Love Shuffle escrita por Tainara Black


Capítulo 5
True Feelings


Notas iniciais do capítulo

Vou colocar os casais sorteados da semana no topo do capítulo pra facilitar! xx



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Love Shuffle

Capítulo 5 – True Feelings

*

GenSaku - NejiIno - NaruTema - ShikaHina

F

Sakura acordou no meio da noite com uma imensa dor nas costas. Dormir no sofá tinha sido, definitivamente, uma péssima ideia. Depois de conseguir dormir mais algumas horas em sua cama, ela teve que levantar e se arrumar para mais um longo dia de trabalho no hospital.

Na verdade, ela adorava trabalhar. Medicina era a única coisa em sua vida que lhe gerara tanto prazer e felicidade. Ela deveria se casar com sua profissão e seguir feliz e bem acompanhada.

Uma pena a vida não ser assim tão simples.

Ao terminar de se arrumar, Sakura olhou pela varanda e viu como o céu estava alaranjado, o sol estava bonito do lado de fora e o ar estava fresco. Era começo de outono, mas o verão ainda respingava uma temperatura agradável, com o sol brilhando e o vento úmido refrescando o dia.

Ela respirou fundo.

Talvez devesse falar com Kakashi de novo, pedir para ele não ficar tão bravo. Que aquilo tudo não passava de um pretexto para ela se sentir viva e livre do Sasuke.

A campainha tocou de repente.

Sakura olhou o relógio de pulso e estranhou, eram às 7h ainda...

Do outro lado da porta, Sakura se deparou com dois olhos castanhos e um sorriso sacana.

Genma.

Ela sorriu.

– Bom dia... – falou baixo e abriu mais a porta.

– Trouxe café! – ele mostrou os dois copos da Starbucks e um saquinho de papel – e Donnuts.

– Uau... – ela exclamou contente – O que acha de terminar de ver o sol nascer tomando esse café, então?

– Fabuloso! – ele riu e rolou o piercing entre os lábios, fazendo-a observar o metal instintivamente, o que fez o homem apoiar as costas no batente da porta e olhá-la com ainda mais sacanagem naqueles olhos amendoados – Mas, eu sou que nem vampiro, vai ter que me convidar para me ter dentro de casa...

Sakura o olhou nos olhos, surpresa. De alguma maneira aquelas palavras soaram tão provocativas que ela se sentiu um pouco sem graça.

Sério, como ficaria sem graça? Ela estava vestida para trabalhar, com uma camisa de botões azul clara e jeans artificialmente desbotados, não era como se ela estivesse sendo provocativa...

– Shiranui Genma, eu te convido para entrar na minha casa – ela falou polida e sorriu no final, mordendo de leve o lábio.

– Melhor assim – ele comentou.

Genma entrou e a seguiu. A jovem o direcionou até a varanda, onde tinha uma pequena mesa com duas cadeiras. Ela voltou para a cozinha pegou uma toalha de mesa e guardanapos. Eles se sentaram ali, de frente para o nascer do sol e ela o observou com curiosidade.

– A que devo esse café da manhã surpresa?

– Desculpas – ele disse simples – eu sei que Kakashi acabou ficando bravo comigo, e eu não quero estragar a amizade de vocês.

– Você não estragou nada, Genma – Sakura tomou um gole de seu copo e descobriu ser um Caramel Machiatto, seu favorito, suas sobrancelhas arquearam em surpresa e ele sorriu.

– Naruto me falou qual era teu favorito. Falou também sobre Kakashi te reconfortar quando Sasuke faz alguma besteira... Disse que ele ajudou muito durante o término de vocês, e como ele fica acompanhando esse rolo todo com certa distância, mas sempre preocupado.

– É – ela sorriu e aceitou o Donnuts – Eu vou ter que conversar com ele, mas acho que foi apenas um baque...

– Sakura, o que o Kakashi falou está certo.

Os olhos verdes dela encararam os dele em silêncio.

– Qual parte...? – perguntou receosa.

– Um sacana conhece outro sacana.

A mulher pousou o doce sobre o guardanapo e o observou incerta.

O que ele queria dizer com isso? Sobre Genma ela já sabia, mas Kakashi também era um sacana?

– Sacana?

Genma soltou um riso fraco pelo nariz, mordeu de leve o lábio, olhando para o céu e começou a brincar com o piercing, movendo-o de um lado para o outro.

– Não que eu queira me aproveitar de você. Nem sou um louco tarado que gosta de mulheres mais jovens. – ele explicou, sem olhá-la – Mas eu definitivamente tenho interesse...

Sakura segurou a respiração e olhou ao redor, depois para ele e se deparou com seus olhos encarando-a com intensidade. Percebeu que ele usava uma camiseta cinza chumbo, com uma jaqueta de couro marrom e que tinha uma corrente de prata que ficava para dentro da blusa.

