Essa deve ter sido a sétima vez que Annie pega no sono por dez ou quinze minutos antes de acordar num sobressalto imaginando que passou de Ohio — porque ninguém se deu ao trabalho de acordá-la — e que já está quase em Massachusetts. Mas então ela percebe que ainda está escuro lá fora, que a mulher coberta com a manta ainda está dormindo do outro lado do corredor e que os vidros do ônibus continuam molhados da chuva de antes.

Annie respira fundo.

Ela esfrega os olhos e dá uma olhada no celular que ainda está fora de área. Não há nada que ela possa fazer senão esperar. É o que ela tem feito desde que o conheceu, e essa tem sido toda a sua vida.

Esperar.

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Como quando eles desistiam de ser fortes o suficiente para manter um relacionamento à distância e discutiam — discutiam pra valer e se machucavam de um jeito que demorava pra sarar — até deixarem de se falar por meses. Então Annie esperava que a dor passasse, e quando ela não passava, esperava que Heron voltasse logo.

Ou como quando ele sumia e ela arrumava namorados que sabia que nunca seria capaz de amar, por mais que fossem caras legais e que tentassem realmente fazê-la feliz. E quando ela estava na cama com eles, ela fechava os olhos e se imaginava fazendo amor com Heron. Imaginava que era ele ali entre suas pernas e depois, quando o sexo acabava, Annie se virava para o lado e sentia vontade de chorar por ser tão suja.

E esperava que o tempo passasse.

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Agora ela espera que as últimas horas passem depressa, mas se pergunta o que fará de si mesma quando finalmente estiver diante dele, bem perto, a dois passos de distância. Annie esperou por isso desde que era uma garotinha, e agora que está quase lá ela sente medo.

Medo de estragar tudo.

Medo de que Heron estrague tudo.

Medo de já ter passado do fim da linha há muito tempo.