Love Shuffle escrita por Tainara Black


Capítulo 3
Shuffle




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Love Shuffle

Capítulo 3 – S.H.U.F.F.L.E.

S

Quando a campainha tocou, Ino correu para frente do espelho pra ter certeza que estava apresentável, esticou o tubinho preto e olhou o rabo de cavalo intacto. Não queria mudar de casal na verdade, mas se era para brincar então ela iria até o fim, e para isso, precisava estar segura de que poderia chamar atenção dos outros rapazes. Abriu a porta com um sorriso, escutando os passos de Genma ao sair da cozinha para receber os convidados.

Ino cumprimentou a melhor amiga e comentou algo sobre seu vestido, mas, no segundo seguinte, ela estava encarando o homem que entrou depois de Sakura com uma expressão embasbacada.

– Ta de brincadeira? – perguntou, atônita, encarando o moreno a sua frente.

– Não, bem... Nós saímos algumas vezes e quando lhe propus a brincadeira, Neji pareceu interessado – disse Sakura timidamente.

– Bem vindo – disse Genma sorrindo, parecia que o jogo seria mais interessante do que havia imaginado.

Ino observava o Hyuuga, sinceramente agora o jogo estava mais tentador. Não que acreditasse que teria algo com Neji, mas a simples ideia de poder tentar era suficientemente boa, afinal, não é todo dia que ela podia se aproximar daquele cara tão antissocial... Perdeu-se em pensamentos, encarando-o sem deixá-lo passar, e ele a encarava de volta, o que havia de errado com aquela mulher? Será que ele era muito bonito ou muito antipático para ela reagir normalmente?

– Eu sempre achei que você era do tipo conservador... – Ino murmurou, olhando-o seriamente. Então sorriu maliciosa: – Subiu no meu conceito – soltou num fio de voz e o deixou passar, sem antes dar uma boa olhada no moreno.

Genma entreviu aquilo e sorriu internamente, que Ino se apaixonasse pelo Hyuuga, ele ficaria extremamente contente com isso. Mas antes que a loira pudesse fechar a porta alguém apareceu de repente.

– I-no – disse o recém-chegado de maneira entediada, mas com um pequeno sorriso no rosto.

– Shikamaru! – ela se jogou no pescoço dele e logo o deixou passar, falando em seguida com Temari, que usava um decote discreto, mas provocador e sorria bastante animada. Parecia que pelo menos alguém estava gostando da idéia daquele jogo maluco.

– Boa noite – disse a mulher de Suna e todos a cumprimentaram.

Neji se juntou a Genma na cozinha. Estavam resmungando algo sobre a nova campanha publicitária que a Hyuuga International, empresa da família dele, estava disposta a fazer e sobre qual publicitário o Shiranui lhe indicava já que trabalhava no ramo, quando bateram insistentemente na porta e a voz animada de Naruto inundou o apartamento. O Hyuuga sentiu um calor estranho se espalhar pelo corpo, estava preparado para aquilo, mas talvez não o suficiente.

Ele endireitou as costas e sentiu a rigidez dos músculos, pegou as taças e ajudou o anfitrião a levar todas elas para a sala. Ino e Sakura estavam sentadas no sofá conversando animadas sobre alguma coisa do hospital, Shikamaru estava na janela fumando um cigarro e Temari havia aberto a porta para os últimos convidados a chegarem.

– Genma-san, eles chegaram – foi o que ela disse, virando-se e topando com um Neji muito sério.

O Hyuuga passou reto por ela, sem antes encará-la estoicamente e deixou as taças na mesa, observando Naruto rir para as amigas no sofá e se sentir em casa instantaneamente, enquanto uma tímida e educada Hinata pedia licença para entrar e sorria suavemente para os demais.

Ele observou como ela colocou sua bolsa cuidadosamente sobre uma das poltronas e levantou o rosto rapidamente para cumprimentar os demais, buscando com o olhar o dono da casa para começar por ele quando, virando-se suavemente, deparou-se com um par de olhos perolados como os dela.

