Sinfonia - Destino Trocado escrita por cele_cambeses


Capítulo 5
Capítulo 4: Uma teia de mistérios




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(A festa começou em espaços segregados: para que não houvesse trapaça, homens e mulheres permaneceram em áreas separadas do ginásio ligeiramente enfeitado para a ocasião. Após alguns minutos de tolerância a atrasos, era hora de começar a atração principal; tarefa simplificada não só pelo número reduzido de estudantes que a universidade possuía, mas também pela falta de mais rapazes dispostos a participar. O punhado de mascarados ficou à disposição de garotas em roupas casuais, coloridas pelas suas pulseiras de plástico distintas. Ao sinal e boas-vindas da Miss ESF, teve início a brincadeira)

Michele (ao centro da grande roda de pessoas): É isso aí, gente. Esta é a festa das pulseiras e máscaras. Vocês conhecem as regras. Cada uma pega o seu parceiro e tenta adivinhar quem é. Vale cheirar, tatear e beijar, mas de forma alguma tirar as máscaras! As pulseiras são a prova de identificação dos garotos: o mascarado que quiser se revelar tem apenas que devolvê-la! Ocultar a identidade é a ideia de hoje. Então, fica à escolha de vocês manter ou não a fantasia quando o jogo terminar. Os ganhadores vão a um paintball de graça. Lembrando que se, por algum motivo, alguém desistir e não quiser mais participar, é só levantar o braço na hora e sair. Se arrisquem e liberem os seus instintos. Afinal, quem nunca quis poder fazer alguma coisa sem ser reconhecido, né?

Naty: Caramba, Babi, os meninos estão irreconhecíveis! Como vou achar o Diego?

Babi: Ih, se aventure, menina! Relaxa.

Naty: Só vai valer a experiência mesmo.

Babi: Por quê? Você pode ganhar!

Naty: Mas não vou. Eu sonhei que dava um empate entre você e a Michele. Só espero que vocês não briguem por isso, se acontecer.

Michele: Peguem os seus parceiros!

(No meio de muitos disfarces, Naty analisava quem seria a melhor opção como par. Encarava algumas faces encobertas, porém não tinha o mínimo vestígio de coragem para escolher qualquer que fosse. De repente, alguém lhe chamou a atenção. Não sabia se era o jeito, ou o cheiro, mas alguma coisa a atraía na direção de um rapaz em especial. Talvez fosse a fantasia ou alguma familiaridade que ele despertava; algo simplesmente lhe dizia que seria a escolha certa)

Naty: É, Homem-Aranha, espero que você seja o Diego. (afastou-o pela mão dos outros homens ali presentes)

Michele: Vamos lá, começa pela Nicole.

Nicole: Tá. (conduziu o par ao centro da roda formada e entregou a sua pulseira amarela): Eu vou cheirar mesmo. (inalou ao máximo a fragrância que ele exalava): Hum, pelo perfume, acho que é o Bruno.

Michele: Batman, você é o Bruno? (recebeu um aceno negativo em resposta): Que pena, Nick! Agora, é a vez da Blenda.

Blenda: Aham. (fez o mesmo que a competidora anterior, desvencilhando-se da pulseira azul): Eu vou tatear. (percorreu o tórax e as costas do companheiro com as mãos): Hum, ele não é gordo nem magro. Acho que é o Bruno também.

Michele: Confere, Frankenstein? (mais uma negativa se fez presente): É, o Bruno tá bem disfarçado mesmo! Blen, não foi dessa vez.

(Decorridas, em vão, as tentativas de concorrentes diversos, era chegada a vez das três últimas: Michele, Naty e Babi, respectivamente. A ansiedade tomava conta dos universitários, que, em maioria, passavam a questionar a viabilidade do jogo aparentemente impossível)

Sugestão musical: Stranded — Jennifer Paige

Naty (vislumbrava o seu escolhido com aflição): Homem-Aranha, somos os próximos, e eu já decidi. Sou péssima em tato e já senti o seu perfume de longe, não descobri ainda quem é. Posso te beijar? (ficou ainda mais receosa ao vê-lo assentir com a cabeça): Estou na dúvida, mas não é que eu não queira. Só tenho medo de você não ser quem eu espero.

Michele: Hum... (analisava o cheiro do parceiro, que tinha em mãos a sua pulseira vermelha): Pelo perfume de velho, é o Lula! Certo? (empolgou-se ao vê-lo tirar a máscara de Jason, revelando ser, de fato, Henrique. Espalmou a mão na dele em comemoração): Uhul, toca aqui!

Babi: Michele já é uma das vencedoras. Agora é a vez da Naty. Vai pro centro, amiga.

Naty: Tudo bem. (caminhou até o local designado e cedeu a pulseira roxa): Eu vou beijar mesmo. Eu acho. É, eu vou sim.

(Ao som da instigação coletiva, ergueu parcialmente a máscara do Homem-Aranha, aproximando-se da sua boca desnuda. De início, a timidez a continha, fazendo com que mal encostasse os lábios nos do rapaz. Cada toque entre as bocas irradiava pequenos choques em seu corpo, aumentando a vontade, brecada pelo medo, de se perder no desconhecido. E nessa quase troca de beijos ficaram. Até que, parecendo não mais se contentar com o que acontecia, o mascarado lhe chupou o lábio inferior delicadamente, dando vazão ao domínio do instinto. Ofegante, retribuiu o gesto, não mais ouvindo a multidão ou a sua própria consciência; estava perdida no momento, nos braços emborrachados do estranho. As respirações se encontravam, fragmentadas no mesmo descompasso com que os dedos tremiam sobre a face em anonimato; causavam um misto de sensações. Nunca havia se sentido assim, tão zonza e confortável, destemida e feliz. Era como estar em uma cena de filme, até mesmo o do próprio super-herói ali encarnado. Por dentro, tudo estava de cabeça para baixo, perdia a noção do chão. Havia caído na teia como se ali, naquela hora, só existissem os dois. As pernas bambeavam leves. E a forma como ele a agarrava pela nuca, consumindo-a em cada beijo, a deixava ainda mais fora de controle. Queria poder senti-lo além da borracha, conhecer-lhe a textura da pele ou o cheiro e a cor dos cabelos. Mas tinha que se conformar com a pequena porção já exposta do rosto, de onde as suas mãos não saíam. De longe, ouviu, então, uma voz conhecida que a fez recuperar os sentidos antes arrebatados pela sede de aventura)