Genma era um homem muito interessante. Ela ousaria dizer que ele era até sexy, mas saber que ele tinha interesse nela era... bem, era de repente algo muito excitante.

Ele bebericou em seu café e sorriu, passando uma das mãos pelas madeixas que chegavam até pouco abaixo de seu queixo.

– Fui muito direto?

– Foi – assumiu ela.

Sakura riu sem graça e se levantou, encostando-se no murinho da varanda.

– Eu ganhei a aposta de ontem.

Ela concordou com a cabeça, sem querer olhar para ele.

– Então eu posso pedir algo, não é?

Ela fez que sim de novo, limpando os lábios com as pontas dos dedos e olhando-o de soslaio.

– Qualquer coisa, certo?

– Sim... – a voz dela saiu tremida e, rapidamente, Genma estava a poucos centímetros dela, seus rostos muito próximos.

Tão próximos que ela podia sentir seu hálito quente contra seus próprios lábios. Aquele aroma inebriante de perfume masculino misturado com café...

– Então... – ele sorriu e passou as mãos pelo rosto dela, afastando os cabelos rosa claro para trás das orelhas – Eu vou pedir para você se render.

– Como assim?

O coração dela acelerou.

Genma se debruçou aos poucos, seus braços aprisionando-a contra o muro, e seus lábios roçaram a bochecha dela, rumando lentos até pararem contra o lóbulo de sua orelha. A barba por fazer arranhou a pele de seu rosto e pescoço, gerando uma onda de ansiedade e calor que Sakura não sentia fazia tempo.

– Eu quero que você se renda à mim, Sakura – ele disse, seus lábios úmidos depositando um beijo na curva entre seu maxilar e o pescoço – Renda-se.

E

Sinceramente se ela olhasse de novo no relógio ia acabar entrando em parafuso. Já era praticamente hora do almoço e o Hyuuga sequer tinha ligado ou mandado uma mensagem para combinar qualquer coisa que fosse durante essa semana.

Ela ia ter que ligar para ele? Mesmo?

Ino suspirou. Embora a brincadeira parecesse interessante e a possibilidade de se aproximar afetivamente de Neji fosse real, algo lhe apertava um pouco o peito quando pensava em realmente ter que ir atrás dele. Ou ir atrás de qualquer um para falar a verdade.

Era como se estivesse traindo o Genma com sua autorização. E por mais tentador que fosse, aquela situação lhe gerava certo desconforto.

Ela poderia tentar seduzir Neji, mas ele obviamente não cairia em nenhum de seus planos bobos como a maioria dos caras caia. Essa era a parte interessante em Hyuuga Neji.

O indomável Hyuuga Neji...

Ela tinha escutado mais de uma vez as pessoas falarem sobre ele e Tenten, embora ele também tivesse escutado o mesmo sobre ele e Uchiha Itachi, então sinceramente ela não acreditava em ninguém que falasse algo de Neji sem ter provas confirmadas.

Afinal, todos morriam de inveja do herdeiro Hyuuga, então muitos falavam por falar, apenas para destruir a imagem dele.

Mesmo que o rumor sobre ele e Itachi fosse verdade – o que ela duvidava muito, pois Neji não parecia estar muito interessado em homens, mesmo que dito homem fosse o incrível e delicioso Uchiha Itachi – ela não daria a mínima. Atualmente quase todo mundo tinha tido uma aventura homossexual na vida...

Ela não apreciava muito a ideia, mas Neji valia a pena.

– Yamanaka?

A voz a tirou de seus devaneios e ela encarou a porta de seu consultório para ver um lindo e bem vestido Hyuuga Neji, olhando-a sem muito interesse.

– Está ocupada?

Ela sorriu agradável e cruzou as pernas atrás da mesa.

– Não, na verdade eu estava esperando dar a hora do almoço para sair.

– Ótimo, o que acha de almoçarmos juntos?

Ino soltou os cabelos do rabo de cavalo e os fios platinados caíram longos e loiros por seus ombros. Ela os jogou para o lado e levantou.

– Acho ótimo, Neji – ela pegou a bolsa e os movimentos ressaltaram como o vestido preto contornava bem suas curvas – Embora eu tenha que passar em um lugar durante minha hora de almoço... Você se importa em me acompanhar?

Hyuuga Neji não tinha nenhum interesse na Yamanaka. Ela lhe parecia apenas uma menina loira, patricinha, mimada e cheia de si. Obviamente, ela era muito bonita, mas ser bonita não era fator modificador para ele.

