muito de me produzir como as outras damas. Sempre considerei-me uma mulher sóbria, cujas preferências eram sempre vestidos de cores escuras e um simples batom vermelho que para mim era mais do que suficiente.
Após duas horas de entretenimento, o guia nos pediu que fizéssemos uma pausa para uma refeição, e as pessoas começaram a descer de suas carruagens para se dirigir a um antigo restaurante próximo de onde estávamos. O clima estava do jeito que eu gostava, nublado, com pouca névoa e com uma brisa levemente gelada e quando preparei-me para descer, olhei para a floresta de pinheiros que ficava do outro lado da rua onde estávamos e percebi que escondida entre a grama alta, havia um estreito caminho de terra cujas laterais eram tomadas por uma cerca de madeira bem desgastada e antiga.
''Perdão, mas para onde vai esse caminho ? '' - Apontei para a trilha que eu descobrira,aproveitando que só sobrara o guia e eu.
''Sinto muito, senhorita, mas eu não me atreveria a entrar aí. Este caminho leva a uma casa muito antiga, cuja história é particularmente estranha e ao que ainda parece a paz ainda não conseguiu atingir. Por favor, precisamos ficar todos juntos . '' -- Ele dissera de uma forma um tanto quanto estranha, parecia com medo do que eu perguntara. E essa reação amedrontada daquele homem fez aguçar ainda mais minha curiosidade.
''Ora essa, o senhor deste tamanho ainda teme histórias de fantasmas? Bem , ao que tudo indica não há placas indicando que este lugar é uma propriedade privada, portanto acho que não haverá problema se eu me ausentar por poucos minutos para ver aonde isso dará. Ademais, não estou com fome . '' - Agarrei meu leque de forma decidida e mal atravessei a cerca quando o homem se jogou na minha frente.
''Senhorita Leonheartz, não faça isso ! Mal sabe Deus se o mal já se afastou daquele lugar ! Não prossiga com essa ideia ! ''
''Bobagem ! Por favor deixe-me passar. '' - Contornando-o, ignorei totalmente suas súplicas e adentrei a floresta.
Por todo o lugar só haviam árvores e pinheiros e se não fosse a estreita faixa de terra que eu seguia, certamente estaria perdida. Não era mais possível enxergar o céu.O clima entre a vegetação não era úmido , mas frio e quando eu achava que aquela estradinha já não levaria mais a lugar algum, avistei, ao longe, uma enorme casa, de aparência antiga e abandonada a céu aberto, coberta por plantas e trepadeiras que cresciam ao seu redor, praticamente abraçando aquela construção. Era muito parecida com a qual minha avó deixara ao meu pai,porém a nossa era bem cuidada, mesmo tendo mais de cem anos. Essa que estava diante de mim estava com as janelas quebradas em sua maiorias, outras o vidro estava pendendo , quase se partindo no chão. O telhado estava quebrado em vários pontos e o que mais me impressionou foi que um pinheiro estava emergindo por uma das fendas do telhado. As paredes estavam complemente sujas, empoeiradas, descascadas e o pequeno portão da cerca que contornava a propriedade estava acobreado de tão enferrujado. Ao atravessar o portão, o caminho de terra cessou e tive que enfrentar um grosso matagal que batia na minha cintura. A porta estava trancada com um cadeado e tive que usar um machado que encontrara em um canto qualquer para arrombá-la.
Quando entrei , todo o chão desaparecera e estava ocupado por grama, poucas tábuas de madeira se enxergava. A casa era fria e um cheiro de mofo tomava conta do local, totalmente desagradável. Os poucos móveis que haviam estavam cobertos por um lençol branco e todo o teto estava branco , de tão infestado de teias de aranha. Plantas que lembravam cipós e trepadeiras serpenteavam pelas paredes e as camadas de poeira grossa era vista por todo lugar ,o candelabro no teto com rachaduras estava irreconhecível de tão pegajoso de musgos que estava. De fato havia um grande pinheiro crescendo a oeste daquela grande sala, cujo poder da natureza fizera com que a planta produzisse um buraco entre tantos que já haviam no telhado para poder crescer.
