Computer Girl Bia escrita por Chaud


Capítulo 4
Uma menina chamada Vanessa.




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Já era de manhã. Acordei com a voz de Bia me chamado.


(Bia) - Rafaaaaaa, é hora do café da manhã!


"Hum... Que sono. Que horas são?" Me levantei, e olhei o relógio. "Droga! Já passam das dez! Perdi a faculdade! Porque diabos eu fui dormir tanto assim?" Nisso, Bia aparece na porta da cozinha.


(Bia) - E então? Não vai comer nada?


Decidi não contar pra ela sobre a aula que eu perdi. Não era problema dela. Isso me ajudou a perceber que ela não é capaz de ler mentes ou saber "tudo" sobre mim, ou ela saberia do meu horário de estudo. Ao menos é a única conclusão lógica que eu pude fazer. E no fim das contas, era até bom, eu poderia passar mais tempo com ela. "Será que ela sabe cozinhar bem? Faz parte do programa das Computer Girls preparar comida? Heh, meninas de mil e uma utilidades! Se bem que esse é um pensamento machista idiota... Ainda bem que ela parece não poder adivinhar pensamentos!"Cheguei na cozinha, a mesa estava toda preparada! Bia tinha feito pão torrado, separou algumas frutas, fez café com leite... Nossa, eu fiquei boquiaberto!


(Bia) - E então... Vamos comer?

(Rafa) - Mas claro! Faz mais de um ano que não vejo uma mesa assim!


Então comecei a comer. Realmente não é difícil preparar uma mesa, nem fazer um café com leite (Apesar de que estava delicioso!), mas só pela atenção que ela teve em preparar tudo eu já fiquei encantado! Como era bom ter alguém em casa para cuidar da gente! Notei que Bia não estava comendo nada.


(Rafa) - Bia, e você? Não vai comer?

(Bia) - Eu já comi Rafa. Eu acordei cedinho, eram ainda sete e meia quando levantei. Aproveitei pra poder me habituar mais com a casa. E para ter tempo de fazer o seu café!

(Rafa) - Obrigado mesmo Bia!

(Bia) - Que nada... Eu que agradeço por tudo, você tem sido muito gentil comigo.


Nisso ela me presenteou com mais um de seus lindos sorrisos, e me mandou terminar de comer. O que fiz com prazer. Quando terminei, me ofereci para ajudar a arrumar tudo, mas ela não deixou. E me fez sair da cozinha.


(Bia) - Já disse que quem vai cuidar disso sou eu, viu? Pelo menos por hoje! Pense que é uma forma de agradecer a sua hospitalidade! Mas não vai ficar mal acostumado heim?


Bom, resolvi dar uma olhada no computador, só para garantir. Ele já estava há quase vinte e quatro horas ligado direto. E eu nunca o deixei tanto tempo assim. Chegando no quarto, lá estava ele. Parecia tudo certo, então abri o gerenciador de tarefas. Notei que a memória livre havia diminuído um pouco, mas nada que pudesse causar um mínimo de preocupação. Era uma oscilação normal, até esperada. Realmente, o tal do "MP" devia estar monitorando tudo, porque em condições normais acho que meu computador já teria implodido.

Relaxei um pouco. Reparei que uma gaveta minha estava entreaberta. Era a gaveta que eu guardava as lembranças de Nessa... Abri, e peguei a foto dela. Nessa era uma menina maravilhosa. Era muito carinhosa, sensível, meiga... Sinceramente, eu não via nenhum defeito nela. Talvez apenas um: gostar de mim. Sempre achei que podia oferecer pouco para ela! Fisicamente falando, ela tinha 1,66m de altura, um pouco magrinha, cabelos castanhos claros, olhos de mesma cor, e pele branca. Muito bonita, com toda certeza. Ela transbordava vida, era muito alegre. Vivia sorrindo. Ela tinha um jeito especial de falar que fazia com que eu me sentisse a pessoa mais especial do mundo.

Nos conhecemos quando eu cursava o primeiro ano do colegial. Inicialmente, eu simpatizei muito com ela. Mas não pensei que ela fosse gostar de mim. Acabamos ficando amigos depois de um trabalho de equipe, mas não muito próximos... Uma ou outra conversa eventual, e um "oi, tudo bom" ao nos vermos nos corredores ou na sala. Ela era uma pessoa muito querida em nossa turma, e conversava com todo mundo. Chegou a ser líder de sala vários anos. Até o fim do primeiro ano, nada demais aconteceu entre nós. Mas no último dia de provas, o pessoal marcou uma festa de despedida na casa de um dos meus colegas, um almoço. Eu fui, assim como todo mundo. Lá eu a encontrei. Naquele dia em especial, eu a achei mais linda do que de costume. Percebi como iria sentir sua falta. E muito, mas muito mesmo.

Fiquei um pouco triste com tudo, e acho que até inconscientemente, acabei falando pouco com ela durante a festa. Talvez para tentar diminuir a dor da perda... Para ir me acostumando. De lá, toda a sala resolveu ir para um shopping próximo. Chegando lá, Nessa veio falar comigo.


(Nessa) - Rafa, o que você tem? Você está estranho...

(Rafa) - Hum? Não... Impressão sua.

(Nessa) - Você mal falou comigo hoje.

(Rafa) - Você acha? Então desculpa, não notei, não é nada demais.


Nisso ela fez um silêncio estranho, e continuou.


