Love Shuffle escrita por Tainara Black


Capítulo 4
First Round


Notas iniciais do capítulo

O fato de alguns personagens estarem como casal durante a semana, não significa que um envolvimento afetivo-sexual ocorrerá. Nem todos os casais chegarão necessariamente "aos finalmentes"; alguns deles ficarão apenas como amigos mesmo, mas às vezes algumas surpresas podem acontecer ^^. Tudo vai depender dos personagens. Apenas peço que não se assustem com cenas inusitadas ou com a falta delas entre alguns casais.
Obs.: Para ninguém se esquecer de quais casais foram sorteados vou colocar os pares abaixo do título a partir deste capítulo, ok? ;)



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Love Shuffle

Capítulo 4 – First Round

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NaruTema - GenSaku - ShikaHina - NejiIno

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F

– O que você pensa fazer com ela? – perguntou o loiro aflito e Shikamaru coçou os olhos, ainda com sono.

Naruto tinha lhe acordado cedo demais para saber de seus planos com Hinata.

Shikamaru amarrou o cabelo de qualquer jeito no topo da cabeça e esperou a cafeteira terminar de passar o café. Foi até o armário, pegou duas canecas e as trouxe para o balcão que separava a cozinha americana da sala, onde Naruto estava sentado em uma das banquetas.

– Hm, que você acha de um piquenique? – sugeriu, servindo o café fumegante para eles.

– Ela vai gostar muito... – o loiro resmungou entristecido.

– Então eu poderia levá-la para ver um filme de terror. Ela vai detestar, você não acha?

– Ela vai segurar no teu braço no cinema escuro...

Shikamaru suspirou e deu um longo gole no café. Estava vendo que Naruto ia ser um pé no saco desde ontem à noite, quando sortearam as cartas. Então pegou o maço de cigarros em cima do balcão, sua caneca e andou até a varanda.

– Eu preciso de um cigarro para começar o dia... – ele murmurou, vendo Naruto ir atrás dele e sentar no banco de madeira, misturando seu café com três colheres de açúcar.

Eles ficaram quietos alguns minutos.

– E você, onde vai com a Temari?

Naruto corou instantaneamente e olhou fixamente para o café preto antes de murmurar sem graça que iriam ao Ichiraku.

– Baka... – murmurou Shikamaru – Você achou mesmo que eu não sabia?

Eles se encararam.

– Eu não consigo ser descolado assim, Shikamaru!

– Mas você vai fazer o que com a Temari, Naruto?

– Jantar!

– Então, - prosseguiu já cansado da ladainha – Eu vou apenas comer um piquenique com a Hinata.

– E se ela se apaixonar por você?

Shikamaru suspirou, antes de tragar o cigarro e soltar a fumaça pelo nariz com certo pesar. Ele se sentou no banco, ao lado do amigo, e lhe encarou seriamente.

– Naruto, se ela se apaixonar por mim ou por qualquer outro durante o jogo, vai ser melhor ter acontecido agora do que ela se apaixonar depois do casamento de vocês.

Naruto passou a mão pelos cabelos, bagunçando os fios loiros e os despenteando ainda mais. Depois que terminou de beber o café e engolir o medo de perder Hinata, ele se levantou, deu algumas palmadinhas nas costas do amigo e rumou para a porta.

– Ei – chamou Shikamaru, olhando-o preocupado – Verei se ela pode ir amanhã. Você não deveria se preocupar tanto, vou tentar por bastante pimenta na comida, ela vai detestar – ele disse, numa tentativa de melhorar o ânimo de Naruto, que sorriu sem muita vontade.

– Naruto! – Temari chamou do quarto e ambos os homens se viraram surpresos para o corredor que desembocava nos quartos.

A mulher abriu a porta displicentemente, vestindo uma camiseta regata gasta e folgada e nada mais que uma calcinha de renda preta. Shikamaru revirou os olhos e Naruto arregalou os seus. Os orbes azuis correndo rapidamente pelo corpo dela e tentando desviar, afinal ela era a mulher do Shikamaru e ele não deveria estar olhando, e tudo aquilo era tão absurdo e tão errado que ele-

– Não se atrase muito – ela avisou, cruzando os braços e fazendo seus seios ficarem mais aparentes contra o tecido fino da camiseta – Eu não gosto de esperar.

E, depois de dizer isso se virou, deixando à mostra a parte traseira da calcinha que nada mais era que um micro pedaço rendado que se escondia entre suas nádegas bem torneadas. Ela segurou a porta, virou o rosto sobre o ombro e sorriu maliciosa.

– Eu vou querer te ver todos os dias, Xerife – ela piscou e fechou a porta.

Naruto ficou paralisado e depois encarou Shikamaru.

– O que diabos foi isso? – perguntou, uma de suas mãos tocando seu nariz para se certificar de que não estava sangrando.

– Bem vindo ao mundo de Temari – comentou Shikamaru – Parece que eu vou ter que tomar mais cuidado com esse jogo do que eu imaginava...

O loiro concordou, voltando ao normal e saindo rápido do apartamento. Quando a porta se fechou às suas costas, o homem ajeitou o uniforme da polícia e respirou fundo. Temari era louca. Louca e terrivelmente gostosa. Aquilo era um perigo, um pecado, uma puta duma loucura.

– Meu deus, onde eu me meti?

Do outro lado da porta, Shikamaru acendeu o segundo cigarro do dia e andou até o quarto, abrindo a porta e espiando Temari deitada na cama.

– O que foi aquilo? – ele perguntou divertido.

– Esse menino é muito reprimido, Shikamaru – essa reclamou, rindo contra o travesseiro.

– E qual é o teu plano? – ele perguntou, com o cigarro pendurado nos lábios e uma das sobrancelhas arqueadas com curiosidade.

Temari era a mulher mais atraente que já vira na vida. Não apenas sua beleza bruta e chocante, mas sua mente aberta, suas ideias de como a vida deve ser completamente vivida e sentida dentro das veias como se cada minuto fosse o último.

– Eu deveria estar preocupado?

