School of Life escrita por Lola Brachovinsk


Capítulo 7
Capítulo 7


Notas iniciais do capítulo

Demorou porque estava sem Note. E quando o consegui novamente, o World não funciona. Tudo conspirando ao meu favor (ironia). Espero que daqui para frente as coisas melhorem



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Capítulo 7

Viviane

Viviane estava indo para a reunião do DCE da universidade. Não gostava muito dessas reuniões, mas todos seus amigos estavam indo porque teriam uma pauta importante para o coletivo GLBT da universidade.

Ao chegar à sala indicada, entrou e logo a viu. A garota tinha cabelos médios castanhos e apontava para diversos lugares da sala, orientando onde por cartazes, a caixa de som, o microfone e algumas cadeiras. A garota tinha um sorriso fácil, sincero e largo. Usava um shorts, tênis casual e uma camiseta curta.

Viviane não podia deixar de encara-la, mas fez isso com tal intensidade que a garota acabou encontrando seus olhares. Viviane sorriu e teve um sorriso largo e fácil de volta.

Ao começar a palestra, a garota começou falando. Viviane descobriu que seu nome era Camila, tinha apenas dezoito anos, apesar de já estar no segundo ano do curso de história. Seu sotaque era nitidamente do interior, o que agradava demais Viviane.

Conforme a reunião ia ocorrendo, outras pessoas iam falando, mas Vivi insistia em trocar olhares com Camila. Quando a reunião acabou, Viviane correu para encontrar-se com ela.

– Ei! Ei! Oi! Espere....

Camila virou um tanto quanto assustada, mas quando viu quem era que estava vindo atrás pareceu mais convidativa.

– Opa! Olá.

– Oi...Camila, não é? Tudo bom?

– Tudo...precisa de alguma coisa?

Viviane olhou firmemente para ela, olhou em volta para não haveria ninguém que poderia atrapalhar. As pessoas que estavam a acompanhando perceberam os movimentos de Viviane e se afastaram um pouco.

– Sim...preciso. A gente pode ir lá fora comer um pastel? Assim dá pra falar melhor.

Camila claramente tinha entendido as intenções de Viviane e ficou receosa.

– Olha...eu ainda tenho algumas coisas para fazer...então...acho que não dá.

– Ok. É que você foi muito bem lá. Eu fiquei curiosa para saber mais sobre o Coletivo...

– Tudo bem! Claro! Você pode vir às reuniões sempre.

– Eu vou. Pode ter certeza.

Todas as semanas que passaram, Viviane ia às reuniões, participava de algumas atividades do Coletivo, afinal de contas, conhecia diversas pessoas. Mas uma tinha especial interesse. Camila era alguém atuante dentro do movimento.

Viviane tentou várias vezes falar com ela com certa privacidade, porém sem muito sucesso. Se não havia alguém com maior urgência em falar com ela, era a própria Camila que evitava dar mais tempo de conversa com o argumento que tinha algo importante a resolver. Mas daquela vez Viviane estava decidida a dar um passo a mais.

– Ei Camila. Você se lembra de que eu te convidei para um pastel a primeira vez que falei com você? Que tal irmos hoje?

– Tem algumas para fazer ainda, então acho que não vai rolar hoje.

– Eu te ajudo, ai poderemos ir.

– Não precisa.

– Eu quero. Olha...acho que você já sacou minha intenção. Sei lá, deixa eu te mostrar como sou uma pessoa legal. Deixa eu te conhecer melhor. Essas coisas de se aproximar sem mostrar intenções só dá certo em filmes. Pelo que fiquei sabendo, você tem uma história legal. Deixa-me ouvir isso de você.

– Você é sempre direta assim?

– Só quando me vejo sem saída. Acho que não me perdoaria se não tentasse uma cartada para poder ter uma chancezinha.

Camila sorriu e acenou com a cabeça.

– Ok. Seu jeito me convenceu. Você conseguiu o que queria.

No furgão de pastel, Camila contou que havia passado no vestibular da universidade Federal aos dezesseis anos e que seus pais conseguiram autorização para que ela pudesse pular o terceiro ano. Morava num apartamento mantido pela universidade. Contou sobre seus planos para o futuro, mas que já sabia que dificilmente os realizaria.