Embora ela fosse mais bonita que a média... Ele diria que até Hinata era mais bonita que ela, com aquela beleza imperial, comportada, refinada. Mas Ino tinha panturrilhas interessantes e ele teria que fazer algo com ela durante a semana de todo jeito, então qualquer coisa que lhe desse uma desculpa para não vê-la por mais dois dias por falta de tempo do trabalho seria maravilhoso.

Ele suspeitava que Ino ia querer mais do que ele estava disposto a dar, então hora mais ou hora menos ele teria que lidar com aquilo...

– Se não demorar muito... Tenho compromissos no período da tarde – disse sério, e tentou não notar a visão interessante que as meias finas pretas davam às pernas dela.

– Então é melhor irmos já – ela disse, colocando um terninho lilás sobre os ombros.

E

De modo algum ele imaginou que aquilo algum dia aconteceria.

Temari estava conversando com metade dos policiais do quartel, com seu jeito convincente e atraente de ser, levando todo mundo no bico, até mesmo Sasuke que estava num canto afastado terminando de arrumar alguma papelada da delegacia que ainda não tinha terminado.

Já era quase hora do almoço e ele estava se divertindo mais do que nas últimas semanas.

Ela tinha perguntado quem votaria em Naruto para prefeito e todos tinham levantado a mão, até Sasuke com uma cara de filho da mãe, encarando o loiro como se dissesse "mas ainda assim eu riria se ele perdesse".

Naruto tinha levado Temari para conhecer a delegacia da mulher, o quartel general e também a oficina principal, onde grande parte dos projetos sociais da guarda municipal aconteciam.

Ele lhe explicou cada um dos projetos e o coordenador de cada um. Naruto mesmo cuidava de dois projetos para crianças órfãs e crianças de rua. Era a maneira que ele encontrava de dar certo apoio àqueles que não tinham muitas oportunidades na vida.

Temari comentou que eles poderiam conseguir mais verba para os projetos se fizessem uma boa campanha de visibilidade sobre menores em situação de abandono e negligência parental. Naruto achou ótima a ideia deles criarem uma semana para esse tipo de ação de conscientização na cidade, seria uma grande possibilidade de movimentar mais pessoas para apoiar seus projetos.

Eles andaram até o centro e escolheram um restaurante italiano para almoçar. Ambos estavam mortos de fome e cheios de animação.

Temari tinha uma aura animada como a dele, e isso lhe fazia se sentir estranhamente bem com ela. Era quase como se eles encaixassem naquela frequência alta, agitada e eletrizante, como se isso fosse normal.

Ele riu da piada dela.

– Sério, Naruto, não faço a mínima ideia de porque a Sakura gosta dele. Ele é um panaca! Mesmo que seja bonito, ele não chega nem aos pés do irmão dele, e tem um mau humor matinal terrível!

Temari era inacreditável. Ela era como o ar fresco.

– Ela sempre gostou dele.

– Mas é absurdo, Naruto!

– Diga isso para ela, eu não duvido nada que ela te dê a razão.

A loira o olhou seriamente e pousou os talheres na mesa.

– Ele a fez sofrer por muito tempo, não é? – o homem apenas concordou com um sorriso entristecido – É, Shikamaru me disse algo assim. Como se ela fosse o capacho dele por anos...

– Mais ou menos isso.

– Nossa, então tomara que esse jogo dê certo – ela comentou, comendo sua salada.

– Sim. Na verdade, nós já conversamos muito sobre isso... Ela tentou inúmeras vezes pôr fim nisso, parar de gostar dele, mas ela não consegue se apaixonar por outro cara. E o Sasuke provoca, - ele balançou a cabeça e tomou um gole do suco de laranja – Toda vez que ela ficava muito tempo sem correr atrás dele, ele ia atrás dela, fazia Sakura pensar que ele gostava dela ou que a queria. Normalmente eles passavam a noite juntos e no dia seguinte ou na semana seguinte ele voltava a ser o mesmo babaca de sempre.

– Que cara ridículo!

– É, e não adianta falar nada com ele. Acho que Sasuke tem algumas coisas da personalidade dele que não lhe fazem bem, então acaba descontando na Sakura-chan. Mas ultimamente ele só provoca, fala que está pegando alguém, esfrega na cara dela que ela é o cachorrinho dele e que vai sempre que ele chama. Mas pelo que sei, ele não tem mais chamado ela para... você sabe... – ele olhou ao redor e sussurrou – sexo.

Temari ficou quieta um tempo e olhou pela janela. Observando as pessoas andarem pelo centro de Konoha e identificando alguma coisa estranha naquela história.

– Esse cara tá mal resolvido. Como ele consegue manter esse comportamento por tanto tempo? Isso é absurdo...

– Mal resolvido com a Sakura?

– Não, com ele mesmo.

Naruto a olhou perplexo.

– Sasuke? Nah! – ele riu – Ele é um dos caras mais seguros de si que eu conheço...

