Computer Girl Bia escrita por Chaud


Capítulo 3
Intimidade (nem tão) forçada!




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Mais tarde, ela me ajudou a arrumar a bagunça que meu quarto tinha ficado. "Afinal de tudo, foi minha culpa"; ela disse. Deu um pouco de trabalho, mas logo tudo ficou limpo. Isso em menos de vinte minutos. "Nossa... Se fosse eu sozinho, demoraria uns dois dias para arrumar tudo!" Depois disso, ela começou a olhar meu apartamento mais atentamente.


(Bia) - Amei tudo aqui! É tão simples, mas aconchegante!


A varanda tinha uma vista para o mar. Ela passou longos minutos admirando a paisagem. Nisso, voltei ao meu quarto e olhei o computador. Estava lá, exatamente como eu havia deixado. Mas a parte do tempo de funcionamento agora indicava seis horas e alguns minutos. "Será que existe algum limite de tempo, ou algo assim?" E nisso, outra coisa me veio a mente:


...Então, se acontecer qualquer coisa com ele... Se você desligar, se ele travar...


Ela havia dito que se o computador travasse, ela iria desaparecer. Isso começou a me preocupar, e me deu um aperto no coração. "Sei que eu a conheço tem pouco tempo... Mas não sei por que... Não queria que ela desaparecesse assim. E usando o Windows por tanto tempo, ainda mais esse cheio de spywares e outras porcarias instaladas, a chance do computador travar é..."

Nisso, Bia entrou no quarto. Parecendo adivinhar o que eu estava pensando, ela me disse:


(Bia) - Rafa, não fique preocupado. Eu sei que o Windows não é lá nenhuma maravilha em termos de estabilidade. Na verdade, nenhum sistema operacional que vocês já produziram é "grande coisa", sem querer parecer chata. Mas o seu computador não vai travar. Lembra que sua conexão é a cabo? O meu programa tem uma ligação constante com o meu programador. Por isso, seu computador está sendo sempre monitorado. É que já tivemos problemas antes com coisas assim... Daí o Mp decidiu que era melhor ficar de olho aberto nessas coisas.


Nesse momento passou pela minha cabeça que talvez Bia fosse capaz de ler mentes. "Será que ela sabe dos meus pensamentos ridículos desde que ela apareceu? Espero que não!" Até para evitar pensar em mais bobagens, perguntei logo alguma coisa.


(Rafa) - O "MP"?

(Bia) - É Rafa, o "Master Programmer". Ele sempre está de olho em tudo. Bom, na verdade, seria um problema se sua conexão fosse Dial Up, sabe como é... Cai muito, e a conta telefônica vem cara... *Dando um sorriso maroto!*

(Rafa) - Tá bem, entendo.


Me senti aliviado com a explicação dela. Mas mesmo assim, decidi que ficaria de olho no meu computador. Só pra garantir. Lembrei também que ela não tinha nenhuma roupa para usar, estava com as que eu emprestei desde a manhã.


(Rafa) - Bia, eu vou sair rapidinho, mas já volto viu?

(Bia) - Tá bom, quer que eu vá com você? Onde você vai?

(Rafa) - Na verdade, queria que você ficasse aqui. É rápido! Vou só pegar algumas coisas que fiquei de pegar em uma loja aqui perto. Aproveite para conhecer mais a casa, ver onde eu guardo as coisas. Afinal você vai ficar aqui por um bom tempo não é?

(Bia) - É. Espero que sim!

(Rafa) - Então tá, já volto!

(Bia) - Tchauzinhu, não demore muito.


Peguei as chaves do carro, desci e saí. Fui em uma loja de roupas que tinha aqui perto de casa, para escolher umas roupas para ela. "Droga, eu nunca escolhi roupa para uma garota... E não sei se ela vai gostar."


(Atendente) - O senhor precisa de ajuda?