''Agora mesmo é que não entendo qual foi o motivo de tanto medo daquele homem . Óh, paspalho ignorante ! Como se atreve a tentar me assustar com histórias de demônios ? Não há nada aqui !'' -- Pensei, aborrecida.
Imaginando que o andar de cima estivesse tão sem vida quanto o que eu me encontrava, já estava me preparando para ir embora, quando notei que havia um pequeno buraco em uma das poucas tábuas visíveis que provavelmente forravam o chão.
Lembrei-me que eu costumava usar assoalhos soltos em minha antiga casa para guardar pequenos objetos e livros que furtava do meu pai e pensando se tratar de algo que provavelmente uma criança que vivera ali fizera, agachei-me diante do assoalho solto, e coloquei o dedo no buraco , removendo a madeira com facilidade.
Surpreendi-me com um pequeno caderno grosso, de capa em couro preta e amarrado com uma pequena corda, tão sujo e empoeirado como o resto da casa. Deduzi que aquele caderno deveria guardar algo de extrema importância , pois certamente deveria haver um motivo de tal objeto estar guardado daquela maneira. Enrolei-o com um lenço e o escondi, amarrando -o ás costas na cintura com a fita do meu vestido e cobrindo-me ainda mais com o chale, abandonei aquele local (não sem antes de trancar a porta de entrada com o machado na horizontal , uma vez que eu destruira a corrente e o cadeado). Corri de volta para a rua em que paramos para comer e todos soltaram suspiros de alívio ao me avistarem, o guia deu um grande suspiro de alívio. Sophia me abraçou e perguntou se eu estava bem, e como já eram cinco horas da tarde , resolvemos voltar cada um para suas casas.
Jurante o jantar , já na casa de minha amiga, após a criada da Sra Blass servir-nos o jantar, a própria me perguntara porque eu estava tão estranha.
''De forma alguma, Sra Blass. Apenas estou com sono. '' -Menti . '' Acho que irei para a cama mais cedo hoje.''
'' Na minha opnião você está doente, Lucinda. Voltou estranha daquela mata fechada, parecia que havia testemunhado um enterro, santo Deus ! Porque se afastou de todos assim ? Que inconsequência, podia ter morrido! '' - Sophia estava chateada mas ao mesmo tempo preocupada assim.
'' Não estou doente, apenas cansada ,e não se preocupem, não houve nada. '' -Respondi secamente, mas em meu íntimo eu estava louca para ir para o quarto e desvendar aquele caderno que tanto me intrigara.
''O que há com você ? Está tão estranha ! '' - Sophia insistiu. ''Amanhã vamos à casa do coronel Webster, vá conosco para não ficar sozinha. ''
'' E desde quando preciso de uma babá ?! Ora, tudo isso porque fui simplesmente descobrir para onde levava aquela trilha ? Tenho 25 anos e sei me cuidar, agora perdoem-me mas vou para o meu quarto. '' -- E subi as escadas, deixando mãe e filha Blass confusas e falando sozinhas.
Troquei eu mesma o meu vestido por uma camisola de tecido grosso púrpura e dispensando a criada, sentei-me na cama para analisar o caderno , sem antes trancar a porta. A excitação percorria meu corpo e eu já estava sufocando de tanta curiosidade. Mas a curiosidade deu espaço à surpresa pois ao esfregar a capa do caderno com um pano, na tentativa de ler seu título , deparei-me com letras caprichosas e douradas cujo título me fizera instantaneamente lembrar do velho marinheiro. Li devagar para ter certeza de que não estava delirando, mas eu estava mais do que sã.

'' Este caderno pertence à Victor Frankenstein''

Aquele velho não era então tão louco assim...


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