– Então deve ter alguma coisa que não estamos percebendo.

Ele terminou de comer seu macarrão e foi bebendo o suco. Naruto nunca tinha pensado que Sasuke podia estar mal resolvido com algo e então descontasse em Sakura, não fazia o menor sentido...

– Naruto, você gosta de Investigação Criminal? – ela perguntou, apoiando os cotovelos na mesa e se aproximando.

– Adoro! É a parte mais intrigante, mas poucas vezes podemos participar já que não somos detetives...

– O que você acha de descobrirmos o segredo de Uchiha Sasuke? – ela piscou e mordeu os lábios ansiosa.

Ele soltou uma gargalhada, ela só podia estar brincando. Isso seria hilário!

– Parceiros no crime? – ele perguntou e ela fez que sim, piscando – Com certeza, estou dentro!

– Ótimo!

L

– Então, o que você acha?

O homem deu uma volta, olhando ao seu redor e apreciando o apartamento. Era grande, iluminado, com ótima vista para a cidade e no 11º andar, sem barulho da rua, com garagem coberta e piscina aquecida. O local era bem situado e mesmo se ela mudasse de ideia e quisesse vender ou alugá-lo depois, teria muita facilidade.

– É um bom negócio – disse simples – Por que me trouxe aqui?

– Oras, você é um homem de negócios, Neji, quis aproveitar a chance – comentou, sorrindo e atravessando a ampla sala para ficar perto dele – É meu, me entregaram a chave hoje.

– Então não precisava da minha opinião.

A loira deu de ombros e observou seu novo apartamento.

– Para falar a verdade, acho que fiquei ansiosa de vir sozinha.

Neji balançou a cabeça, ponderando porque a mulher estava sendo tão honesta. Ele não entendia bem o jogo de Ino, mas o almoço tinha sido minimamente agradável. Estava certo de que conseguiria lidar com ela durante toda a semana.

– Obvio – ela continuou – Também existe o fato de estarmos sozinhos em um apartamento vazio – Ino sorriu para ele, seus cabelos platinados caíam por seus ombros como leves ondas que contrastavam com seu vestido negro – O que é interessante...

O Hyuuga encarou seus olhos azuis com intensidade.

Ino era obvia demais para o seu próprio bem. Ele observou como ela movia os cabelos para trás e os penteava com os próprios dedos, ao mesmo tempo em que o olhava com firmeza, mas ele não pôde reparar que suas mãos suavam frio ou que sua respiração estava mais difícil do que o normal.

– Sinto informar que hoje não pretendo me engajar em tuas ideias interessantes, Yamanaka – Neji não hesitou em deixar claro e a loira sorriu.

– Eu imaginei – ela comentou e andou até a varanda, seu coração sentindo-se levemente menos apreensivo, ela ficou contente.

Tinha algo de especial no dia de hoje que Ino ainda não tinha decidido o que era.

– Tua hora de almoço já está quase acabando, Hyuuga – ela disse, sem olhá-lo – Acho que você deveria voltar para a empresa.

Ele olhou o relógio e concordou, já era hora de irem.

– Vamos, eu te levo de volta ao hospital.

– Não precisa, – ela falou, ainda olhando pela varanda – eu tenho a tarde livre hoje.

– Te levo para tua casa, então – ele pressionou, pegando as chaves no bolso da calça.

– Eu estou em casa.. Tem algo mágico em estar na minha própria casa.

Neji a observou, a maneira como seus ombros pareciam levemente inclinados e como ela se apoiava contra a porta de vidro. Ele não diria que ela estava triste. Havia algo de muito genuíno em seus gestos, algo natural que ele nunca tinha visto a Yamanaka colocar para fora.

O homem se aproximou mais dela e ficou há poucos passos de distância.

– O que você gosta de fazer para se divertir, Yamanaka?

– Já disse que pode me chamar de Ino.

– O que faz pra se divertir, Ino?

– Além de sexo? – ela perguntou, virando o rosto sobre o ombro e sorrindo um pouco forçada.

– Além de sexo – ele concordou, olhando-a com seriedade.

– Eu gosto de dançar.

Ela amarrou os cabelos num rabo alto, seus olhos outra vez fixos na vista que tinha da varanda.

Se Neji não estava disposto a se envolver com ela e nem tentar, pelo menos ele seria delicado o suficiente de levá-la em algum lugar interessante para dançar.

– Certo, o que acha de irmos ao The Catch na sexta? – ele perguntou, girando a chave do carro no dedo indicador – Posso te pegar às 20h para jantarmos antes.

– Parece uma boa ideia – Ino respondeu, desencostando-se da porta de vidro e virando para encará-lo – Você pode ir embora agora.

E ele o fez.

