Eva escrita por Annie Soldier


Capítulo 4
Cap. 3




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Cap 3.

O tratador dos cavalos do nosso estábulo se chamava Ian Moscovick, um jovem que papai conhecera quando viajou para a Rússia para apresentar suas teorias medicinais a um médico que morava lá, seu amigo. Quando subiu em sua carruagem, para ir para o porto e tomar um navio para voltar para Bruxelas, a roda de sua carruagem quebrou e um jovem que passava pelo local ofereceu ajuda ao cocheiro que estava com meu pai, pois este estava sentindo dificuldades em realizar o concerto. Meu pai ficou surpreso ao ver que o jovem falava com extrema fluência nosso idioma, flamenco (Holandês, mas numa forma mais vulgar) e quando meu pai perguntou à respeito disso, Ian disse que sua mãe era belga, assim aprendera sua língua natal (russo) e a língua de sua mãe ao mesmo tempo. Revelou também que estava em busca de trabalho, mas São Petersburgo não oferecia muitas oportunidades. Como nosso último tratador teve que amputar as duas mãos devido à uma doença cuja qual não me recordo mas que começara a subir por seu corpo, papai teve que cortá-las antes que algo pior acontecesse e assim o demitiu. Ian perguntou se poderia ficar com o emprego e como ambos os homens se deram muito bem ao mesmo tempo que a roda da carruagem era concertada, papai aceitou empregá-lo e dar-lhe um salário aceitável.

Ian não tinha bens, era pobre e órfão de pai e mãe e tampouco tinha irmãos. Foi o único homem que amei durante toda a minha vida, mas nosso romance não deveria ser divulgado, uma vez em que as mulheres desta época só deveriam casar-se com homens de terras, fortunas e de preferência com cargos importantes. Se fosse algum cavalheiro da nobreza como um conde ou um barão, era ainda mais visto com bons olhos. Meu pai não poderia sequer sonhar de que eu estava envolvida com Ian, ou do contrário se prontificaria a manda-lo para bem longe de mim, deixando-me desiludida e sem qualquer esperança de amar outro homem com a mesma intensidade.

No dia seguinte, após a visita de Sophia, passei a manhã ajudando meu irmão Theodore nas suas tarefas e ao cair tarde avistei-o da janela escovando a crina dos cavalos e fazendo pequenas tranças. Ao julgar pela sua aparência, diria que estava exausto, pois o pequeno quarto que meu pai lhe dera, que ficava ao lado do celeiro era muito desconfortável e ele já tinha dificuldades para dormir bem antes disso. Resolvi fazer-lhe um agrado e coloquei numa cesta uma garrafa de vinho acompanhada de duas taças e uma baguete.Atravessei os jardins e ao me ver, abandonou o que estava fazendo e envolveu minha cintura num abraço, fazendo-me girar.

‘’ Temos muita sorte de papai ter saído antes do nascer do Sol e só voltar amanhã. Caso contrário , seria impossível de eu ser abraçada assim debaixo de seus olhos.’’ – Sorri.

‘’ Sei que devemos ter cuidado, minha querida, mas não pude deixar de aproveitar nossa oportunidade. Vi um mensageiro entregar uma correspondência ao seu pai hoje quando saia. Há algum problema ?’’

‘’ De forma alguma. Era apenas uma carta de Sophia dizendo para eu arrumar as minhas malas hoje a noite, pois a carruagem me buscará quando os primeiros raios de Sol aparecerem. Veja o que trouxe para nós:’’ – E ergui a pequena cesta para que ele enxergasse. ‘’ Podemos comer no celeiro, assim ninguém nos incomodará.’’

Já no local, ele recostou-se na parede de madeira do celeiro e sentei-me ao seu lado, e enquanto comíamos e bebíamos pude estudar as feições de seu rosto, algo que eu adorava fazer : Cabelos tão negros quantos os meus bem aparados, olhos castanhos da cor de uma avelã e a pele ligeiramente morena de Sol. Seu corpo era musculoso e era alguns palmos mais alto do que eu,tinha vinte e nove anos de idade. A camisa entreaberta que usava ajudava a definir ainda mais seu tórax e sua barba por fazer sempre me agradou, não sei porque mas é algo que eu achava atraente em alguns homens, apesar de a etiqueta ser bem rígida em relação a isso.

‘’Se eu não estivesse indo para Genebra tão cedo, o convidaria para passar a noite comigo. Não gostei do quarto que papai lhe deu quando você pisou pela nossa propriedade pela primeira vez, a cama é dura como o chumbo. Gostaria que você estivesse ficado num dos quartos de hóspedes. ‘’—Disse enquanto acariciava seu rosto.

‘’ Eu adoraria, mas é provável que seu pai chegue ao mesmo tempo em que você partir. E eu lamento muito, pois eu a amo Lucinda. ‘’ – Ele beijou a minha mão, arrepiando-me.

‘’Estou aqui lembrando a primeira vez que o vi. Eu era uma jovem boba, pois me escondi atrás do velho carvalho para que você não me visse. Estava brincando com meu irmão e estava toda suja de terra’’. – Rimos em meio a essa lembrança.

‘’E você também não reparou que eu a vi, e conforme você se aproximava de mim, pude me apaixonar por você de forma tão maravilhosa. Como eu queria ser rico para te tomar logo como esposa! ‘’ – Ele lamentou, sua condição social era sempre um fardo para ele.

‘’Não me importo com riquezas, tenho dinheiro suficiente para nós. Eu te amo e já que estamos sozinhos por aqui, vamos aproveitar o pouco momento que temos .’’

Ele curvou-se sobre mim e após me deitar em um punhado de palha sussurrou em meu ouvido que me amava mais uma vez e me beijou. Aquele beijo suave e ao mesmo tempo intenso pareceu durar a eternidade e eu achava deliciosa a forma com que ele passava os dedos pelos meus cabelos ao mesmo tempo em que eu aspirava o perfume de seu pescoço. Já estávamos pulsando de desejo para ir além quando ouvimos o cantar do galo, que sempre anunciava o fim do dia, não apenas o seu começo.

‘’Oh, já está escurecendo, devo me recolher. E você não terminou de limpar todo o estábulo. Meu pai não irá gostar de encontrá-lo assim pela manhã’’ – Eu disse, assustada.

‘’Tem razão, meu amor, um mês será uma eternidade para mim, mas por você espero todo o tempo do mundo.’

Após despedirmos-nos com um beijo, fui para o meu quarto e após arrumar tudo o que era necessário para minha viagem, adormeci, mas com um sorriso nos lábios, como sempre acontecia quando podia estar junto à Ian e assim vivíamos em nosso privado mundo cheio de felicidade.


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