Acordei me sentindo cansada, os braços doloridos de ter esfregado o chão, o tapete e o sofá. Ainda bem que, apesar de ser segunda eu não tinha que ir trabalhar, pois era feriado de Tiradentes, se não uma tragédia, no mínimo, ia acontecer.

Primeiro fui dar uma checada em Lucy, ver como ela estava. Fui ao quarto dela, todo em cores claras e tons de bebê, e encontrei na cama dormindo profundamente e como eu sabia, de antigos carnavais, que ela ia acordar com uma puta dor de cabeça após a bebedeira, deixei-a dormido e fui fazer o meu café da manhã. Café com leite, pão com manteiga e um pacotinho de salgadinho pequeno (muito melhor que uma fruta).

Faltavam algumas coisas em casa como alvejantes para limpeza (gastos ontem), um vaso para flores (obrigada Barbie! Ah, quer saber? Foi por uma boa causa mesmo...) e algumas comidas para repor o estoque. Então resolvi ir ao mercado, por um milagre divino o mercadinho da esquina estava aberto e eu não precisei ir de carro até o centro da cidade. Comprei o que eu precisava e adicionei ao carrinho também chá de boldo, que Lucy provavelmente precisaria.

Quando entrei pela porta do prédio um alivio maior que eu, tomou conta do meu ser. Lá fora o Sol estava na temperatura do inferno e eu estava beirando a insolação (um pouco exagerada, talvez muito). Alivio que diminuiu um pouco o seu tamanho ao lembrar que eu ainda tinha que subir as escadas até o terceiro andar. Inferno. Mas é claro, podia ser pior, e sendo eu, é obvio que ia ser.

Mal tinha terminado de subir os degraus do primeiro andar e algo desmoronou sobre mim, mas não foi um “esbarrão” foi algo realmente grande que me derrubou. Cai de quatro no chão (sempre muito glamorosa, é claro) em cima de uma garota e embaixo de algo grande que só depois de levantar-me identifiquei como um quadro, que, aliás, era bonito. Olha só, se eu tivesse morrido pelo menos ia ser por um quadro bonito. Quanta sorte.

Já estava eu perguntando se a tal garota estava bem quando percebi que ela não estava se mexendo e continuava deitada no chão. Me abaixei em sua direção e tirei os cabelos negros da cara, ela estava de olhos fechados mas verifiquei que respirava. Tentei acorda-la na base de tapinhas no rosto mas não adiantou, então resolvi que eu devia leva-la para o meu apartamento ( admito que a ideia de deixa-la lá no chão e esquecido que foi comigo me passou pela cabeça, mas não sou tão má assim ).

Ao cair nós voltamos a base do primeiro andar, então, arrastando –a pelos braços ( que estavam cheios de carvão, provavelmente do desenho que quase nos matou) escada a cima. Ainda bem que ela era magrinha e leve, mas ainda sim estava bem difícil. Ao chegar ao segundo andar notei uma porta aberta, que provavelmente era do apartamento dela (tinha material para desenho e pinturas espalhados por toda a sala), fechei a porta e continuei subindo.

Ao chegar no meu AP, coloco-a deitada no sofá e eis que me surge uma criatura vinda do além que saiu do banheiro.

– Oi!

–É um assalto? – Perguntei eu sem saber o que pensar, afinal um desconhecido ( muito bonito por sinal: Pele pálida. Cabelos cacheados e loiros. Os olhos azuis-escuros. . .) estava na minha casa.

–Ah, eu me chamo Barry, sou primo da Lucy e do Sebastian.

–Ah, oi! Eu me chamo Lúcia, moro junto com eles. – Ele se aproximou e me deu um beijo na bochecha e eu quase me apaixonei pelo perfume dele. Algo do tipo florar só que versão masculina.

–Prazer em te conhecer, Lúcia.

–Desculpe a confusão, eu tinha esquecido que você vinha hoje.

–Não tem problema. E quem é essa dai no sofá? – Perguntou ele apontando para a garota desmaiada.

–Eu acho que o nome dela é Bella ou alguma coisa do tipo. Mora no andar de baixo. Eu estava subindo a escada quando ela caiu em cima de mim com um quadro enorme. Ah, eu tenho que pegar o quadro, já vol...

–Deixa que eu vou, tu deve estar cançada, se o quadro é tão grande assim não vai ser difícil achar. – Brincou ele.

–Tudo bem então, vou fazer um chá para quando ela acordar.

–Claro, chá resolve tudo! – Disse ele, com uma piscadinha e saiu.

O que foi isso?

Quando terminei de preparar o chá ( 1 minuto no micro-ondas) a garota já tinha acordada e parecia perdida.

–Onde eu estou? – Indagou ela.

–No meu apartamento, você caiu em cima de mim com um quadro e desmaiou, dai eu te trousse aqui.

–Ah, okay. Obrigada.

–Magina. O teu nome é Bella, não é? Quer chá? – Ofereci a xicara que estava nas minhas mãos.

–É Belle. Annabelle. Pode ser. Obrigada de novo. – Disse ela com um sorriso tímido.

Dei o chá para ela e nesse momento o meu celular começou a tocar.

–Só um minutinho. – Disse eu para a garota e fui para a sacada atender.

*Alô*

*Oi Lúcia, aqui é o Alexandre*

*Oi Alexandre, tudo nem?*

*Na verdade não.*

*O que houve?*

*Terça-feira todo mundo vai ficar sabendo, mas eu resolvi te dar a noticia de primeira mão*

*Que noticia?*

*Um dos sócios da empresa, andou fazendo algum tipo de esquema e roubou a agencia. Já fazia um tempo que ele estava fazendo isso, mas ele resolveu dar o golpe final. A empresa faliu.*

*E isso quer dizer exatamente o que?*

*Que você e todos que trabalhavam lá estão sem emprego.*

Ótimo, era só o que me faltava. Ter que procurar um emprego.