School of Life escrita por Lola Brachovinsk


Capítulo 8
Capítulo 8


Notas iniciais do capítulo

Sim, eu sei que demorou. Vamos aos problemas:
1 - PC quebra. PC volta a funcionar
2 - Word dando problema, travava demais. As vezes nem abria.
3 - TCC e prazos apertados.
4 - PC quebra de novo.
5 - Prazos do TCC chegando.
6 - Provas.
7 - Semestre acabando e eu ainda nem fiz metade do que deveria ter feito na faculdade.
8 - Conserto do PC fica um absurdo.
9 - Conserto do PC demora um século.
10 - Falta de criatividade e vontade.
11 - PC voltou, mas o HD tá morrendo.

É, pessoas, não está fácil, mas estou levando.

Notícias boas:
O capítulo 8 é um capítulo importante. É um capítulo que começa a afunilar ainda mais as relações dos nossos três personagens.
No capítulo 9 teremos salto no tempo e coisas muito importantes acontecendo. É, meus queridos, nossas crianças estão crescendo. Fernanda, Beatriz e Carlos irão se tornar adultos a partir de agora. Obviamente que não será nada fácil. Por que ser adulto não é fácil (Me pergunto por que carga d'águas temos que ser adultos. Pagar contas não é legal).
As coisas vão ficar tensas, mas mais bonitas também. Altos romances...e choros.



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Capítulo 8

Fernanda acordou várias vezes, sempre pelo mesmo motivo: o cheiro do perfume de Beatriz. Não era ruim, muito pelo contrário, tinha um toque cítrico muito agradável.

Conforme o dia ia radiando, o quarto ia clareando a ponto de refletir o cabelo claro de Beatriz que parecia sedoso refletido a luz do sol. A pele aparentava ser macia. Bia respirava lentamente e aquilo soava quase sensual.

Fernanda virou bruscamente na cama. Não poderia estar tendo aqueles sentimentos. Viviane mexeu tanto com seus sentimentos que Fernanda se sentia incapaz de atrair qualquer outra pessoa e isso a deixava carente.

Fernanda acordou e percebeu que o sol já estava alto. Sentou na cama e quando Bia falou com ela:

– Acordou?

– Ei! Você estava acordada?

– Faz um tempo. Mas estava esperando.

– Oxe! Por quê? Fosse à cozinha comer algo, Bia.

– Sozinha? Nem conheço sua mãe...

– Ela é muito de boa. Sabe que você ia dormir aqui.

– E o Carlos?

– Esse daqui?

Fernanda empurrou Carlos que dormia no colchão no chão.

– Dorme pesado feito uma pedra. Já usou o banheiro?

Bia acenou positivamente com a cabeça. Fernanda foi ao banheiro e voltou alguns minutos depois.

– Vamos tomar café. Deve tá morrendo de fome de tanto esperar. Ei! Acorda morto! Vai dormir até que horas?!

Fernanda tacou o travesseiro em Carlos que acordou assustado. Carlos olhava em volta como se não reconhecesse o quarto ou Fernanda e Bia.

– A gente vai tomar café. Você não vem?

O garoto acenou positivamente com a cabeça enquanto esfregava os olhos. Fernanda encaminhou-se para fora do quarto. Bia deu uma última olhada para Carlos e acompanhou Fernanda.

Fernanda usava um pijama que consistia em um short curto de flanela e uma regata com um desenho de um urso marrom na frente. Bia usava seu pijama mais comportado, uma calça de amarrar de pano e uma camisa larga com o desenho da Mulher Maravilha.

– Pode sentar. Vou pegar as coisas pra gente comer. Você gosta de pão de queijo? Parece que minha mãe colocou pra assar...

– Já estão prontos. Tá ai só pra deixar quente.

A mãe de Fernanda surgiu na cozinha. Beatriz pensava em uma pessoa mais velha, mas a mulher na sua frente parecia que nem tinha chegado aos quarenta anos. Era tão alta quanto Fernanda. Aliás rapidamente se notava várias semelhanças entre mãe e filha. Eram realmente parecidas.

– Oh! Você deve ser a amiga da Nanda. Tudo bem, querida?

– Ah, sim! Tudo!

A mãe de Fernanda foi atrás de Beatriz e pegou o queixo da garota.

– Nanda! Ela é linda! Olha isso!

– Mãe! Solta ela. Tá deixando a menina sem graça.

– Ela se acostuma rápido. Eu me acostumei.

Carlos apareceu na cozinha. A mãe de Fernanda se adiantou para lhe dar um beijo no rosto.