(Rafa) - Ah, obrigado! Estava pensando, eu preciso comprar umas roupas para a minha irmã. Tanto roupas caseiras, com algumas para sair. Ela veio do interior mas acabou perdendo a bagagem dela... Será que você podia me dar umas sugestões?

(Atendente) - Claro! Bom, que tipo de roupa ela costuma usar? E qual é o número dela?

(Rafa) - O número eu não sei exatamente... Mas se você me mostrar as roupas, acho que sei dizer quais cabem nela. E quanto ao tipo de roupa...


Nisso, passei algum tempo escolhendo roupas para Bia. "Nossa, foi mais difícil do que eu pensei. E mais caro! Desse jeito eu teria que pedir ajuda aos meus pais, meu dinheiro não ia durar até o fim do mês!" Ah, só para lembrar, meus pais ainda me sustentam. Eles me dão uma mesada, além de pagarem as contas de luz, água e telefone aqui de casa. Eles preferem assim, para que eu não precise trabalhar, e possa dar toda a atenção aos estudos. Ainda assim, com freqüência, eu arranjo algum trabalho para ganhar um dinheiro extra. Mas voltando a história, depois de comprar tudo, voltei para casa.


(Rafa) - Bia, cheguei.


Nisso, ela veio rápido, como se estivesse me esperando a qualquer momento.


(Bia) - Rafa, você demorou! O que foi fazer?

(Rafa) - Nada de mais... Ah, olha, tenho umas coisinhas para você.


Nisso eu peguei o saco que estava atrás de mim e mostrei para ela. Na mesma hora, ela ficou de olhos arregalados, pareceu muito surpresa.


(Bia) - Roupas... Pra mim? Você...

(Rafa) - Fui em uma lojinha aqui perto, e comprei algumas. Não são muitas, mas espero que goste.

(Bia) - *Ficando corada* Você não precisava!!!

(Rafa) - Oras, claro que precisava ué! É o mínimo que eu podia fazer não? Você não tem nenhuma roupa, e não ia poder ficar usando as minhas certo? Pense nisso como um presente de boas vindas.


Ela pareceu ficar bem emocionada, achei até que fosse chorar. "Ela ficou tão emocionada só por isso? Será que o lugar onde ela morava era muito solitário, ou ela nunca ganhou um presente?" Em um instante, quando vi, ela estava abraçada comigo. Me apertando forte. Eu fiquei totalmente sem reação!


(Bia) - Obrigada... Mesmo!!!


Ficamos uns instantes assim. Como a camisa dela era de uma malha fina, comecei a reparar no seu corpo junto ao meu... Sentir o seu toque suave... Ela tinha um cheiro maravilhoso... O contato com sua pele, a respiração dela... Eu podia sentir seus seios se comprimindo contra o meu peito... Sem nem perceber eu tinha colocado a minha mão em sua cintura, e pude ver como ela era fininha... Como seu corpo era... "Ê... Ôa... Epa!!!"

Me distanciei repentinamente!


(Bia) - Hum? O que foi?

(Rafa) - Haha... Ah... Nada... Não, quero dizer...


Eu devia estar super corado, meu corpo estava fervendo, me sentia com um calor insuportável! Estava totalmente encabulado. "Será que ela... Não, ela não percebeu... Será...?" Pensei em disfarçar.


(Rafa) - Bom, quero dizer... É bom você olhar logo as suas roupas não é? Você pode querer tomar um banho, afinal está com essa roupa o dia todo... As toalhas ficam no corredor. E... É isso.

(Bia) - Tá! *Disse sorrindo, e parecia mais alegre que nunca* Tô indo.


Então ela olhou no saco, escolheu alguma das roupas, e entrou pelo corredor. Eu fui pra a varanda, tomar um ar... Comecei a olhar o ambiente. Estava olhando o mar, os prédios em volta... E de repente me vem a imagem de Bia tomando banho! "Não, Rafael... Não pense nisso."E tentei pensar em outra coisa. Nisso, eu me lembrei que na área da cozinha, existe uma janelinha quase imperceptível que permite que se enxergue dentro do banheiro. "Não!!! Nem pense nisso! Eu não poderia fazer uma coisa dessas!"

