Um Tom a Mais escrita por Benjamin Theodore Young


Capítulo 5
- Sixteen Candles ou A Garota em Rosa Shocking -




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De fato as minhas previsões sobre o que viria acontecer, se concretizaram. Passaram-se uma semana e nada do Tom, quer dizer, vou chamar de Thomas pra já, pois a intimidade não era para tanto ainda, ou era, afinal, ele havia me dado, ou melhor, inventado um apelido para mim, dois alias, espirro e Pimmie, o que eu inicialmente havia achado bacana e quem sabia o inicio de alguma amizade naquela selva de ricos e ostentação compulsória. O que ainda me segurava ali, apesar de eu mesmo ter apelado a minha mãe para ficarmos devido aos últimos acontecidos, fora o imprevisto de mais uma amizade, porém com a diferença de nos vermos todos os dias.

– Se não fosse você, juro, eu ainda estaria lá tentativa de me explicar, e ir acabando presa! Disse ela.

Maria Eugênia, é mais um desses acasos indefinidos, conheci-a em uma loja de souvenires no centro de Hamptons, ela, numa tentativa latina de se explicar, fazia gestos e gastava o seu inglês (por sinal muito bom), mas nervoso devido aos nervos do momento.

– Relaxa isso já passou! Respondi.

– Sim, claro! Bom, o que aconteceu me serviu para pelo menos uma coisa, conhecer alguém por aqui. Porque sinceramente eu estava em vias de um suicídio. Disse com aquele ar latino melo-dramático.

– (risos) Não é pra tanto vai!

– Juro, isso aqui é um tédio, definitivamente, não basta eu ter que vir pra cá todo ano como se fossemos parte importante da cultura e disso aqui, ainda vir e não ter amigos por aqui, that’s suck’s!

Quando a conheci percebi logo de cara o seu ar residente turistando, Maria Eugênia era estrangeira, brasileira para ser exato, e toda vez que falo isso, irremediavelmente me lembro de minha mãe dizendo enquanto saía da casa do Charles para dar umas voltas com ela. – Cuidado filho! She is Brazilian! – Como se aquilo fosse algum tipo de vírus, pecado ou crime, mas eu entendi o que ela queria me dizer, quando me lembrei da sua consternação ao ver pela primeira vez transmitida pela CNN um desfile de carnaval no Rio de Janeiro, aquelas mulheres lindas, gostosas, e com tudo, tudo de fora, bem acho que era disso que ela estava com medo! (Risos). E depois de algum tempo de conversa e três dias seguidos de saídas e descontrações, me senti na obrigação de minimizar a dificuldade de seu nome para minha pronuncia, porque aquilo soava como alemão quando tinha que chamar-lhe o nome, e quando o fiz, quando lhe apelidei, me lembrei rapidamente da criatividade de Thomas para tal, foi quando cacei em meu baú de falta de criatividade um apelido decente para ela. E eis o lampejo, Genie in a Botle, e passei então a chama-la por esse apelido, Genie, e ela prazerosamente aceitou me dando um daqueles muitos abraços que os latinos adoram dar até mesmo em pessoas desconhecidas, alias ela era cheia deles, pra tudo tinha um abraço, um toque involuntário um tapinha de brincadeira, o que a principio me era um exagero, mas depois aos poucos fui me acostumando com aquele jeitão.

– Há quanto tempo você vem pra cá de férias. Perguntou-me ela. – porque eu nunca te vi por aqui!

Queria ter-lhe explicado tudo já na hora, mas como um bom americano, diferente dos brasileiros que entregam suas vidas numa fila de supermercado, (assim confessou-me ela, em um de seus muitos abraços), apenas disse que era a primeira vez. E mais uma vez começou a me dizer tudo sobre ela, desatou numa história sem fim sobre como veio parar aqui.

– Meus pais compraram uma casa aqui recentemente, eles já conheciam um casal de americanos em algumas das viagens que meu pai veio pra cá a negócios, até que minha mãe teve a infeliz ideia de querer comprar uma casa aqui após vários anos vindos pra cá a convite deste casal. Aff quem merece? Isso aqui é um pesadelo não tem nada a ver com o Brasil, já faz três anos que venho pra cá e não vejo graça nisso, a não ser pelo ano passado que eu trouxe três amigas comigo, mas aprontamos tanto que meu pai me proibiu de voltar com elas, (gargalhadas), mas valeu a pena, pelo menos não fiquei entediada e como não fiquei, no final de uma festa qu fomos de amigos do meu pai, eu peguei um americano maravilhoso, e no final eu descobri que era o filho do dono da festa, e detalhe, tava noivo (gargalhadas), mas o que eu podia fazer, ele me olhou a festa inteira, era lindo, tive que dar uns beijos. – Desatava num diálogo desenfreado – depois ainda por cima uma das minhas amigas vomitou no aquário da dona da casa, ela tinha um peixe dourado que aff, pelo drama que ela fez parecia herança da avó materna de Napoleão Bonaparte, e pra ajudar o maldito do peixe morreu, o meu pai ficou louco, não sabia o que falava. O moleque que tava comigo desapareceu (gargalhadas), enfim, isso foi apenas uma parte, amigo. Quando percebi que ela havia dado uma pequena pausa, resolvi falar.