– Já acordou?

– Sua filha me acordou com o costumeiro carinho de cavala. Tacando o travesseiro em mim.

– Posso tacar essa faca. Deve ser mais confortável.

– Nanda, se for tacar, acerte o meio da testa. Sangra menos.

– Tia!

Fernanda fechou o olho esquerdo e levantou a faca como se apontasse. Carlos levantou a mão rindo e falou para Fernanda:

– Olha a Bia. Ela vai achar que vocês são loucas.

– Ela se acostuma rápido.

Beatriz sabia que era brincadeira e até estava rindo, mas parece que Fernanda levou o que Carlos disse a sério e largou a faca e pegou os pães de queijo e o presunto e os colocou na mesa. Carlos tratou de pegar o pão francês, a manteiga e o iogurte. A mãe de Fernanda se postou diante da porta e disse:

– Bem crianças. Eu vou sair. Fiquem a vontade, viu. Beijos.

Beatriz ouviu os passos no quintal e um barulho de portão. Logo em seguida Carlos quebrou o silêncio:

– Adivinha quem arranjou o contato de um homem L-I-N-D-O?

Beatriz parou de comer, interessada:

– Quem é? A gente conheceu na festa?

– O nome dele é Samuel. Já o conhecia antes, mas não cheguei a apresentar a vocês. Você conhece o Samuca, Fê?

– Não.

– Gente, aquele homem é muito lindo. Eu peguei no peito dele, tenho certeza que malha.

– Poupe-nos dos detalhes sórdidos.

– Qual é, Fê? Ele se eu bem. Deixa ele contar. E ai, rolou mais alguma coisa.

– Ia rolar, mas a Fernanda ficou me mandando mensagens falando para ir embora.

– Vamos ver quanto tempo vai durar.

– Fernanda! Parece que tá rogando praga pra mim.

– Não é, meu querido. Se não é você fazendo merda é o boy não querendo porque você não se assume.

– Nunca perco a esperança.

– De nós três você foi que se deu melhor, Carlos.

– Sério mesmo que não rolou nada com aquela garota, Bia?

– Não…ela quer me ajudar por que sou uma pessoa dentro do armário que acaba de se descobrir.

– E é bom que só aceite a ajuda e nada mais.

A voz de Fernanda saiu tão áspera que assustou Beatriz.

–E eu posso saber por que?

– É, Fernanda. Por que a Bia não pode ter alguma coisa com a menina?

– Essa tal de Camila anda com a Viviane. Quer problema maior que isso?

– É…se for alguém como a Viviane vai ser problema. Mas e se não for?

– Gente! Espera aí! Essa tal de Viviane não é a namorada da Fernanda? Por que raios alguém que ande com ela é alguém que não presta?

– Ela não é minha namorada. Eu conheci a Viviane ano passado. Me apaixonei, só que a Viviane não é a pessoa mais adequada para se apaixonar. Não se você gosta de ter uma única pessoa.

Fernanda se levantou pegou o prato dela e quando foi pegar o de Beatriz, se curvou para a garota e com o olhar bem sério disse:

– E a Camila não está andando com a Viviane. Ela tá trepando com ela.

Viviane

Viviane estava enroscada no corpo quente de Camila. Ao acordar, percebeu pela luz pela vinha de fora que ainda era relativamente cedo para seus padrões, então aconchegou-se novamente ao corpo de Camila, mas não durou muito tempo. Camila logo despertou e ao ver que a luz do sol já invadia o recinto virou-se bruscamente procurando o celular. Ao ver o horário tratou de pegar suas roupas e vestir.

– Ei! Vai sair assim? Me deixando aqui na cama nesse friozinho?

– Tô atrasada para uma assembleia do Coletivo, Viviane. Não tenho tempo pra isso não. E no final das contas, você curtiu a noite inteira.

– Só acho que deveríamos ter uma “saideira”.

– Não hoje, não agora.

Camila entrou no banheiro. Viviane levantou, colocou uma blusa e quando virou Camila já havia saído.

– Ei! Vai sair desse jeito mesmo? Por que não com…

– Estou atrasada

– Calma! É uma assembleia, não é o fim do mundo.

Camila parou e encarou Viviane friamente. O que fez com que Viviane compreendesse que falou algo ofensivo.

– Desculpa, desculpa. Quer que eu vá com você? Eu só...

– Você pode ir se quiser, mas não vou poder te esperar. Bem, estou indo. Até mais.