– Neji-niisan? – a voz dela saiu em alerta e a garota sentiu o corpo congelar durante o longo silêncio que procedeu. Todos se calaram observando a cena.

– Hinata-sama – ele fez uma breve reverencia com a cabeça, de maneira educada e voltou a olhá-la.

Ela estava linda. Seus cabelos negros como a noite brilhavam e caiam em cachos amplos pelos ombros, Hinata tinha se arrumado de maneira especial hoje, Neji percebeu. A mulher mexeu na franja, afastando-a dos olhos e o encarou tensa.

– O-o que faz aqui?

– Eu deveria perguntar o mesmo, se me permite a intromissão.

– Er... N-naruto-kun me...

– Neji! – Naruto acenou, se aproximando rapidamente – A trouxe para um jantar de amigos, apenas. E você?

– Sakura me chamou para participar.

O loiro sorriu desgostoso e deu uma palmadinha suave no ombro do outro.

– Podemos começar a comer? – perguntou o Uzumaki, batendo as mãos na barriga.

– Você só pensa em comida, não é, Naruto?!

O rapaz riu para Ino e todos se sentaram à mesa. Houve um momento de silencio, mas logo Ino e Sakura começaram a falar outra vez sobre alguma conversa do Hospital e Naruto se serviu. Shikamaru se sentia um pouco entediado, mas ainda assim interessado pelo que poderia acontecer ali, enquanto Temari debatia com Genma o tipo de melhor campanha eleitoral para Suna.

Hinata encarou o primo, vendo-o aceitar a taça de vinho e colocá-la sobre a mesa. Ela não sabia por que ele estava ali, Naruto lhe havia dito sobre uma espécie de jogo que começariam, mas que ele não estava interessado e nem queria que ela participasse. Havia estado cabisbaixa nos últimos dias, sentindo-se estranha e desconfortável.

Não podia dizer que não amava Naruto, o amava há muito tempo, mas quando ele lhe havia pedido em casamento, havia sido como um baque. Era como se algo a atasse, e qualquer mudança que ela quisesse fazer no futuro fosse impossível. Observou a comida em seu prato e a provou, talvez fosse apenas medo, nervosismo passageiro. Talvez ela já não o amasse como antes, ou sentia que era muito jovem para se casar...

– Bem, vou explicar o jogo e veremos quem quer se unir à experiência - disse Genma, sorrindo. Os outros concordaram e Sakura se remexeu incômoda na cadeira, observando o mais velho - Love Shuffle é um jogo de troca de casais - começou, vendo a expressão atônita de Hinata e os olhos perolados dela que o encararam - Durante uma semana sairemos com algum dos outros participantes, o objetivo do jogo é simples: conhecer outras pessoas, fazer novos amigos, talvez se apaixonar, ou aprender a dar mais valor ao parceiro que temos atualmente.

Temari sorriu maldosa e apertou de leve o joelho de Shikamaru por debaixo da mesa, vendo-o erguer uma sobrancelha com um meio sorriso arteiro no rosto.

– Quem vai querer participar? - perguntou o mais velho, vendo os outros começarem a se empertigar em suas cadeiras e responderem.

– Nós vamos jogar - disse Temari confiante, passando um braço pelos ombros do Nara.

– Nós também, não é mesmo, Gen-chan? - o homem rodou os olhos ao ouvir o apelido, mas concordou com a cabeça, sem olhar para Ino.

Sakura ficou encarando o prato de comida, esperando que Neji dissesse algo, sabia que na verdade ele só estava ali pela prima, para se assegurar de que ou ela não jogaria, ou ele estaria por perto para não deixar que nada ruim lhe acontecesse.

– Nós não precisamos disso, não é Hinata-chan?! - Naruto sorriu confiante e tocou o ombro da namorada carinhosamente.

– Er... - ela sorriu, corando fortemente, então levantou o rosto e encarou os demais - Eu vou jogar!

Uma sensação nova de liberdade se espalhou pelo corpo de Hinata.

– Quê? - Naruto a olhou espantado.

– Eu quero jogar! - então ela sorriu nervosa e baixou o olhar de novo - Pode ser divertido, Naruto-kun...