– Eu também vim de uma cidade do interior. Quando cheguei aqui percebi imediatamente que eu nasci para viver em lugares assim, onde as pessoas estão sempre circulando, onde não conseguem parar, sabe? Em que pessoas que de todo o canto do mundo se encontra. Você pode conhecer culturas tão distintas na esquina. Sabe, eu acho que as pessoas não deveriam pertencer a nenhum lugar e a ninguém. É egoísmo demais você querer prender as pessoas em coisas muito limitadas sendo que o mundo é tão amplo. Você parece ser que nem eu.

– Pareço?

– Livre. Do mundo. Sem barreiras...

– Gosto dessa teoria, mas...

– Porque não a pratica comigo?

Camila apoiou o cotovelo em cima da mesa e apoiou a cabeça na mão. Com uma expressão calma e com um leve sorriso no rosto disse:

– Me pergunto quantos corações você já magoou.

– Só se magoa o coração que é preso. O seu, assim como o meu, é livre.

Viviane se curvou sobre a mesa e beijou Camila.

– Vem! Vamos para minha casa.

O sexo com Camila era ótimo. Ela não tinha restrições com posições, locais ou a maneira com que se fazia. Também parecia bem experiente, sabia onde tocar, sabia provocar Viviane. Parecia que sabia a hora certa de ser dominante e a hora de ser dominada.

Ao contrário de Fernanda, que, muito provavelmente por se sentir encurralada pelo jeito de Viviane, era inicialmente muito insegura, Camila parecia saber seu real poder de prazer, não se intimidando em diversas situações.

Pelo arrastar das semanas que se passaram a relação com Camila era o melhor que Viviane poderia esperar. Ela não a tratou de forma diferente, porém não exigiu quaisquer coisas de Viviane. O mesmo não acontecia com Fernanda, que cada vez mais ficava brava pelo fato de Viviane sumir. Era ríspida, resistente, mas logo estava na cama com ela.

Agora ela estava numa festa. Ao seu lado estava Camila e mais uma garota. E na sua frente, com uma cara de pouquíssimos amigos estava Fernanda.

Viviane apenas sorria.

Beatriz

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Beatriz estava aturdida. Em poucos segundos a atmosfera do ambiente foi de agradável a algo bem pesado. Conhecia Fernanda bem o bastante para dizer, que apesar de seu rosto não demostrar nenhuma reação negativa, seus olhos estavam em chamas de ódio. Ela simplesmente não deixava de olhar fixamente para a moça que tinha acabado de chegar.

Essa, por sua vez, virou-se para Camila e para Beatriz com um sorriso.

– Tudo bom, Camilinha?

– Tudo ótimo! Ah...bem, Beatriz, essa é a Viviane. Ela participa do Coletivo lá da faculdade.

Beatriz sentiu-se um tanto receosa de cumprimentar a moça, dando uma olhava rápida para Fernanda, que continuava a fitar Viviane.

Sem pestanejar, Viviane avançou para Beatriz e a cumprimentou com um beijo no rosto. Beatriz olhou novamente para Fernanda, mas ela continuava aparentemente inatingível, mas com certeza, por dentro Fernanda estava gritando.

Camila pareceu perceber o clima, pois pegou Beatriz pela mão e a puxou.

– Ei! Venha, vou te apresentar há algumas pessoas. Gente vocês dão licença?

Fernanda deu um passo para frente em direção as duas, mas pareceu hesitar.

– Bia, quando te mandar mensagem responde. A gente vai embora assim que os ônibus voltarem a andar.

– Tudo bem. Vou ficar de olho no celular.

Enquanto Camila a levava para dentro da festa, Bia deu uma ultima olhada para trás a tempo de ver Fernanda se virando totalmente raivosa para Viviane. No segundo seguinte já não as viu mais.

Camila apresentou Beatriz para pessoas da sua faculdade de história e algumas pessoas que participavam do coletivo ao qual, Beatriz logo percebeu, Camila atuava de forma ostensiva. Eram pessoas muito receptivas, que sabiam fazer as perguntas certas, na hora certa. Muito diferente dos garotos do ensino médio, que logo nos primeiros cinco minutos que conheciam alguém, faziam uma piada.

Por fim, Camila a levou para o canto mais calmo da festa. Também entregou um copo de bebida a Beatriz que tomou e se surpreendeu com o doce numa bebida que supostamente deveria ser alcoólica.

– Tem álcool nisso?

