A porta do meu quarto foi aberta. Imaginava que fosse minha mãe, Alessa, mas me enganei. Seus olhos lilases eram inconfundíveis. Eu estava muito mais alto do que da ultima vez que a vi, e isso fazia quase seis meses. Sabrina havia perdido a fragilidade de criança e me lembrei que em um ano e meio ela começaria a EFE.

Seus olhos se iluminaram ao me ver.

– Você está bonito. – Ela murmurou.

– Obrigado.

A blusa lilás combinava com ela. Deixava-a com um ar sonhador. Sabrina se aproximou, ajeitando minha blusa de botões púrpura. Ficamos em silêncio por um tempo. As coisas estavam estranhas conosco desde que o casamento com Adele se aproximou. Ela parecia um pouco nostálgica.

– Sabia que você foi a segunda visão de Adele? – Ela disse simplesmente, quando terminou de me arrumar.

– É mesmo? – Eu murmurei. Ela estava linda com aquela flor presa atrás da orelha. – E qual foi a primeira?

Seus olhos adquiriram um ar malvado. Eu sorri. Sabrina e malvadeza não combinavam.

– É segredo. – Ela sussurrou, cúmplice.

– Eu sei guardar segredos. – Sussurrei de volta. Ela riu levemente.

– Não é algo relevante no momento. Está pronto?

Senti meu rosto se contrair um pouco.

– O máximo do possível.

– Não parece feliz.

– Porque, talvez, eu não esteja.

Seus olhos lilases se entristeceram também.

– Adele é minha melhor amiga. Será uma excelente esposa para você.

– Você também será uma ótima esposa para Enzo. – Murmurei amargurado. O casamento de Sabrina e Enzo foi anunciado ontem, durante o jantar.

– Ainda tenho muito a melhorar – ela murmurou simplesmente. Ergui seu queixo com a ponta dos dedos.

– Você é perfeita para mim. – Eu disse somente. Ela se afastou dois passos.

– Luca...

– Eu sei. Obediência. Eu sei. – Murmurei, dando-lhe as costas. Vi seu reflexo magoado no espelho. – Sempre irei desejar que tivesse sido você naquele espelho.

Ela caminhou até a porta.

– Ouvi uma história uma vez. “Em uma ilha, moravam todos os sentimentos. Um dia, os sentimentos souberam que a ilha iria afundar. O Egoísmo foi o primeiro a ir embora, sendo seguidos por quase todos os sentimentos. Entretanto, o Amor ficou. Ficou até que a ilha afundasse, vendo todos os outros irem embora. Quando estava para morrer, se afogando no mar, apareceu um velhinho num barco e o resgatou. Quando o Amor perguntou quem era, ele respondeu que se chamava Tempo.” Só o Tempo entende um grande amor, Luca. E o Tempo entende o nosso. Mas regras não mudaram. O destino não mudou.

– Herdeiros não se casam. – Completamos a frase juntos, e ela saiu sem dizer adeus.