Acordei com a sensação de que não tinha dormido nem dez minutos, mas tenho certeza de que dormi mais de dez horas seguidas.

Meu corpo todo dói e minha cabeça parece pesar mais de dez quilos.

Me arrastei da cama até o banheiro e tomei um banho quente e muito demorado daqueles que te renovam e sai de lá um pouco melhor. Acho que estou pegando uma gripe, não sou de ficar doente mas quando acontece é de me deixar caída .

Comecei a revirar o armário em busca de alguma decente para vestir, quando de relance olhei para o relógio e levei um susto, eu entro as oito na revista e agora são exatamente nove e dez.

— Merda! — gritei irritada, estou muito atrasada.

Merda merda merda eu pensava enquanto corria para me arrumar.

Não tinha tempo de ficar doente, coloquei a primeira roupa que vi pela frente e sai em disparada como uma maluca pelo apartamento , toda descaracterizada.

Espero que Margo não reclame do meu jeans largo, camiseta amarrotada e tênis encardido, meu cabelo bagunçado e minha cara sem maquiagem.

O glória!

Me joguei " literalmente " na frente do primeiro táxi que apareceu e aos berros dei o endereço da revista para o taxista.

— Corre meu filho , vou perder a cabeça , os pés , as mãos e pior o emprego se não chegar nesse endereço o mais rápido possível.

Estava quicando no banco do carro e o cara e olhava como se eu não fosse desse planeta. O coitado jamais se recuperaria desse episódio, seria a história da sua vida a maluca do táxi.

O taxista seguiu a risca tudo o que eu falei e saiu cantando pneus. Enquanto ele ia passando por sinais vermelhos e quase atropelando pedestres nas calçadas eu me sentia no filme velozes e furiosos, a diferença é que eu não dirigia apenas xingava pessoas mau amadas que buzinavam e mandavam o taxista para um lugar não muito agradável.

— Vai se f.....! Eu to atrasada caralho .

Eu dizia amigavelmente da janela para uma senhorinha que nos xingava depois que caiu de bunda quando passamos voando por ela.

Eu estava adorando esse cara, ele estava mesmo me ajudando, mas algo lá no fundo me dizia que ele queria na verdade se livrar de mim o mais rápido possível.

Quando enfim chegamos me joguei pela porta antes mesmo dele parar o carro e deixei algumas notas no banco. Para variar sai correndo e gritei um obrigado por cima do ombro.

Tive a impressão de ouvi-lo gritando maluca, mas acho que foi minha ótima audição me enganado.

Entrei na revista como um furacão e todos me olhavam atônitos.

Fui direto para minha mesa e fingi que estava tudo bem e que era um dia como outro qualquer, mas não seria assim tão fácil.

Assim que sentei a morte ou melhor minha chefe parou bem na minha frente e me olhou com a pior cara do mundo.

Não existia expressão ali , o que me apavorava ainda mais.

— Espero que tenha acontecido algo muito grave para explicar seu atraso, estou a horas esperado meu café e você tem milhões de e-mails para responder.

Meu único pensamento era quero voltar para minha cama.

A adrenalina depois de toda aquela correria já tinha passado e eu sentia que murchava aos poucos.

— Desculpa Margo eu perdi a hora, eu nunca tinha me atrasado e isso não vai mais acontecer.

— O passado não me interessa, hoje você chegou atrasada — ela disse me deixando vermelha de vergonha — e sei que isso não vai mais acontecer porque na próxima é rua!

E depois de me humilhar saiu como se nada tivesse acontecido.

Me afundei na cadeira e bufei cansada. Ela me odiava, na verdade ela odiava todo mundo mais comigo sinto que é pessoal.

Estava curtindo minha depressão quando ouça a voz inconfundível de minha queridíssima amiga.

— Você esta péssima e Margo esta querendo sua cabeça em uma bandeja — Aline estava ali na frente linda como sempre, rindo da minha desgraça.

— Me conte uma novidade — falei sem emoção — ela acabou de sair daqui babando de raiva — respondi me levantando e indo em direção a cafeteria. Mesmo já passando do horário se eu não leva-se o café da manha da fofura ela começaria a voar e soltar fogo pelas ventas, literalmente.

Aline me seguiu e foi me contando sobre seu perfeito final de semana regado a muito sexo com o Jesse.