– Mas... Nós... Isso é ridículo, nós vamos nos casar, porque jogaríamos isso?

– E-eu ainda não disse q-que sim.

Então Neji compreendeu o porquê do comportamento estranho dela nos últimos dias. Era isso, Naruto a havia pedido em casamento e ela tinha dito que não, ou não havia respondido, ele bufou e encarou a prima. Era o momento de persuadi-la.

– Hinata-sama, você não deveria jogar algo assim.

Ela o olhou, as bochechas rosadas e o olhar trêmulo.

– Imagine se a informação vazar, ou te vêem por aí com outros homens, não é apenas o teu nome que estará em jogo, mas o nome de toda nossa família e da empresa.

– E-eu vou jogar. Já está decidido - ela disse, olhando as próprias mãos trêmulas, tentando não se deixar levar pelas palavras dele.

– Hinata-sama, por favor, não faça isso - ele pediu - Pense em como seu pai reagiria caso-

– Se nenhum de nós lhe contar, e-ele não terá como saber - respondeu encarando o primo com certo nervosismo.

– Hinata-sama, como responsável pela administração da empresa eu lhe peço que não o faça.

– M-mas você vai jogar!

– Eu não disse isso, eu estou aqui para lhe convencer de que é uma má idéia - explicou.

– Por fim alguém racional - suspirou Naruto com um sorrisinho - Escute seu primo, Hinata-chan! Estamos juntos há tanto tempo, não precisamos disso!

– Eu vou jogar - ela disse firme, mordendo a bochecha por dentro.

Suor brotou na sua testa, sob a franja e lhe deu uma sensação assustadora ir contra todo mundo, mas ela queria aquilo. Eram tão poucas as vezes que ela fazia algo que realmente queria...

– Hinata-sama eu não aprovo o teu comportamento. Acho descabido para a herdeira dos Hyuuga se meter em algo tão mal visto, pense em todos da família e, por favor, não os defraude! Isso é uma atitude muito infantil da tua parte, é egoísta e-

– Eu disse que vou jogar, Niisan! - ela disse, levantando-se e encarando o outro Hyuuga - T-toda a minha vida eu fiz as coisas pensando na empresa ou na família. M-mas, dessa vez, eu gostaria de pensar em mim primeiro. E-essa é a minha vida, e... sinto que não a estou vivendo, assim que, p-por favor, entenda a minha decisão.

– Eu não posso concordar com isso - ele reclamou, cruzando os braços sobre o peito e olhando-a com certa raiva - não seja mimada, Hinata-sama!

– Neji! - ela exclamou. Todos encararam a garota, ela nunca o chamava apenas pelo nome, e até o próprio a olhava escandalizado.

– Eu não quis ofendê-la - ele disse rapidamente - Retiro as minhas palavras, mas continuo sem concordar-

– Eu também não entendo, Hina-chan! Por que quer fazer parte disso? - Naruto perguntou emburrado.

Ela estava cansada, cansada de que a tratassem como uma criança, cansada de ter que colocar os negócios da família em primeiro plano, cansada de viver a vida sempre sendo aquela menina doce e boba, ela não queria se casar ainda. Naruto havia sido seu primeiro e único amor, ela precisava conhecer outros homens e ter certeza de suas escolhas. Isso não queria dizer que se envolveria com os outros, apenas que conversaria com eles, isso lhe ajudaria a ter mais certeza das coisas!

Encarou o primo, vendo-o com o maxilar travado e no rosto uma expressão brava. Por que ele tinha que agir daquela maneira? Por que não se colocava no lugar dela pelo menos uma vez? Sentiu raiva e essa raiva apenas aumentou a vontade de participar.

– G-Genma-san, eu vou participar - ela disse, vendo o homem sorrir amável para ela.

– Hinata-sama!

– Niisan, eu nunca te dei ordens, assim que acate essa como primeira e última: você vai aceitar a minha decisão... Pode participar se isso t-te conforta, assim poderá continuar m-me mantendo sob teu campo de visão.

