Nárnia - Uma última visita. escrita por Gennie Licce


Capítulo 6
O reencontro parte 2.


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura.



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O saguão era um dos maiores cômodos da casa. Seu chão de azulejos pretos e brancos, suas paredes de madeira escura e pilastras do mesmo tipo juntamente com enfeites de pérolas brancas – Um enfeite feito a mão, delicadamente pelos melhores escultores e decoradores. Não era um dos lugares mais arejados, mesmo possuindo duas janelas, impossíveis de serem abertas, e uma enorme porta. O saguão cheirava a Jasmim, pinheiro e produtos de limpeza. Um aroma doce, suave e em parte artificial. Os móveis ali presentes eram poucos. Quatro mesinhas de canto, espalhadas e grudadas nas paredes, todas de um tipo de mármore com os mesmos detalhes das pilastras. Nelas haviam os vasos chineses mais delicados e esbeltos, todos repletos de Jasmins. Ainda haviam as esculturas antigas mas conservadas, todas no mesmo lugar que o professor, o antigo dono desta casa, as deixara.

Não se pode se esquecer do labirinto que ali começava. Havia duas entrada para dois corredores diferentes, um a esquerda outro a direita, e neles mais cômodos e corredores. Já em frente uma enorme escada de madeira mais clara e robusta se estendia, e exatamente quinze degraus a cima ela se dividia em duas escadas, cada uma para um lado. Sim, um belo labirinto. E, hoje, há quem diga que até mesmo os verdadeiros moradores já se perderam uma vez ali. Menos Lúcia, a caçula que explorou cada cantinho daquele casarão, sempre achando novas portas, novos corredores e novos cômodos e sempre voltando para o lugar em que começou a busca.

Quando vivo, o professor incentivara as crianças a explorarem a casa, um jogo como a caça ao tesouro. Todos os mais novos corriam pelas casas com um bloco de papel e lápis, e a cada nova descoberta anotavam o lugar e como era. Um jogo de reconhecimento, algo muito importante e efetivo anos depois. Agora, para os Pevensie a enorme casa nem parecia tão grade.

Só há três pessoas no saguão, e mesmo sabendo que há mais gente dentro desta casa, ela parece vazia. Há um silêncio horrendo, um silêncio que atravessa os cômodos e gela a alma.

Susana anda determinada, mantendo a postura e os passos calmos. Mesmo que aqui não tenha uma corrente de vento, o vestido de algodão rosa de Susana balança. Ela é muito bonita, algo puro e durador.

“ Enfim Pedro, você está de volta ao lar.” Ela diz assim que alcança o meio do saguão, olha ao redor e se vira devagar. Os encarando com os enormes olhos azuis, em uma expressão sedutora e voraz. “ Sei que se lembra de cada canto deste castelo...” Ela sorri. “ Seu quarto é o do professor, custou bastante tirar o Edmundo de lá mas finalmente vocês podem descansar.”

“ Ah! Tirar o Edmundo? Ele dormia naquele quarto?”América perguntou incomodada e surpresa, não queria desorganizar nem mudar nada ali.

“ Tudo bem, ele vai voltar quando forem embora.” Su a direta.

“ Susana, podemos dormir em outro quarto. Essa casa é enorme, há outros por aqui.” Pedro argumentou sério, não havia motivo para aquilo. Bem, de acordo com ele.

“ Pedro, entenda, além do antigo quarto da Dona Marta só o do Professor tem uma cama de casal.” Falou Su, séria. Parecia desapontada pela falta de compreensão do Pedro.

“ Ah claro!!” Diz América cortando o clima.

“ Acho que Pedro ainda lembra como chegar lá. Pelo visto Lúcia e Edmundo já colocaram suas coisas la.” Isso saiu mais gentil do que antes.

“ Obrigada!” Agradece América sorrindo.

Por obra do destino, antes de Susana pensar em responder passos foram ouvidos. Passos pesados, desleixados e rápidos, como os de crianças correndo - e não é que são? Descendo uma das escadas estão Lúcia e Edmundo, eles correm como se fossem pequenas crianças brincando de pique. E aos olhos de Pedro, eles ainda são os pequenos de sempre.

Lúcia pula um, dois, três degraus correndo para chegar antes de Edmundo, e ele por sua vez tenta segurá-la. Eles riem, exibindo os dentes e brincando um com o outro. Isso é bom! Finalmente os caçulas se entenderam de vez, e agora apreciam a presença um do outro.

“ Lúcia, Edmundo!!” Reclama Susana, como sempre. Porém eles não ouviram, e quando finalmente chegam ao “térreo” ela fala mais alto e bravamente. “ Ei!! Parem de correr como loucos.”

Os dois param subitamente, perdendo os sorrisos bobos do rosto e com os olhos sem expressões claras encaram Susana. A brincadeira acabara de modo nada reconfortante, Lúcia parecia brava e Edmundo irritado.

“ Nossa Susana, não somos mais criancinhas para você bancar a mamãe.” Lu está irritada, cruza os braços em protesto e bufa.

Do outro lado, atrás de Su, Pedro a encara arregalado. Por quanto tempo ficou fora? Por que a doce Lu está tão nervosa? Ele não tem tempo para perguntá-la, pois a jovem logo sai do Hall seguida por Edmundo.

“ Susana?’’ Pedro pede uma explicação sério. Odiava intrigas entre irmãos.

“ Não me culpem, alguém tem que manter a ordem nesta casa. ” Ela se defende.

“ O que deu em você? É a Lúcia...” ele começa.

“ Já está mais que na hora de ela crescer.” Susana levanta o tom de sua voz, sinal que está se irritando.

“ Ela ainda tem 17 anos...”