Camila saiu do quarto apressada, deixando Viviane sem reação. Passado alguns segundos uma raiva. As reuniões e assembleias da faculdade sempre estavam no caminho entre Viviane e Camila, sempre fazendo com que ela saísse.

– Mas que merda! A vida dessa garota é isso!

Viviane pegou a toalha e foi tomar banho.

Carlos

Carlos ficou de encontrar com seus amigos depois da escola e foram andar nas ruas do centro da cidade.

– Cadê sua namorada, Carlos?

– Ela tá lotada de trabalho do técnico. E outra Fernanda nunca foi de ser grudada.

– Mas vocês têm poucos meses de namoro, não é normal não querer passar um tempo junto? Eu iria querer passar um tempo com a pessoa se estivesse namorando. Não me parece que essa menina gosta de você.

O interesse repentino de Daniel deixou Carlos nervoso. Para a sorte de Carlos, Suelen interveio.

– Qual o problema da menina não ser grudenta? Que coisa retro achar que a garota tem que ter um comportamento específico.

–Não é isso... é só que...

–Além do mais, eles estudam na mesma sala e fazem o mesmo curso. Eles passam a semana inteira se vendo.

–Exatamente!

Carlos exclamou aliviado por alguém achar uma desculpa mais convincente.

–Eu também passei o final de semana inteiro com ela.

–Viu? Poxa, eu não entendo os homens! Se somos grudentas, reclamam. Se não somos, reclamam.

Daniel ficou claramente envergonhado e sem reação. Seu rosto ficou vermelho, mas ele não disse mais nada.

Amanda ia na frente andando de costas conversando com os demais. Carlos se distraiu em uma conversa com Suelen quando ouviu um baque.

– Desculpa, não te vi.

–Relaxa. Você está bem?

Amanda tinha topado com um garoto que vinha na rua. Carlos ao prestar atenção percebeu que o garoto era gay.

–Você não olha por onde anda não?

Daniel parecia bem estressado, encarando firmemente o rapaz.

–Dan! Era eu que estava errada. Estava andando de costas.

–É! Relaxa, gato.

–Do que você me chamou?!

– Daniel! Chega velho! Vai arrumar treta por quê?

Havia outro garoto perto que puxou o que estava discutindo com Daniel.

–Velho, vamos sair daqui. Esse cara tá estressado e a gente vai arrumar confusão.

Quando os garotos foram embora, Suelen virou-se para Daniel:

–Você é louco?! Bebeu?! O que deu em você?

–O cara não olha para onde anda!

–A culpa foi da Amanda, ogro! Você não é desse jeito, Daniel. O que você tinha na cabeça?

–Ele é um nojento!

–Nojento por quê?

–Qual é, Suelen? Vai ficar defendendo o viadinho agora?

As palavras bateram no estomago de Carlos como pedra. Quaisquer chances que Carlos tinha de confessar para seus amigos tinham ido para o ralo.

Beatriz

Beatriz estava indo encontrar Camila no ponto de encontro marcado. Apesar das palavras que Fernanda tinha dito semana passada, Bia tinha resolvido ir ver a garota. Até mesmo porque, ao que tudo indicava, a garota apenas queria apoiar Beatriz nessa jornada difícil que seria enfrentar um mundo preconceituoso.

Beatriz avistou Camila que a esperava perto da loja de doces.

–Ei! Esperou muito?

–Não. Acho que uns cinco minutos ou menos. Vamos? Assim você aprende o caminho da faculdade. Não que eu não queria te acompanhar mais vezes. Mas acho que é sempre bom saber se virar sozinha.

Beatriz e Camila chegaram ao portão da faculdade e ao adentrarem Bia tomou um choque. Ainda eram ruas. Olhou para e viu a cerca de ferro de dois metros e meio atrás e percebeu que aquilo seria a propriedade da faculdade. Andaram cerca de 2 minutos e um ônibus passou.

–Ônibus passa dentro da faculdade?

– Sim! Você nunca veio na Federal?

–Não.

–Bem, o campus daqui é enorme. Tá vendo aquele prédio? É o de economia.

Camila apontava para um prédio de três andares há duzentos metros de lá.

O campus era cercado por árvores e Beatriz perdeu as contas de quantas praças ela já havia passado em frente.

–Chegamos. Esse é o prédio do curso de História.

O prédio em questão tinha arquitetura arredondada e tinha três andares.

Ao adentrarem ao local e fazia um espaço de mais ou menos três metros quadrados que serviam de hall e mais a frente um corredor de largura de três a quatro metros. As salas só começavam dez metros de distancia da porta.