Todos se calaram, vendo Neji baixar os olhos, descruzar os braços e fazer uma simples reverência com a cabeça.

– Hai, Hinata-sama.

Aquilo era algo completamente inovador, ver Neji escutar ordens de alguém e as aceitar. O homem era conhecido por seu temperamento duro e sua maneira de ser tão especifica, sendo julgado como um cabeça-dura metido a besta.

– E-eu... s-sinto muito Niisan.

– Não tem porquê se desculpar.

Ele continuou olhando para baixo, uma raiva imensa nascendo no seu peito, sabia que todos estavam escutando aquilo e vendo aquela cena ridícula que ela montara. Perguntava-se como uma garota dessas seria a herdeira primogênita de todos os negócios da família... Sentiu aquele ódio, que parecia haver curado no passado, surgir de novo e teve certeza: deixaria que ela jogasse e fizesse o que quisesse, mas apenas um deslize, e ele não deixaria passar em branco.

– J-já está bem, Neji-niisan - ela disse, olhando-o preocupada.

O homem levantou o rosto e pegou sua taça de vinho.

– Eu e Sakura também participaremos - disse sério e virou todo o líqüido na boca, encarando Hinata com uma de suas expressões ilegíveis.

Naruto resmungou algo e bebeu também, emburrado.

– Certo, então jogaremos todos! - disse Genma satisfeito.

H

Naruto entrou em eu próprio apartamento, sentindo a cabeça rodar, cheia de dúvidas, trancou a porta e se jogou em uma das poltronas, olhando o céu escuro pela janela. Perguntava-se o que havia feito de errado para Hinata querer participar do jogo de troca de casais, o que estava errado no relacionamento para ela não querer se casar com ele? Era por que não tinha muito dinheiro ou um bom cargo dentro da polícia local? Era por que ele não havia feito uma universidade e sim a academia de polícia e isso não bastava para fazer parte de sua família tradicional e rica?

Todos sabiam que ele queria ser o Prefeito de Konoha, sempre havia querido, era seu maior sonho, mas, por algum motivo estranho, aquilo não parecia ser suficiente para estar ao lado dela.

Havia dito que levaria Hinata para casa, mas ela recusara rotundamente, pedindo baixo que ele a entendesse, explicando que ela queria pelo menos conversar com outros homens e poder ter certeza do que queria. Depois foi embora, deixando-o sozinho no hall dos apartamentos, encarando a porta fechada do elevador, sentindo o nó na garganta doer e um incômodo estranho no peito aumentar.

Ele se lembrava bem da primeira vez que ela lhe dissera que o amava. Lembrava da sensação estranha de se sentir especial, de como aquilo lhe fazia se sentir feliz e completo. Naquela época ele ainda não a amava, ele via Hinata-chan como uma amiga a mais do colégio, a garotinha tímida que gaguejava e não falava com quase ninguém. Ele sabia que ela o seguia até o campo de basquete e o observava treinar horas a fio até melhorar seus lances, desejando fazer parte do time do colégio.

Se Naruto fechasse os olhos, ele podia ver nitidamente o dia que venceram o campeonato e a menina correra até ele e dissera, sem gaguejar: "Eu te amo, Naruto-kun".

Ele não respondeu no momento, ele apenas coçou a cabeça, sem jeito e a abraçou suavemente, murmurando um "obrigado" sem jeito. Depois disso, Sasuke e Shikamaru – separadamente – lhe disseram que desse uma chance à menina, que saísse com ela, que a conhecesse melhor.

Os dias entre eles eram suaves, amenos, agradáveis. No começo foram apenas amigos, uma amizade bonita e gentil que desenvolveram, cheia de respeito e carinho mútuo. Saíam às vezes, quando ele tinha um tempo por causa do serviço militar – que entrara pouco tempo depois de terminar o colegial – e quando ela terminava as aulas da faculdade.

Hinata era solitária, e muitas vezes triste. Sua família lhe havia obrigado iniciar uma faculdade de Economia da Casa que ela não gostava. Seu sonho era outro, um que ia muito além do que seus pais queriam de si, que transbordavam as barreiras que seu sobrenome lhe impunha.

