Computer Girl Bia escrita por Chaud


Capítulo 6
Um passeio na cidade!




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Já era domingo. Incrível como a semana passou voando. Mais incrível ainda, foi o meu computador não ter travado nenhuma vez! Já estava até pensando em pedir para o MP me ensinar que tipo de milagre ele faz para um computador ficar assim. Reconheço que estava com saudade dos meus jogos... Fazia tanto tempo que não pegava em um computador! Jogar Neverwinter Nights uma vez só, uma partida de Warcraft 3, até mesmo o bom e velho CS! Na verdade, até um emulador de snes servia. Afinal, Chrono Trigger é um clássico!

Passava a tarde conversando com Bia. Ou vendo televisão. Bia parecia interessada em tudo. Estava deitada no sofá vendo um daqueles programas chatíssimos que passam de manhã. Globo Rural, ou outra porcaria dessas. Parecia que ela nunca tinha visto essas coisas na vida. Isso me lembrou de algo.


(Rafa) - Ei, Bia!

(Bia) - O que foi?

(Rafa) - Você falou que as Computer Girls aparecem para as pessoas que precisam certo? Então vocês podem aparecer para mais de uma pessoa?

(Bia) - Hum... Teoricamente sim. Mas claro que para uma de cada vez.

(Rafa) - Teoricamente?

(Bia) - É ué. Por que? Você quer saber se eu já apareci alguma outra vez, ou quer que eu apareça para mais alguém?

(Rafa) - Claro que não! Hã... Quero dizer... *Ficando encabulado* Ei! Que tipo de pergunta é essa?

(Bia) - Hum... Você tem ciúme de mim? É, é? *Com um olhar de inquisição*

(Rafa) - Eu? *Olhar de desdém* Por que eu teria?

(Bia) - Ah, então não tem?...


Ela respondeu em um tom um pouco desanimado. "Talvez de propósito, só para me pirraçar." Mas de qualquer jeito, não iria perder meu tempo me preocupando com isso. Mais tarde, Bia preparou algo para nos almoçarmos. Realmente, eu tenho sempre que lembrar, ela cozinhava bem. Logo depois do almoço, eu perguntei para ela.


(Rafa) - Vamos sair hoje?

(Bia) - Pra onde?

(Rafa) - Estava pensando em passear em um shopping. Afinal, pelo que parece, você nunca foi. Certo?

(Bia) - Vamos pra um shopping? Sério? Mesmo! *Estava super agitada* Obrigada Rafa, vou me arrumar e já volto!


E foi procurar uma roupa. "Ela realmente parece ter ficado feliz. Acho bom sair um pouco pra variar, deve ter mais de um ano que eu não saio assim." Eu estava me sentindo ótimo. A cada dia que passava, a presença dela me deixava mais e mais feliz. Mas ao mesmo tempo, alguma coisa em mim me deixava inquieto. Eu não sabia bem o que era. Ou na verdade, não queria saber.

Saímos juntos como o prometido. Sei que isso não é novidade, mas ela estava linda. Saiu com um vestido azul e com uma sandália de salto, que ela mesma comprou durante a semana. Como eu havia comprado poucas roupas, ela ia acabar precisando de mais. Além do que, eu não havia comprado sandálias nem sapatos. E nem... Digamos, roupas mais íntimas para ela. Por isso dei um dinheiro para ela escolher o que quisesse. Ela reclamou bastante no início, mas acabou concordando que ela precisaria comprar.

Fomos eu um daqueles shoppings estilo americano, como me disseram. É aberto, sem teto, e dividido em blocos. Normalmente seria muito quente, mas como era época de inverno, o tempo estava agradável. Era bom sair de casa de novo. Passeamos por várias lojas, e Bia sempre interessada olhando tudo. Depois de andar durante um bom tempo, decidimos parar para comer alguma coisa. Compramos algo, e nos sentamos em uma das mesas próximas.


(Rafa) - E então? Gostou de dar uma volta?

(Bia) - Amei, mesmo! Tudo aqui é lindo, maravilhoso! Você promete que a gente pode voltar mais vezes?