– (Risos) Definitivamente você marcou presença na festa!

– Você deve estar assustado né?! Juro eu não vou fazer isso na sua casa! (risos). Como se ela de alguma maneira já tivesse sido convidada.

– Não, fica tranquila, eu sou de boa! Respondi.

– Mas heim Pim, na verdade hoje esse passeio também é providencial, sábado é o meu aniversario, e juro, eu queria muito, mas muito fazer alguma coisa, porém só com meu pai e minha mãe não rola meu! What do you think about help me... pleeeeease?! Naquele momento eu sinceramente fiquei surpreso com o pedido, eu mal a conhecia, mas do pouco tempo já havíamos de certa forma criado uma conexão, o que me fizera responder um generoso sim. – Yeayyyy! Bom, na verdade a sua parte é a mais importante, amigos, eu não tenho amigos aqui, então você esta destacado para me trazer os seus, quantos quiser! Como assim, pensei comigo, eu era o cara que menos tinha amigos no mundo, e mais ainda ali!

– Mas, calma... Como assim trazer amigos eu...

– Por favor! Pediu-me antes mesmo de me deixar terminar a frase, mal sabendo do meu histórico de loser, e olhando para mim como se eu fosse lhe salvar a festa. Mas que festa? Se eu não aparecesse com pelo menos um amigo meu no aniversário dela. De imediato pensei em ligar para um ou dois amigos de Riverdalle, mas ficariam onde, depois pensei no meu irmão, mas eu ainda não havia voltado aos bons relacionamentos com ele depois do ocorrido, a única pessoa então que me lembrei foi do Thomas, mas ao mesmo tempo também sabia eu que essa seria a última, a última opção no mundo a tomar, e estava claro, eu ia ter que toma-la.

– Não precisa levar nada, eu fiz um mega drama com meu pai, e ele liberou bebidas, comedidamente claro, aham (risos), e é tudo por conta da casa, agora só faltam os convidados (risos), traga quantos quiser sério, mas só me avise antes para eu ter uma noção do quanto comprar de comes e bebes, ok? Neste momento só acenei um sucinto sim com a cabeça, mas ao mesmo tempo na minha cabeça estava, HOLY SHIT. – Vai tá top, era tudo o que eu queria american party Sixteen Candles movie style. Não contive o riso quando ela citou o filme, era um filme que particularmente também gostava, mas Pretty in Pink foi sem dúvida a discussão do momento.

– Estou mais pra Pretty Pink! Ela então me olhou e gritou histérica o nome do filme que eu havia citado em alguma língua que deduzi ser a dela.

A Garota em Rosa Shocking! Eu simplesmente amo esse filme também! Michael Schoeflling or Andrew McCarthy? A pergunta dela fora tão rápida quanto a minha resposta, dizendo em alto e bom tom a minha preferência entre os atores masculinos dos dois filmes. – Totally Michael Shoeflling – só depois de falar assimilei o que eu havia acabado de fazer, me senti envergonhado, por ela, e por mim, isso na verdade nunca havia passado pela minha cabeça ou talvez tenha inconscientemente, mas eu nunca havia respondido isso nem a mim mesmo, fiquei vermelho e por algum momento tentei disfarçar o meu constrangimento, passando totalmente despercebido por ela, que continuou falando sobre os atores, os filmes e as músicas que neles tocavam, lhe dando ideias de coloca-la para tocar também na festa. Enquanto eu ainda me perguntava, porque eu havia dito a minha preferência, ou melhor, qual era minha preferência?! – Bom vou indo nessa, amanha se você quiser podemos nos ver para acertarmos os detalhes, mas não vai ser nada demais também, música, bebida, comida e piscina, mas caso contrário, nos vemos no sábado, marque para depois do almoço, e não se esquece de me ligar para me falar mais ou menos o número de pessoas. Beijo lindo! E saiu em direção do pai que lhe esperava do outro lado da rua.

– Quando ela finalmente desapareceu de vista, coloquei meus fones de ouvidos e procurei a música mais filha da puta que tinha no meu iphone, eu queria chorar, eu precisava chorar, alias já fazia dias que eu precisava me descarregar de mim mesmo, pelo o que eu ouvi do Charles no píer, pelo o que ouvi do meu irmão, pelo o que havia entregado ali na conversa com Genie, pelo o que deixo de fazer por mim mesmo. E sugestivamente escolhi uma que sempre esteve ali na minha playlist, era alias um das trilhas de Pretty in Pynk. (The Smith – Please, Please, Please, Let me Get What I want).

Good times, for a change See, the luck I've had Can make a good man Turn bad So please please please Let me, let me, let me Let me get what I want This time

Haven't had a dream in a long time See, the life I've had Can make a good man Turn bad So for once in my life Let me get what I want Lord knows, it would be the first time Lord knows, it would be the first time

Enquanto eu caminhava pela orla da praia, ia aos devaneios e realidades da minha vida mal resolvida, da minha falta de empatia com ela, com meus anseios, vontades. Já havia parado de chorar na medida do possível, e estava tentando decifrar o motivo de cada lágrima derramada, e a conclusão que tive fora, o motivo era EU. Num estalo então resolvi que algumas coisas e fatores da minha inóspita vida, eu precisava mudar, precisava ser mais meu e menos dos outros.


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