O que nos faz mudar escrita por Leonor Silveira


Capítulo 3
Capítulo III




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CAPÍTULO III

Consegui roubar umas pequenas folhas de papel do quarto da minha mãe. E foi nessas folhas que comecei a escrever e desenhar o meu plano de fuga. Em princípio, seria durante a noite. Mas como o meu quarto fica trancado, teria que encontrar a chave, mas desde nova que me apercebi que um simples gancho de cabelo poderia resolver a situação. Problema resolvido, agora vinha a pior parte ; sair de casa. Até podia partir uma janela, mas isso acordaria-as e iriam ver o meu rasto de fuga. Ou então arrombava a porta da entrada, mas o problema seria o mesmo. Mas tive uma ideia melhor. Após sair do quarto, colocaria as cadeiras da cozinha junto á maçaneta do quarto das minhas irmãs e da minha mãe, e assim que ouvissem barulho, não poderiam sair do quarto pois estavam trancadas. Mais tarde, acabariam por arrombar a porta, mas nessa altura eu já estarei bem longe.

Estou no meu quarto a escrever o plano, até que avisto a maçaneta a rodar. Pego nas folhas e junto-as num monte que atiro para baixo do colchão.

– Tomar banho, Jinx. Já! - pede a minha mãe.

Eu só tomava banho de 3 em 3 dias porque a minha mãe achava que eu era um desperdício de água. E mesmo assim, os banhos só duravam 10 minutos. Corro para a casa de banho e faço o que me foi pedido.

Depois do banho, a mãe, a Vi e a Caitlyn foram passear. Como habitual, eu fiquei em casa, mas era mesmo isso que eu queria. Assim, durante a ausência delas, poderia ir á cozinha comer á vontade, já que na presença delas nunca o poderia fazer.

Podem parecer uma atitude estúpida ter que roubar comida, mas dos modos que eu era tratada, era das melhores coisas que poderia fazer. A minha alimentação baseava-se em comida embalada, e por isso era magra e desnutrida. Ao contrário das minhas irmãs que eram saudáveis e estavam sempre em forma. Já para não falar do dinheiro gasto na roupa delas. Eu tinha só algumas vestes velhas, e muito raramente (e quando digo muito raramente, estou a falar de uma média de 2 vezes por ano) recebia alguma roupa barata.

Ouço vozes familiares do lado fora da casa, apercebo-me que elas chegaram. Apresso-me a guardar os restos de comida do balcão e corro para o meu quarto. Sento-me no colchão como sempre e finjo que não se passou nada

***

– Jinx! Chega aqui imediatamente! - grita a minha mãe. Pelos vistos, não parece nada satisfeita. Acho que já sei o que vai acontecer. Sala.

Dirigo-me rapidamente.

– Porque é que andaste a comer comida que não te pertence!?

– Desculpe, senhora. Não volta a acontecer. - apesar de saber que é mentira, digo-o na mesma.

– Não quero saber se não volta a acontecer! Ninguém te mandou fazê-lo! Sala, já!

Vou para lá. Sinto os meus olhos a encherem-se de lágrimas , mas pisco-os e elas desaparecem. Uma coisa que aprendi, é que chorar mostra fraqueza. E a fraqueza é sinal de medo, e eu não o quero demonstrar.

A minha mãe pega no cinto e começa a chicotear-me na cara. Rapidamente, encosto a cara nos joelhos e gemo.

– Levanta-te!

Obedeço. Ela vira-me de costas e chicoteia-me as omoplatas. Depois passa para as pernas.

– Nunca deverias ter nascido , Jinx. És uma ofensa para a raça humana

Ela para por um instante. Encosta-se a uma parede. Parece tonta. Começa a sentar-se devagar no chão, quando os seus olhos fecham e acaba por cair. No chão, começa a ter contrações e pela sua boca sai espuma. Grito. Será que devia ter mesmo gritado. Não sei o que fazer. Vi e Caitlyn entram na sala assustadas. Vêem o que se passa e olham-me com lágrimas nos olhos. A mãe, parou de ter contrações e os seus olhos ficaram a observar o nada. Não a ouvimos respirar. Morreu.

– Assassina! Mataste-a! - grita Vi com a cara toda molhada.

–Eu não fiz nada, ela estava-me a bater e simplesmente caiu!

– Mentirosa. Não passas de uma assassina. Tu é que devias ter morrido. Nunca devias ter existido , Jinx.

Percebo que esta é a altura para fugir. Corro para a porta e dirijo-me para a direita. Sou livre.


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