(Rafa) - Claro, se você quiser mesmo.

(Bia) - Eu quero, eu queeeeeero! *Puxando a manga de minha camisa*

(Rafa) - Tá bem, então a gente volta.


Bia deu mais um de seus habituais sorrisos, e comeu o seu lanche. Enquanto isso, passou a olhar em volta. Reparei que ela olhava muito para os casais que passavam. "Será que ela está pensando em...? Nah, não. Até por que, ela é um programa de computador. Nunca vi um programa se apaixonar. Se bem que... Nunca vi um programa comer, andar, conversar, tomar banho, dormir..." Enquanto pensava nesse monte de bobagens, um cara passou próximo a nós. E digamos que... Deu uma olhada nada discreta em direção a Bia. Não sei por que, mas eu me senti profundamente irritado com isso! Bia notou.


(Bia) - Então você sente ciúme de mim...


Meio que pego de surpresa, tentei me defender.


(Rafa) - Hã? Eu? Não, impressão sua.

(Bia) - É mesmo? Então você não sente nada, não é?

(Rafa) - Claro, por que sentiria?

(Bia) - Hum, sei... Então você não vai se importar se eu for lá falar com aquele menino, vai?


Quando ela falou isso, meu coração disparou! Comecei a ferver, em uma mistura de várias emoções. Não sabia se estava mesmo com ciúme, com raiva, angustiado... Mas achei uma provocação sem motivo por parte dela! Sem conseguir pensar direito, respondi:


(Rafa) - Se quiser, vá. Não dou a mínima para o que você quer fazer.


Quando ela ouviu o que eu disse, se assustou. Depois sua expressão mudou, ela pareceu ficar profundamente magoada com o que eu disse. Alguns segundos depois, ela se levantou, e foi em direção para onde o garoto tinha saído. Eu comecei a ficar tonto... Meu peito doía, minhas mãos suavam! Cada passo que ela dava eu sentia algo gritar dentro de mim! Até que...


(Rafa) - Não vá!


Quando percebi, eu já a tinha alcançado, e a tinha segurado pelo braço. Ela se virou, um pouco assustada, sem falar nada. Eu não conseguia olhar para ela. Me sentia um idiota.


(Rafa) - Por favor, não vá. Desculpa... Eu...

(Bia) - Rafa...


Dizendo isso, ela me abraçou. Eu estava me sentindo tão estranho! Comecei a pensar... "Será que eu estou mesmo... Gostando de Bia? Mas não pode ser. Ela é uma Computer Girl, não é uma humana de verdade. E mais que isso... Ela depende do computador! E se algo acontecer com ele? E será que é mesmo Bia, ou... É a imagem de Nessa que estou vendo?" Depois de um breve instante, decidi me afastar.


(Rafa) - Hã, bom, me desculpa. Vamos continuar o passeio, tá?

(Bia) - Tá bom! *Voltando a sorrir*


Passeamos mais por um longo tempo. Acabamos até assistindo um filme, porque Bia insistiu muito. Então, depois de tudo, logo quando estávamos voltando pro carro, notei que ela estava estranha. Parecia andar com dificuldade.


(Rafa) - Você está bem?

(Bia) - Tô, claro. Só estou um pouco... Cansada. Foi um longo dia.

(Rafa) - É, foi sim.

(Bia) - ...

(Rafa) - Bia, você tem certeza de que você está bem? Eu estou te achando um pouco pálida... Você parece muito cansada, demais para quem só passeou. Ou é mentira?

(Bia) - Hã... Eu já disse. Isso é só... É só...


Ela não completou a frase. De repente, parece que suas pernas falharam, e por pouco ela não cai no chão. Eu a consegui segurar a tempo. Quando toquei nela, notei que seu corpo estava fervendo, e percebi que pequenas faíscas elétricas pulavam de sua pele.


(Rafa) - Bia? Bia!!!


