School of Life escrita por Lola Brachovinsk


Capítulo 5
Capitulo 5




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/603742/chapter/5

Fernanda

Fernanda abriu os olhos e viu o tento do seu quarto. Dois segundos se passaram até que ela entendesse tudo. Ela estava com medo de virar-se e dar de cara com a realidade. Ela queria que as coisas fossem iguais aos filmes. Ela tinha bebido demais, feito algo que não faria normalmente e não se lembraria de nada no dia seguinte. Mas ela lembrava, lembrava-se de tudo.

Sabia de tudo que tinha acontecido entre ela e o Carlos. Lembrava-se de como no começo para ela aquilo era excitante, afinal de contas Carlos era gay, mas estava extremamente disposto naquele momento. Aquilo significava que ela era atraente o bastante para deixar um homem gay louco. Além de tudo, era sua primeira vez com um homem e isso sempre rondava seu imaginário. Carlos era perfeito para isso: era bonito, sensível e seu amigo. Não iria persegui-la depois.

Mas conforme o efeito do álcool foi passando e a coisa se intensificando, Fernanda percebeu que aquilo tudo era um grande erro. Sentimentos poderiam ser quebrados e que Carlos, seu amigo, não poderia ser usado para amenizar a dor que outra pessoa lhe causava.

Fernanda teria que acorda-lo uma hora ou outra. Olhou para o lado e viu Carlos dormindo tranquilamente. Levantou da cama, vestiu-se, lavou o rosto de escovou os dentes, voltou para o quarto e ele continuava dormindo. Fernanda se debruçou sobre ele e o cutucou:

– Ei! Acorda, Carlos. Vamos comer alguma coisa antes que fique tarde.

Carlos se mexeu na cama, abriu os olhos e por alguns segundos parecia não se lembrar de nada, mas depois ele pulou em estado catatônico. Olhava de forma apavorada para Fernanda. Abriu a boca fazendo menção a falar, mas Fernanda foi mais rápida:

– Para! Minha mãe está aqui ainda. Sim, nós fizemos e vamos falar sobre isso quando ela sair. Então vai se trocar e para de fazer essa cara de chocada. Não dá guela, Carlos! Minha mãe não pode saber.

Fernanda saiu do quarto tentando ficar calma com a situação, mas o medo de Carlos estragar tudo era maior. A aposta de Fernanda é que sua mãe logo sairia para trabalhar e que não sentaria a mesa. Para seu grande azar sua mãe estava na cozinha arrumando algo para comer:

– Cadê o Carlos?

– Deve tá no banheiro. Ele só acordou depois que me troquei.

– Voltaram que horas ontem?

– Umas 5 da manhã. Só depois que os ônibus voltaram a rodar.

– Não ficaram na rua, não é?

– Não.

Carlos entrou na cozinha e Fernanda percebeu que quando ele avistou sua mãe sua feição era de total pavor.

“Por favor! Não se entrega Carlos! Não dá pinta”.

Para a sorte de Fernanda, e de Carlos também, a mãe de Fernanda apenas deu um beijo no rosto de Carlos e avisou que estaria saindo para trabalhar.

Carlos sentou na mesa, pegou o pão e olhou para Fernanda:

– Fernanda, o que a gente fez?

– Transou...

– E você fala assim?!

– Você quer que fale o que? Que a gente trepou? Deu uma...fez aquilo

– Isso não é brincadeira!

– Enquanto você dormia, eu fiquei remoendo isso durante muito, mas muito tempo. E sabe que conclusão eu cheguei?

– Qual?

– Que ficar lamentando não vai mudar a porcaria do fato!

– Eu nunca imaginaria que isso aconteceria.

– Eu também não. Não sabia que levantava por mulheres...

Carlos pareceu ofendido:

– Eu estava bêbado...

– Mas mandou muito bem...

Fernanda e Carlos se olharam e começaram a rir.

Fernanda era grata que isso tinha acontecido com um cara, que apesar de tudo, iria manter isso em segredo e depois iria rir disso. Afinal de contas, Carlos era seu melhor amigo.

– Ainda bem que você não tá no período fértil.

– Como assim?

– Ué...não tem o período que as mulheres ficam mais propensas a engravidar? Quando que é o seu?

– Eu não sei...