Babi: Que demora! Esse foi dos bons! Homem-Aranha, me liga! (brincou, impressionada com o estado em que aquilo tudo havia deixado a sulista)

Naty: Nossa! (respirava fundo para retomar o fôlego): Por esse beijo eu acho que o Homem-Aranha é... (não teve tempo de dizer mais nada. Surpreendeu-se quando ele levantou o braço, em sinal de desistência, antes de deixar o ginásio assim sem mais nem menos): O que deu nele? Espera! (tentou detê-lo, mas Babi a impediu de prosseguir)

Babi: Dá um tempo pra ele. Vai ver ele passou mal ou sei lá. Agora é a minha vez. Quando eu acabar, a gente o procura. (tão logo a viu assentir, rumou ao meio do círculo de pessoas para entregar a sua pulseira verde): E aí, Lobo Mau? Quer dar uns pegas na Chapeuzinho Vermelho? Eu vou beijar este aqui! (destampou-lhe a boca, onde lhe tascou um beijo de duração muito maior do que apenas "sete minutos no paraíso"): Bom, pela fantasia de cafajeste e pela "animação" pequena, bem pequena mesmo, essa minhoquinha é do Alex. Quer dizer, esse é o Alex. (assegurou, muito satisfeita com as gargalhadas que proporcionou aos colegas. Ficou ainda mais contente quando o par se desmascarou, revelando um Alex completamente encabulado pela apresentação)

Michele: É, deu empate! E agora?

Babi: Pode ficar com o prêmio, Michele. Eu tenho uma aranha para caçar!

Alex: Ah, valeu! E eu fico de babaca por nada? (revoltou-se com a doação de um prêmio que também era dele. E a duras penas...)

Babi: Hum... (olhou-o de forma indiferente por um segundo. Depois, conteve um sorriso sádico): É. Poderia ter ficado de máscara e fingido que não era você, otário! Problema seu, ô da minhoca! Resolvam-se. (deu de ombros e o deixou falando sozinho. Já estava vingada por aquela noite. Então, entre ficar ali batendo boca, ou ir com Naty procurar o Homem-aranha desaparecido, com certeza preferia a segunda opção. E foi o que fez. Muito tempo depois, no entanto, não encontraram nada além de outros garotos, fantasiados ou não, e de Dan, que tocava violão no jardim)

Naty: Vamos perguntar pra ele. Vem!

Babi: Nossa, que lindo! Não sabia que você tocava. (abordou o amigo, admirada com a habilidade que desconhecia até aquele momento)

Dan: Obrigado. (deu um leve sorriso, sem deixar de dedilhar as cordas do instrumento)

Naty: Dan, você viu um Homem-Aranha por aqui?

Dan: Não. Só o Batman, um elfo e uma banana. (permanecia distraído com a própria melodia. Nem parecia notar a ansiedade da sulista)

Babi: Cara, quem viria de banana?

Dan: Sei lá. Pergunta para quem veio.

Naty: Eu preciso encontrar esse cara, saber quem ele é!

Babi: O beijo foi tão bom assim?

Naty: Você não tem ideia! Sei lá! A química foi incrível, apesar de ele não poder falar comigo. Eu não sei nem explicar o que foi.

Babi: Relaxa. Se ele quiser que você saiba, vai te devolver a pulseira. Não é assim que funciona?

Naty: É, né? Tem razão.

Babi: Sem grilo, deve ser o Diego mesmo. Vai ver, depois daquele beijo, ele ficou meio assustado de vocês estarem indo muito rápido, ou sei lá. Homem é tudo fresco! Eles amarelam quando o cerco aperta.

Naty: Pode ser. Vou só procurar mais um pouco. Tchau, gente. (dirigiu-se ao pátio, ao contrário da outra, que ficou por ali mesmo e se sentou ao lado de Daniel)

Babi: Dan, tá acontecendo alguma coisa?

Dan: Não, por quê?

Babi: Você parece chateado. Participou da festa?

Dan: Sim. Mas quando vi que a Camila ia me escolher, saí.

Babi: Que azar!

Dan: E não é?

Babi: Mas tá tudo bem mesmo?

Dan: Relaxa, linda. Se acontecesse alguma coisa, você seria a primeira a saber. (finalmente parou de tocar para pousar a mão no ombro dela)

Babi: Ok. Para o que precisar, é só dizer.

(No dia seguinte, Naty encontrou Diego sentado em sua carteira habitual como se a aguardasse. Ele estava bastante concentrado em um pedaço de papel, nem olhava para os lados. Bom, pelo menos até ser cumprimentado com um beijo no rosto)

Naty: Bom dia, Di. (ficou intrigada quando ele tentou esconder o que estava lendo): O que é isso?

Diego: Oi. Isso? Isso o quê? (com falsa naturalidade, beijou-lhe os lábios)

Naty: O bilhete que você tava olhando, ué.

Diego: Ah, o bilhete! Este aqui, né? (retirou o pequeno papel do bolso): Nada de mais.

Naty: O que é? Deixa eu ver. (franziu o cenho, desconfiada)

Diego: Não é nada, já disse.

