Quando Heron voltou para casa, já não estava mais tão escuro. Seus sapatos afundavam na grama encharcada enquanto ele caminhava até a entrada e a calha que passava por cima do telhado ainda gotejava. Havia aquele cheiro familiar de madeira molhada que a casa transpirava sempre que chovia demais.

Mas alguma coisa havia mudado.

Pelo caminho até a cozinha, ele foi deixando os sapatos e a camiseta. Embora não estivesse exatamente quente, ele sentia o suor escorrendo pelo meio das costas por ter atravessado Lancaster a pé durante a madrugada — duas vezes. Apoiado na porta da geladeira, ele bebeu de uma só vez toda a garrafa de água. Depois, olhou ao redor e percebeu que tudo estava exatamente no mesmo lugar, as latas vazias de cerveja amontoadas sobre a pia, a caneta sobre o jornal dobrado em cima da mesa, a cadeira da direita mais afastada porque ele havia esbarrado nela, tudo como ele havia deixado na noite passada. Mesmo assim, Heron não pôde evitar se perguntar se aquela era mesmo a sua velha — e sombria e solitária e tediosa — casa.

Ele olhou para o relógio de parede.

Eram quase cinco e meia da manhã.

Parecia engraçado como agora o tempo se tornara importante.

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Debaixo do chuveiro, ele pensa sobre o que acontecerá depois. Pensa que, em algum momento, pedirá para que Annie não volte para Denver — porque sabe, mesmo sem entender como, que ela não é mais e jamais voltará a ser apenas uma garota com quem ele conversa quando as coisas ficam ruins demais para permanecer sozinho. Pensa que não permitirá que ela trabalhe, pois ela é sua. Pensa que tentará fazê-la feliz e que a vida será boa.

Heron pensa que talvez aquilo seja o amor de que ela tanto fala.

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Um pouco antes das seis, depois de ter descido o carro para a rua, ele ainda ficou parado ali, olhando para a casa que parecia não ser mais a mesma. Então Heron entendeu. E sorriu de sua estupidez — como ele podia não ter percebido?

Annie.

Ela já havia tomado conta de tudo.