Mas ao abrir a porta para sair ele parou. Virou-se para a loira mais uma vez e observou como ela parecia pequena dentro daquele apartamento grande e vazio.

– Ino?

– Hnm? – ela se virou de leve.

– Parabéns pelo apartamento – ele disse simples, e saiu deixando a moça com um olhar perdido, numa expressão entre contente e solitária.

A porta encaixou a fechadura com um click seco.

Ela respirou fundo e se sentou no chão de linóleo. Seu coração estava disparado e a ansiedade ainda corria solta em suas veias.

Aos poucos o alívio foi descendo por seu corpo até que ela conseguisse respirar tranquilamente. Aquele negócio de fingir que está tudo bem em se relacionar com outros homens ia acabar com ela.

Por mais que Ino quisesse manter essa imagem sensual de mulher independente e pegadora, a realidade era muito diferente dessa: ela não queria perder Genma, ela não queria se dar a outro cara.

Ela não queria ficar sozinha.

Mas isso não dependia só dela...

Ela pegou o celular e digitou o número memorizado há muito tempo.

Alô?

– Genma? – sua voz pareceu aquosa e ela fechou os olhos, tombando a cabeça contra a parede.

Ino, você tá bem? – a voz dele soou um pouco preocupada, e o peito dela se encheu de um calor doloroso e conhecido.

– A gente precisa conversar...

Onde você está, Ino?

Ela abriu os olhos e encarou seu apartamento. Ela não tinha contado para ninguém ainda sobre a compra, apenas para Neji. Ino queria que Genma estivesse ali com ela, que a levasse a sério, que decidisse que aquilo era uma boa ideia: que pensasse neles como um casal de verdade.

Eu acabei de sair do trabalho, onde você está? – ele pressionou.

– Genma... – ela murmurou seu nome, pensando nos planos que tinha feito, nas ideias de inaugurar a casa com ele, de se divertirem ali, de que talvez aquele lugar fosse o futuro lar deles. Mas Ino conhecia o Shiranui bem demais, ela sabia muito bem dos planos dele, ela sabia o que ele estava fazendo quando entraram naquele jogo, e aquilo só a machucava mais – Eu te amo.

I

Neji aguardou o portão automático abrir e suspirou.

Tinha sido um dia comprido.

Desde que saíra do apartamento de Ino, tinha entrado e saído de reunião atrás de reunião. Ele já não aguentava mais. Precisava tomar um bom chá, um banho bem quente e relaxar.

O mês estava tão corrido e atribulado que os dias pareciam ter muito mais horas de trabalho do que deveriam.

Já estava escuro quando seu carro atravessou a primeira parte do condomínio Hyuuga e se aproximou de sua casa, na parte mais afastada das casas mais antigas, onde seus avós, tios e primas moravam.

Ele virou o carro e manobrou para estacionar de ré, e algo lhe chamou a atenção no canto do olho: Hinata estava na pequena praça do outro lado da rua, onde havia um jardim florido e algumas árvores frutíferas de pequeno porte.

Desligando o carro, o homem se perguntou o que Hinata estava fazendo de noite, no vento frio, andando ali sozinha.

Saiu do carro e ligou o alarme, antes de começar a andar na direção de sua prima.

De longe ele não tinha conseguido ver, mas agora mais próximo ele percebeu que ela estava com um xale azul claro contornando seus braços e ombros, protegendo-a precariamente do vento frio.

Seus ombros tremiam de leve e seus cabelos negros como a noite esvoaçavam no vento, lhe dando um ar poético que o fez soltar um riso fraco pelo nariz. Ela era como um haikai de Bashō, uma mistura entre luz e sombra e todas suas derivações. Era como se composse aquela cena da natureza como mais uma peça óbvia do cenário.

Hinata lhe remetia à uma sensação bucólica que ele só encontrava nos versos antigos da literatura arcaica japonesa, onde as mulheres eram pedaços únicos de beleza e pureza.

Hinata era uma mulher antiga, ela não fazia parte do século XXI como as demais mulheres. E isso era algo que Neji considerava clássico e delicado ao mesmo tempo, como uma preciosidade única que apenas uma Hyuuga poderia ter.

– Hinata-sama? – ele chamou, aproximando-se dela.

O cascalho estalou sob seus pés e Hinata se virou levemente surpresa. Suas bochechas estavam coradas e seus olhos úmidos.

Lágrimas de cristal adornavam seu rosto como uma pintura renascentista e Neji se sentiu sem palavras, como se entrasse num espaço onde não estava convidado a entrar.

– Não quis te atrapalhar – ele disse, olhando o chão, tentando não invadir mais espaços onde não estava permitido adentrar.

– E-eu sinto muito – ela murmurou, suas mãos secando os olhos rapidamente, tentando esconder ou apagar provas de um crime que ela não deveria ter cometido – Você não me... atrapalha.