— De verdade, eu não preciso saber dos detalhes, é impróprio até para maiores de idade.

Fiz um cara de nojo tentando ignorar a pornografia que ela me contava.

— Isso é falta Taylor, falta de um homem bem gostoso na sua cama.

Revirei os olhos.

— Nem tudo é sexo Aline, e eu tenho um homem bem gostoso — disse me referindo ao meu namorado que é um pedaço de mal caminho.

Me peguei lembrando de seus braços fortes , sua barriga tanquinho e sua boca ....

Me arrepiei só de lembrar, balancei a cabeça tentando espantar aquelas imagens.

Talvez ela estivesse certa eu estava precisando de sexo.

— Você pode até ter, mas ele não esta em sua cama!

Disse a coisa mais obvia do mundo, mais era uma coisa que infelizmente eu já sabia.

— Mas você podia pedir ajuda para um certo vizinho de porta, tenho certeza que ele ajudaria numa boa.

Ela disse com um sorriso safado. Senhor o que eu fiz para merecer essa pessoa em minha vida?

— Você bebeu ? Eu amo o Brian e mesmo que Noah fosse o último homem da terra eu nunca ficaria com ele, nem para fins sexuais.

Acrescentei a última parte porque ela estava pensando exatamente nessa possibilidade. Amigos de sexo. Isso definitivamente não existe, tirando outros motivos que tornam essa ideia totalmente ridícula.

1) Ele era Noah 2) Ele era Noah 3) Ele era Noah

Só isso já é motivo suficiente para eu nem pensar nessa possibilidade.

— Eu estava brincando Tay, mas pensando bem ele faria um belo trabalho, imagina aquele traseiro .... — disse se abanando.

Dei-me paciência!

— Chega, não vamos falar do traseiro do Noah, eu estou bem, só estou ficando doente, e preciso levar esse café antes que a megera me coma e não é no bom sentido.

O resto do dia foi um borrão, Margo não olhou mais na minha cara mas percebi que depois de tomar o sagrado café, seu humor melhorou consideravelmente.

Mas nem assim pude ficar mais tranquila, ela bem que me avisou que tinha milhões de e-mails para que eu respondesse e ela não estava exagerando.

Minha caixa de entrada estava abarrotada, eu tinha que responder clientes, acionistas e outras varias pessoas e ainda cuidar da agenda da minha queridíssima chefe.

Tenho quase certeza de que nessa empresa ocorre trabalho escravo com os estagiários ou melhor com a estagiaria sendo que sou a única!

Já era nove horas e eu ainda estava na revista, meu expediente tinha acabado a muito tempo.

Deixei-me cair na mesa por um segundo, fechei os olhos cansada demais para continuar por hoje.

Meu celular apitava insistentemente me lembrado que tinha muitas mensagens chegando e eu apenas ignorei. Noah estava mais uma vez me atormentando, tentei de todas as formas não pensar nesse inútil e nas merdas que ele tinha me mandado mas a curiosidade foi maior.

Tinha sete mensagens dele tirando as quinze ligações que também eram dele, nem meu namorado me liga tanto.

De: Maníacoinsuportável

Onde você esta? Porque sua casa esta trancada?

De: Maníacoinsuportável

Tay cade voceeeeeee?

De: Maníacoinsuportável

Tay eu to com fome =(

De: Maníacoinsuportável

Mulher aparece, me responda.

De: Maníacoinsuportável

Você foi abduzida? Eu sabia que eles existem!!!!! Óvnis eu quero ver óvnis *-*

De: Maníacoinsuportável

ME LEVEM TAMBÉÉÉMMMMM O/

De: Maníacoinsuportável

Ai tem comida?

Não podia ser mais ridículo, eu acredito seriamente que Noah tem problemas mentais. Mas bem feito, ele tem o dom de aparecer no exato momento em que eu colocava a chave na porta.

Faz algumas semanas que mudei a fechadura do apartamento e ele teria uma surpresinha quando tentasse entrar lá.

Estava rindo da desgraça dele quando meu celular apitou, esperei mais um monte de drama mas a mensagem me assustou consideravelmente.