Naty: Então, por que eu não posso ver?

Diego: Poder, você pode. Só não era necessário. (suspirou ao entregar a folha a contragosto, a qual ela ofereceria de volta por repensar a situação)

Naty: Não, você tem razão. Se é coisa sua, tudo bem. Não tem por que eu ficar me metendo.

Diego: Não, não. Pode ver. Eu preferia falar pessoalmente, mas se é pra você não pensar besteira, que seja. Faço questão.

Naty: Tem certeza? (viu o rapaz assentir): Ok, então. (leu em voz baixa a letra corrida sobre o fragmento de papel): "Desculpa se saí ontem sem nenhuma explicação." (sorriu aliviada, aproximando-o de si): Era só isso? Tá tudo bem, Di. Eu entendo. As coisas estão mudando muito rápido, eu sei. A gente pode ir mais devagar. (abraçou-o com afeto, convicta, agora, de que estivera com ele na noite anterior)

Diego: É... Não queria que você visse porque nem tinha terminado ainda. E achei melhor falar mesmo, sei lá! Não sou muito bom nessas coisas.

Naty: Tá tudo bem. Vamos deixar rolar, sem pressão. Combinado?

Diego: Você é foda. (beijou-lhe os lábios demoradamente)

Babi: E aí, casalzinho! (cumprimentou-os ao entrar na sala que, sem nenhum motivo, vasculhava com os olhos)

Naty: Oi, amiga.

Babi: Ué? Cadê o franguito? Queria entregar uma coisa pra ele. (mal perguntou, foi abraçada bruscamente por trás. O gritinho de susto que deu só fez Daniel rir ainda mais da cara dela): Eita, peste! Quer me matar? (correspondeu os beijos recebidos na bochecha, também se atrapalhando com as próprias risadas. Sequer conseguiu bancar a ofendida)

Dan: Você que me evocou, ué. Não reclama, zebrinha. E aí? (acenou para o casal em saudação)

Babi: Tá, fica quieto. Já que você toca, resolvi gravar umas músicas legais para você se inspirar e não ficar com aquela cara de enterro de ontem. (entregou-lhe um CD, o qual foi compensado com mais uma série de abraços)

Dan: Poxa, danada, assim você me comove. Irado! Depois eu escuto, tá? Agora, deixa eu arrumar um lugar. Tô puxando tantas matérias ao mesmo tempo que estou até zonzo.

Babi: Melhor, assim você se forma mais cedo. E logo vai poder ser um publicitário.

Dan: Nem me fale.

Babi: Só falta talento, assim como eu tenho para enfermagem.

Dan: Talento? Saca só: Bárbara Castro, a única enfermeira que vem com "finais felizes".

Babi: Hum, duplo sentido. Tá fraco, mas adorei! Ainda mais depois de você dizer que os finais eram felizes. Aumentou a minha moral.

Dan: Nada, linda. A propaganda é a alma do negócio, mentir um pouco faz parte. (sorriu zombeteiramente antes de ir se sentar): Brincadeira! Tchau.

Babi: É melhor eu ir. (constatou assim que viu o horário no celular)

Diego: Ih! Eu também. Tenho aula do outro lado do prédio. Mas antes, espera, Bárbara, esqueci de avisar: o pessoal vai jogar futebol hoje à tarde. Vocês querem ir?

Naty: De meninos e meninas?

Diego: É, tudo junto.

Babi: Te vejo na quadra! Vou chamar o Dan depois.

Naty: Hum... Não acho que dê muito certo jogo misturado, mas vou também.

Diego: Relaxa, Naty. Você fica no meu time, e nada te acontece. Agora vou nessa para não me atrasar. Até depois.

Naty: Ok. (despediu-se dele com um estalinho)

Babi: Vai comigo até a minha sala, senhorita?

Naty: E se eu me atrasar pra voltar?

Babi: Ah, o Dan não deixa pegarem o seu lugar. Vem! É pertinho! (puxou-a pela mão sem a menor delicadeza)

Naty: Vocês andam diferentes esses dias. (comentou, de repente, quando chegaram no destino): Sabe? Você e o Dan. (coçou o braço, receosa de ter soado intrometida)

Babi: Você e o Diego também, e ninguém tá reclamando.

Naty: Não sei não. O Dan anda meio esquisito.

Babi: Bobagem sua, ele continua o mesmo gracinha de sempre.

Naty: Principalmente com você, né? Bom, está entregue. Tchauzinho.

Babi: Tchau. Nos vemos depois. (acenou para ela, que, ao regressar à sala, notaria que a sua bolsa não se encontrava mais na mesa em que havia deixado)

Naty: Ué! Quem tá sentado aqui?

Dan: Não sei. Por quê? (viu-a ir em direção aos próprios pertences, colocados sobre uma cadeira da última fileira)

Naty: Você podia ter tomado conta da minha bolsa! Roubaram o meu lugar.

Dan: Eu não vi!

Naty: Como não? Antes de você chegar, eu já estava aqui! No lugar de sempre!

Dan: Eu não reparei que você tinha saído, ué! Briga com quem tirou as suas coisas daí, não comigo!

Naty: Você está tão esquisito! Tá acontecendo alguma coisa?

Dan: Eu que pergunto! Não fiz nada, e você está toda irritada aí.

Naty: Quer saber? Deixa pra lá! (sentou-se ao fundo, bastante zangada)

Dan: Pra quê foram inventar a TPM, caramba? (massageou as têmporas, cabisbaixo)

Tadeu (Professor de Filosofia): Bom dia, alunos. Leiam esse texto sobre ética, razão e emoção para começarmos um debate. (após a leitura, iniciou a tarefa, enfim): Henrique, começa você.

