Mais tarde, ela acordaria no meio da noite e, nua entre os braços dele, ficaria olhando seu rosto enquanto Heron dormia. Ela tocaria os lábios dele com a ponta de um dedo e sentiria aquela mesma dor queimando por dentro. E sorriria no escuro porque se daria conta de que simplesmente não conseguia mais imaginar a vida longe daquele homem.

Annie se lembraria de como havia se sentido arruinada quando desceu do ônibus e não o viu lá, e com os olhos cheios de água foi pegar sua mala sem saber para onde ir. Ela se lembraria de ter xingado a si mesma — porque era mesmo uma idiota, uma garotinha tola, como ele dissera, que largara tudo para ir atrás de um cara que devia estar rindo dela agora — e de ter desejado que o mundo acabasse ali. Mas então Annie tinha se virado para ir comprar uma passagem de volta para Denver e o visto andando em sua direção.

Heron.

Ela se lembraria de como havia chorado quando ele a apertou contra o peito.

E demoraria para pegar no sono outra vez.

_______________________________________________________

Ele está sentado na beira da cama e tem consciência de que o dia ainda não nasceu. Annie ainda está dormindo, os longos cabelos castanhos espalhados em ondas sobre o travesseiro. Ele a observa em silêncio e não pode deixar de pensar que ela é linda — não apenas pelo rosto de boneca ou pelas pernas que dão água na boca, mas porque Annie é doce e há sempre aquele brilho nos olhos dela que o deixa sem palavras.

Heron sente que precisa dizer aquilo.

Ele beija-lhe os olhos e a acorda.

— Annie?

Ela pisca devagar e então sorri.

— Eu te amo. — ele diz.

E acredita, pela primeira vez.