Mas ela era delicada, ela não tinha força o suficiente para se impor contra sua família. A morte prematura de sua mãe lhe pusera numa situação difícil, desde os 12 anos ela começara a tomar conta da casa, aprender a dar ordens aos criados de manutenção, conduta e ordem do Clã Hyuuga (como chamavam o complexo de casas e apartamentos de todo um bairro, que fora construído para a família Hyuuga há muitos e muitos anos atrás).

Foi na época do segundo ano de faculdade da menina, aos 21 anos de Hinata que Naruto a pediu em namoro, e ela aceitou, feliz de que – por fim – ele havia desenvolvido o mesmo tipo de sentimento por ela. Foi ele que a estimulou a acreditar em seus sonhos, e olhar a faculdade como uma possibilidade de encontrar novos contatos, fazer amigas – afinal ela estudava numa faculdade só para meninas.

Com o tempo Hinata se transformou em uma motivação para Naruto, para terminar o serviço militar e começar sua carreira dentro da polícia. Ele precisava ascender o mais rápido possível, ou eles não poderiam estar juntos, ele sabia disso. Mas, estranhamente, Hiashi – o pai de Hinata – gostava muito dele, talvez porque no passado a mãe do loiro havia sido uma grande amiga da mãe de Hinata, e elas seguramente abençoariam aquela relação.

Mas no último ano, Hinata estava distante e estranha, eles estavam juntos há tanto tempo que o rapaz não entendia por que agora ela não lhe dizia sim e se casavam de uma vez! Ele gostava tanto dela, prezava aquela menina com todo o coração, respeitava-a e faria qualquer coisa para vê-la feliz.

Ele abriu uma latinha de cerveja e continuou ali, observando o céu escuro, esperando que o dia seguinte chegasse rapidamente... Talvez a noite lhe desse mais respostas, respostas para todas aquelas perguntas que ele não conseguia entender sozinho.

U

Sakura agradeceu Neji por lhe acompanhar no jogo e ele a acompanhou até a porta do apartamento, recusando-se a entrar. Sinceramente, o homem estava bastante irritado, e tudo o que queria era não ter que encarar mais nenhum deles naquela noite. Havia se sentido rebaixado, e se uma coisa o transtornava muito, era quando feriam seu orgulho.

Saiu rápido pelo corredor e entrou no elevador, apertando o botão rapidamente. Queria dar o fora dali o mais rápido possível! Passou as mãos por seus longos cabelos e socou uma das paredes do elevador com raiva. Merda, por que tinha que passar por aquelas situações? Por que sua maldita família tinha que ser tão tradicional e retrógrada?

Quando a porta abriu, Neji andou com pressa até chegar à rua e acendeu um cigarro habilmente, olhando o céu rapidamente e entrando no carro em seguida, sem olhar para trás, apenas desejando desaparecer dali. Mas, quando se sentou no carro, foi como se toda sua energia se esgotasse. Deu partida no carro e rodou apenas algumas quadras, até que estivesse não muito longe do Complexo Hyuuga, mas não tão perto como para ser visto. Abriu o teto solar e sentiu o ar fresco entrar pelas janelas.

Colocou uma música clássica para tocar e simplesmente aproveitou seu cigarro, tentando relaxar, tentando tirar o nervosismo do peito e a vontade de vingança da cabeça. Talvez Hinata estivesse sob muito estresse e precisasse daquela oportunidade para decidir o que fazer da vida dela... Céus! No que estava pensando? Hinata não era nenhuma criança, ela não podia fazer aquele tipo de coisa! Colocar em risco sua relação de mil e um anos com o Uzumaki só a fazia parecer mais idiota...

Ele se lembrava muito bem de quando ela estava apaixonada por ele, mas ele não correspondia, então os dois ou três anos em que eles passaram sendo melhores amigos até que o loiro decidiu pedi-la em namoro, e agora, depois de quase cinco anos e meio ela dizia que não queria se casar com ele?

