Um Tom a Mais escrita por Benjamin Theodore Young


Capítulo 4
I, Preepy Boy e Considerações




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Havia uma diferença descomunal de classes ali naquele exato momento quando adentrei aquela casa extremamente requintada em tons de marfim e couro, tocava ao fundo uma música que eu particularmente amo, mas que varias vezes evitei ouvir perto te amigos, era muito bixa, como certamente diriam (Nina Simone – Wild is The Wind). Antes de irmos para a festa no iate dos amigos de Thomas, ele me chamara para passar em sua casa e sairmos de lá juntos, quer dizer, casa é a forma como eu digo, aquilo na verdade era um palacete contemporâneo cheio de detalhes, e lá estava havendo uma pomposa recepção dada pelos pais dele para uma pré-arrecadação de fundos para o labor Day. Acredito que metade do PIB de Nova York estava naquela festa, e eu, de short, camisa jeans entreaberta e uma camisetinha surrada por baixo com as frases “fuck the society”, na verdade eu nem era toda aquela pretensão descrita na camiseta, queria mesmo era só chamar atenção por algum motivo, complexo de inferioridade quem sabe. Neste instante, surge Thomas já levemente alterado seguido de sua mãe lhe dando alguns sermões, juntamente com a sua, bom, eu não sabia ainda decifrar o que eram ele, e a menina com quem que estava junto no dia anterior.

– Você já está bêbado Thomas?! Disse sua mãe nitidamente nervosa e absurdamente linda.

– Relaxa mãe, eu to de boa! Vamo galera que isso aqui tá um porre! Acrescentou Thomas.

– E quem é o garoto? Perguntou sua mãe.

– É parente dos Cohen, por tanto, milionário mamãe, mais do que a gente, e não é isso que a senhora adora?! (gargalhadas sínicas).

– É melhor você se recompor rapazinho, ou chamo seu pai aqui agora e você não sairá de seu quarto até o ultimo dia de suas férias.

Neste momento fiquei constrangido com a indelicadeza de Thomas, ainda que a mãe dele fosse uma devida senhora interesseira, até ali eu não tinha nada para certezas ou algo contra, confesso que de instante achei a atitude dele totalmente imbecil, vinda de outra pior ainda.

– Calma mamãe – Disse sussurrando – O cheque mais alto da casa hoje é da Senhora Cohen, a avó dele, por tanto – dando uma piscadela cínica – relaxa, e deixa que eu cuido disso, fui...

E fomos, enquanto sua mãe lhe observava rindo desconcertada, Thomas se esfregando na menina que eu conhecera anteriormente, mas também não lembrava o nome.

– Oi menino Pim. Disse ela com um sorriso largo e expressivo. – Você percebeu que o meu, quer dizer, nosso amigo aqui já esta bolado, é, boladasso (gargalhadas), mas relaxa vai dar tudo certo.

Naquele momento minha única vontade era sair correndo dali e voltar pra casa do Charles, mas fazer isso, depois de um longo processo de convencimento para com a minha mãe, em não irmos mais emborae ficarmos, seria frustrante para mim, e para ela.

– Desculpa eu esqueci seu nome! Falei sem graça.

– (risos) Isso porque você ainda não sabe meu sobrenome, daí você não esquece mais tá lindinho. Respondeu com uma piscadinha e de forma esnobe, como se o sobrenome lhe valesse toda a sua existência. – Faith Dubois Vanderbilt! SHIT, eu dificilmente me impressiono com as coisas, ou com pessoas, mas ela era uma Vanderbilt, umas das maiores fortunas do país e uma das famílias mais tradicionais dos Estados Unidos, isso porque semanas antes, eu estava estudando sobre a revolução industrial americana e nomes como Rockfeller, Vanderbilt, Carnegie e Ford, proliferaram sobre minha cabeça por dias a fio. O que fiz foi dar um leve sorriso como se dissesse, “ok agora eu calo a boca”, e continuamos a caminhada até o píer. O iate já havia partido algum tempo, então fomos levados até ele por uma pequena lancha, uma espécie de taxi aquático que ficava ancorado ali próximo às outras embarcações.

