Dez horas escrita por Yokichan
Tudo ao seu redor é um escuro sepulcral.
Annie não sabe como, mas está na velha casa do interior e está morrendo de medo. Sente o corpo molhado de suor, uma coisa fria e pegajosa que escorre pelas costas e entre os seios, mas quando agarra as próprias roupas em desespero, percebe que elas estão secas. O silêncio ali é tão pesado que Annie imagina que sua respiração ofegante pode ser ouvida há quilômetros de distância, e com certeza as coisas ali também estão ouvindo.
Coisas que se movem no escuro.
Coisas que ela não vê, mas sente.
Annie poderia jurar que havia uma lareira atrás dela — conhece aquela casa como a palma da mão, foi ali que ela cresceu e viveu durante muito tempo —, mas quando se inclina para trás, só há o vazio.
Ela cai nesse vazio como se nunca mais fosse sair dele.
Então Heron está ali.
Ele abre a porta que dá para a rua e seu corpo é apenas uma sombra recortada contra a claridade ofuscante que varre as trevas e aquelas coisas para longe. Ela está meio cega pela luz, mas sabe que é ele, e quando seus olhos já não ardem mais, ela o vê. Bem perto. Há um sorriso torto, um tanto debochado, no rosto dele.
— O que você andou fazendo, Annie?
Ela tenta dizer que não sabe, que está com medo, mas sua voz não sai.
Então ela grita.
E acorda.
O ônibus ainda está com as luzes apagadas e os outros passageiros dormem ou passam o tempo em silêncio. Uma mulher do outro lado do corredor se mexe e se cobre melhor com uma manta. Do lado de fora da janela, o mundo é uma grande sombra disforme que vai passando sem parar.
Annie só tem vontade de chorar.
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