Nárnia - Uma última visita. escrita por Gennie Licce


Capítulo 4
Uma doce garota complicada.




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A noite que se seguira não fora uma das mais prazerosas, o casal mal se encarava ou dirigia a palavra ao outro. América, em sua pose de guerreira, permaneceu calada e sem olhar – um segundo se quer – para Pedro. E ele, temendo pelo seu relacionamento, não tentou corrigi-la ou forçar-la a conversar.

Agora, se encontram na ala do restaurante,dividindo uma mesa redonda e decorada com um vaso chinês e vastas flores que emanavam um aroma selvagem e doce ao mesmo tempo. O irritante e odioso silêncio permanecia. Pedro, aos poucos olhava de relance a amada, tomando coragem para falar o que ele pouco tinha certeza que era o certo, mas de fato não poderia prolongar aquela greve de palavras.

“ Ainda brava comigo, Am? ” Ele disse por fim, quebrando o iceberg do silêncio que os separava.

“ Observar não é o suficiente? ” Ela disse baixo, com a voz amargurada e sutil. Um jeito confuso dela. “ Talvez devesse prestar atenção.” Ela continuou, olhando o cardápio que lhe fora entregue na entrada. Nada parecia despertar seu paladar ou agradar na escrita, dificilmente ela se decidia - Talvez não quisesse se decidir ainda.

“ Observei-a durante todo o tempo que se seguira desde a nossa discussão no convés até o memento presente. Vi tudo o que tinha que ver mas apenas entendi que minha namora, você, está com ciúmes e agindo de forma ridícula.” Ele argumento em um tom baixo, grave e sincero. Irritado. Pedro fechara o cardápio para olha-la.

“ Ciúmes e agindo de forma ridícula?” Ela repete, com a voz num tom mais agudo e exaltado. Fecha o seu cardápio e finalmente o encarando. “ Devia medir suas palavras. Eu apenas o chamei de um apelido que achara a sua cara, e você, de modo estranho e suspeito, se atrapalhou todo, mas como se não bastasse mentiu o porquê de tudo aquilo”.

As cartas foram postas sobre a mesa, as verdades e os sinceros sentimentos expostos. O fio da relação estava estendido, cada lado puxando com força.

“ Então eu sou o errado nesta história? Eu deveria ter agido normalmente como se aquele elogio, por mais de simples, ter tocado meus sentimentos e parte da minha infância? ” Pedro se irritava cada vez mais, e mesmo assim mantinha o mesmo tom baixo. “ Desculpe se só faço coisas erradas, senhora perfeição.”

“ Não, mas poderia ter aberto o jogo comigo ontem. Poderia ter contado a verdade e pedido para que eu não o chamasse mais assim”.

“ Esta é a questão, você não me deixou explicar! Jogou a culpa em outra rapariga, outra dama que pode não mais existir.” Ele suspirou tomando fôlego. “ Eu não quero que pare de me chamar assim, eu realmente gosto. Mas fui pego de surpresa na noite passada. Apenas isso. Viu no que dá não escutar as pessoas?”

Naquele momento, o muro sólido da raiva, razão e certeza, construído por Am, desmoronou. América acabara de descobrir que tudo o que pensara a respeito desde o acontecido não era completamente verdade, e que ela estava condenando um inocente por causa do medo infantil de perdê-lo.

Com seu olhar baixo e se sentindo culpada por tudo, ela suspirou. Aos poucos o que ela verdadeiramente sentia veio à tona. Os cantos de seu lábio murcharam e lágrimas embaçaram sua visão.

Levantou a cabeça para se desculpar quando um dos empregados do navio entrou na ala, com pomposo sorriso e uma felicidade bombástica, anunciando aos gritos : “ Senhores, Senhoras e Senhoritas, permitam me anunciar que avistamos a América, amanhã de manhã atracaremos no porto principal.”.

Não se via tanta gente surpresa e contente com essa notícia desde a primeira viagem feita em um navio. Claramente o tempo se passara tão rápido e de maneira agradável que estavam um dia de pousar os pés na terra firme. Aplausos soaram baixos e devagar mas logo aumentando e ficando depressa.

Am, ainda triste e envergonhada, encarava a mesa. Seus olhos em um ponto qualquer, evitando contado com Pedro. Que mantinha seu olhar sério e exibido no rosto da amada.

“ Tem mais alguma coisa que queira dizer? ” Pedro se reclina em sua cadeira, olhando a mais distante. Tinha certeza de que ainda havia algo a se discutir. “ Que tal o motivo disso tudo? Sei que você não é desse tipo Am.”

“ Okay,tem razão mas é difícil compreender tudo.” Admitiu após o fim das palmas.

“ Essa é a questão, compreender o que?”

“ Por que você me trouxe com você? Eu sei que não deveria mas...”

“ Como assim? O quê? ” Ele a interrompe.

“ Quando fazíamos as malas, você pediu que eu trouxesse um retrato de sua família, para ficar com eles por perto durante a longa viajem. E eu, como uma boa pessoa o fiz.” Ela faz uma pausa suspeita. “ Não queria olhar, eu juro! Mas sua gaveta estava meia aberta e ai, de relance, eu vi as cartas abertas que seus irmãos mandaram. Eu iria ignorar, eu juro, mas então eu vi meu nome... Não, não era o continente americano, mas se referia a mim.” Ela o encarava, fazendo uma breve pausa antes de continuar o falatório.

“ Então comecei a ler. Vi o quanto seus irmãos cresceram e queriam você lá. Descobri que Aslam, o qual você vive tendo pesadelos, quer você de volta. Mas então cheguei a parte de que falam que eu não poderia ir junto...” Ela o encara com a voz trêmula. “ Eu acreditei que você faria isso, mas então percebi que não. Que você iria enfrentá-los. Eu amei sua ideia, eu amei mesmo ter me trazido. Mas então, por que fez isso?”

“ Simplesmente porque a amo e eu não perderia a garota que me compreende e completa.”

A resposta que ele deu foi tão rápida e sincera, que ela não acreditava que tinha tantas dúvidas. Naquele instante ela rezou por aquilo ser um pesadelo.

“ Eh, eu preciso me retirar.” Anuncia América já de pé. Não estava com a cara muito boa, sua aparência era pálida e parecia um tanto enjoada. “ Desculpe. ” Ela disse antes de se retirar.

Como de costume, Am deixou a cena. Mas desta vez estava abalada, mexida e sentindo algo diferente. Deixou a ala restaurante com a cabeça baixa, juntamente com o olhar do resto da tripulação. Não se sentia bem, havia cometido inúmeros erros seguidos e destruído sua pose.

Esbarrou nas pessoas e desapareceu da vista de Pedro. Que por si só, estava envergonhado e abismado com essa atitude repentina da amada. Entretanto, permaneceu sentado, com o cardápio sob o colo e a mente parada. Nada,absolutamente nada, o fazia entender a história.

Deve ser aquele período das mulheres, elas sempre ficam assim, ele pensou tentando se convencer. E então o dia continuou, Pedro tomou seu vasto café da manhã, enquanto América se perdia em meio a sua reflexão. Mas o que ficou claro, para ambos os lados, é que as brigas não chegavam ao fim como esperança de que não precisasse acabar de modo tão trágico.


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Notas finais do capítulo

Queridos leitores, não fiquem achando que está tudo entedioso. Já já vocês vão ver o ....



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