Welcome to paradise, Espirro! Era disso que eu estava falando! Disse Thomas abrindo os braços, e entrando no iate abraçado por mais dois amigos, enquanto Faith ia ao histerismo com as outras amigas tão patricinhas como ela, e eu, bem, eu fiquei ali, observando aquela briga de egos, contação de vantagem compulsiva e loucuras com bebidas, drogas e musica, muita musica, alias era a única coisa que estava me prendendo ali, a música, apesar do cover da minha banda já ter tocado, as baladas que rolavam davam para o gasto. (Otton Knows – Million Voices).

– Hey. Exclamou uma voz longínqua, estava muito alto o som o que se podia ouvir eram sussurros. Olhei para o lado a procura do “Hey” e me deparei com uma menina nitidamente alcoolizada tentando me dizer algo.

– Oi – respondi bem alto apontando para o som que tocava – O som muito alto, mas pode falar!

– Oi, você é parente dos Cohen, não é? Como se já tivesse surgido algum interesse após o sobrenome. De momento ia responder que não, e ia explicar melhor a situação, mas o som me impedira de conversar demais, então apenas confirmei com a cabeça, em seguida dizendo – Sou, por quê? Prazer Pi... – e fui interrompido antes mesmo de terminar um apelido tão pequeno, ela apenas apontou para dentro do iate e pediu que eu fosse até lá – Por quê? O que está acontecendo?

– O Tom, ele tá bebaço, e já deu uns dez tiros. Se é que você me entende?!

– Claro! Mas... Mas cadê a namorada dele?! Perguntei a fim de me esquivar de tamanho problema.

– Aquela lá – Apontou ela para o meio da turma e me mostrando Faith aos beijos com um cara e uma menina – Caraca meu, o que tá acontecendo aqui, colocaram absinto na bebida de todo mundo?!

(Gargalhadas) Relaxa, até parece que você nunca foi numa festa nos Hamptons! Quer dizer você nunca deve ter vindo mesmo numa festa nos Hamptons, de que mundo você é?! Perguntou esnobe. (Risos) – Bom, eu vou indo, e quanto àquela cena que você viu, se prepare é só o começo, porque quem manda aqui é ela!

– Ela quem. Perguntei meio perdido.

– Ela, a Faith, mas para você, um mero novato, Vanderbitch! E saiu rindo, indo ao encontro das outras amigas, tão loucas quanto ela.

Me sobreveio então uma preocupação absurda, naquele instante temi de verdade pela vida de alguns ali, que estavam completamente retardados, foi quando me lembrei do Thomas, e fui atrás dele. (Yeah, Yeah, Yeah – Heads Will Roll / A-Track Remix).

***

– Cara você não tá bom!

– Não... De boa, eu só preciso vomitar, me leva no banheiro, ou melhor, essa musica ta me deixando zonzo, me leva pra fora, do outro lado do iate tem um deck privativo, vamo comigo! Firmei-o do meu lado direito e passei meu braço sobre sua cintura a fim de ajuda-lo a andar com mais facilidade, mas o que martelava na minha cabeça toda hora enquanto caminhávamos era, cadê a porra dos amigos desse moleque?!

– Ufa, aqui tá bem mais tranquilo! Disse Thomas deitando-se sobre o deck do iate.

Caralho, esse iate é montruoso – disse eu em voz alta. – Parece que eu andei umas trinta milhas e você é pesado pra porra!

– São os músculos , eu treino firme (risos).

– Não foi isso que eu quis dizer (risos).

– Eu sei! Só estou tentando descontrair. Preciso vomi...

E antes que ele terminasse a frase, virou a cabeça de lado e vomitou tudo o que tinha e o que não tinha pra vomitar.

– Vou ver se acho uma água pra você lavar a boca!

– Ali! Apontou ele para frente, meio confuso.

– Ali o quê?!

– Virando ali tá a porta da cabine de comando, abre ela, o comandante deve ta dormindo lá dentro, e tem um bebedouro lá. O cara é gente boa, vai lá.