Então comecei a perceber o silêncio da casa... Comecei a escutar o barulho do chuveiro, meio distante. "Não... Eu não posso!" Embora a minha cabeça me dissesse uma coisa, o meu corpo fazia outra, e comecei a andar em direção a cozinha. Meu coração parecia que iria sair pela boca! "Mas que droga, o que eu estou fazendo? Tô ficando louco?" Chegando na cozinha, ouvi mais alto o barulho do chuveiro, e vi a luz que saia pela pequena janela... Fui me aproximando lentamente, a janela era um pouco alta. Subi em um balde que estava ali perto, e quando fui olhar...


(Bia) - Rafa!!!


No instante eu dei um salto e parei praticamente na porta da cozinha! Meu coração estava disparado, senti uma tontura imensa, fiquei desorientado! Achei até que fosse desmaiar! Não consegui falar nada. Depois de alguns segundos, Bia me chamou de novo.


(Bia) - Rafa, cade você?


Respirando fundo, tentando me acalmar... Respondi:


(Rafa) - Eu... Tô aqui. O... Que foi?

(Bia) - Onde tem xampu aqui? Só estou vendo sabonete líquido!


Nessa hora me senti aliviado... Ela não tinha me visto. "Bem feito... Quem mandou tentar fazer uma coisa dessas? Eu sou um tarado mesmo. Sem salvação. Lerdo, retardado! Acho que aprendo com essa!"


(Rafa) - O sabonete líquido tá na área do chuveiro é? Vai ver a diarista que eu pago trocou de lugar, o xampu deve estar em cima da pia! (Por sinal que mulher incompetente essa! Vou passar a chamar outra, que droga, que susto... Ahn...)

(Bia) - Tá bom, 'brigada!


Depois de algum tempo, ela saiu do banho. Estava vestida com um conjunto simples, um short preto e uma camisa rosa de alça. Na realidade, quando eu fui comprar as roupas, eu não reparei muito no que estava comprando. A maioria foram sugestões da atendente, e eu aceitei sem pensar. Mas essas duas peças, exatamente, tinham sido escolhas minhas! Isso me deixou paralisado, sem reação! Por sinal, já estava até me acostumando com isso. Praticamente tudo em relação a Bia me deixava assim!


(Bia) - Que tal... Você acha que ficou bem em mim? *Um pouco corada*

(Rafa) - Você está linda! Sério!


E ela estava mesmo. Quando comprei a roupa, eu não imaginei como ficaria nela. Mas agora... Estava linda! As cores fortes da roupa contrastavam com a sua pele clara. O short curto deixava aparecer suas lindas pernas, e chegava a mostrar o contorno de sua cintura fininha. A camisa era um pouco mais folgada, e deixava um pequeno decote que dava para ver um pouco de seus seios... Nossa... Ela tinha um corpo perfeito! Não parecia ser algo natural... Era como se fosse uma escultura! Como se cada centímetro tivesse em uma proporção exata, tudo uma razão de ser! "Na verdade, era de se esperar... Se ela é mesmo uma Computer Girl, ela foi construída. Então ela pode muito bem ter o corpo que o criador dela desejar." Mas era mais que isso. Não era apenas um corpo perfeito. Um rosto perfeito. Era como se tudo nela fosse feito sob medida. Mas... Sob medida para o que?


(Bia) - *Ainda mais corada* Mesmo? Essas aqui... Foram a que eu mais gostei.