– Você? Nah, Naruto não faz meu tipo – ela disse, descarada, sorrindo com os dentes à mostra – embora eu adore um homem de farda – acrescentou, com uma risadinha cínica que fez o moreno morder o filtro do cigarro para não puxá-la contra si e mandar o trabalho pro inferno.

– O que você adora é um homem pelado – ele retrucou, procurando uma muda de roupa no armário e infestando o quarto com o cheiro seco de cigarro.

Ela se contorceu na cama, gargalhando de Shikamaru e olhando as costas do namorado.

– Shika, você ciumento é uma coisa muito interessante...

– Eu não estou com ciúmes...

– Então, tudo bem se eu...

Shikamaru se virou e a encarou entediado. Uma sensação estranha escorregou por dentro dele, como se fosse ácido e traiçoeiro e ele sorriu maldoso.

– O que você está tentando fazer?

Temari se sentou na cama, com um travesseiro preso entre as pernas e os cabelos cacheados revoltos numa bagunça cor de areia onde ele simplesmente adorava se perder.

– To te fazendo sentir ciúmes – ela disse, sua voz sonora soando firme no quarto – Tá dando certo?

– Muito – ele assumiu e riu. Era realmente uma sensação bem curiosa aquela, e era a primeira vez que a sentia – Você é louca...

Ela riu mais, levantando-se e andando até a porta.

– Prepare-se para fortes emoções então... – alertou-o, piscou um olho de maneira sensual e saiu do quarto.

Shikamaru demorou um pouco até parar de sentir aquele ardor nas veias. Ciúmes era uma coisa estranha, mas extremamente tentadora...

Como combustível.

I

Sakura desceu para a cafeteria do hospital como combinado com Ino. Mas não avistou a loira em nenhum lugar, então apenas sentou em uma das mesas e pediu um cappuccino para acordar um pouco. Pelo menos não estaria de plantão nos próximos dias, isso faria a semana mais tranquila.

Ela prendeu os cabelos tingidos de rosa claro num rabo de cavalo e pensou que, sinceramente, ela estava ferrada. Não deveria ter se metido numa situação tão absurda quanto a que estava agora. A simples ideia de que certamente teria que sair com Genma nos próximos dias lhe dava gerava uma ansiedade irritante que era de fazer os nervos fritarem.

Quando Sakura vislumbrou uma cabeleira loira, não foi a de Ino, mas sim a de Temari, que subiu os degraus para dentro da cafeteria com desenvoltura, mostrando seu corpo cheio de curvas num macacão preto de malha leve que se amarrava na nuca. Ela era linda, segura de si e arrasadora. Tinha toda uma aura de mulherão que Sakura tinha certeza que nunca desenvolveria.

Refletiu sobre esse tipo de dom, as pessoas nascem com aquilo, não é uma coisa que se aprende da noite pro dia.

Temari se equilibrava no par de sandálias de salto Anabela e Sakura desejou se sentir extremamente sexy como aquela mulher, nem que fosse por um único dia.

Quando seus olhos se tocaram a recém-chegada sorriu e Sakura acenou, chamando-a para a mesa. Temari pediu um café expresso na barra e andou até a mesa.

– Ei, Sakura, bom dia.

– Bom dia – disse a médica com um sorriso simples, pensando que talvez ela devesse se maquiar um pouquinho de manhã, observando os cílios pintados de rímel de Temari – Você está muito bonita.

– Ah, muito obrigada. Já que estou de férias estou aproveitando para usar umas roupas mais legais.

Mas antes que elas começassem a falar sobre moda, roupas e outras coisas que deprimiriam Sakura com certeza, Ino e Hinata se aproximaram delas e se sentaram à mesa.

– E aí, Testuda?

– Cala a boca, Pig!

– Vai sair com o Genma hoje?

– Ainda não combinamos nada.

– Que alívio.

Hinata riu um pouco e Temari observou a interação entre as duas outras jovens mulheres com interesse. Ino estava com sua roupa típica do hospital: calça preta, camisa lilás e o jaleco branco, ela sempre usaria algo lilás ou roxo e outra peça preta.

Ino era a fisioterapeuta que coordenava a ala de reabilitação ortopédica, e tudo naquela ala era lilás. Yamanaka Inoichi era o diretor geral do hospital e pai de Ino. Há muitos anos sua família estava no ramo da medicina e na cidade seu sobrenome era bastante reconhecido como ícone da saúde.

– Então, Pig, pra quê você chamou a gente aqui? – perguntou Sakura, bebericando seu cappuccino.

Não era como se não soubesse o que Ino estava fazendo, mas enquanto ninguém a pressionasse ela ficaria falando sobre a roupa de cada uma delas e Sakura precisava ir rápido se quisesse visitar todos os leitos antes das 17h.

– Bem, todas nós estamos jogando o Love Shuffle – disse com obviedade – Mas acontece que eu gostaria de esclarecer algumas coisas com vocês, para que não tenhamos nenhum problema ao longo do jogo. O que vocês acham?

– O que tem em mente, Ino-chan? – perguntou Hinata com suavidade.

Hinata era um indivíduo muito curioso, ninguém entendia o que ela estava fazendo naquele jogo, mas ela parecia ansiosa por viver e aquilo era desculpa suficiente para que as demais mulheres aceitassem a condição da herdeira Hyuuga.

Sua franja quase tocava seus olhos pálidos e os cabelos escuros desciam até pouco abaixo dos ombros, formando cachos nas pontas. Hinata tinha mudado muito ao longo dos anos, era como se estivesse desabrochando só agora, depois dos 25 anos de vida.

– Todas nós sabemos que se entramos neste jogo, não podemos dar um passo atrás agora – ela mexeu no rabo de cabelo, enrolando os fios extremamente longos e platinados em seus dedos – Então acho que deveríamos deixar as coisas bem claras para não termos problemas de amizade depois.

Hinata concordou com a cabeça, Sakura murmurou um sim e voltou a tomar cappuccino e Temari abriu um sorriso sacana, cruzando os braços sob os seios. O movimento fez Ino se remexer com um excesso de sensualidade na cadeira.

Competitividade feminina. Algo que Sakura detestava. Algo que ela não entendia, algo que não fazia o mínimo sentido...