– Eu vou te deixar com seus pensamentos, mas não deveria ficar aqui fora, está ventando muito – Neji aconselhou, colocando os fios de cabelo que escapavam do rabo de cabelo para trás da orelha.

– Não tinha vontade de entrar – explicou-se a morena, encarando-o agora – cheguei há meia hora do meu encontro com Shikamaru – disse, fazendo-o se sentir novamente como se adentrasse locais que não deveria.

– Você está bem? – ele perguntou polido, olhando-a com receio – ele não fez nada que não deveria, certo?

Shikamaru não tinha perfil para aquilo, mas se Hinata estava chorando deveria ser por algo.

– N-não! – respondeu rapidamente – Shikamaru é um homem muito gentil! Foi uma tarde muito agradável, na verdade.

Neji sentiu que, de repente, Hinata lhe convida a entrar naqueles espaços que ele não se sentia convidado. Era como se ela pedisse que ele entrasse. Era uma sensação que nunca havia sentido com ela antes. Talvez ela precisasse daquilo, precisasse que ele, pela primeira vez na vida, lhe estendesse a mão.

Uma pequena batalha interna se instalou dentro dele e antes que a decisão fosse consciente e obvia, Neji falou:

– Você quer entrar e tomar um chá?

Os olhos de Hinata brilharam com uma chama alegre e ela sorriu.

– Seria ótimo.

N

Sakura atendeu seu último paciente e escreveu mais um relatório. Seus olhos pousaram no relógio e ela suspirou, era hora de ir embora. Mas a ideia de ir para casa, depois da cena da manhã com Genma, lhe gerava certo desconforto.

Ela precisava conversar com Kakashi e lidar com aquilo de maneira adulta.

Pegou o celular e digitou o número do ex-professor. Seu coração acelerou quando o telefone começou a chamar.

Um toque. Dois toques. Três toques...

Quatr-

Alô.– a voz profunda de Kakashi soou alvoroçada do outro lado da linha e Sakura prendeu a respiração.

– Eh, sensei? – ela disse incerta, o cérebro tentando trabalhar rapidamente – Tô te atrapalhando?

Não, eu tava dirigindo, mas já estacionei.

– Você tem planos pra hoje? – ela tentou soar casual sem ter certeza se tinha conseguido. Mordeu o lábio com força e esperou a resposta, escutando ele soltar o ar com certa força.

Não tenho – disse depois de um silencio misterioso e ela sorriu contente.

– O que acha de irmos tomar uma cervejinha?

– Sakura, olha-

– Não, sensei, eu não olho nada. Eu pago hoje – ela pressionou. Sabia que Kakashi adorava desviar de temas que lhe fossem desconfortáveis e que ele preferiria fingir que nada tinha acontecido ontem, mas a verdade era que ela precisava daquilo.

Ela precisava ver que ele estava ok com ela ter crescido, como ele mesmo disse.

– Por favor! – ela pediu, escutando ele soltar o ar com pesar de novo.

Tá bem. Mas eu tenho que deixar algumas coisas em casa antes.

– Ótimo, acha que em meia hora ou quarenta minutos podemos nos ver no Shinobi Bar?

Acho que sim. Se você chegar antes, vai pegando uma mesa.

– Nos vemos lá – ela concluiu alegre e o escutou se despedir.

Hoje de manhã tinha sido uma experiência entorpecente. Escutar Genma lhe pedindo para se render à ele tinha sido algo excitante e assustador ao mesmo tempo.

Não era como aqueles caras que Ino arranjava para ela quando saiam, era alguém que ela conhecia, que era mais velho, que tinha todo um charme e táticas de sedução que nem Sasuke conseguiria imitar.

Só de lembrar como os lábios de Genma tinham deslizado pela pele de seu pescoço, pelo maxilar e como tinham pousado suavemente contra os seus. A maneira como ele tinha segurado seu rosto e beijado seus lábios com delicadeza, mas depois com intensidade e desejo, aquilo lhe fazia sentir as pernas amolecerem e seu corpo esquentar.

Havia sido apenas um beijo. Um beijo que poderia mudar a maneira como ela mesma se via. Mas algo lhe dizia que não estava bem fazer aquilo sem conversar antes com Kakashi. Sem antes deixar em pratos limpos que, embora ele discordasse e achasse aquilo tudo um grande erro, era o que ela queria. Que queria se aproveitar da situação toda e cair de cabeça na loucura que aquele jogo babaca podia ser.

Ela queria se empoderar de sua vida, de sua sexualidade e de sua adultidade como nunca havia feito antes. Como se ela realmente fosse uma mulher e não uma menina.