Quando ela disse isso, senti meu coração apertar. "Ela não tem como saber que foram essas as peças que eu escolhi. Tem? Então... Como... Justamente essas duas? Porque exatamente elas? Seria muita coincidência..." Nisso ficamos alguns instantes em silêncio. Eu sentia o meu coração bater tão forte que parecia querer explodir. Ela não me olhava diretamente nos olhos, estava envergonhada... Eu queria dizer algo para ela... Não... "O que eu quero é... Ficar perto dela... Só isso, só estar com ela. Mas o que estou pensando? Ela nem é uma pessoa de verdade... Não é mesmo? Ela é um programa. É, isso, um programa. Então é como se isso tudo fosse de mentira? Será que eu estou ficando apaixonado por ela? Não pode ser! Eu não... Não posso me apaixonar!"


(Rafa) - A... Eu... Hãn... Bia, vou tomar um banho viu? Já volto.

(Bia) - ...Tá bom!


Entrei no chuveiro, e tomei um banho escaldante. Desde pequeno, eu tenho esse hábito. Dizem que não faz bem, mas afinal, todas as coisas boas da vida parecem não fazer bem não é? Fico olhando o vapor que se forma pela temperatura da água... Passei um longo tempo tomando banho, e pensando no que passou na minha mente há pouco. "Será mesmo que é assim? Que a Bia é de mentira? Se bem que tudo o que aconteceu... Nada disso poderia ser verdade. Ela diz que não é humana, mas uma Computer Girl. Será que a diferença entre um humano e uma Computer Girl é somente a dependência delas de um computador? Será que ela tem emoções de verdade? Ou é algum tipo de simulação, uma "inteligência artificial"? E se a memória dela for guardada em algo, como um HD? Será que pode ser apagada? Ela então pode esquecer de mim? E se a qualquer momento, faltar luz, eu nunca mais vou voltar a vê-la? Será que eu tenho um limite de tempo para ficar com ela? Qual será o objetivo desse Master Programmer? Bia disse que ela está aqui para me ajudar. Mas me ajudar em que? Reconheço que minha vida está uma droga. Mas ela não pode estudar por mim. Não pode sofrer por mim. E nem pode tomar o lugar da..."

Nisso senti meu peito doer... Uma tristeza profunda tomou o meu coração. Eu não gostava de me lembrar desse assunto. Não queria me lembrar dela. Ainda mais agora. "Bom, não me importa se é uma ilusão, se ela tem limite de tempo... Eu tô até confuso com tantas perguntas, tantas dúvidas! Acho que ela realmente está aqui para me ajudar. E acho que realmente, essa é a hora de minha vida que mais precisei de alguém para me apoiar..."

Saí do banho, e encontrei Bia na sala, terminando de arrumar o sofá. Ela o tinha transformado em uma cama, forrou e botou alguns travesseiros.


(Bia) - Ah, Rafa! Espero que não se importe... Eu peguei um cobertor e uns travesseiros emprestados, pra fazer uma cama pra mim, e...

(Rafa) - Do que você está falando menina? É claro que você vai dormir no quarto! Deixe que eu durmo aqui na sala. Vê se pode...

(Bia) - Não, não! Eu já te dei muito trabalho, você até comprou as roupas pra mim, o mínimo que eu posso fazer...

(Rafa) - *Cortando a frase dela!* O mínimo que você pode fazer e ficar quietinha e fazer o que eu disse tá? Se você realmente está preocupada comigo, então não vai querer me desobedecer vai? Ou quer me deixar chateado?

(Bia) - Não, mas...

(Rafa) - Então vá já pra sua cama antes que eu tenha que te levar a força. Viu?

(Bia) - Tá...


Nisso ela saiu em direção ao quarto. Ao chegar na entrada do corredor, ela se virou e disse:


(Bia) - Rafa... Obrigada. E boa noite. *Dando o sorriso de costume*

(Rafa) - Boa noite Bia.


Então ela sumiu no corredor. Ela realmente é um doce de garota. Eu só conheci uma garota como ela. E isso que me perturba. Agora percebo porque eu consigo falar tão facilmente com ela. Porque consigo me abrir. Porque a voz dela me acalma, e porque me sinto tão bem ao lado dela! Ela é igualzinha a Nessa...


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