Annie passou as últimas horas de escuridão imaginando se as mãos dele eram grandes e bonitas, se seu rosto era como nas fotos, se Heron tinha mesmo aquele olhar de quem está sempre com sono, se seus lábios eram mais pálidos ou mais vermelhos, se ele estaria vestindo preto ou qualquer outra cor, se ele havia cortado o cabelo ou se ainda era aquela coisa bagunçada que ela adorava tanto, se ele primeiro a observaria de longe, calado, se iria logo apertá-la num abraço, se a beijaria, se a seguraria pela mão, se a conduziria com um braço pela cintura, se apenas andaria ao seu lado, se abriria a porta do carro para ela, se perguntaria como tinha sido a viagem, se comentaria que ela estava com uma cara péssima por não ter dormido, se diria que estava com saudades, se a morderia, se a jogaria sobre a cama, se lhe arrancaria a roupa do corpo, se faria amor com ela, se seria agressivo ou romântico, se lhe deixaria marcas sobre a pele que ela depois observaria pelo espelho e sentiria vontade de fazer tudo de novo, se ele faria o café da manhã, se faria ovos com bacon ou apenas torradas, se pediria que ela o fizesse, se acariciaria seu cabelo e lhe daria beijos nos ombros quando encontrasse com ela pela casa, se a levaria para conhecer a cidade, se a exibiria por aí como um troféu, se a esconderia do mundo, só para si, se lhe diria coisas bonitas ou se não diria nada, se a olharia em silêncio, se a mandaria embora no segundo dia, se pediria para que ela ficasse para sempre, se diria que a amava, se prometeria cuidar dela, se lhe faria um filho, se ela finalmente o faria feliz.

Se ele a faria feliz.

Então a noite começou a se desfazer e, à medida que as placas na beira da estrada e as cabeças das pessoas dentro do ônibus começaram a surgir das sombras, cada vez mais nítidas, Annie sentia a paciência indo embora. E torcendo as mãos sobre o colo, ela pedia em pensamento para que aquilo acabasse logo.