De: Maníacoinsuportável

Você fez bolo de chocolate *_* !!! Amo bolo de chocolate . Tay você é a melhor vizinha s2s2s2s2s2s2s2s2s2

Como ele sabia que eu tinha feito bolo de chocolate se fiz depois que ele foi embora ontem? Eu não contei! Minha mente começou a trabalhar em inúmeras possibilidades:

1) Ele tem visão de raio X e viu através das paredes 2) Ele leu minha mente e descobriu que fiz bolo e não pretendia dividir com ele 3) Ele arrombou minha porta.

Eu queria de coração que Noah tivesse adquirido poderes telepáticos, mas minha adulta racional interior me dizia que isso era impossível então a terceira opção era a mais provável.

— FILHO DA PUTA !!

Gritei tão alto de ódio que tenho certeza que ele me escutou lá do nosso prédio e se mandou correndo com medo da morte, sorte que não tinha mais ninguém na revista ou minha fama de louca ia se concretizar.

Peguei minhas coisas e sai correndo, essa era uma rotina em minha vida . Correr por Nova York louca e desvairada.

Cheguei em casa em menos de vinte minutos e não me pergunte como porque eu não saberia explicar.

Exatamente como eu tinha previsto minha porta estava escancarada e o idiota estava deitado em meu sofá vendo TV tranquilamente.

Não pensei, só pulei nele e comecei a ataca-lo com socos e tapas enquanto gritava.

— VocêvaimepagarNoaharrombouminhaportacomeumeuboloeuteodeio!!!

Eu falava tudo muito rápido e aos berros tentado soltar meus braços e continuar a bater nele, eu já estava ofegante mais a adrenalina me mantinha em movimento.

Estava preparada para morder seu nariz e faze-lo sangrar ate a morte quando em um movimento muito rápido ele nos jogou no chão ficando por cima de mim e me imobilizando.

— Me solta Noah eu vou matar você!

Berrei debilmente tentando me soltar.

— Só quando você se acalmar maluca! Porque esse escândalo?

Ele não precisava fazer muita força para me manter no lugar.

—Você ainda pergunta? Meu dia foi uma bosta, minha chefe quer comer meu coração, meu emprego esta por um tris, eu estou morrendo de dor de cabeça e pra finalizar minha casa foi arrombada por um filho da puta sem noção.

Gritei na sua cara o mais alto que consegui e deixei minha cabeça cair no chão, eu estava ofegante e cansada só queria um banho bem quente e dormir para sempre.

Ele me observava em silêncio ainda segurando meus pulsos, seus olhos estavam arregalados e ele estava vermelho pelos meu tapas. Talvez, só talvez eu tenha exagerado em minha reação.

— Não achei que fosse ficar tão brava. Eu sempre estou aqui na sua casa.

Sua voz era baixa e calma, acho que ele tinha medo que eu recomeça-se o escândalo.

Respirei fundo fechei os olhos

— Desculpa, eu me descontrolei. Mas você também é culpado, não pode ir entrando assim na minha casa sem permissão.

Esperei ele começar a falar que sou uma doida psicopata , mas ele permaneceu em silêncio.

A curiosidade foi maior e abri os olhos esperando uma resposta engraçadinha mais ele ficou apenas me olhando, com seus profundos olhos verdes.

Não tinha percebido como estávamos próximos, nossos corpos colados, seu peso me esmagando no chão, mas de alguma forma não era desconfortável, seu rosto estava a centímetros do meu e sua respiração quente me deixava tonta, seu hálito de cigarros e menta era de alguma forma delicioso podia senti-lo em minha língua. Involuntariamente lambi os lábios e senti ele se contorcer em cima de mim.

Eu tentava lembrar o que estávamos fazendo ali no chão, mas não conseguia raciocinar com ele me olhando tão profundamente, não queria desviar o olhar.

Ele foi chegando mais perto, pude ver pequenas sardas distribuídas por suas bochechas e nariz e me peguei pensando em como nunca tinha reparado nele, não desse jeito.

Claro que eu sabia que ele era lindo e tudo mais , mas não tinha percebido como seus cílios eram longos , em como seus lábios eram bem desenhados e seus olhos, meu Deus como seus olhos eram verdes e me deixavam hipnotizada.

Ele tocou seu nariz em meu rosto bem de leve e inspirou profundamente.

— Nunca me canso do seu cheiro — disse baixinho , tão baixinho que só ouvi porque estava colada nele.

