Rose deveria ter sentido que tudo estava indo um pouco bem demais para ser verdade. Percebeu isso quando, dias depois do seu aniversário, ao virar em um corredor enquanto seguia para o seu dormitório, teve sua primeira crise de ciúme.

Scorpius estava conversando com Caroline em um canto, o espaço entre seus corpos era mínimo e ela ainda tentava com afinco chegar mais perto dele. Rose sentiu o corpo inteiro queimar, seu rosto ardia em vermelho e seu interior parecia querer explodir para fora, os punhos cerrados demonstrando a menor parte da raiva que ela sentia.

Mesmo assim ela ficou quieta, Scorpius não a viu, estava de costas para ela, enquanto Caroline estava muito concentrada nele para notá-la. Era um carma, ela pensou, ter os corredores de Hogwarts como palco para toda tragédia ocorrida com relação à eles dois.

Caroline foi afastada novamente pelo loiro em uma nova tentativa de se aproximar, mas isso não foi o bastante para que os músculos de Rose relaxassem. Ela não estava perto o bastante para conseguir ouvir sobre o que eles conversavam, mas estava decidida a permanecer até o fim daquela conversa que, aparentemente estava interessante, já que Scorpius não tomava a iniciativa de acabar com ela.

E então a loira a viu de relance e sorriu maliciosamente, não demonstrou nada à Scorpius, que continuou de costas para Rose, por vezes mexendo no cabelo um tanto nervoso, Rose sabia reconhecer esse significado em seu gesto. Ele era tão idiota às vezes, Malfoy imbecil! Como não poderia imaginar que Rose sentiria muito ciúme e ficaria mal se soubesse daquela conversa? Embora nunca tivessem conversado seriamente sobre ciúme, ele não poderia ser tão lerdo assim... Ou poderia, e na verdade era o que ela esperava no momento, a opção que menos lhe causava raiva, se é que era possível sentir mais nervoso do que aquilo.

Caroline colocou uma das mãos no cabelo de Scorpius, mexendo nele com intimidade e sorrindo, olhando para Rose quando conseguiu se aproximar um pouco mais dele. E, dessa vez, ele percebeu que havia algo de errado, e se virou para poder ver o que tanto a loira observava.

Ele se assustou ao vê-la e a ruiva conseguiu ver isso claramente em sua expressão, ela franziu a testa, esperando por algum gesto dele, que não veio tão cedo, como ela esperava, tanta era sua surpresa. Ela revirou os olhos, pensando no que ele tinha tanto à esconder se estava tão surpreso por vê-la ali, e se virou para ir embora, mas dessa vez tomou um caminho diferente para não precisar passar em sua frente.

Quem ele pensava que era? Malfoy... Será que ela nunca iria aprender? Esses eram alguns de muitos pensamentos que ela possuía enquanto seguia seu caminho.

Felizmente – ou não – ele a alcançou dessa vez, tomando seu braço pela mão delicadamente, na intenção de para-la, ele a abraçou antes que ela pudesse dizer algo em protesto.

—Amor, eu juro...

Rose o afastou, indignada.

—Você não jura nada, Scorpius, não agora. Você me desculpa, mas não dá... Com licença.

E começou a andar novamente, o que não o impediu de segui-la.

—Rose, por favor, ao menos escute o que eu tenho a dizer.

Ela parou, respirou fundo de olhos fechados e depois que os abriu, respondeu decidida, seus punhos ainda cerrados ao lado do corpo:

—Não agora, vocês devem ter assuntos importantes a tratar, não sou eu quem vai interromper isso. E se voltar a me seguir, não vou te escutar nem depois, então melhor voltar lá e não soltar nem mais um som perto de mim.

Depois disso Scorpius se calou, e Rose pôde voltar a andar, dessa vez ele não a seguiu, as lágrimas brotaram nos olhos dela, mas ela não se deixou chorar até que chegou ao seu quarto.

Deitada na cama, ela se lembrou das cenas que tinha visto e seus nervos voltaram a ferver, Scorpius nem ao menos tentara ir atrás dela de novo... E ela sabia que havia pedido isso, mas ele deveria ter percebido que ela só estava brava e que, no fundo, tudo o que precisava era de outro abraço dele e palavras de conforto. Seu coração doeu ao pensamento de que ele havia voltado para Caroline.