“ Ora! isso não é nada, quando eu tinha dezessete...” ela começa

“ Mas ela não é você!” Pedro finaliza a conversa, encara Susana furioso depois olha América rápido e se retira do Hall. Seus passos eram pesados e apressados, sua postura encolhida e os punhos fechados. Tão rapidamente deixou o local e pegou o corredor a direita.

O clima tenso permaneceu, e só o que se escutava eram o pesado respirar de Susana e os passos de Pedro se afastando. América, sozinha novamente, olhou para o vestido que vestia. Um vestido de manga rodado, todo amarelo seco com detalhes vermelhos. Uma bela roupa que combina com seus cabelos agora totalmente soltos. Estava nervosa com a possibilidade de encarar Susana, mas tinha de encará-la. Então respirou fundo e levantou seus olhos calmamente, pedindo aos seus deuses que lhe ajudassem neste momento delicado.

“ Desculpe me por isso América, costuma ser assim com as irmãs. Você tem uma irmã, não?” Susana puxa assunto, antes que a nova hóspede pudesse proferir a primeira sílaba. 

“ Irmão. Meio irmão na verdade.” América responde atrapalhada. Sua voz sai meio grossa, e suas bochechas coram.

“ Bem, se teve brigas com ele entenderá. Agora só me resta lhe mostrar a casa.” Susana diz quase com desdém, não queria ficar ao lado da namorada de seu irmão. A mulher a qual acusa ser a responsável pelo afastamento dele.

“ Tudo bem.” Fala América sem jeito, torcendo para que Pedro voltasse.

Mas ele não voltou e ela foi guiada por Susana, subiu a escada direita depois virou e pegou um corredor a esquerda, segui em frente, subiu três degraus e desceu cinco. Neste momento ela se sentia em Hogwarts, em meio aquelas escadas que mudam de lugar. Não lembrava mais de onde veio, quais escadas pegar, quais degraus subir.

Tudo parecia o mesmo, as decorações dos corredores, os papéis de parede eram iguais. Um labirinto perigoso e arriscado. Susana parecia confiante, exibindo o conhecimento sobre a majestosa casa.

***

Enquanto isso, Pedro percorrera extensos corredores até chegar a uma pequena sala familiar. Um cômodo, decorado com uma mobília velha e desgastada, uma sala pouco cuidada. Sentada em uma poltrona com estampa florida, próxima a janela, Lúcia se encontrava encolhida. Edmundo, que logo a seguira, se encontrava encostado no parapeito da janela adjacente, de braços cruzados e expressão fechada. Não conversavam, nem se quer abriam a boca.

“ Edmundo posso falar com a Lúcia a sós?” Pedro pede os encarando.

“ Saiba que isso não é só com ela.” Edmundo se manifesta irritado, sua voz está grossa e seca. Seu corpo curvado contra a janela provoca sombras monstruosas em seu rosto.

“ Por favor.” Pedro insiste.

“ Tudo bem, mas fique ciente disso.” Edmundo cede e descruza os braços, mira um olhar intenso e observador em sua irmã e então se retirara.

Pedro concordara com um balançar da cabeça e em câmera lenta se aproximou de Lúcia. A irmã nem sequer o olhou, sua expressão é misteriosa como se esforçasse para prende ou inibir algo. Pedro se sentou à frente dela e começara. “ O que houve Lu? O que a fez mudar de humor tão de repente?”

No início ela não responde, mas depois de um tempo desabafa. “ É a Susana, Pedro. Ela tem agido como nossa mãe por anos desde que eu e Edmundo voltamos.” Ela o encara. “ Não suporta ver eu e Ed se divertindo pela casa, parece aquelas velhas da Igreja em que vamos todo domingo.”

Pedro segura o riso. “ É, eu percebi que Susana está estranha mas por quê?”

“ É essa pergunta que eu e Ed nos fazemos todos os dias. Ela tem ficado paranoica cada vez mais, diminuiu um pouco desde que eu falei de Narnia mas...” Ela se interrompe.

“ O que ouve Lu? Você costuma correr por essa casa rindo demais.” Pedro semi cerrou os olhos e se ajoelhou aos pés da irmã. “ Explique me...”

“ Desde que foi embora, Susana começou a tomar conta do Professo com auxilio da Dona Marta mas então ele veio a falecer, Marta a entrar em depressão. Ficamos praticamente sozinhos e quase despejados. Porém, de alguma forma, papai conseguiu arrumar as coisas. ” Seu olhar entristeceu. “ Desde então ela tem se esforçado para tomar conta de nós, ser uma moça exemplar como a América... e então de repente enlouqueceu. Queria mandar em tudo e todos como a rainha da Inglaterra.”

Pedro refletia por alguns segundos, a explicação era valida mas podia não ser a que procurava. Ele se levanta e anda pelo quarto. “ Acredito que tudo começou com a minha ida e espero que termine com a minha chegada. Não faz nem duas horas Lu, nem duas horas que estou aqui.” Se vira para olhá-la e continua. “ Que tal tentarmos mudar as coisas para melhor Lucia? “

“ Como Pedro? ela odeia ver qualquer comportamento selvagem, como ela diz.” Briga Lúcia. "Odeia que não seguemos seu monótomo cronograma, que suspiremos ou respiremos. Susana perdeu a cabeça em uma de suas gavetas e não consegue encontra-la".

“ Vamos confiar, sempre damos um jeito.” Pedro tenta encorajá-la. “ Só tente não brigar com a Susana.”

“ Meio impossível, não? ” Ela cruza os braços.

“ Nós nos tornamos reis e rainhas de uma terra em um mundo paralelo, sério que acha isso impossível? ” Ele brinca e acaba trazendo um sorriso dela de volta.


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Notas finais do capítulo

Mandem as opiniões de vocês, estou amando as quais recebo!!



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