Definitivamente, ele não entendia as mulheres. Exatamente por isso não queria ter uma relação fixa e duradoura de maneira alguma, para depois passar pelo mesmo que Naruto? Ou se meter nas complicações da vida de uma mulher? Não, ele não havia nascido para aquilo.

Acendeu outro cigarro, mudando de Beethoven para Mozart. Ele precisava se acalmar, não tinha que entender Hinata, tinha que fazê-la compreender que se quisesse jogar, teria que ser o mais discreta possível. Sim, era isso o que faria.

Respirou fundo, deixando a fumaça sair rápida pelos lábios e ligou o carro, seguindo finalmente para casa. Contornou o parque e parou no semáforo vermelho, reparando na mulher que andava devagar do outro lado do parque. Olhou pelo retrovisor e amaldiçoou todo o seu bom senso, ele não acreditava no que estava fazendo. Deu marcha ré, já que não havia nenhum carro na rua e virou a esquina indo até onde a mulher andava. Parou o carro ao lado dela e abriu o vidro:

– Não é seguro uma mulher andar sozinha pelas ruas há essa hora.

– Neji-niisan – ela o encarou – e-eu precisava pensar! – disse rapidamente – Eu sinto muito! E-eu fui c-completamente mal educada com v-você! – disse afoita, os olhos enchendo de lágrimas.

– Hinata-sama, suba no carro, eu te levo para casa – ele falou simples, incomodado pelas lágrimas dela.

A jovem o olhou sem compreender. Como ele podia pensar em levá-la para casa depois da humilhação que ela lhe havia feito passar?

– Eh?

– Eu disse para entrar no carro – repetiu, tirando o cinto e se esticando até alcançar a maçaneta e abrir a porta – Por favor, Hinata-sama.

– Mas... Niisan... E-eu não mereço i-isso! – disse, olhando-o com pesar e chorando ainda mais.

– Eu não mereço me culpar para sempre se algo te acontecer hoje. Suba.

Ela fez que sim e se sentou, fechando a porta delicadamente. Neji bufou, estendendo-lhe um pacote de lencinhos de papel, colocou o cinto e começou a dirigir. Hinata olhava para frente sem saber o que fazer, nervosa e com medo de encará-lo, ela sabia que tinha enfurecido o primo durante o jantar... Então sentiu o cheiro de cigarro e o olhou, sem tanto receio.

– Você voltou a fumar? – ela perguntou, vendo o cigarro preso nos lábios dele ser afastado e a fumaça escapar por ali.

– Eu nunca parei – ele disse simples.

– Mas... O pai disse... Eu me lembro da briga! – ela falou confusa e o observou.

Neji suspirou e se ajeitou no assento.

– Eu menti pro teu pai me deixar em paz.

Hinata sorriu, compreendendo o primo.

– Afinal eu já tinha 23 anos quando ele descobriu que eu fumava e, bem, já não moro com ele há muito tempo.

Hinata o encarou. Era agradável saber que até Hyuuga Neji mentia de vez em quando, e ela o compreendia bastante bem quando o tema era Hyuuga Hiashi.

Ele parou na frente do portão e apertou o controle. Neji era um homem sério demais, ele pensava demais na família, nos negócios e empreendimentos. Dedicava-se demais ao trabalho, ele quase não tinha vida social, ou pelo menos era isso que ela pensava. Mas talvez ele tivesse alguma namorada oculta... Bem, talvez não, já que ele estava participando do jogo com Sakura.

Hinata ficou pensativa, observando a rua vazia àquela hora da noite, até que ele parou o carro na frente da casa principal, onde Hinata morava com a irmã e o pai. Foi quando suspirou e decidiu abrir seu coração:

– Niisan, eu nunca mais falarei daquela maneira com você, mas, por favor, deixe-me participar sem maus entendimentos entre nós, eu tenho medo de dar a resposta errada pro Naruto – disse baixinho.

O homem a encarou e observou os traços aristocráticos de seu rosto, percebendo a preocupação dela por conta de uma ou outra linha de expressão que estavam mais tensas do que de costume.

– Como desejar Hinata-sama.

Observou-a entrar na casa e seguiu mais adentro do condomínio, estacionando em sua própria garagem, na casa que antigamente havia sido de seus pais, mas que agora era apenas dele.