Sakura precisava daquilo. E precisava dizer a Kakashi que era aquilo o que ela queria naquele momento. E, pelo jeito, algo lhe fazia pensar que Kakashi tinha que saber aquilo e entender que aquela era sua decisão.

G

Não era a primeira vez que Hinata entrava na casa de Neji, mas certamente era a primeira vez que ela estava ali como convidada para tomar um chá e não para lhe dar algum recado ou deixar algo que seu pai tinha mandado para seu primo.

A primeira coisa que notou ao entrar, era que Neji além de organizado era extremamente tradicional. Painéis de pinturas antigas japonesas e haikus em kanji antigos decoravam a sala de estar e a de jantar. Os móveis eram em tons claros e as almofadas e cortinas de cores sóbrias contrastavam com os tons pastéis.

A louça era de uma porcelana fina e clássica e o jogo de chá tinha imagens de uma floresta de bambú. O cheiro da casa era de eucalipto e o chão era de madeira clara. Tudo era muito mais acolhedor do que ela se lembrava.

Hinata tinha insistido em preparar o chá, mas Neji não lhe permitiu, dizendo que ela hoje era a convidada especial e que ele faria as honras da casa. Então ela tinha ficado ali na cozinha muito limpa, discreta e clara, observando-o preparar tudo com muita tranquilidade. Era como se aquele fosse um dos rituais de Neji para relaxar e se sentir em casa.

Ele comentou com ela sobre chá de jasmin e ela concordou. O cheiro logo inundou a cozinha e logo a sala quando se sentaram ao kotatsu, aquecidos pela manta elétrica tipicamente japonesa. Era como se ela estivesse em sua infância novamente, com aquelas particularidades da tradição que sua mãe e tia traziam ao lugar.

Fazia tempo desde que sua mãe tinha falecido e que sua tia tinha se mudado para sua cidade natal para cuidar dos avós de Neji.

Ele lhe contou sobre seu dia de trabalho e ela comentou sobre seu encontro com Shikamaru.

– Algodão doce? – ele perguntou rindo. Quando Neji ria, sua expressão ficava relaxada e seus olhos pareciam doces, tão doces quanto eram quando Neji não passava de um garotinho. O garotinho que ela conhecera e amara quando pequenos.

Neji tinha mudado tanto. Mas naquele pequeno momento de familiaridade e acolhimento, ele transmitia pequenas lembranças em suas reações. Lembranças que ela nem se recordava mais, como apertar os olhos ao sorrir ou apertar a ponte do nariz para controlar o riso.

– Sim! – ela exclamou contente, sentindo-se mais em casa do que em sua própria casa – E depois de comermos o bentō que ele havia comprado nós demos comida para os pássaros do parque e ficamos conversando. Foi muito agradável.

– O Nara acha que você tem dez anos? – ele perguntou, pousando o chá à mesa.

Ela mordeu o lábio.

– Ele disse que Naruto conversou com ele... – sua expressão mudou e Neji pareceu preocupado – Não precisa me poupar – ela acrescentou, querendo que ele a tratasse de maneira natural. Mas quis continuar colocando aquilo para fora e aproveitando que Neji estava aberto a escutá-la. – Parece que ele estava preocupado que eu me apaixonasse por Shikamaru no nosso primeiro encontro.

Neji apertou a ponte do nariz e fechou os olhos, aguentando o riso.

– Que? – perguntou ela achando graça.

– O Naruto é outro que parece ter dez anos de idade.

– Não diga isso – ela riu – Ele apenas se sente inseguro com tudo isso.

– É por isso que você estava chorando? – ele perguntou com certo receio.

Ela olhou a porcelana do bule de chá e sorriu entristecida. A pequena nuvem de dúvida e dor sobrevoando-a novamente.

– É complicado. Nem eu mesma consigo me entender, imagine ele.

Neji suspirou.

– Escute, Hinata-sama, se me permite dizer algo sobre isso-

– Apenas se você me chamar por Hinata e retirar essas formalidades por um momento entre primos.

Ele a encarou sério. Seus cabelos soltos escorriam lisos pelo ombro e contrastavam com sua camisa branca, dando-lhe um ar informal que poucos tinham o prazer de vislumbrar.

– Certo, Hinata – ele fez uma pausa enfática e ela sorriu – Deixando de lado minhas preocupações com o nome de nossa família e da empresa, e te vendo como um ser humano normal, eu acho que é compreensível.

Hinata o encarou em choque. Ela não esperava aquilo.

– Vejamos – ele disse, pegando no bolso do terno que estava sobre o sofá o maço de cigarros e, ao olhá-la novamente, ele franziu o cenho – você se importa que eu fume?