– O que você acha necessário deixar claro, Ino? – ela perguntou, cortando o momento e o início de tensão que começava a se formar no ar.

– Durante o jogo está todo mundo liberado.

– Óbvio – respondeu Temari numa espécie de afronta e Ino a ignorou.

– Eu gosto muito do Genma, mas durante o jogo eu não ficarei brava ou perderei a amizade de vocês caso ele se envolva ou tenha algum tipo de relação com uma de vocês.

– Ou todas – sugeriu Temari, levando a xícara de café aos lábios.

Ino respirou profundamente.

– Gostaria de saber como vocês estão lidando com seus respectivos parceiros.

Hinata corou e Temari riu, mas foi Sakura que começou a falar.

– O Neji não é meu parceiro, eu não dou a mínima para o que vocês fizerem com ele...

– Por que ele veio com você? – perguntou Temari curiosa.

– Bem... Eu não tinha par, mas queria participar, e... Nós já ficamos uma vez, e... – ela sorriu sem graça para Hinata – Acho que ele quer ficar de olho em você.

– Eu sei – a morena falou, bebericando o chá de jasmim que a atendente lhe trouxe.

– Então Neji está totalmente liberado? – comentou Ino com um sorriso pervertido e Sakura assentiu.

– Interessante... – Temari murmurou, olhando as outras com curiosidade.

Hinata corou.

– Eu sempre achei que Neji-niichan namorava a Tenten. Pelo menos duas vezes por mês eu vejo o carro dela lá no condomínio... – ela comentou baixo, mas em seguida deixou o tema no ar.

– E Shikamaru? – perguntou Ino.

Temari sorriu para a Yamanaka.

– Está completamente disponível – falou sem rodeios – nós estamos lidando com isso como se fosse apenas mais uma diversão. Depois de muito tempo juntos a gente precisa de alguns estímulos diferentes... Mas e o Naruto, Hyuuga?

– Eh? – Hinata corou fortemente e olhou as mãos, sem graça – E-eu não s-sei bem... Nós não falamos d-de ontem para hoje.

– Você está bem com isso, Hinata? – perguntou Sakura prestativa.

– N-não sei muito bem... É-é como se e-estivesse f-fazendo algo errado, m-mas sinto que, não posso me casar assim. N-não quero dar a r-resposta errada...

– Você tá certa – resmungou Temari, jogando o cabelo cacheado para o lado e observando Hinata – o casamento é algo sério, é a união de duas famílias, é obvio que é aterradora a ideia de errar. Você tem todo o direito de temer e de querer testar se é realmente isso que você quer – a loira recostou melhor na cadeira e encarou a morena de maneira firme – A pergunta é: você está ok com o fato de que Naruto pode se envolver com qualquer uma de nós?

Hinata mordeu o lábio e se retraiu na cadeira.

Naruto era a coisa mais preciosa e brilhante de sua vida. Sempre tinha sido Naruto. Mas agora era ou ela ou ele. Precisava viver um pouquinho sem ele para ter certeza se era realmente aquilo que queria. A ideia de que Naruto se relacionasse com as outras, as beijasse... ou até passasse a noite com elas lhe fazia se sentir irritada, incômoda e até nervosa com ele ou com elas, mas se esse era o preço de poder conhecer e lidar com outros rapazes, então ela teria que aguentar.

– Não que e-esteja ok. É estranho, irritante até, m-mas eu posso suportar. P-preciso me provar, ter certeza do que quero.

– Ótimo! – exclamou Ino, levantando seu milk-shake de morango recém-chegado – Viva o Love Shuffle, então!

Elas brindaram àquilo e beberam suas bebidas com calma. Até que o celular de Sakura tocou e a voz de Genma ecoou do outro lado da linha.

– Oi, Genma – ela respondeu amável e sem jeito, sentindo o olhar pesado de Ino a fuzilar – Hn? – Sakura revirou os olhos para a Yamanaka e continuou escutando – Futebol? Tá bem... Pode ser cerveja mesmo. Hn, ok, vou levar alguns coisas para beliscar então – era ridículo, as outras três a encarando como se algo de outro mundo estivesse acontecendo – O Kakashi-sensei? ...Não, magina, não tem problema... Certo, chego às 19h pro jogo. Beijo, tchau.

Desligou o celular e bufou encarando Ino.

– Não me envie essas energias doentias, por deus, Ino! – ela reclamou e guardou o celular no bolso do jaleco.

– E?

– E nós vamos ver um jogo de futebol na casa dele com o Kakashi-sensei.

– Que? – Ino exclamou – Mas que coisa mais sem graça!

– Pra mim tá ótimo, e eu gosto de futebol, então para começar é a melhor ideia de todos os tempos...

– Bem eu vou ao Ichiraku com Naruto hoje... – comentou Temari e Hinata apertou os lábios com força.

– Ainda não conversei com Neji – disse Ino, mexendo no celular.

– É Shikamaru também não me ligou, s-será que devo ligar? – Perguntou Hinata insegura.

– Ótima ideia, Hinata! – exclamou Temari – Um pouco de determinação e posicionamento feminino te fariam muito bem, aliás o Shikamaru é muito preguiçoso e meio lento para esse negócio de encontro, então vai ser mais fácil você tomar a iniciativa.

Ino encarava Temari com a boca aberta. Como a mulher podia estar lidando com aquilo de maneira tão tranquila? Era um absurdo da natureza. Ou ela era muito segura de si, ou não estava tão apaixonada por Shikamaru... Ou era uma pervertida.

Para Ino, a terceira opção era a que mais lhe convencia, então pensou que, talvez, jogar-se naquele jogo seria a possibilidade que teriam de experimentar a liberdade de relacionamentos sem o medo das reprimendas sociais.

– Eu espero que essa experiência seja inovadora para todas nós... – disse Sakura um pouco cabisbaixa.

– Que nada nos defina. Que nada nos sujeite. Que a liberdade seja a nossa própria substância – citou Temari, levantando sem muitos rodeios – Vejam isso como uma chance de autodescoberta. Eu vou indo.

Ino observou a mulher sair do café e piscou atônita.