E deu mais um bom gole no drink. Camila puxou o copo da mão de Beatriz com um sorriso no rosto.

– Tem! E é por isso que você deve ter cuidado com essas bebidas. Por não sentir o gosto de álcool a gente acha que tem pouquíssimo. Vai por mim, minha amiga tomou tanto disso uma vez que no outro dia ela acordou vestida, mas não sabia onde tinha ido parar sua calcinha.

Beatriz riu com vontade. Apesar de a história ser um tanto quanto trágica, não deixava de ser cômica.

– O que achou do pessoal da facul?

– São gente fina. Pra quem tá acostumada com garotos que fazem piadinhas pornográficas a cada 10 minutos e com garotas que se você não tiver namorado você não é alguém interessante, eu os adorei.

– Falando em namorados. O que está fazendo numa festa em que garotas saem daqui com namoradas? Se bem me lembro, na ultima festa você saiu com um garoto.

Por força do hábito, Beatriz pensou em inventar uma história, uma desculpa para o fato de estar lá. Estaria apenas acompanhando amigos. Que tinha um namorado. Mas logo se lembrou que estava lutando contra essa ideia.

– É...minha amiga tentou me arrumar um garoto para ficar naquela festa. Eu gosto de homens, assim como gosto de mulheres. Igualmente. Acontece que eu estava tentando sufocar esse meu lado e eu não quero mais isso.

Camila ouvia com especial atenção. Seu semblante era sereno, sério e solidário. Os olhos de Beatriz encontram os delas, fazendo com que surgisse uma forte vontade de beija-la. Em vez disso, Bia preferiu beber mais um pouco do drink.

– Você não precisa mais esconder isso. Não aqui. Não para mim.

Bia sentiu a perna tremer ligeiramente. Camila olhava firme para ela, decidida e de uma forma muito profunda. Por que não tentar beija-la? Ou até mesmo deixar claro que a achava atraente. Não estava falando com um garoto de sua idade. Era uma mulher mais velha e lésbica, seria melhor ser mais direta e deixar que Camila decidisse. Beatriz procurava folego para falar quando Camila retomou:

– Aqui a gente vai te apoiar e esperar que você esteja pronta para se abrir para o mundo lá fora. Para seus pais. Vamos ficar do seu lado.

Beatriz não conseguiu responder nada, somente olhava Camila, sem reação. Então era isso? Camila só estava sendo solidária com a situação de Beatriz?

Beatriz sentiu seu estomago afundar.

Fernanda

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Fernanda tentava manter o rosto sem reações, mas sua perna tremia e suas mãos soavam porque não parava de pressionar uma contra a outra, esfregando. Viviane falava com ela de muito perto, com um sorriso malicioso. Volta e meia ela não a escutava pois estava perdidas em seus pensamentos:

“Cara, estou pagando mico, certeza! Ela não para de sorrir, eu devo tá fazendo cara de besta”.

“ Caramba! Ela é tão linda. Ela teve ter muito experiência nisso. E se ela notar que eu não sei nada?”.

– ...você não acha?

– Hã...? Ah! Claro! Acho!

Viviane riu com vontade. Claramente percebeu que Fernanda não a escutava. Fernanda ficou vermelha de tanta vergonha. Viviane a olhava fixamente nos olhos e aproximava lentamente seu rosto para o rosto de Fernanda. Os lábios de Fernanda tremeram levemente. Viviane a beijou.

Fernanda estava caminhando pela festa a procura de Bia. Lá estava.

Beatriz conversava com Camila e Fernanda pode ver suas pernas tremendo. Bia também esfregava as mãos de forma a demonstrar nervosismo. Fernanda sentiu uma ponta de nostalgia naqueles movimentos. Alguns meses atrás ela estava fazendo as mesmas coisas. Depois sentiu raiva de Camila. Essa garota só podia ser igual à Viviane, afinal de contas andava com ela, era amante dela, iria fazer com Beatriz o mesmo que Viviane fez com Fernanda. Estava decidida, iria lá e tiraria sua amiga de lá. Quando deu o primeiro passo sentiu segurarem no seu punho:

– Ei! Aonde você vai?

Fernanda olhou para trás e era Viviane que a segurava.

– Sua amante vai arrastar a Bia para o fundo do poço!

– Tá com ciúmes da sua coleguinha?

– Estou evitando que ela não passe o que você faz comigo. Eu me viro com isso, mas ela pode se magoar. Ela não é...