Henrique (Lula): Eu acho que razão e emoção não se misturam, porque, se você for passional, não está apto a raciocinar com clareza e acaba sendo parcial. Julgamentos de valor devem estar livres de subjetividade, o que é impossível se usarmos a emoção.

Tadeu: Muito bom. Pela sua cara, Nathália, acho que você discorda.

Naty: Não que ele não tenha argumentado bem, mas eu discordo mesmo. O mundo está desse jeito por falta de sentimentos verdadeiros com o próximo. Excesso de razão nos torna frios e calculistas. Só mais sentimentos para mudar o caos por que passamos.

Tadeu: Ótimo argumento. Alguém mais? (percebeu nesse instante que Dan erguia a mão): Fala, Daniel.

Dan: Mundo sem razão? E quando as emoções entrarem em conflito? A gente erra, depois é só chorar e pedir desculpas? A razão serve para nos segurar na prática de erros estúpidos! Como disse o Lula, ser passional é ser parcial. E, como o nome mesmo diz, o parcial não é objetivo e acaba pondo as suas próprias emoções acima do bem alheio. Sem conhecer a emoção dos outros, ao agir se guiando só pelo que sente, você pode magoar alguém sem querer. Tem que haver um equilíbrio.

Naty: Eu não defendi ausência de razão.

Dan: Eu entendi, só dei a minha opinião.

Naty: Pelo o que você falou, não entendeu, não!

Tadeu: Ei, ei, ei! O que tá havendo? Vocês eram um time!

Dan: Digamos que eu fui pro banco! (levantou-se e saiu de sala, deixando a loira completamente abismada e o resto da turma em silêncio)

Henrique: Achei muito interessante o que você disse, Naty. Esse debate foi muito legal!

Naty: Nem tanto assim. (terminava de guardar o material, mais desanimada do que nunca)

Tadeu: Razão e emoção foram bem debatidos, mas todo mundo esqueceu a ética!

Henrique: Filosófico, professor, filosófico!

(Passadas mais algumas aulas, chegou a hora do almoço. E Daniel não parecia ter esquecido os desentendimentos por completo)

Babi: Oi, emburradinho. Posso me sentar?

Dan: Claro. Sinta-se em casa. (abriu espaço para que ela se acomodasse ao seu lado)

Babi: Estou sabendo de um debate um tanto exaltado de hoje.

Dan: Ah, aquilo? Nada de mais! (e o sorriso que havia esboçado deu lugar a um muxoxo): Sei nem por que te contaram.

Babi: O que tá acontecendo? Você e a Naty se adoram.

Dan: Costumava ser assim mesmo, não sei o que tá pegando. Só dei minha opinião, e ela ficou toda sensível. Não tomei conta do lugar dessa vez, ela veio de grosseria.

Babi: Ela tá achando que você mudou com ela.

Dan: Eu? Não sou eu quem está de frescura!

Babi: É, você está estressado mesmo... Só espero que vocês se entendam. Desde o primeiro dia são unha e carne. Se davam tão bem que todos juravam que eram apaixonados um pelo outro.

Dan: Muita gente achava isso mesmo, mas nem por isso precisava ser verdade. Você e eu estamos mais próximos do que nunca e nem por isso estamos apaixonados, ora!

Babi: E quem disse que eu não estou apaixonada por você? (gargalhou do quanto conseguiu assustá-lo com a suposta declaração): Você devia ter visto a sua cara! "Apaixonada", você levou um sustão!

Dan: É, é... Essa foi muito boa!

Babi: Mas continua o que você estava falando.

Dan: Putz! Até esqueci depois dessa!

Babi: Você e a Naty apaixonados.

Dan: Ah, resumindo, ela tá esquisita desde que... Esquece!

Babi: Desde que o quê? Começou a sair com o Diego?

Dan: Pode ser. (deu de ombros e tomou um gole de suco)

Babi: Normal, Dan, você ficou assim com a Blenda também.

Dan: É, vai ver é fase. Só me preocupa porque eu nunca a vi tão nervosa, ainda mais comigo! (remexeu os guardanapos por um instante, pensativo)

Babi: Tá acostumado a ser o queridinho, né? (abafou uma risada com a garfada que levou à boca)

Dan: Ah, nada a ver, somos todos amigos.

Babi: Dan, nós te tratamos como um mascotinho. Você é todo gracinha, fofinho, e a gente fica com vontade de cuidar e tal.

Dan: Como é que é? Que pó botaram na sua comida?

Babi: É sério. (sorriu com tranquilidade)

Dan: Cara, você também vai ficar esquisita agora?

Babi: Não, só tô falando a verdade.

Dan: Valeu, eu acho. Só não sei se vocês perceberam que eu tenho personalidade e penso por mim mesmo, ao contrário de "mascotes". Se não me tratarem bem, não vou ficar correndo atrás.

Babi: Não falei nesse sentido. Só disse que você é um fofo! (mandou-lhe um beijo, de implicância. Sabia que ele detestava ser tratado como um menininho)

Dan: Vocês mudam de humor de acordo com a lua, é? Cara, quem é você?

Babi: Não posso elogiar, não?

Dan: Pode, ué, só estou estranhando. Você quer dinheiro emprestado, é isso? (emitiu um risinho e balançou a cabeça)

Babi: É esse Dan que eu gosto de ver!

Dan: Tá, mesmo assim. Para com essas coisas, ou eu me sinto uma criancinha. "Você é tão fofo"! Daqui a pouco vai apertar as minhas bochechas e me dar um pirulito!

Babi: Estou estagiando muito com criancinhas, fico assim. E você não é só fofo, também tem uma bunda linda! (sorriu maliciosamente, assim como ele o fez)

Dan: Ai, esse é o preço que a gente paga por levar um apertão na bunda uma vezinha só! Quem pode, pode! Tadinha, tá sentindo falta, né?