– Ela acabou de citar Simone de Beauvoir? – perguntou Sakura, boquiaberta.

– Sim – confirmou Hinata, olhando para o lugar vazio.

– Meu deus, eu quero ser como a Temari quando eu crescer – disse Sakura rindo, então seus olhos caíram sobre Ino, que ainda encarava a porta por onde Temari tinha saído – Ino?

A loira a olhou, meio sem jeito, ainda perdida em pensamentos e ajeitou o jaleco, se preparando para levantar também.

– Que tipo de homem não gostaria da Temari? – Ino perguntou, sem realmente querer obter uma resposta. Era uma pergunta retórica, todos os homens gostariam de ter Temari em seus braços pelo menos uma vez na vida.

A insegurança de Ino fez Hinata estremecer e Sakura afundar mais na cadeira.

Era uma guerra vencida.

Ou seria uma oportunidade de experimentar mudanças e viver desafios.

R

– Eu não sei mesmo – ela disse, apertando o celular entre a orelha e o ombro, carregando as sacolas do mercado e procurando a chave de casa nos bolsos da bolsa – Você pode levá-la a qualquer lugar, Ino é a pessoa mais empolgada do mundo.

Mas eu sequer quero vê-la.

– Então não ligue hoje, atrasa um dia a ligação, Neji – ela resmungou, abrindo a porta do apartamento – Ou inventa um lugar onde vocês não possam conversar muito...

Ela fechou a porta e levou as compras para o balcão da cozinha, apertando o viva a voz para falar com Neji enquanto guardava as coisas.

– Acho que vou levá-la ao museu.

– Meu deus, ela vai morrer de tédio! – Sakura riu, imaginando Ino entediadíssima.

– Eu não quero que ela se interesse por mim.

– Impossível, todo mundo se interessa por você, Neji.

Ele bufou e ela soltou uma risadinha.

– Escuta, porque você não se abre para a situação? Imagina se depois a Ino te parece alguém muito legal?

– Minha vez de falar que algo é impossível.

– Não é não! A Pig tem as coisas dela, mas é uma pessoa sensível, corajosa, atraente...

O Hyuuga começou a rir do outro lado. Ela terminou de guardar as coisas e abriu uma latinha de cerveja, se sentando no balcão, ao lado do celular.

– Neji?

– Que?

– Qual é o teu tipo de mulher? – Sakura perguntou curiosa.

Ele ficou quieto por um tempo e ela encarou o apartamento. O entardecer ia levando as luzes do sol embora e, aos poucos, tudo ia ficando numa tonalidade agradável e íntima.

– Que tipo de pergunta é essa?

– Não sei, só fiquei curiosa...

– Eu não tenho um tipo de mulher.

– Hn...

Neji riu de novo do outro lado da linha, mas não respondeu de jeito nenhum.

– Bem, eu vou ter que me arrumar, vou ver futebol com o Genma.

– Futebol? – ele perguntou estranhado.

– É que ele e o Kakashi-sensei já tinham combinado, então vou pra lá assistir o jogo com eles.

– Que plano, heim? – ele disse ironicamente e Sakura revirou os olhos.

– Pelo menos o Genma quer passar o tempo dele comigo...

O rapaz resmungou alguma coisa e pareceu acender um cigarro. Eles trocaram mais algumas palavras de despedida até que desligaram.

Sakura estava um pouco cansada e a penumbra do apartamento a fazia sentir uma vontade absurda de ir dormir. Mas já passava das 18h30 e ela tinha combinado de chegar às 19h para eles prepararem os aperitivos antes do jogo.

Decidiu-se por um banho rápido ao invés de se deixar adormecer no sofá como adoraria fazer.

S

Quando Naruto chegou à barraquinha de ramen de Ichiraku, Temari estava engajada em uma conversa com o senhor e eles discutiam animadamente sobre a política em Suna, onde Temari trabalhava para a campanha de seu irmão, Gaara.

O loiro parou a alguns passos de distância e a observou. A mulher estava realmente muito atraente em seu macacão preto. Os cabelos encaracolados estavam armados e lhe ocultavam o rosto. Ele reparou que ela já estava tomando sake e comia algum petisco que Ichiraku lhe havia servido.

– Yo! – ele disse, se aproximando.

– Oi Naruto! – ela sorriu e lhe indicou a banqueta ao seu lado – Estava aqui falando com Ichiraku sobre a campanha eleitoral de Gaara, as coisas precisam ser organizadas em breve.

O loiro sentiu a tensão se dissipar um pouco e sentou ao lado dela, que o serviu de sake e ele agradeceu brindando silenciosamente e engolindo todo o conteúdo de uma vez.

– Como ele está?

– Bem. Na verdade está muito fácil ele ser reeleito, o trabalho que está fazendo com a educação em Suna está dando ótimos resultados – ela disse, começando a olhar o cardápio para decidir qual ramen ia pedir – Mas, e você, Naruto? Quando vai se candidatar a prefeito de Konoha?

O loiro riu alto. Seus olhos se apertaram, uma sensação gostosa lhe invadiu, como se estivesse sonhando.

Quando?

– Ah, não faço ideia, estou muito longe de atingir meus objetivos...

– Mas por quê?

– Oras, – ele a olhou divertido – Eu não passo de um policial, Temari.

– Bem, um policial que todos da cidade conhecem e admiram, pelo que o senhor Ichiraku me contou – ela e o dono da barraquinha trocaram um olhar cúmplice e Naruto corou.

– Mas isso não é suficiente...

– Obvio – ela concordou, parando para virar um copinho de sake – Você precisa de propostas de melhorias para a cidade, uma boa campanha, pessoas especializadas em diferentes áreas para poderem trabalhar com você em prol do melhor para os cidadãos...

– Vê, eu não tenho nada disso – ele falou enchendo seus copinhos para mais uma rodada de sake – Ichiraku, traga dois miso ramen – pediu, tirando o cardápio das mãos de Temari e sorrindo para ela – Confie em mim, ramen é a minha especialidade.