Ela não estava bem. Imediatamente, lembrei do computador. "Algo deve ter acontecido a ele! Não adiantaria leva-la para um médico... Tenho que chegar logo em casa!" Pensando isso, a peguei no colo, e fui para o carro. Corri como um doido até chegar em casa, e praticamente arrombei a porta na hora de entrar. Eu estava muito perturbado. Me sentia desesperado! Não sei o que seria capaz de fazer se Bia desaparecesse. Não poderia perder alguém de novo. Quando fui olhar o computador...

"Ah, não! Parece que ele travou!" A tela estava branca, a janela com as informações de Bia havia sumido, e só o menu iniciar estava aparecendo. "Droga, o que eu faço? Eu não sei nada de informática!!! Normalmente eu daria um boot na máquina, mas se eu fizer isso, Bia pode desaparecer..." Abri o gerenciador de tarefas, e vi que um dos processos haviam travado, e o uso do computador estava em 100%. "Talvez se eu finalizar esse aqui, a memória volte ao normal... Mas e se travar de vez?" Voltei para a sala, e olhei para Bia. Ela ainda estava inconsciente, deitada no sofá onde eu a deixei. "Tenho que fazer alguma coisa, ela não pode continuar assim!!! Por favor, alguém me ajude..."

Voltei para o quarto. "Droga, ela disse pra mim que o meu computador não ia travar! Ela disse! Isso não pode estar acontecendo! O que eu faço?" Sem muitas opções, finalizei o processo que estava em andamento. Houve uma falha geral no sistema. "Não!!! Droga! E agora?" A tela ficou preta... Mas logo voltou. Fora o fato que o papel de parede tinha sumido, o resto parecia normal. A memória livre estava em cerca de 70%. E o sistema parecia estar funcionando.

Por via das dúvidas, tomei todas as precauções para exigir o mínimo possível do computador. Baixei a resolução da área de trabalho, tirei proteção de tela, diminuí o desempenho do vídeo e som... Até rodei o Norton SystemWorks para ver se ele encontrava algum problema no Windows. "Isso é tudo o que posso fazer. Tudo o que eu sei fazer! Espero que isso seja o bastante." E voltei para a sala.

Bia ainda estava desacordada, mas pelo menos não estava mais pálida. Cheguei perto e toquei a sua testa. "A temperatura dela parece ter voltado ao normal. Parece que funcionou." Tirei a sandália dela, liguei o ar-condicionado, e peguei um cobertor. "Acho que agora, ela só tem que descansar. Espero que tenha sido só um susto, e que ela esteja bem agora."

Passaram-se algumas horas, e eu verificava tanto o computador como Bia a cada cinco minutos. Ambos parecia bem. "Eu não sei o que deu em mim... Eu quase perdi a cabeça. Eu me senti na mesma situação que estava com Nessa... Mas dessa vez, eu pude fazer alguma coisa para evitar." A janela com os dados de Bia ainda não tinha aparecido. "Será que eu finalizei o programa dela também? Mas se for isso, ela devia ter desaparecido." Entrei na internet, e mandei um e-mail para um conhecido meu. Não tenho muitos amigos fora da faculdade. Na verdade, além de Lucas, não tenho nenhum outro! Mas tenho contato com algumas pessoas. Esse cara vem aqui em casa resolver os problemas que eu tenho com computador. Apesar dele não falar muito, o que é algo que eu gosto, acredito que ele saiba mais do que aparenta... Talvez segunda pessoa mais próxima de mim, alguém que eu quase poderia chamar de um amigo - nos meus padrões, claro. No e-mail, eu dizia assim:


"Commander,


Sou eu, Rafael. Queria que você fizesse um favor para mim. Estou tendo problemas com o meu computador. Nada relacionado ao Windows, ou a erros de placa... Sei que você é bom em obter informações sobre esses temas relacionados a computação. Queria que você descobrisse para mim tudo relacionado a Computer Girls. Sobre como funciona seu programa, sobre tempo de duração, sobre seu verdadeiro propósito. Não me pergunte o que é... Mas é um assunto sério. Eu demoraria muito para explicar. Mas se você puder fazer isso pra mim, fico muito grato!