– Espera aí deixa ver se entendi, um iate desse tamanho tem um comandante só e dormindo?! Cadê o restante da tripulação? Esse monte de gente louca aqui, bebendo e surtando, e se acontece algo?! Neste momento fiquei temeroso.

Caralho, como eu acertei trazendo você pra essa festa, você é mais Caxias do que eu pensava (risos). Respondeu ele em tom de brincadeira.

– Não! Eu estou falando sério, isso é muito irresponsável, os pais de vocês sabem disso aqui? Nós estamos no meio do mar, no meio do nada, e se acontece alguma coisa?

– Você exagerando Pimmie, a gente tá no máximo a três milhas de distância do continente, dando pra ver as luzes de Hamptons daqui. Naquele instante a resposta dele ia se esvaindo lentamente, a única coisa que eu conseguia prestar atenção era no novo apelido que eu havia ganhado naquele momento “Pimmie”, o que era no mínimo, bem; fofo. – Água!

Voltei com um copo de água e ele já estava cochilando, dei uma leve cutucada com os pés em sua perna e ele abriu os olhos assustados.

Mano você quer me matar de susto. E sentou-se para tomar a água tomando o copo de minhas mãos. Fazendo-me o acompanhar, sentando-me do seu lado.

– Você disse que acertou me trazendo pra cá (risos), sim eu sou Caxias (risos).

– Exato, por que eu tenho certeza que os filhos da puta dos meus amigos não iriam fazer isso aqui agora! Mas não leve a mal, é bacana ter alguém consciente por perto. E continuou dando goles na água enquanto eu estranhamente o observava.

– Eu também bebo saca, não como vocês aqui! Mas...

– Mas... Olhou-me curioso.

– É que, é que eu acho a bebida uma droga já suficientemente estúpida pra nos induzir a fazer loucuras, eu não acho que...

– Eu não usei nenhum tipo de droga se é isso que você ta querendo me perguntar, digo, droga, droga mesmo, só foi álcool Respondeu ele antes mesmo que eu concluísse a frase, me deixando sem graça por me fazer parecer tão invasivo, como se eu fosse um irmão ou algum parente dele.

– Desculpa, é... Não foi isso que eu quis dizer, eu mal te conheço... É que, é que foi o que me disseram. Só isso! Mais uma vez me desculpa.

– Relaxa! Respondeu ele esfregando a mão em meus cabelos. – Sabe, é bacana ter um montão de dinheiro, fazer o que quer, comprar o que quer – Na verdade Eu, Crispin não sabia nenhum pouco o que era isso. – Mas tem hora que... Tem hora que isso por si próprio isso não basta, não é verdade?! E acenei suavemente como quem concordava.

Naquele hora, eu via um menino solitário, desabafando e entregando em poucas palavras o quanto a sua vida era cheia de “nadas”, cheia de um vazio intenso e pretensioso, escondido por trás de festas, bebedeira, carros importados, viagens e mulherada. Como todo bom bêbado, aquele era um bom momento para chorar, e ele o fez sem constrangimento, mas não era um choro esgoelado e dramático, era um choro contido, cheio de dor, e demonstrado apenas por duas lágrimas que escorriam sobre suas bochechas coradas, enquanto passava a mão sobre os seus cabelos lisos que lhe caiam sobre o rosto e respirando fundo, como quem fizesse uma pergunta interna de “o que fazer agora?”. Virou-se para mim colocou a mão no meu ombro e disse cessando o choro.

– Amanhã é o dia nacional da ressaca moral, tá ligado né?! (risos) Não havia perdido ele, nem naquele momento a oportunidade de zoar. Eu então ri e complementei:

– Mais do que isso, amanhã é o dia em que a gente não quer nem olhar pra cara daqueles com quem compartilhamos constrangimentos. (risos) Respondi como se já soubesse que ele jamais iria querer me ver outra vez.

Ele então sorriu olhando para cima e admirando a estrelas. Fazia um céu lindo naquela noite, e entre os sorrisos respondeu:

– De você, eu só vou querer me aproximar mais, Espirro! Olhou para mim, sorriu e continuou olhando para as estrelas.


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