A explicação dele a fez rir, e uma curiosidade intensa tomou conta dela: como seria Naruto em um momento de autoconfiança e determinação. Ela já lhe vira realizar imensas façanhas pela polícia e nos jogos de futebol que fora junto com Shikamaru. Mas ela queria saber como era Naruto como homem... Isso ainda era um mistério, pois o jovem sempre parecera muito alegre, animado, até infantil, mas ela nunca lhe vira com uma aura masculina, atuando como se alguém fosse sua presa.

Desde que ela conhecera Naruto, ele namorava Hinata, e a garota era tão tímida e romântica e inocente, que Temari se perguntava como Naruto conseguia lidar com aquilo, pois ele não parecia ser nada firme com ela...

Onde ele gasta toda a testosterona?

– Naruto, você e Hinata estão juntos há muito tempo né?

– Sim – ele disse com um sorriso um pouco triste.

– E você gosta muito dela?

Ele riu e coçou a nuca.

– Muito é pouco. Já não consigo nem me imaginar com outra mulher.

– Por quê? – ela questionou, tomando mais sake.

O loiro olhou para a rua, observando o movimento e pensando naquela pergunta. Ele não sabia dizer o porquê exatamente. Mas ele conseguia sentir os motivos.

– Acho que quando a gente está há tanto tempo com a mesma pessoa a gente se adapta à ela. Eu sinto isso, como se tivesse entrado em simbiose com a Hinata-chan... É como se eu não soubesse ser outra pessoa para estar com outra pessoa...

– E se você for você mesmo?

As palavras dela lhe pegaram de surpresa e Naruto a encarou seriamente. O que ela queria dizer com aquilo?

– Eu sou eu mesmo...

– Você namorou alguém antes da Hinata? – ela perguntou e sorriu.

– Eu fiquei com várias garotas, mas eu gostava mesmo era da Sakura-chan, mas logo ficamos amigos demais e o desejo todo foi apagando...

– E como você era com ela?

– Bem, eu era insistente.

– Chato? – ela perguntou rindo.

– Não, eu era mais "conquistador" - ele desenhou as aspas com os dedos e sorriu.

– E com Hinata?

– Bem, Hinata-chan é a menina mais doce que eu já conheci, então eu sempre respeitei muito o jeito dela ser, nunca forcei a barra e as coisas foram surgindo de maneira calma e natural.

– Então com ela você não era conquistador nem no começo?

– Nah – ele riu, seus olhos encarando o céu salpicado de estrelas e lembrando do passado – A Hinata-chan se declarou para mim e eu ainda a via só como uma amiga, uma menininha... Então eu nem conseguia fazer piadinhas conquistadoras para ela, parecia que ela ia desmaiar a qualquer hora...

Temari sorriu, observando como o rosto dele se iluminava ao falar sobre o início do relacionamento deles, também da época quando ele ainda era solteiro.

– Você não acha que ela gostaria de algo assim, mais másculo?

Os olhos azuis a olharam escandalizados.

– Como assim?

– Não sei, vai ver ela tá um pouco entediada, por isso que está querendo ter essa experiência.

– Você acha que ela está entediada de mim? – ele perguntou preocupado, aproximando mais o rosto do dela e esbugalhando os olhos.

– Bem, se você ficasse me tratando como uma menininha durante anos eu também ficaria entediada...

– Meu deus! – ele afundou o rosto nas mãos e suspirou profundamente, enquanto Ichiraku chegava com os ramen e os depositava sobre o balcão desejando um bom apetite – Mas eu não sei lidar com ela de outro jeito...

A mulher observou a aflição dele. Devia ser realmente difícil. Certamente Naruto mudara um pouco seu modo de flertar e agradar mulheres apenas para se encaixar ao jeito tímido e infantil de Hinata, mas agora que lhe demandavam algo mais intenso, mais firme e masculino, ele tinha dificuldade de voltar a ser como era antes...

– Que tal se você treinar comigo, Naruto? – ela propôs, com um sorriso simples no rosto.

Os olhos azuis a encararam confusos.

– Heh?

– Exatamente o que você ouviu – Temari disse firme – Trate de me aproveitar durante essa semana, e eu não gosto nada de homens muito fofos.

Ele continuou observando-a, como se esperasse que ela começasse a rir e dissesse que era uma pegadinha.

– O que você quer que eu faça? – perguntou, sua voz trêmula e seu olhar duvidoso.

– Quero que me mostre o conquistador que está dentro de você.

– O conquistador? – ele repetiu perplexo.

– Claro, Naruto. Eu quero que você me conquiste, afinal essa semana eu sou praticamente tua nova namorada.

O queixo dele caiu com aquilo e sua mente pareceu correr mil metros sem chegar a lugar nenhum. Como diabos faria aquilo? Temari sequer se sentia atraída por ele, como ele conquistaria uma mulher como ela?

Ele se sentia tão enferrujado...

– Escute – ela falou – Não se desespere, Naruto. Eu confio em você.

Naruto encarou o balcão, o ramen e o copinho de sake. Virou o líquido do copinho na boca e engoliu de uma vez. Isso era muito errado. Temari era a namorada de Shikamaru, Hinata era sua noiva, ele não podia fazer aquilo...

Os lábios dela se abriram num sorriso simples e convincente, que beirava a linha entre o "convencida" e o "sensual". Ele fez que sim com a cabeça e então olhou para o ramen.

– Vamos comer, se esfriar vai ficar ruim – ele propôs, e logo a olhou nos olhos – depois do ramen vai ficar mais fácil pensar sobre isso – avisou.

Temari sorriu e concordou. Depois do ramen eles andaram juntos pelo bairro até voltarem ao edifício. Durante o passeio Temari disse que ele poderia tomar o tempo dele para pensar na proposta dela, que ela só queria que eles se divertissem.

Antes de se separarem e entrarem cada um em seu apartamento no terceiro andar, Naruto segurou a mão dela com mais firmeza e a manteve ainda perto de si, sem que ela pudesse andar até a porta de Shikamaru.

– Você gostaria de conhecer o quartel general da polícia amanhã?

Ela sorriu, contente e concordou com a cabeça.

– Será um prazer! – comentou.