Babi: Não fala muito não para não estragar a beleza da bunda!

Dan: Você é folgadinha, hein? (agarrou-a pelo pescoço para que lhe despentear os cabelos se tornasse mais fácil)

Diego: Calma, cara, deixa pra acabar com ela no jogo! (sentou-se de frente a eles, acompanhado por Naty): Já te convidaram, né?

Dan: Já. O Alex falou comigo hoje cedo, entre as aulas. (respondeu, um tanto sério)

Diego: Temos que ficar em times diferentes para ficar mais interessante!

Dan: Não sei o que tem de interessante nisso.

Naty: Ai, Diego, que coisa nada a ver!

Dan: Meu lance é mais música do que futebol, cara.

Diego: É, futebol não é para todos mesmo!

Dan: Muito difícil correr atrás de uma bola. Até me faz achar aqueles acordes intercalados fáceis! (confrontou-o com ironia, já à beira de perder a paciência em definitivo)

Babi: Chamem a carrocinha que os cachorros vão brigar!

Dan: Relaxa, não brigo à toa!

Diego: É, é só uma conversa amigável!

Babi: Se fosse hostil, então... (revirou os olhos cheios de sarcasmo)

Naty: Gente, chega de briga hoje! Dan, vê se não se estressa de novo!

Dan: EU? (apontou para si mesmo, pasmo com a acusação): Ai, ai, deve ser pegadinha, só pode! Vou fingir que não ouvi, para não piorar. (disse, antes de ser surpreendido por mais uma aparição feminina com que não queria lidar naquele momento)

Camila: Oi, gente! Dani, não te vi na festa.

Dan: Deus, por favor! Mande uma praga de gafanhotos, três raios na minha cabeça, mas essa garota de novo não! Era só o que faltava agora! (olhou para o alto a fim de travar uma conversa quase íntima com o Criador)

Camila: Há alguns anos você gostava de ficar perto de mim! Lembra? (cruzou os braços, aborrecida): Não era assim grosso!

Dan: Cara, devo ter passado pela macumba sem pedir licença... Garota, já faz dois anos! (levantou-se para poder se colocar diante da ex e, quem sabe, finalmente se fazer entender): Presta atenção! É a última vez que eu vou falar: acabou faz muito tempo. Eu não gosto de você, não quero papo nem ser seu amigo! O segundo ano ficou na escola. Vê se me esquece.

Camila: Olha para mim e diz que você não me ama mais.

Dan: Tá de brincadeira? Eu nunca nem disse que te amava!

Camila: Eu senti que, desde que vim pra cá, as coisas mudaram. Você voltou a gostar de mim, não é? Por isso, tem tanto medo de ficar perto.

Dan: Cara, nem vou te responder! (já se entregava aos risos, vendo tanta graça naquela teoria que até foi se sentar sem emitir mais um argumento sequer. Outra pessoa, no entanto, estava disposta a falar por ele)

Naty: Você não tem vergonha? Depois de tudo o que você fez, ainda vem cercar o garoto como se nada tivesse acontecido? Se você gosta dele como diz que gosta, pelo menos respeite a vontade dele de não falar com você!

Camila: E quem é você, a namorada de hoje?

Diego: É mesmo, Nathália, não se mete nisso.

Naty: Ela me estressa! Que cara de pau!

Babi: Querida, você entendeu: adeus, auf wiedersehen, arrivederci, que o Diabo a carregue! (conseguiu fazê-la ir embora, mas notou que o amigo partia também): Aonde você vai, Dan? (caminhou na sua direção, preocupada)

Dan: Para a "Sem-Camilolândia"; um paraíso na Terra em que essa garota não vem me encher o saco! Se não der certo, sempre posso ir para outro canto e, em último caso, quem sabe cortar os pulsos e morrer aos poucos? Hum, não... Ela teria que ser mais importante para isso.

Babi: Relaxa, vamos com o seu violão lá pro jardim.

Dan: Eu tenho aula!

Babi: Eu também, e daí? Não seja tão certinho. (deu-lhe uma cotovelada fraca, em incentivo a que aceitasse a proposta)

Dan: Não, ow! Eu estava só brincando antes. Ela nem me incomoda tanto assim, para falar a verdade. Em todo caso, a gente assiste a esses dois últimos tempos, depois jogamos futebol e, aí sim, ficamos de bobeira. Certo?

Babi: Se está bom para você, pra mim tudo bem!

Dan: Combinado, então! (beijou-a na face antes de se dirigir ao corredor. Todavia, a sua retirada não seria assim tão pacífica)

Naty: Tchau, né, Dan!

Dan: Hum? Ah, tchau, Naty. (acenou de longe e rumou para a aula enfim)

Diego: O que tá havendo? (perguntou diante da agressividade da sulista)

Naty: Nada, ué.

Diego: Não parece.

Naty: Nem tudo é o que parece. Vem cá! (enlaçou-o num abraço sem mais nenhuma discussão)

(Ao término das aulas, começaria o jogo marcado, ainda que quase ninguém houvesse de fato comparecido. No primeiro time, estavam Diego, Naty, Bruno e Michele; no segundo, Babi, Dan, Alex e Nicole. Como juiz da partida, Lula Molusco deu o apito inicial, permitindo que Bruno saísse com a bola)

Michele: Aqui! (requisitou um passe, que acabou sendo interceptado por Nicole)

Nicole: Pega, Alex! (tocou por acidente para Diego. E, assim, foi feito o primeiro gol)

Diego: Um a zero! E aí, senhor músico? Consegue encarar?

Babi: É, em campo ele fica bem competitivo! (comentou aos sussurros com o melhor amigo): Que insuportável, nossa!

