Jamile estava andando para voltar tão lentamente quanto andou para ir. Estava se sentindo absolutamente desconcertada.

Havia pedido para ver o corpo de Sarah apenas para se acostumar com a ideia de que seu namorado há quase dois anos tinha um corpo feminino e tentar aceitá-lo-a como realmente era, mas ao contemplar a cinturinha de violão, a barriga não excessivamente chapada, mas no ponto, os seios medianos de aréolas rosadas. Sentiu-se atraída, suas mãos não resistiram a tocar a pele sedosa.

Mas sempre se sentira atraída, desde que a moça esbelta e absolutamente feminina era um garoto estranho e gordinho que andava o mais discretamente possível pelos corredores de William Hester High School para não chamar atenção de qualquer um que pudesse implicar consigo.

Será que no fundo sempre soubera da verdade, mas só depois de revelada, sua ficha caiu? Ou simplesmente seu amor por Jo...Sarah que fazia Jamile se sentir dessa forma?

Bom... Isso não era importante. No momento em que decidiu aceitar que seu namorado era, na verdade, namorada, estava disposta a enfrentar as peculiaridades no caminho. Mas, de repente, outras consequências da decisão de Sarah de existir como ela mesma começaram a invadir a cabeça de Jamile.

Quando ainda era Josh, havia dito inúmeras vezes a Jamile o quanto queria estudar literatura e escrever livros. Será que esse sonho de faculdade seria possível para Sarah?

E todos os planos que construíram de se casar e ter três filhos (dois meninos e uma menina)? Esse sonho seria possível quando Sarah saísse do casulo em que esteve presa?

Todas essas perguntas assustaram Jamile de tal forma que ela começou a chorar em silêncio poucos metros antes de sua casa.

E havia outro detalhe: Muito provavelmente seus pais não entenderiam sua decisão de apoiar Sarah em sua nova jornada de vida, então poderia ser apenas elas duas contra o mundo.

Mas o amor que sentia por aquela pessoa, fosse Josh ou Sarah era maior que as probabilidades, maior que a razão, maior que tudo.

Estava decidida a ficar ao seu lado até o fim e nunca mudaria de ideia.

Continua...