– Ótimo, então nos encontramos aqui no hall às 8h45 amanhã – ele disse, com firmeza e ela riu um pouco – Que foi?

– Nada – murmurou, se aproximando um pouco mais e lhe dando um beijo demorado na bochecha.

Ela tinha cheiro de areia e pimenta, e Naruto sentiu o corpo esquentar alguns graus.

O loiro apertou de leve a mão dela assim que ela se distanciou e demorou mais do que o normal para soltar, rindo da situação. Depois de vê-la entrar pela porta, o homem suspirou, um pouco trêmulo e olhou os sapatos.

Aquilo tudo era uma loucura e ele estava sendo ridículo ao concordar com aquele jogo patético. Hinata nunca o desculparia por uma traição...

Seus olhos se arregalaram rapidamente: ou será que Hinata também entraria de cabeça naquele jogo?

T

Sakura adorava futebol.

Ela estava acostumada àquilo, ela e Naruto costumavam ver os jogos nos fins de semana. Era uma tradição antiga, desde a época do colegial.

Eles se sentariam com cervejas e azeitonas e assistiriam, criticando os jogadores e os passes e o técnico e xingariam o juiz de ladrão.

Mas hoje Naruto não estava ali.

Ela tinha chegado às 19h como combinado e Genma já estava preparando uma bandeja com queijos. Eles conversaram sobre como havia sido o dia e trocaram alguns olhares.

Na verdade, as mãos dela estavam suando, agarradas as sacolas do supermercado, com petiscos e cervejas. Nos primeiros minutos ela ficou tão nervosa que quase não conseguia olhá-lo. Moveu-se pela cozinha um pouco dura e ansiosa, quase como um robô, ajudando-o da maneira que ele ia indicando.

Sakura se perguntou por que estava fazendo aquilo consigo... Aquela estúpida ideia de fazer parte de um jogo que a exporia ao ridículo de maneira extrema.

Ela era terrível com qualquer homem que não fosse Sasuke. Era simplesmente um gasto de tempo e energia por nada... Ela deveria saber disso depois de todos esses anos sendo uma jovem babaca e presa ao cara que lhe roubara o coração quando ela ainda nem sabia o que era ter o coração roubado...

Seus olhos verdes umedeceram por um segundo, enquanto ela encarava a geladeira aberta. Nem se lembrava o que estava buscando quando, de repente, um braço apareceu por traz de si e capturou uma longneck da prateleira.

O homem riu, ainda atrás dela, e seu hálito moveu alguns fios de cabelos rosados, fazendo-a rir também.

– Essa cerveja tava demorando demais – falou, muito próximo do pescoço dela e a pele se arrepiou instantaneamente, mas ele já estava se afastando e abrindo a cerveja.

– Me perdi em pensamentos – ela desculpou-se, pegando uma garrafa para si mesma.

– Agora não dá mais tempo de se perder, Sakura – ele avisou, olhando-a seriamente – O jogo vai começar! – anunciou animado, ligando a televisão e levando uma das bandejas de petisco.

Genma sempre fora um cara divertido, descontraído e absurdamente encantador. Ela o observou do balcão da cozinha, vendo-o brincar com o piercing na língua, fazendo o metal correr de um lado para o outro entre os lábios, os olhos atentos à tela e a cerveja presa entre seus dedos.

Tinha algo de tentador vê-lo entretido de maneira tão casual enquanto ela estava quase pirando com as inúmeras possibilidades que aquele jogo lhe fazia pensar.

Ele tinha conseguido quebrar o gelo.

Então sentaram-se lado a lado, assistindo os times entrarem no gramado, a arquibancada enlouquecida gritando.

Sem que ela percebesse, eles estavam tendo uma conversa absurdamente profunda sobre a importância de um goleiro competente quando se falava de um jogo contra Kirigakure.

Nenhum deles estava certo sobre as competências do novo goleiro de Konoha e isso gerou um debate acalorado e uma aposta sobre o resultado do jogo.

Foi nesse momento, quando Sakura apostou 2x1 para Konoha e Genma disse 3x0 para Konoha, que a campainha tocou, anunciando a chegada de Kakashi, deixando pendente o que estavam apostando.

– Yo!

Tinha chegado meia hora atrasado e o jogo ainda não estava tão eletrizante quanto gostariam, mas ambos times jogavam bem e com agilidade. 1x0 ainda não dizia muito e eles estavam mais entretidos reclamando do bandeirinha do que prestando real atenção no jogo.

Kakashi trouxe uma garrafa de sake e uma caixa de bombons, que fez Genma encará-lo como se o amigo fosse um retardado.

– Por que você trouxe chocolate para um jogo de futebol?

– Por que você disse que a Sakura viria – ele explicou, pegando uma cerveja e se sentando em uma poltrona – Você não gosta?

– Claro, sensei! – ela disse animada e separou seus três bombons favoritos, antes que alguém os pegasse.

O professor riu e tomou sua cerveja, olhando a tela e começando a se interessar pelo jogo. Ele reparou que Sakura parecia estar se divertindo e isso o acalmou um pouco.

Da última vez que a havia visto, Sakura estava com o rosto inchado de tanto chorar. Embora quisesse, ele não foi conversar com Sasuke. Afinal, o que poderia dizer? "Precisamos conversar..." ou "Você não deveria estar fazendo isso..." era ridículo demais. Sakura estaria sendo ainda mais exposta a uma situação ridícula.

– A que devemos a tão agraciada presença hoje? – perguntou, sem tirar os olhos da TV e os lábios da boca da garrafa.

Sakura sentiu os ombros ficarem tensos e de repente o braço de Genma passou por cima do seu ombro.

– Oras, Sakura é uma ótima companhia para jogos, quem diria que uma mulher saberia tanto de futebol? – perguntou-se e piscou para ela.

A garota riu, achando graça da maneira como Genma disfarçou a realidade do encontro. Mas ela preferiu assim.

Durante o intervalo, os três jogaram conversa fora, Kakashi lhe perguntou como estavam as coisas enquanto Genma ia ao banheiro e Sakura agradeceu a preocupação, dizendo que ia ficar tudo bem, que esta semana tinha começado muito bem e que certamente seguiria desse modo.

