Dez horas escrita por Yokichan
Um pouco antes da meia noite, o ônibus faz uma parada num restaurante de beira da estrada em Columbia, no Missouri. Eles têm quinze minutos e Annie está com tanta fome que poderia comer um javali bem passado, mas se contenta em pedir dois hambúrgueres e um café — “pra levar, por favor” — à mulher do outro lado do balcão. Só então ela começa a reparar nas outras pessoas ao seu redor.
Há um homem gordo usando um boné desbotado e um bigode de mau gosto ao seu lado. Ele mantém os cotovelos grossos sobre o balcão enquanto assiste o noticiário na TV fixada mais acima na parede. Annie pensa que aquele cara tem uma expressão idiota e depois sente pena dele.
Das mesas junto às janelas, apenas duas estão ocupadas. A primeira por dois sujeitos barbudos e desleixados que talvez sejam caminhoneiros ou esses caras que vivem na estrada, sem família, sem nada. Seus pratos estão sujos, mas vazios, e eles agora bebem cerveja sem pressa alguma. Annie desvia os olhos quando eles começam a olhá-la também.
Na segunda mesa há um casal de meia idade comendo panquecas ao molho. A mulher tem o cabelo amassado como se tivesse dormido no carro e os olhos fundos, cansados. Annie não consegue ver o rosto do homem, pois ele está de costas, mas isso também não faz diferença. Eles mal se olham enquanto comem, e ela pode apostar que não há nada de especial ali além das alianças de casamento. Ela pensa que aquilo é tão triste e que prefere acabar sozinha a dormir todos os dias com um homem a quem não ama mais.
Ela pensa em Heron.
Quando Annie volta para o ônibus, há uma mensagem dele esperando no celular.
“Onde você está?”
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!