Ela pensou nas várias noites de amor que os dois já haviam passado juntos. Ela conhecia o passado de Scorpius, eles eram melhores amigos antes de serem namorados e, embora não quisesse admitir, o ciúme sempre estivera ali, mas apenas agora ela possuía o direito de demonstrá-lo e reivindicar algo.

Ela odiava aquela garota, Scorpius sempre ia correndo para os braços dela quando procurava sexo ou alguém para poder compartilhar a garrafa de bebida que ele sempre tinha escondida na mala – ou as duas coisas. Ela sempre fora o ombro amigo, enquanto a outra era um consolo, uma amizade colorida de anos, e ela agora devia estar irritada por isto ter acabado.

Depois de seu choro ter se acalmado, Rose se colocou sentada na cama, limpou o rosto com as mãos e, ao olhar para frente, viu o vestido que Scorpius havia lhe dado de presente pendurado na porta do quarto, esperando para ser usado.

Rose se levantou e levou suas mãos até ele, sentido o tecido macio e brilhante em suas mãos. O vestido era prateado e longo, era como o que uma princesa usaria, e esse foi seu primeiro pensamento quando o viu pela primeira vez, era lindo, com brilhos por toda a saia e alguns também espalhados pela parte de cima, que era sustentada por duas alças finas que terminavam em um decote em formato de v nas costas.

Ela sorriu tristemente, se lembrando da noite de seu aniversário, que havia sido mágica em todos os sentidos e dava calafrios a ela apenas pelas lembranças maravilhosas. Um misto de nostalgia e tristeza e raiva se alojou em seu peito.

Ela ouviu uma batida na porta, enxugou os olhos novamente e abriu, era Lily, e sua aparência, mesmo que Rose não tivesse se olhado no espelho, estava pior do que a dela. Ela tinha os olhos inchados e vermelhos, como quem chorara por muito tempo sem dormir, o cabelo desgrenhado em um amontoado ruivo no que parecia um coque extremamente mal feito atrás da cabeça.

—Lily... – Rose a abraçou antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, e a colocou para dentro do quarto rapidamente, fechando a porta ao mesmo tempo em que a mais nova sentava em sua cama.

—Emma terminou comigo – ela disse, as lagrimas visíveis em seu rosto novamente, ela mantinha os olhos e a cabeça abaixada, os dois braços abraçando a si mesma como uma forma de proteção de algo – que era provavelmente sentimental.

Rose se sentou ao seu lado na cama, abraçando-a e colocando-a deitada em seu peito. Ela desabou e começou a soluçar e chorar tanto que era impossível saber exatamente o que fazer para acalma-la, então ela apenas mexeu em seu cabelo e a abraçou mais forte a cada vez que seu choro ficava mais alto.

—Ela disse que não confio nela, porque eu tive uma nova crise de ciúmes sobre Alice, ainda por causa do natal e por elas terem a maior parte das aulas juntas. Eu fui tão idiota, Rose, só queria que ela me confortasse e no final acabei nos levando a isso.

Rose beijou o topo da cabeça da prima, os soluços haviam cessado, embora sua fala ainda fosse difícil e chorosa.

—Ah Li... Eu te entendo completamente – ela se lembrou do ocorrido, se segurando para não começar a chorar também, ver a prima naquele estado a fazia querer se entregar. – Mas eu sei que, se ela te amar de verdade como eu acho que ama, ela vai perceber que o que fez foi um erro muito grande e, depois que conseguir esfriar a cabeça, vai voltar pra você.

—Você acha? – ela perguntou, levantando a cabeça e olhando para Rose. – Acha mesmo? Porque eu não sei o que seria de mim...

—Tenho certeza, Lily, não se desespere mais do que já se desesperou, ok?! Vocês não vão se separar de verdade por algo assim.

Ela respirou fundo, Rose passou os dedos por seus olhos e levantou a cabeça dela.

—Vocês vão ficar bem, mas você também precisa aprender um pouco a deixar o passado no passado.

Ela assentiu, triste, e a mais velha percebeu o quanto o conselho que estava dando era hipócrita de sua parte. Mas não, com eles era diferente, até porque Scorpius era quem deveria deixar o passado dele de lado primeiro, para que assim ela pudesse fazer o mesmo, não era possível para ela deixar Caroline no passado enquanto ela estava de conversinha com seu namorado no presente.