Ele comentou que a cor do cabelo dela estava mais clara e que ele gostava muito do tom. Sakura riu, ela lembrava até hoje do modo como Kakashi-sensei tinha olhado escandalizado para ela quando a garota entrara pela porta da sala 7 no segundo colegial com o cabelo cor de rosa.

– Você deveria vir a todos os jogos, assim a gente passa mais tempo juntos – ele comentou, abrindo uma cerveja para ela e outra para si mesmo.

– Segunda-feira é um péssimo dia, às vezes tenho plantão. Mas quando não tiver eu vou tentar dar uma passadinha – na verdade não era má ideia, era um ótimo jeito de se divertir.

Quando o segundo tempo começou o placar mudou em menos de seis minutos e Konoha ganhava de 2x0. Sakura deu gritinhos animados e virou metade da garrafa de cerveja de uma única vez. Ela ia ganhar a aposta, agora Kirigakure tinha que fazer um golzinho e pronto!

– Não vai ganhar não – Genma disse, passando o braço pela parte de trás do sofá e rindo maldoso com o piercing entre os lábios – O goleiro é bom, não tem como fazer um gol nele, o técnico foi inteligente em escolher esse cara!0

– Não, eu sou boa em apostas...

– Mas num é uma questão de aposta, é que o goleiro é bom mesmo!

– Nah, vamos ver – ela resmungou e Kakashi saiu para o banheiro quando o artilheiro de Kirigakure entrou na área de Konoha e Sakura ficou de pé num salto - Vamo lá! Um golzinho! MERDA! – deixou-se cair no sofá, assim que a bola foi pega pelo goleiro.

– Sakura, o que nós estamos apostando? – Genma perguntou, a voz dele estava bem perto de si e quando a garota virou o rosto para ele, percebeu que seus rostos estavam a um palmo de distância.

– Não sei – respondeu, se sentindo um pouco tonta, talvez não deveria estar bebendo tão rápido.

– Por que não fazemos assim: quem ganhar pode pedir algo pro outro ao longo desta semana.

– Algo?

– É.

– Qualquer coisa? – ela perguntou incerta.

– Qualquer coisa – ele sorriu e olhou os lábios dela.

Genma era um homem lindo. Obviamente ela já tinha notado. Ino não se cansava de falar dele e de como ele era bom em tudo o que fazia...

– Ok – respondeu sem pensar duas vezes.

Se pensasse duas vezes sequer estaria ali.

– Ótimo! – ele riu.

A porta do banheiro abriu e Genma se levantou para buscar uma cerveja.

– O que eu perdi?

– Ainda nada, sensei – ela comentou, um pouco sem graça por deixa-lo por fora e ainda mais sem graça por imaginar o que ele diria se soubesse que ela e Genma estavam numa semana de encontro, flertando, por causa de um jogo de troca de casais.

Kakashi ainda estava preocupado se ela estava bem depois que o Sasuke tinha sido um merda com ela, e aqui estava Sakura: se divertindo sem que o professor soubesse.

Merda.

Ela era uma babaca.

Sentindo-se estupidamente ridícula, ela aceitou a cerveja que Genma lhe trouxe e cruzou as pernas em posição de índio, os jeans rasgados nos joelhos dando-lhe uma sensação estúpida de que ainda tinha 16 anos. Ela deveria ter se arrumado melhor... Até parecia que estava sentada no sofá da garagem da casa do Sasuke, esperando por alguma migalha ou reação positiva dele.

Aquele tipo de coisa nunca aconteceu como ela esperava.

Assim como nada aconteceria com Genma.

Ou com qualquer outro.

Sakura estava destinada a ser infeliz e viver sua vida sozinha.

Ela soltou um risinho infeliz pelo nariz e decidiu não pensar. Hoje seus pensamentos estavam cada vez mais depressivos, e ela não estava a fim de ferrar ainda mais com a noite.

Bastavam 26 anos de baixa autoestima. Hoje ela precisava se distrair.

Sakura tomou um longo gole de cerveja e respirou fundo, seus olhos seguiam atentos a bola e aos jogadores, voltando sua atenção à jogada do centroavante de Konoha.

Kakashi ficou tenso em sua poltrona e Genma escorregou para a ponta do sofá, sentando-se na beiradinha, com os ombros tensos.

Céus, ela pensou, eles iam fazer mais um gol...

"Trave, trave, trave, trave..." ela murmurou mentalmente, como um mantra.

A verdade é que, se havia uma coisa que Sakura detestava nessa vida, essa coisa era perder uma aposta.

– GOL! – Kakashi e Genma gritaram em uníssono e a garota revirou os olhos, chateada.

– Mais essa... – resmungou, vendo os homens vibrarem com o gol e brindarem.

Então ela se deixou levar e se levantou para brindar com eles, recebendo um olhar curioso de Genma e uma risada gostosa de Kakashi, que virou o conteúdo da cerveja de uma única vez.

Talvez eles devessem fazer isso mais vezes mesmo.

Os olhos esmeralda de Sakura pousaram nos pequenos olhos cinzentos de Kakashi e ela o observou. Fazia muito tempo que não o olhava com atenção e, embora parecesse mais velho, também parecia mais feliz, ou pelo menos mais livre.

Kakashi tinha sido o melhor professor que havia tido, mas também tinha sido alguém firme demais com ele mesmo. Jovem e severo consigo, como se ele não pudesse errar, não pudesse dar nenhum passo em falso ou senão tudo estaria perdido.

Ela riu, vendo que ele a encarava de volta. A garota piscou alegre antes de se sentar.

Foi quando a campainha tocou.

– Você chamou mais alguém, Genma? – Kakashi questionou, vendo o amigo ir atender à porta.

– Não... – respondeu, parecendo curioso e logo abriu a porta para um jovem loiro e bronzeado – Naruto!

– Ei, perdeu o golaço! – alertou Kakashi, enquanto Naruto entrava e cumprimentava ambos os homens, parecendo um pouco amuado.

Ele se sentou do lado da Sakura no sofá, sem dizer nada para ela e escondeu o rosto entre o ombro dela e o encosto.