Rafael."


Mandei o e-mail. Agora tudo o que eu podia fazer é esperar. Se ele não conseguisse descobrir nada a respeito, acho que ninguém no mundo conseguiria. Tudo agora se tornou uma questão de tempo. Voltei para a sala, e liguei o som baixinho, para não perturbar Bia. Precisava ouvir alguma coisa. Começou a tocar um CD que já estava lá dentro, é uma coletânea das músicas que mais gosto. Começou a tocar "Call Me Call Me", não sei qual é a banda... Mas é uma das músicas que mais gosto de Cowboy BeBop. Enquanto estava distraído escutando, de repente notei que Bia estava acordada, e olhando para mim.


(Rafa) - Bia???

(Bia) - Rafa... O que eu estou fazendo aqui? Eu... Desmaiei?

(Rafa) - Não se preocupe. Eu te trouxe pra casa. Achei que você precisava descansar, e deixei você deitada no sofá. Mas o mais importante, você está bem agora?

(Bia) - Eu estou... *Ficando um pouco corada* Me desculpe, eu te dei trabalho de novo...

(Rafa) - Como assim de novo? Você nunca me dá trabalho! Eu fico feliz que você esteja bem. Do fundo de meu coração!


Dizendo isso, ela se levantou lentamente da cama. Mas quando estava quase de pé, pisou em falso.


(Rafa) - Cuidado!


Rapidamente eu a segurei. Ela caiu sobre meu ombro, e ficou parada assim. Pude sentir o calor de seu corpo... Mas não era mais de febre. Sentia sua respiração em meu pescoço. Eu não conseguia me mover, não conseguia pensar em nada. Então olhei para ela. Ela percebeu, e devolveu o olhar levantando a cabeça. Estávamos muito próximos um do outro. Eu não conseguia mais parar de olhá-la! Os seus olhos me prendiam... Inconscientemente fui me aproximando. Ela fechou os olhos... Cheguei mais perto, mais perto e...

De repente, senti como se algo se quebrasse dentro de mim, uma sensação de medo, uma repulsa, e me afastei de Bia. "Não! Não posso!" Talvez o medo por quase tê-la perdido, impossibilidade de viver todo o sofrimento que passei antes mais uma vez... Talvez por não entender o que ela realmente é, ou não conseguir distinguir se eu realmente a estava vendo, ou a via como uma sombra de uma outra pessoa... Uma sombra de Vanessa. Não tenho certeza. Mas não poderia me aproximar mais dela! Não naquele momento.

Nisso ela abriu os olhos. Ao olhar para mim, ficou com uma expressão um pouco triste, meio preocupada. Eu estava ofegante, sentia minha boca queimar, minhas mãos frias, minhas pernas estavam bambas. Talvez eu estivesse pálido. Não sei exatamente o que sentia, mas em um momento passei mais uma vez por todo o medo, a dúvida e o desamparo de um ano atrás. O mundo estava desabando ao meu redor.


(Bia) - Rafa, eu... Me desculpe.

(Rafa) - ... *Ainda atônito*


Ela se sentou no sofá. Depois de alguns instantes, me sentei ao lado dela. Embora um pouco distante.


(Rafa) - Não é culpa sua. *Voz baixa*

(Bia) - Você a amava muito não? A ponto de não querer que ninguém possa interferir nessas lembranças...


Fiquei um pouco surpreso com o que ela disse, mas claro, ela já sabia sobre Vanessa. "Ela sabe mais de mim do que eu mesmo", cheguei a pensar. Acho que ela tinha razão. Talvez eu não quisesse me aproximar de ninguém para que nunca me esquecesse dos momentos que passei.


(Rafa) - ...É verdade.

(Bia) - Tudo bem...


Dizendo isso, ela se aproximou e recostou em meu braço. Eu não queria me aproximar dela, não queria reviver um passado tão doloroso para mim. Ainda mais, com a incerteza sobre um futuro que depende de coisas que desconheço. Mas a verdade, é que Bia, cada dia era mais importante para mim.


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