(Nessa) - Você está estranho sim... Foi algo comigo, é isso?

(Rafa) - Deixe de bobagem! É só que eu estou um pouco triste, é só. As aulas acabaram, provavelmente eu não vou mais ver o pessoal durante as férias... Essas coisas.

(Nessa) - É, isso é sim. Mas por isso mesmo que você devia estar mais animado agora! Vá lá falar com todo mundo, se divertir! Aproveitar esse dia! E nada impede de encontrar com alguém durante as férias.


Ouvindo-a falar aquilo, não sei exatamente porque, eu me senti ainda mais triste. Meu coração apertou... Senti que era a última chance que eu tinha de falar para ela o que eu estava sentindo. Percebi que nós estávamos longe do resto do grupo. Se não falasse tudo agora, poderia ser tarde demais.


(Rafa) - Nessa... Eu... Não tenho ânimo pra isso. Eu percebi que hoje eu posso perder algo de importante pra mim, algo que eu não percebia o quanto era importante.

(Nessa) - ...O que Rafa? *Falou com uma voz ligeiramente tensa*

(Rafa) - *Falando baixo, com dificuldade* Não algo - alguém importante...


Nisso Nessa parou de falar. Ficou meio perdida, sem saber para onde olhar. Eu também não sabia o que fazer. Acho que ela entendeu bem o que eu quis dizer. Ficamos um bom tempo assim, até que eu olhei para ela. Nessa hora nossos olhares se cruzaram. E então, nessa hora...

A partir desse dia, passamos a namorar. Foi algo rápido, incrível! Nem sei como aconteceu. Foi realmente perfeito! Durante o nosso namoro, não brigamos uma única vez. Todos os nossos amigos diziam até que devíamos ser almas gêmeas. Eu a amava profundamente, de todo o coração. Não conseguia ficar mais de 24 horas em falar com ela - quando acontecia, ficava triste e irritado.

Fazíamos tudo juntos. Gostávamos dos mesmos lugares, mesmos filmes, músicas... Fizemos vestibular juntos, e ambos passamos para Produção Cultural. Era bom demais para ser verdade. Mas então aconteceu... Ela ficou doente. No começo ninguém sabia o que era. Depois veio o diagnóstico: câncer... Eu fiquei ao lado dela. Sempre estaria ao lado dela, não importa o que acontecesse. O tratamento parecia estar surtindo efeito. Tudo indicava que ela ficaria boa. Mas então... Depois de quatro meses... Ela piorou repentinamente. Eu a visitava todos os dias. Mesmo doente como estava, mesmo cansada... Ela sempre me recebia com aquele lindo sorriso! E foi então que em uma quarta-feira, eu passei novamente lá. Nesse dia ela estava mais pálida, acho que um pouco mais triste. Era de noite.


(Rafa) - Oi Nessa...

(Nessa) - Oi Rafa, que bom te ver.


Ela tentou sorrir, mas o sorriso dela não tinha mais o brilho de sempre.


(Rafa) - O que foi?

(Nessa) - Rafa... Quero que você saiba que eu sempre te amei muito viu? Que você foi a pessoa mais especial que eu conheci em toda a minha vida.

(Rafa) - *Assustado* Por que você está falando assim?

(Nessa) - Por nada... Só queria que você soubesse...

(Rafa) - Você também! Eu te amo demais! Sempre vou te amar. Não fale algo assim tão repentinamente, senão eu fico assustado!


Nisso me aproximei, e dei um beijo em sua testa. Percebi que ela estava estranha... Mais distante do que de costume. Nesse dia eu não pude demorar, eu tinha que resolver alguns problemas. Fiquei com ela mais alguns minutos, e tive que sair.


(Rafa) - Tenho que sair agora. Tchauzinho meu amor!

(Nessa) - Tchau Rafa. Te amo...


Saí em direção a porta. Me virei para olhá-la mais uma vez... Não sei se foi impressão, mas achei que ela estava chorando. Depois de um instante, ela parecia normal de novo. Então me virei, e saí. Essa foi a última vez que eu vi a Nessa viva. Ela morreu nessa mesma noite... Eu me senti tão culpado... Eu devia ter dado mais atenção para ela! Não podia acreditar no que estava acontecendo, não era possível...

Junto com ela, foi a minha vida. Perdi a vontade de estudar, de comer, de conversar... Não suportava mais. Pensei até em me matar, mas só não fiz isso porque sabia que ela nunca aceitaria que eu fizesse algo assim. Minha vida não tinha mais sentido, fui ficando cada vez mais recluso... Até que decidi morar sozinho. Mesmo a companhia de minha família estava me perturbando. O tempo passou, e voltei a viver. Mas mesmo assim, nunca mais me aproximei de ninguém. Não tinha amigos, me afastei de todos os meus colegas mesmo com eles tentando me ajudar, e não me interessava por garota alguma. Acho que na verdade eu tinha medo de passar por tudo outra vez - acho que não conseguiria suportar.

Nisso a tristeza que eu estava sentindo foi aumentando, aumentando... Me lembrar dessas coisas só me fazia sofrer. Guardei a foto, e apoiei minha cabeça em meus braços. Achei que ia começar a chorar. Então, de repente, sinto alguém me abraçando. Era Bia. Ela não disse nada, só me apertou forte. E ficamos assim por um longo tempo.


"Acho que comecei há entender um pouco sobre como uma Computer Girl pode ajudar alguém..."


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