Sua voz estava rouca e arrastada e eu fechei os olhos sentindo um arrepio na boca do estômago.

Não tinha mais controle sobre meu corpo , minhas pernas estavam moles.

Aline definitivamente tem razão, eu preciso de sexo.

— Não consigo explicar , mas é tão doce que me da água na boca.

Ri involuntariamente de sua cantada barata, e percebi que essa era uma cena estranha e que não devia estar acontecendo.

Mas porque eu não levantava? Meu corpo não queria , não me obedecia, porque ali estava bom, quente e aconchegante. A quanto tempo eu não me sinto assim tão relaxada?

Continuei divagando até que de repete senti ele se levantando, foi até a cozinha, pegou uma cerveja e depois saiu porta a fora me deixando quente e sozinha no chão da minha sala.

Suspirei profundamente e continuei deitada não entendendo nada, mas ainda podia sentir seu calor em meu corpo.

— Merda! — sussurrei baixinho.

Eu definitivamente estava pirando. Mas não sou de ferro, Noah é muito gostoso, mesmo eu odiando admitir e telo tão próximo me deixa perdida.

— Merda! — repeti mais uma vez.

Depois de muito tempo me obriguei a levantar e fui até meu quarto, tomei um banho quente e demorado o segundo do dia, logo em seguida fui até a sala e me joguei no sofá, coloquei Game of Thrones e me deixei levar pela por minha série favorita.

Estava vendo mais uma vez a quarta temporada e vibrando pela morte daquele otário do Joffrey quando minha porta se abriu e um Noah sorridente entrou me entregando uma sacola com alguns muffins e um copo grande e fumegante de café .

— Muffins de chocolate e café puro para a senhorita — ele disse jogando a sacola em meu colo e colocando o café na mesinha de centro, depois fez reverencia e sentou-se ao meu lado.

Estava agindo como se nada tivesse acontecido igual o dia da boate, e mais uma vez agradeci mentalmente por isso.

Esse era um dos raros momentos que eu amava, quando Noah me paparicava. Geralmente acontecia quando brigávamos então não entendi o motivo do mimo , mas não seria doida de recusar.

Passei um tempo em silencio só comendo, Noah pegou um muffin e me acompanhou também em silêncio.

Podia até ouvir o cricrilar dos grilos do lado de fora.

Queria perguntar o motivo dele ter ido embora de repente, mas não sabia como começar o assunto então apenas ignorei minha mente inquieta e curiosa.

Só a luz da TV nos iluminava, então só via sua silhueta, percebi que de tempo em tempo ele me olhava , estava tenso demais, esquisito demais.

Tentando quebrar o clima chato me estiquei e coloquei minhas pernas em seu colo.

— Faça massagem em meus pés servo.

Falei o olhando com um sorriso debochado.

Ele apenas revirou os olhos mas não recusou minha " ordem ".

— Você anda muito folgada — disse enquanto massageava meus pés.

Eu estava jogada no sofá suspirando , definitivamente eu mereço muitas massagens nos pés.

— Você devia fazer isso sempre.

Sua risada ecoou na sala.

— Não se acostume! —Disse fingindo uma seriedade que não combinava com ele — Mas então o que aconteceu hoje que te deixou tão estressada?

— É uma longa historia — disse suspirando — Só de lembrar já fico com dor de cabeça.

— Eu não tenho nenhum compromisso hoje — Disse com um sorriso torto.

Então contei a ele toda a saga do meu péssimo dia, e ele prestou atenção em cada detalhe. Essa era outra coisa que eu gostava nele, a atenção que ele me dava.

Depois de um tempo me vi agradecendo ele por todo cuidado que tinha comigo, mesmo depois da sessão possuída de mais cedo.

— Obrigada pelo café e os muffins, e desculpa pelo acesso de raiva de mais cedo — disse e ele sorriu para mim com os dois cantos da boca — mas eu sugiro que você não me irrite assim novamente porque na próxima eu estarei armada.

Endireitei-me no sofá e rapidamente juntei os joelhos em meu peito.

— Não prometo não invadir mais sua casa, porque você sabe que não sou bom com promessas. Mas a próxima vez eu juro que aviso antes.

Depois piscou pra mim enfatizando como era cara de pau.

Nós dois rimos.

Noah sempre Noah.