(Adiante, próximo ao fim da partida, com o placar de 2x1 para o time de Diego, Naty torceu o tornozelo ao tentar driblar Nicole. A bola sobrou, então, para o seu pretendente, que foi empolgado de encontro a Dan, sem nem ao menos perceber o ocorrido)

Diego: Será que você consegue me parar? (estranhou vê-lo sair em disparada para o outro lado do campo): Ah, ficou com medo! Corre mesmo! (deu continuidade à jogada em que marcaria o gol da vitória): É! Ganhamos! Esse foi pra vo... Ué, cadê a Naty?

Babi: Seu imbecil competitivo! Ela se machucou, e quem socorreu? O Dan! (cutucou-o no tórax com a maior das repreensões): É assim que você gosta dela?

Michele: Ela torceu o pé! Ele veio correndo, pegou no colo e levou sabe-se lá para onde. Não sei se fico mais impressionada com os zelos dele ou com a sua capacidade de jogar sozinho e nem se dar conta. Todo mundo parou quando a garota caiu, mané!

Diego: Por que ele fez isso? Era só ter me avisado!

Alex: Você estava muito ocupado sendo a estrela do jogo... (revirou os olhos)

Babi: Cara, pro Alex te chamar de convencido é porque você vacilou mesmo!

Diego: Eu vou procurar os dois! (partiu em busca deles, mesmo sem ter certeza quanto ao paradeiro em que se encontravam. Não tardaria a descobrir que os dois estavam no quarto de Naty)

Naty: Tá doendo muito! (soluçava entre as inúmeras lágrimas que deixava escorrer até o queixo)

Dan: Calma, aguenta mais um pouco. (pediu, mantendo a bolsa de gelo sobre o inchaço): Vai passar! Só mais um pouquinho, eu juro.

Naty: Você está sendo tão legal comigo! E eu fui tão grossa hoje... Me desculpa?

Dan: Só se você me desculpar também. (deu o sorriso mais amistoso que pôde)

Naty: Quanto àquela coisa sobre estar no banco, você está estranho por achar que foi substituído? (apoiou a mão na dele por um segundo ao perguntar)

Dan: Não, não. Foi besteira minha, só estava irritado na hora. Falei sem pensar. Eu só não sei como agir com você perto dele. Só isso. Mas, se você está feliz, eu prometo me esforçar para me acostumar.

Naty: Ah, Dan, você não existe! Eu te adoro!

Dan: Eu também. E muito! (afagou-lhe os cabelos assim que ela o abraçou pela cintura e se aninhou em seu tórax)

Naty: Sem brigas? (encarou-o com a doçura que deixou de lhe dedicar pela manhã)

Dan: Feito! (beijou-lhe a testa na mesma demonstração de afeto, sem libertá-la do abraço. Pelo menos, até a entrada de Diego no cômodo)

Diego: Pode deixar isso comigo!

Naty: Tá tudo bem, já estou bem.

Diego: Eu cuido dela!

Dan: Tá bom, tô saindo. Se cuida, Naty. (deixou-os sozinhos, alheio à disputa implícita que se fizera ali)

Diego: Você está bem? (viu-a assentir com um aceno de cabeça): Fiquei preocupado. (envolveu-a nos braços, nem reparando que ela estava pensativa)

Babi: E aí, Dan, como ela está? (quis saber assim que o encontrou na saída do prédio, indo caminhar pelo jardim)

Dan: Bem. Ele foi "cuidar dela". (enfatizou a pronúncia como reprovação ao chilique do outro): Saí de lá para não causar problema.

Babi: Nossa, eu não sabia que ele era imbecilzinho desse jeito.

Dan: Vai com calma também. É capaz de a gente não estar dando uma chance a ele.

Babi: Tem razão. Mudando de assunto, adivinha o que vamos fazer semana que vem?

Dan: Hum, não sei. Semana que vem? Acho que não tem nenhuma data importante não! (bancou o sonso de propósito)

Babi: Poxa... Que amigo atencioso, hein! (com o lamento, conquistou um abraço e um sorriso de pronto)

Dan: Tô brincando, menina. Eu sei que é o seu aniversário!

Babi: Que bom. Porque, se esquecesse, eu te bateria!

Dan: Ui! Até me borrei agora! (simulou um calafrio só para zombar da incapacidade dela de amedrontá-lo)

Babi: Melhor mesmo. Você pode ser mais alto e mais forte, mas sabe que comigo o caldo entorna!

Dan: Miau! A gatinha tá braba?

Babi: Posso ser gatinha, mas a patada é de tigresa. Cuidado! (advertiu, cheia de marra, mas logo começou a rir): Bom, e o que você vai me dar?

Dan: O que você quiser, desde que não seja a minha bunda! (repensou a própria condicional após a dica dada pela careta dela): Credo! Essa frase ficou péssima!

Babi: Fala uma merda dessas e ainda tem certeza de que vai ser publicitário! (deu de ombros ao rir dele como se não houvesse amanhã)

Dan: Quer dar uma volta?

Babi: Por que não? (acompanhou-o em um passeio por uma boa extensão da grama. Contudo, a conversa foi interrompida pela irrigação repentinamente ligada, justo naquele instante. Era como se houvesse sido programada para avacalhá-los de fato): Cacete! Ai, que raiva! Irrigador babaca!

Sugestão musical: Breathe — Michelle Branch

Dan: Cara, olha o seu estado! Tá parecendo um pintinho molhado! (ensopado, tentava em vão prender o riso cada vez que olhava para ela)

Babi: Há-há! Só não retribuo a gentileza porque acho que meninos ficam muito mais charmosos quando estão molhados! (cruzou os braços em uma seriedade passageira)

Dan: Sempre tarada! Não cansa de me secar, não?

Babi: Eu? Secando? Ah, Dan, vê se me come! (abanou a mão com um desdém muito espontâneo)

Dan: Não seria "vê se me erra", doente? Depois sacaneia quando eu não calculo bem as frases!