F

O jantar acabou criando um clima um pouco tenso para todos, mas logo Temari fez questão de abrir uma garrafa de sake de Suna que havia trazido consigo e, com um pouco mais de álcool em seus sistemas, os participantes que continuaram ali pareceram relaxar aos poucos.

Shikamaru se aproximou da janela, fumando um cigarro em silêncio. O moreno sentia um pouco de pena de Naruto e sua cabeça não deixava de pensar nisso, sabia que ele e Hinata estavam juntos há mais de cinco anos e que aquela situação toda estava deixando o loiro cada vez mais estranhado e preocupado. Afinal, não é todo dia que a mulher da sua vida diz que não quer se casar com você sem se explicar.

Aquilo tudo era muito problemático, e tudo que Shikamaru podia fazer era torcer para que as coisas se resolvessem da melhor maneira. Também lhe havia parecido extremamente curiosa a maneira de agir de Neji, como se tivesse que velar pela prima com todas suas forças, e o jeito que ele aceitara a decisão dela e acatara a ordem era intrigante.

Sabia que os Hyuuga eram muito tradicionais entre as famílias importantes do Japão, e que todos deveriam respeitar a família principal, que eram Hiashi, Hinata e Hanabi. Eles eram os principais da Casa Hyuuga, o pai era o líder e diretor geral de todos os negócios Hyuuga, já as duas filhas seriam as grandes herdeiras, precisariam de um bom casamento. Já Neji, sendo primo, não tinha o mesmo rango que os outros três, se bem que como diretor de administração e finanças dos negócios da família, talvez seria ele quem levaria o império Hyuuga adiante.

Estava perdido em pensamentos sobre as famílias tradicionais e suas misteriosas peculiaridades, quando Genma falou:

– O que lhe pareceu, Shikamaru?

Ino estava bebendo com Temari, sentadas sobre o tapete da sala e apoiando seus copinhos na mesa de centro, enquanto Genma se apoiava no parapeito da varanda junto com o Nara.

– Me parece que esse jogo vai ser incrivelmente interessante.

– Né, Shika-kun! – exclamou Ino, já bêbada – com Hyuuga Neji jogando, isso vai ser muito mais interessante.

O moreno riu, olhando a amiga deitar a cabeça no sofá e rir.

– Não te incomoda? – perguntou para o outro homem.

– Quase todas as mulheres têm uma queda por Neji-san, ainda assim, ele não faz o tipo de Ino...

– Hum.

– Que foi?

– Ele faz o seu tipo, não é, Temari? – perguntou aumentando a voz.

Ela levantou os olhos da garrafa e o encarou durante alguns segundos, para depois sorrir traiçoeira e virar o copinho.

– Neji-kun faz o tipo de todas as mulheres – disse Ino com os olhos fechados – Cabelos longos, olhos claros, rico, mal educado... Certamente ele é do tipo bruto na cama – disse rindo e Temari observou a reação dela.

– Eu acho que é do tipo que adora domar, mas isso é porque nunca foi domado.

– Eh, Temari, eu vou começar a ficar ciumento – brincou Shikamaru, fumando seu cigarro monotonamente.

– Foi você quem me propôs o jogo.

– Sim, mas não pensei que seria assim, eu nunca encostaria em nenhuma das tuas oponentes – ele assumiu, soltando a fumaça pelos lábios entediadamente – Ino-chii, Hinata-san, Sakura... Você é realmente a mais atraente.

A mulher riu e a outra loira se emburrou.

– Né, Gen-chan, diz que eu sou a mais interessante?! – pediu fazendo bico.

– Não.

– EH!?

O homem riu e se aproximou, sentando no sofá próximo a ela.

– A mais interessante é a Hinata-san – disse baixinho e depois riu, vendo Temari se aproximar do namorado e lhe beijar suavemente o pescoço.

– Não ouse se apaixonar pelo Hyuuga – alertou Shikamaru baixinho para a namorada.

– Por quê?