– N-não! – disse lisonjeada – Você está na sua casa e eu, definitivamente, não tenho dez anos de idade – brincou, tentando esconder o rubor que lhe surgia de repente, por poder ver Neji agindo como ele deveria agir com seus amigos, fosse Tenten ou Lee, como elerealmente era – Você pode ficar a vontade comigo – acrescentou, na esperança de que um dia ele também a visse como amiga, como costumavam ser durante a infância.

Ele concordou e acendeu o cigarro, tragando a fumaça de maneira automática. Era estranho vê-lo assim, tão natural, tão pouco contido, tão verdadeiro.

– Você é uma mulher jovem – ele começou e ela riu, achando graça e Neji a olhou questionando.

– Deixei de ser a menina de dez anos para ser uma mulher jovem em menos de dez minutos.

Ele sorriu para ela soltando a fumaça por entre os lábios. O que a fez olhá-los automaticamente e perceber, pela primeira vez, que eram finos e rosados de uma maneira que lhe fazia parecer um homem muito bonito.

– E como uma mulher jovem, é normal que a ideia de se casar soe assustadora.

Ela concordou com a cabeça, pegando um biscoito de feijão doce.

– Imagino que como Naruto foi seu único relacionamento sério-

– Foi o único relacionamento num geral – ela comentou, olhando para o biscoito.

– Certo, como único relacionamento, você tema se equivocar por não ter tido outros relacionamentos para ter certeza que é realmente isso que quer.

Hinata o olhou. Era isso.

– Como você sabe disso? – perguntou curiosa, sentindo que Neji estava sendo tão real com ela que parecia que algo ia mal – Você colocou algo no chá, Neji?

– Não, mas se quiser eu tenho sake, posso esquentar um pouco – ele brincou e Hinata arregalou os olhos.

Então esse era Hyuuga Neji, o verdadeiro.

– Niisan – ela chamou e o homem a olhou compenetrado – Por que você se esconde? É a primeira vez que você fala algo real comigo.

Neji apagou o cigarro no cinzeiro e suspirou. Ele não sabia responder aquilo, era apenas parte de sua armadura e Hinata sempre lhe parecera ser uma competidora, alguém que podia roubar o que era seu apenas por ter nascido de Hiashi e não de Hizashi como ele.

Ele se fechou automaticamente e Hinata percebeu.

– É a primeira vez que alguém parece me entender, Neji-niisan – ela comentou, querendo ser tão franca como ele havia sido com ela – E eu adoraria poder contar com isso mais vezes na minha vida.

Neji continuou quieto e ela detestou aquilo.

– Nós fomos criados da mesma maneira, como se tivéssemos que viver como manda o livro, como as regras sociais dizem ser correto. Ambos tivemos que criar estas personalidades pra sobreviver na família. Eu virei a menina submissa e insegura e você virou o frio e intocável Hyuuga Neji – ele a encarou, havia muita compreensão em seu olhar.

Eles tinham sido vítimas da mesma realidade e tinham lidado com aquilo de maneiras muito diferentes.

– Eu seria muito mais feliz se pudéssemos manter esse tipo de conversa mais vezes, Niisan: o Neji de verdade e a Hinata de verdade.

Neji sentiu o impacto daquilo. Era como se todo aquele tempo que estivera mantendo uma postura distante tivesse destruído algo verdadeiro que tinham compartilhado durante a infância. Não fazia ideia de que Hinata pudesse falar aquilo com tanta clareza.

– Como você faz isso?

– I-isso o q-que? – perguntou insegura.

– Dizer o que sente dessa maneira tão obvia?

Hinata riu sem graça.

– Eu tenho lido alguns livros de psicologia muito interessantes – disse, ainda sem graça.

– Bem, você vai ter que me ensinar a fazer isso – comentou, assumindo algo que nunca tinha assumido antes: sua dificuldade em expressar sentimentos. - Eu adoraria ter mais conversas assim com você, Hinata.

Ela sorriu.

– Eu também.

Ele sorriu para ela, eram sorrisos idênticos, como se fossem espelhos de pessoas que precisavam algo mais do que tinham recebido ao longo de suas vidas.

– Só não suje o nome da família – ele disse, fingindo um ar de seriedade que a fez rir.

– Tá bem! Prometo não sair por aí com qualquer um.

– Nem pense nisso! – ele disse com possessividade e ela riu mais.

– Eu só quero ter certeza de que não vou me arrepender depois – falou, sorrindo.

Ele concordou com um aceno leve de cabeça e a olhou.

Foi um olhar profundo de quem vê outra pessoa inteiramente pela primeira vez. Hinata sentiu a força daquele olhos claros, como se ele a estivesse aceitando profundamente por ser quem era. Existia algo novo no vínculo que eles estavam formando juntos ali.

– Eu senti sua falta, Hinata – ele disse com uma profundidade que a aqueceu de dentro para fora.

– Eu também, Niisan.

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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!