– O que houve? – ela perguntou preocupada.

Sakura prendeu a garrafa entre as pernas e puxou o rosto de Naruto, fazendo o rapaz encará-la com um bico e seus olhos aquosos.

– O que aconteceu? – ela murmurou, vendo-o baixar o rosto e apertar a testa contra o braço dela.

O juiz apitou o fim do jogo e Genma desligou a televisão, observando a interação dos dois jovens com uma mistura de curiosidade e preocupação.

– Você tá bem, Naruto? – perguntou a voz profunda de Kakashi.

– Eu não devia ter me metido nessa fria, Sakura-chan! – ele reclamou, batendo a cabeça de leve contra o ombro dela num ritmo fixo – Me dei conta de que se eu entrei no jogo a Hinata também entrou e, mesmo que eu não esteja disposto a jogar, talvez ela esteja.

Ele levantou o rosto e seus olhos azuis pareciam extremamente tristes.

– E se ela se apaixonar mesmo por alguém? E se eu perder ela?

Sakura apertou os lábios sem saber bem o que dizer.

– Naruto, se ela quis tanto entrar no jogo, eu acho que você já tinha perdido ela antes – disse Genma, apoiando o joelho no braço do sofá – É uma merda e você deve estar me odiando por te dizer isso agora. Mas, talvez, essa seja tua única chance de ter certeza de que você tentou de tudo.

Kakashi os encarou, vendo o silêncio de Sakura e Naruto e suspirou.

– Que jogo é esse?

Sakura prendeu a respiração, mas já era tarde demais.

– Love Shuffle – disse Naruto, sem olhar para seu professor – eu sei que é uma babaquice. Eu não queria, mas todo mundo entrou...

– Todo mundo...?

Os olhos de Kakashi buscaram respostas nas expressões dos demais, vendo o ar culpado de Sakura e o sorriso amarelo de Genma, procedido por um movimento rápido e repetitivo fazendo o metal do piercing se arrastar contra os dentes.

– Foi, sensei, todo mundo, até a Sakura-chan – o jovem reclamou.

Kakashi achou que ele parecia um garotinho de 5 anos.

– Bem, se vocês entraram no jogo, agora jogue – ele disse simples e se levantou – Eu não tenho nada que ver com isso, então-

– Aliás, sensei, por que você estava no encontro deles? – perguntou o loiro, parecendo confuso e Sakura lhe deu um beliscão.

– Encontro?

– Não é isso, Kakashi-

Mas antes que Sakura conseguisse dizer alguma coisa os olhos de Kakashi encaravam Genma com certa agressividade.

– Você não acha que já tem idade suficiente para parar de joguinhos? – ele perguntou seriamente para o amigo – Não basta você se envolver com a Yamanaka, você tem que se envolver com a melhor amiga dela também?

Genma suspirou, colocou os cabelos para trás das orelhas e encarou Kakashi.

– Kakashi, eu sou um homem – ele disse e logo apontou para a moça sentada imóvel no sofá – Sakura é uma mulher, formada, independente, solteira, que pode muito bem cuidar de sua própria vida.

– Você perdeu a noção de quantos anos você tem ou do que é bom senso?

– O bom senso está em no fato da mulher sentada neste sofá estar de acordo com isso ou não, Kakashi. A Sakura não tem mais 12 anos de idade e você não precisa mais ficar cuidando para que nada lhe aconteça. Você pode deixar nas mãos dela decidir o que vai e o que não vai acontecer entre a gente.

Sakura sentiu o rosto corar absurdamente. Sua boca estava meio aberta e seus olhos iam de um para o outro esperando a reação de Kakashi. Naruto parecia mareado, olhando a cena e entendendo a imensa cagada que tinha feito ao abrir a boca.

– Sense-

– Claro, porque eu deveria ficar tranquilo sabendo que você é um dos jogadores. – ele concluiu sarcástico, pegando as chaves do carro e colocando no bolso da calça, se preparando para sair.

– Kakashi-sensei, tá tudo bem – Naruto tentou concertar o estrago, mas já era tarde.

– Não tá tudo bem não, Naruto. Se estivesse tudo bem, Genma teria me falado sobre isso antes – ele respondeu.

O ex-professor olhou para Sakura por um último instante e ela mordeu o lábio ainda sem reação.

Quando ele abriu a porta para sair, lançou um olhar assassino para Genma e fechou a porta. Sakura pulou do sofá, correu até a porta e saiu atrás de Kakashi.

– Sensei! – ela o alcançou antes que ele descesse pelas escadas de incêndio.

O homem parou, mas não se virou, sua mão segurando a porta corta-fogo e a outra enfiada no bolso.

– Tá tudo bem – ela disse, se aproximando – Eu só estou tentando me esquecer do Sasuke-kun. Só estou tentando me divertir, não tem nada de mais.

Os dedos dele apertaram a porta e suas articulações ficaram esbranquiçadas com a força. Ele soltou um riso irônico, mas não respondeu.

– Me desculpe, Kakashi eu... nunca pensei como isso poderia te afetar ou-

– Nah, Sakura, talvez eu deva começar a te ver assim também – ele falou duro e virou o rosto sobre o ombro, os músculos do pescoço saltando com o movimento, até que seus olhos se esbarraram – Como mulher.

A sua voz saiu firme e rouca e Sakura sentiu os joelhos tremerem de leve, assim como seus lábios. Mas antes que ela pudesse dizer algo mais, ele desapareceu atrás da porta de incêndio, que fechou com um baque pesado.

Tão pesado quanto a respiração dela.

O que tinha acontecido?

Por que Kakashi-sensei estava tão transtornado?

O que era aquilo?

Ela sequer voltou para o apartamento de Genma. Apenas pegou as chaves no bolso traseiro e voltou para sua casa. Sinceramente, a explosão de Kakashi tinha mexido mais com ela do que o normal.

E a expressão dele...

Sakura se jogou no sofá, sem acender as luzes e encarou o teto cheio de sombras.

Aquela expressão meio arrogante, meio fria, meio irritada quando ele falou que talvez devesse vê-la daquele modo também.

Como mulher...


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham curtido esse capítulo!