– Por que eu pagaria para ver. E a minha curiosidade seria insaciável... – ele murmurou, e ela sorriu de lado. Era hora de ir para casa, por fim.

F

Encontraram-se no hall da cobertura, onde os quatro moravam. Sakura havia colocado uma mesinha no fim do corredor, de frente para o elevador, com um tapete fofinho abaixo desta. Era segunda-feira de noite e estava cansada da longa jornada no hospital. Naruto havia chegado um pouco atrasado e Neji bufava olhando o relógio. Todos pareciam levemente incômodos, menos Genma, Temari, Shikamaru e Ino, eles pareciam se divertir.

– Bem, como expliquei antes, trocaremos de casal todas as semanas, para isso usaremos essas cartas – ele tirou do bolso oito cartas – Temos aqui quatro valetes e quatro damas.

Ele separou o baralho no meio e mostrou as cartas. Em seguida, embaralhou cada montinho sobre a mesa e voltou a pegá-los, levantando-se e andando até o meio do hall, foi seguido pelos outros, formando um pequeno círculo. Distribuiu aleatoriamente as damas entre as mulheres e os valetes entre os homens.

– Cada casal será formado por um naipe. Olhem suas cartas e podemos começar.

– Love & Peace – disse Shikamaru, estendendo seu valete de Ouros e sorrindo um pouco.

– Love – disse Temari, imitando o movimento sem tirar os olhos do namorado exatamente a sua frente e apresentou sua dama de Paus.

– Love – disse Genma, esticando a mão e mantendo seu valete de Copas próximo as outras cartas.

– Love, Love! – exclamou Ino, mostrando sua dama de Espadas.

– Love – murmurou Hinata, com sua dama de Ouros.

– Love – resmungou Neji a contragosto, expondo seu valete de Espadas para uma sorridente Yamanaka.

– Love – sorriu Sakura com sua dama de Copas.

– Love... Shuffle! – finalizou Naruto, um pouco impaciente e inseguro, encarando Temari com seu valete de Paus.

– Que comece o jogo! – exclamou Genma sorridente.

L

Durante aquela noite, quatro pessoas tiveram dificuldade para dormir.

Sakura por ansiedade e medo do que estava fazendo. A imagem de Sasuke não ia embora de sua cabeça e ela desejava com força que aquilo desse certo. Teria que sair com Genma durante os próximos sete dias, mas ele era agradável e isso facilitaria a conversação a fluir... Ou pelo menos era o que ela esperava.

Hinata por nervosismo e vergonha. Era como se uma bola de neve se amontoasse no seu peito e a vontade de chorar era incrível. Shikamaru era uma boa maneira de começar, o conhecia há bastante tempo e assim o desconforto seria menor... Aquilo seria como estudar juntos na biblioteca, como costumavam fazer quando jovens – se bem que ele sempre acabava dormindo, olhando as nuvens pela janela da biblioteca...

Naruto passou a noite encarando o teto branco de seu quarto, sem saber como reagir àquilo... Ao jogo e à possibilidade de perder Hinata para algum daqueles três homens, mas o nervosismo só aumentou ao receber uma mensagem por Whatsapp: "Hey Naruto, nos vemos no Ichiraku amanhã às 19h depois do teu trabalho. ;P Temari". Céus, ele estava definitivamente encrencado!

Neji releu todos os relatórios daquele dia, bebeu um pouco de vinho e, não conseguindo dormir – pensando que aquele jogo poderia destruir o sobrenome de sua família e o futuro de sua prima caso alguma informação vazasse – ele pegou o celular e decidiu passar sua ultima noite fora do jogo bem acompanhado:

– Tenten? Você pode vir agora? – perguntou, olhando pela janela, e observando a luz do quarto de Hinata acesa – Sim, preciso de companhia... – talvez ela também não conseguisse dormir pela ansiedade e o nervoso – Aliás, precisamos conversar sobre as próximas semanas, estarei um pouco ocupado, então deveríamos aproveitar bastante hoje...

E


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Notas finais do capítulo

Espero que vocês estejam curtindo essa aventura! Se quiserem add no face: Tai Bécquer



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