Babi: E eu lá quero que homem pegável me erre? Deixa de ser ingênuo, "nugget"! (empurrou-o em revelação de que, seca ou encharcada, adorava chocá-lo de alguma forma)

Dan: Tá, tá, shiu. Quer saber? Já que estamos molhados mesmo, vamos dar um pulo lá na piscina?

Babi: Mas a essa hora não pode mais ir lá!

Dan: Pensei que você gostasse de aventuras.

Babi: Hum, eu topo! Você fez parecer emocionante! (pulou a portinhola que dava acesso ao local): Vamos logo! (tirou a blusa, ficando só de top e saia em uma seminudez inesperada)

Dan: Uau! Por essa eu não esperava!

Babi: Pff, já me viu só de blusa e calcinha! Anda! (despiu-lhe o tórax, evidenciando os músculos antes não analisados com a devida atenção): Nossa! Você tá muito menos frango do que eu pensava!

Dan: Deixa de bobagem! (agarrou-a de repente para se atirar com ela sobre as águas)

Babi: Ah! Maluco! (resmungou exatamente como o sorriso dele denunciava que queria. Após algumas braçadas sem rumo, adiante, pararam próximos à borda, lado a lado): Posso te perguntar uma coisa?

Dan: Pode, ué. Fique à vontade.

Babi: Você tem ciúme de mim e da Naty?

Dan: Deveria? (franziu o cenho, sem entender)

Babi: Não sei. Comigo ainda não aconteceu, mas às vezes parece que você sente ciúmes da Naty. (contorceu os lábios ao confessar)

Dan: Primeiro, como vou ter ciúme de você, se você está sempre comigo? E segundo, não é ciúme. Eu só me preocupo com vocês, como faço com a minha irmãzinha.

Babi: Que lindo! Não sabia que você tinha irmã!

Dan: Tenho sim. Ela tem dez anos e se chama Jacqueline. Ela é tudo pra mim, sabe? Nosso pai morreu há muito tempo, a Jackie ainda era muito pequena. Como a minha mãe é advogada, volta e meia ela tinha que trabalhar até muito tarde e me deixava cuidando da minha irmã. O pior de estar aqui é ficar longe dela tanto tempo. (vislumbrou o nada ao confidenciar algo tão importante sobre si mesmo que havia quase segredado até então. Simplesmente não gostava muito de relembrar ou falar sobre os seus problemas de família)

Babi: Nossa, é tão bonito ver irmãos assim unidos! Ela dá muito trabalho?

Dan: Nada! Ela é demais! Não me importo nem um pouco de ficar horas cuidando daquela baixinha! Por mais que seja estranho, quando eu estou mal, corro pra perto dela. Ela sempre sabe o que dizer. Pra Jackie, eu sou o melhor homem do mundo, tadinha!

Babi: Talvez ela não esteja tão errada. Sabe, você me surpreende cada dia mais!

Dan: Sou tão maluco assim? (emitiu uma risada curta e remexeu a água)

Babi: Também, mas é que às vezes você nem parece real! (passou a mão pelos seus cabelos lentamente enquanto o observava cheia de admiração)

Dan: Que foi? Outro bicho? (brincou com a situação similar que compartilharam no passado, o que só a fez revirar os olhos como de costume)

Babi: Então, você abre a boca e estraga o encanto!

Dan: Eita! Tá bom, fico quieto. (ficou em silêncio para encará-la de volta por alguns instantes e, definitivamente, não se adaptava ao certo àquela nova sensação que pairava sobre eles. Apesar de gostar daquilo de algum modo)

Babi: Você está com tanta vontade de me beijar quanto eu estou de beijar você?

Dan: Olha, se você não fosse minha amiga, numa hora dessas eu já teria feito isso há muito tempo e... (teve a fala e um suspiro interrompidos pelo dedo que lhe pousaram sobre os lábios para que eles se selassem afinal)

Babi: Você não sabe mesmo a hora de calar a boca, né? (sussurrou prestes a beijá-lo suavemente, antes que voltasse a tagarelar hesitações)

Dan: Babi, é sério. Você está dificultando as coisas, eu não vou conseguir me controlar por muito tempo. (alertou, com os olhos ainda fechados e as bocas apenas um milímetro afastadas)

Babi: Depois a gente se entende! (reaproximou-o de si para um beijo, desta vez, correspondido. Era engraçado como, após a estranheza inicial de ultrapassarem a amizade, tudo pareceu encaixado. Os apertos na cintura, com que aproximavam os corpos, eram na medida. As línguas se tocavam com uma familiaridade prazerosa. Estar com ele era assim, um paradoxo: havia fogo nos lábios e, ao mesmo tempo, calmaria): Caramba!

Dan: O quê? (questionou, ofegante. Apoiaram as testas uma na outra para terem tempo de recuperar o ar)

Babi: Não sabia que você era t-ã-o bom nisso!

Dan: Não acredito que era só isso que você queria me dizer! (tentou retomá-la nos braços, mas ela voltou a matraquear como se não tivessem nada melhor a fazer; nada mais fisicamente produtivo)

Babi: Sério! Quem diria?

Dan: Você me provoca e agora tá a fim de bater um papo?

Babi: Não mesmo! (tornou a beijá-lo por um instante, porém logo reintroduziu o falatório): É só que...

Dan: Ow, mulher! Você também não sabe a hora de ficar quieta? (teve de rir da inversão deles na posição do que não fechava a boca e do que queria calá-la com beijos. Em seguida, conseguiu, por fim, tornar a tomar posse dela com vontade. E as horas que esbanjaram nisso se passaram com a rapidez de minutos): Eita! Já está muito tarde, tenho mil aulas amanhã. É melhor irmos, né?