– Você se vira? Você morre de raiva só de saber que não topo namorar com você! Por que você não assume o que sente por mim? Você já percebeu que nunca disse que me ama? Nunca me pediu em namoro?

Fernanda ficou sem ação. Vendo Viviane falar daquele modo, Fernanda percebeu que jamais tinha falado sobre seus sentimentos.

– É mais fácil, não é? É mais fácil me culpar por ser tão malvada com você. É reconfortante colocar na sua cabeça “Viviane: A Ruim”.

– Não! Não é bem as...

– Não sei por que tanta relutância. Assim que eu quiser, vai acabar na minha mesmo.

Fernanda ficou parada, não conseguia se mexer. As palavras de Viviane pareciam uma bofetada que ela não esperava. Viu-a sumir no meio do tumulto. Só depois percebeu o desaforo da última frase, no segundo seguinte já a odiava novamente.

Carlos

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“Ele é lindo! Parece ponderado. Será que se um dia eu contar minha situação ele irá compreender?”

Samuel era um homem de dezenove anos, mais alto que Carlos, negro e com um sorriso largo. Cursava design de interiores em uma faculdade particular. Morava sozinho, fazia estágio em uma empresa famosa.

“Ele beija bem. Beija muito bem!”.

– Carlos...tem uma coisa vibrando em você.

– A gente pode ir para um lugar um pouco mais calmo. O que acha?

– Acho que é seu celular.

Carlos, que estava abraçado a Samuel, rindo sem graça, tirou de seu bolso o celular. Havia várias mensagens de Fernanda:
“ Já deu o horário. Vou procurar a Bia e vamos embora. ”
“Vê se não some!”
“Me encontra na porta. “
Carlos digitou uma mensagem: “Não tem como sair mais tarde, não? Tô ocupado aqui”

Em menos de um minuto chegou a resposta: “Não! Se não aparecer, vamos embora sem você”

Carlos certificou que havia pego o contato de Samuel e o beijou.

Ele encontrou com as meninas na porta. Bia parecia animada, mas Fernanda parecia séria.

Os ônibus tinham acabado de voltar a circular, havia apenas dois tipos de pessoas no ônibus, as que estavam indo trabalhar e as que estavam voltando de festas. Não havia muitas pessoas, mas claramente dava pra distinguir quem estava indo trabalhar e quem estava voltando da balada. Quem ia trabalhar usava roupas impecavelmente arrumadas, não havia nada torto. Os cabelos devidamente no lugar, cheiravam a banho tomado e olhava com certa raiva para o outro grupo. As pessoas que voltavam da festa estavam visivelmente alteradas de bebidas, seus olhos estavam vermelhos. Alguns tinham derramado bebidas em suas roupas. O rapaz ao lado de Carlos cheirava a vomito. Fernanda e Bia estavam do outro. Bia dormia no ombro de Fernanda e essa olhava para a janela séria.

Chegaram à casa de Fernanda e se direcionaram ao quarto. Carlos pegou o colchão extra e o colocou no chão. Fernanda foi ao banheiro enquanto Bia estava sentada na cama de Fernanda.

– E ai, Bia? O que achou?

– Foi ótimo! Só de saber que eu poderia ser quem eu era sem me preocupar foi ótimo. Eu nunca tinha me sentido assim.

Carlos sentiu seu estomago desabar. Lembrou que jamais poderia quem ele era fora daquele circulo de pessoas.

– Talvez seja o único lugar que você poderá ser quem você é.

– Pode ser, mas não quero, não. A Camila tem um Coletivo e combinei com ela de ir ver como é.

– Camila é? Já se arranjou?

Bia tacou o travesseiro na cara de Carlos, rindo.

– Não, besta. Infelizmente não. Ela quer me ajudar, só.

– De boas intenções o inferno tá cheio.

Fernanda saia do banheiro e se direcionava a cama.

– Poxa, Nanda. Para de ser pessimista. Se essa Camila for legal?

– Ela é “amiguinha” da Viviane.

– Então, né...sai dessa, Bia.

– Gente, mas a Viviane não é namorada da Fê?

Carlos ficou quieto. Fernanda deitou na cama do lado de Bia:

– Ela é tudo, menos isso. Você vai tomar um susto quando descobrir como as pessoas conseguem fazer o que quiser com você. Agora vamos dormir.


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