Chegaram à sala que a reunião do coletivo ia acontecer. Estava cheia e assim que entrou, Beatriz foi pega de surpresa. Alguns homens e mulheres estavam abraçados aos seus respectivos parceiros do mesmo sexo. Pareciam nenhum pouco constrangidos. Havia bandeiras e cartazes de causas GLBTT.

As reuniões começavam com as falas dos líderes de movimentos e pessoas de cargos de expressão dentro do movimento. Camila foi uma que falou como organizadora do Coletivo. Depois houve uma sessão de relatos e depoimentos de pessoas que sofreram preconceito ou superaram. Alguns eram realmente emocionantes e alguns realmente tristes.

Ao final da reunião, Camila conversava com algumas, mas ao avistar Beatriz sozinha saindo das fileiras de cadeiras, foi ao seu encontro. Porém, no meio do caminho, Bia reconheceu uma das garotas, era Viviane. Ela segurou o braço de Camila, falou algumas coisas ao que prontamente foi respondido. Camila desvencilhou de Viviane e continuou a andar em direção a Beatriz.

–Vamos lá fora? Tem um carinho que vende lanche aqui perto. Vamos comer? A reunião foi longa.

Ao chegarem no carrinho de lanches, Camila pediu dois cachorros quentes, enquanto Bia escolhia o local para se sentar.

– E ai? O que achou?

–Ah! Foi ótimo. Eu não sabia uma série de coisas.

–Que bom. Fiquei preocupada que não se sentisse a vontade. É realmente importante para mim.

–Eu imagino. Afinal de contas deve ser gratificante para vocês verem que estão ajudando as pessoas desse jeito.

–Ah! É sim. Mas não é bem por isso.

–Não? Eu não sabia que a Viviane também participava do Coletivo.

–É...mais ou menos. Os interesses dela no Coletivo são outros. A presença dela te incomoda?

–A questão é minha amiga gosta dela. E tá um pouco na cara a relação sua com ela.

–Eu não vou mentir pra você, Bia. Eu saí algumas vezes com a Viviane sim. Aliás, semana passada a gente saiu novamente. Mas não é nela que eu estou interessada. Decidi que deveria cortar qualquer vínculo para poder investir nesse interesse.

Beatriz sentiu o estomago pesar. Tudo o que ela não queria é que Camila se abrisse sobre interesses amorosos com ela, que a tratasse como amiga. Pelo menos não agora.

–Que bom. Eu acho que você tem que investir mesmo.

O cachorro quente tinha chego. Beatriz e Camila agradeceram e quando Bia ia morder o pão, Camila falou:

–Eu estou investindo. Eu a chamei pra comer um hot-dog.

Viviane

Viviane andava de um lado para o outro, revivendo a cena na sua cabeça várias e várias vezes. Há dois dias atrás, Viviane foi atrás de Camila na reunião do Coletivo e quando a encontrou ela deu a desculpa que estaria ocupada e que precisaria fazer algumas coisas. Foi ai que Viviane percebeu que a amiga de Fernanda estava na sala da reunião. O que inquietava Viviane era o fato de Camila ter saído com a garota com um sorriso acolhedor. Nos dias seguintes, Camila tentou evita-la ao máximo, respondendo somente a mensagens.

Agora Viviane estava na porta do prédio do curso de História. Camila ia chegando perto.

–Ei! Tudo bem?

–Tudo, Viviane.

–O que está acontecendo? Você não me responde esses dias.

–Eu estou com os dias muito atribulados.

–Eu vi que você saiu com a amiguinha da Fernanda ...

–Beatriz

–...então. Vocês saíram juntas da sala e...

–É, eu estou saindo com ela.

Viviane sentiu uma pontada no coração.

–Ah! Legal. Mas será que esse final de semana você pode passar em ca....

–Não! Viviane...olha...eu estou saindo com a Beatriz e estou afim de namorar ela.

–Achei que fosse desapegada de relações. Você falou.

–Não! Eu não falei isso. Nunca falei que não era adepta da monogamia. Eu disse que entendi e respeitava . Viviane, eu não vou te julgar ou te segregar porque você gosta de mais de um relacionamento. Mas isso não quer dizer que eu não queira um namoro. Eu quero! E aquela garota é a pessoa que eu mais quero namorar.

–Eu não acredito nisso! O que você quer que eu faça agora?

–Você não me disse? “Só sofre um coração que é preso. E o seu coração é livre” Então, Viviane, voe. Seja livre!

Camila entrou no prédio deixando Viviane pregada no chão, olhando para a entrada já vazia e com uma dor no coração.


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