CAPÍTULO II

Hoje , dia 11 de maio faço 16 anos. Duvido que as irmãs e a mãe se lembrem. Nunca se lembraram dos outros aniversários. Quando era Vi ou Cayt, havia uma grande festa em casa (na qual eu não era convidada, mas conseguia ouvir os risos e vozes felizes). Comigo, a rotina diária repetia-se como se fosse um dia normal. Tenho memória de ter tido uma pequena festa na escola. Mas como deixei a escola aos 10 anos , porque a minha mãe achava que eu também não tinha direito á escola. Mas eu acho que só me tirou de lá , porque os meus resultados comprados com os das minhas irmãs, eram ótimos.

Vi e Cayt eram totalmente cruéis para mim, mas Vi ultrapassava os limites. Houve vezes que Vi assistiu á violência que a minha mãe me praticava. Ela achava aquilo divertido. Cayt também era cruel, mas nem tanto como Vi. E eu odiava-as ainda mais do que elas a mim. Elas tinham tudo o que queriam, e eram tratadas como rainhas. Eu nunca tive algum valor sequer e era tratada como lixo. Os seus quartos eram espaçosos e bonitos. Nunca lá entrei , só espreitei pela porta duas ou três vezes, mas fora suficientes para saber como é lá dentro. No meu quarto (se é que se pode chamar quarto) não posso fazer mais nada além de pensar, chorar e ver a rua pela janela.

Neste momento, estou a olhar para os hematomas extensos e enormes que tenho nas pernas. Tenho um hematoma que permaneceu no meu joelho durante 2 anos, e que ainda cá esta. Foi feito com um bastão a toda a força possível da minha mãe.

Mais do que a dor dos hematomas, era a dor interior que eu tinha. Odiava aquela porcaria de vida que não passava de um ciclo de dor e tortura. E eu tinha que fazer alguma coisa para me livrar disto.

Foi a partir desse dia, que comecei a organizar mentalmente um plano de fuga, mas desta vez, um plano que resultasse.