Foi ai que a ficha caiu para o meu bom-senso: eu estava trancado em um quarto de um desconhecido, sozinha, com o dono do quarto olhando para mim, e eu não sabia se ele era amigo ou não; vestida com uma bermuda curta justinha preta, camiseta branca por cima de um minúsculo top preto e All Star; isolada de tudo e todos que eu conhecia...

Levei as duas mãos às têmporas. Agora que a fascinação havia passado, a apreensão tomou conta de mim. Fui até a janela, fechei os olhos e deixei o vento bater em meu rosto. Senti que estava perdida.

Senti também a aproximação dele, afinal, a temperatura estava aumentando, não tinha como não sentir.

-Onde eu estou? – Perguntei em voz baixa, sem me virar.

-Está em meus aposentos. – Mais uma vez, zombaria.

-Me responda. – Eu meio que exigi. – Por quê?

-Acaso. Como eu disse: você estava no lugar errado na hora errada. Agora você está no meu mundo.

- E o que é o “seu mundo”?

- Meu mundo é o mundo que vocês, humanos, fingem que não existe. O mundo em que ninfas, Elfos e outras criaturas “fantásticas” e “mitológicas” realmente existem... Como posso generalizar o mundo do “faz-de-conta”, como vocês dizem.

-Mas não se chama realmente assim, não é? – Eu retruquei. – É meio ridículo.

-Seu mundo tem nome?

-Terra. – Respondi de imediato.

-Não. Esse é o nome do planeta em que você habita. – Fiquei calada diante desse comentário. Ele continuou: - Nosso mundo não tem nome para nós assim como o seu não tem nome para você.

-Que criatura você é? – Perguntei.

-Tem certeza de que você não sabe o que sou?

-Um dragão. – Arrisquei com certa segurança. Mesmo que para mim ele parecesse quase humano.

-Há muito não temos que tomar uma forma mais agressiva. Conservamos uma fisionomia humana por ser a mais comum entre os seres. Ficamos com as asas por diversão. – Ele respondeu à minha pergunta muda.

Cara, minha face deve ser muito transparente para que todo mundo saiba o que eu estou pensando.

-Então o tal Troy é um Elfo, e a moça, seja lá qual for o nome dela, é uma fada. – Conclui.

-Troy é um Elfo Elemental, já Kitty é uma ninfa do ar. – A voz dele mostrou um pouco e desagrado ao falar dela.

-Dragões e Ninfas são inimigos? – Sugeri.

-Não, mas um simples Elfo Elemental se apaixonar pela princesa das Ninfas do Ar com certeza é um problema. E dragões não são seres sociais.

-E você está me contando tudo isso por que...? – Um pressentimento passou por mim.

-Kitty me mandou um recado enquanto conversávamos.

Tá, eu não ouvi nem vi nada, mas já que ele disse...

-E o que ela falou?

-Você vai ter que permanecer aqui por enquanto. Uma ninfa da água teve uma visão em que o perigo que você passaria caso voltasse para seu mundo era evidente, então o jeito é ficar assim. Parece que os Elfos Negros tomaram você por uma Ninfa do Fogo e estão à sua procura.

Meus dedos apertaram com força a borda da janela. Aquilo era mesmo real ou eu havia caído e batido a cabeça durante minha caminhada?