Babi: Melhor. Vão acabar pegando a gente aqui. (desatou os braços que circundavam o pescoço dele, e foram juntos até o seu quarto. Não para o que ela teria em mente em relação a qualquer outro com quem se agarrasse daquela forma, no entanto. O desejo existia, mas a amizade ainda era maior)

Dan: É... chegamos.

Babi: Olha, não precisa ficar preocupado, achando que vai ficar uma situação esquisita, ou que a nossa amizade pode ser abalada por isso, tá? Amanhã conversamos com calma.

Dan: Tudo bem. (despediu-se com um selinho e a observou entrar no cômodo para se certificar de que estava entregue em segurança; integridade essa pela qual outra amiga também zelava)

Naty: Babi, são duas e meia da manhã! Onde você estava? (esfregou os olhos recém-despertados pelo barulho que ela fez na chegada)

Babi: Na piscina.

Naty: Caramba, é mesmo! As suas roupas estão ensopadas! O que houve?

Babi: Digamos que eu resolvi fazer algo diferente hoje.

Naty: Maluca... Só você para ter a ideia de ir dar um mergulho tão tarde!

Babi: A ideia não foi minha. Eu encontrei o Dan lá fora depois que ele saiu daqui. Ele quis dar uma volta, mas a irrigação sacaneou a gente. Aí, ele teve essa ideia. Foi ótimo, você não tem noção!

Naty: Eu sei que ele surta às vezes, mas isso é mais a sua cara do que a dele!

Babi: Amiga, conversamos muito... (introduziu o assunto de uma maneira sugestiva; parecia estar prestes a fazer um desabafo)

Naty: Sério? Sobre o quê?

Babi: Amizade, família... Você sabia que ele tem uma irmãzinha?

Naty: Já ouvi algo do gênero. Ele ainda é meio fechado sobre a família dele. Também não perguntei. Mas o que tem de mais no assunto?

Babi: Nada. Só que ela é o amor da vida dele! (enxugava o excesso de água dos cachos quando se sentou na cama): Você tinha que ver ele falando dela, sério. Tão fofo e sempre com aquele jeito engraçado e...

Naty: Hum... Alguém ficou caidinha, hein...

Babi: Para falar a verdade, alguma coisa me afetou hoje.

Naty: Sério? Será que ele percebeu? (o tom de malícia deu lugar à inquietude. Já a morena, valeu-se da mesma mordida de lábios sarcástica de sempre)

Babi: Bom, depois que eu o beijei por horas, creio que sim, né! E ele foi tão meigo comigo e estava todo preocupado com a nossa amizade e... Ah, menina, que pegada!

Naty: Cara, vo-cê e o Dan? (tentava em vão conter o queixo, que insistia em despencar)

Babi: Qual é o problema?

Naty: Vocês são amigos e... e... e... E você vivia dizendo que ele era frango demais e tal.

Babi: Naty, querida, ele já me provou que não é bobo como a maioria dos homens da idade de vocês. E eu sempre disse que ele era uma graça. Em relação à amizade, nada de mais! Decidimos conversar sobre isso amanhã.

Naty: E como vai ser?

Babi: Se nós soubéssemos, teríamos falado sobre isso hoje. Bom, boa noite. Não esquenta com isso que eu resolvo. Sonha com o seu jogador de futebol!

Naty: Inacreditável! (sibilou consigo mesma enquanto se acomodava para voltar a dormir. O assunto, por sua vez, se manteria acordado por mais alguns minutos)

Dan: Mas foi isso. Amanhã a gente vai conversar e ver no que dá!

Alex: É... Ela estava certa quando disse que já tinha me superado. (comentou com a voz mansa, o que não deixou de atrair um olhar de suspeita)

Dan: Você tá a fim dela, cara?

Alex: Não, não, que isso! Só tem algo nela que é diferente. Ela acabou comigo na festa!

Dan: Sério? Eu estava no jardim, não sei o que aconteceu.

Alex: Ela, bem, menosprezou o meu amigo aqui na frente de todo mundo.

Dan: Que merda, hein? (acabou tossindo de tantas gargalhadas que alcançaram o palato ao mesmo tempo, por mais solidário que quisesse parecer)

Alex: Aquela mulher corre atrás do que quer! Eu tinha me esquecido disso.

Dan: Ela sempre foi muito decidida. Você deu mole! A Babi é uma garota fora de série, e você desperdiçou.

Alex: Vai seguir a minha saga?

Dan: É diferente, cara! Sei lá, é esquisito pra mim ainda. Somos ótimos amigos, mas não sei se nos entenderíamos juntos. Além do mais, está em jogo muita coisa: o que ela quer e a nossa amizade. Dá um nó na minha cabeça só de pensar na Babi zangada comigo como está com você até hoje.

Alex: Relaxa... A Bárbara gosta de você, ela te conhece. E fui eu que acabei sendo um babaca mesmo. Ela sabia que corria esse risco, mas ainda assim tem toda a razão de me odiar.

Dan: Não acho que chega a ser ódio, não. Ela só ficou magoada, depois passa. Ela é uma ótima pessoa! Mas eu deveria ter sido mais forte, só faço merda!

Alex: O que você queria? Uma morena daquelas te agarra, e você ainda acha que seria possível sair dali e resistir? Não se ilude, "brow"! Já disse, ela não vai ficar chateada com você. Decida sem pensar no que ela quer, considere o que você quer. Não vale a pena pra ela, estando ou não apaixonada por você, ficar contigo se não for correspondida de verdade.

Dan: Sei lá! Ela é de lua, e você sabe! (torceu os lábios, receoso. Até que, então, teve um rompante criativo): Espera aí! Isso me deu uma ideia!

Alex: O quê? Que ideia?

Dan: Você vai ver na hora certa!


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