_________________________________________________

Beatriz

A casa estava cheia. Não havia aparelhos de som, apenas o barulho de dois violões, o batuque de uma caixa de madeira improvisando uma bateria e três vozes cantando de forma nada sincronizada. No começo da noite, os cantores estavam em perfeita harmonia, mas depois de algumas cervejas, caipirinhas e drinks a base de vodka mal conseguiam falar.

Beatriz encostou-se à parede de um canto. Daniele estava com uma turma de garotas, todas elas tinham namorados, isso fazia Bia um peixe fora do aquária, mas para ser sincera, Beatriz estava agradecida por isso.

– Se você pensar que ali está um futuro arquiteto, um futuro advogado e uma futura enfermeira. Você pensa: O futuro está ferrado.

Bia olhou para o lado, quem tinha falado isso era uma garota de cabelos médios castanhos, era mais ou menos dá mesma altura de Beatriz. Usava uma maquiagem básica que consistia em lápis de olho, blush e batom.

– Na verdade, estou feliz que eles vão ser outra coisa que não músicos.

A garota riu com sinceridade. Tinha um rosto atraente, porém, comum.

– É...eles são mais eficientes em outras áreas que não na música. São pessoas legais...

– Você os conhece?

– Eles são do DCE da universidade. Também faço parte.

– Qual faculdade?

– A Federal

– Ah. E você vai ser a futura o que?

– Eu gostaria de te dizer que vou ser uma futura historiadora. Que vou viajar pelo mundo, conhecer museus. Mas eu vou acabar sendo professora de história de um bando de garotos revoltados achando que não precisam da minha matéria porque já aprenderam quando que os dinossauros existiram pela aula de ciências.

Beatriz riu espontaneamente. A garota ao seu lado trazia um ar mais leve a festa.

– Desculpa, qual o seu nome?

– Beatriz

– Então Beatriz, você será uma futura o que?

– Eu faço técnico em engenharia mecânica.

– No colégio Técnico? Uau! Isso é incrível.

– Não tanto quanto entrar na federal.

– Eu entrei muito nova, aquilo tudo me deslumbrou. Não é lá essas coisas.

– Você fala como se estivesse saindo da faculdade. Não parece ter idade.

A garota olhava com certo interesse para Bia. Isso a deixava extremamente inquieta e agitada. A euforia era ótima.

– Eu entrei com dezesseis anos na faculdade. Passei no vestibular e a escola me deu o certificado.

– Sério? Isso é impressionante. E você não me...

– BIAAA!

Daniele vinha em sua direção entusiasmada e Beatriz tinha a sensação que não iria gostar...

– Você tem que vir. Tem um garoto que está afim de você...

Beatriz olhou sem jeito para a garota, tentando achar alguma desculpa para ela, mas ela apenas sorriu e falou:

– Bem, tenho que ir ali. Boa sorte.

“ Ah não! Não vai!”

– Vamos, Bia!

– Dani eu não tô afim desse garoto!

– Você nem o viu! Vem!

“E nem queria ver! Eu queria aquela garota!”

___________________________________________

Fernanda

– Como assim você não sabe, Fernanda?!

– Não sabendo, uai! Por que eu deveria saber?

– Porque toda mulher tem que saber quando ela pode engravidar!

– Você deveria ter usado camisinha!

– Eu não pretendia fazer sexo, muito menos fazer sexo com você! Como você não sabe seu ciclo fértil?

– Já parou para pensar que dedo não engravida?

Carlos levantou, andou de um lado para o outro. Olhou para Fernanda com um olhar receoso.

– Sabe, pensando bem...sua mãe gosta de mim...e...e minha mãe iria querer me matar primeiro, mas ela nunca desconfiaria de mim. Não seria má ideia se você engravidasse...

Fernanda começou a tacar todas as almofadas em cima de Carlos

– IDOTA! RETARDADO! VÁ SE FERRAR! SEU INÚTIL! Olha para a minha cara de quem quer parar minha vida toda pra segurar o filho de um homem que nem se quer gosta da fruta.

– Aconteceu ontem. Vai que eu consiga com você...

– ô idiota! Você estava bêbado. E você não está pensando em mim. Eu não me sinto atraída por você. Eu não quero ter um filho agora. Se eu tiver, eu vou ter que parar minha vida.

Carlos ficou cabisbaixo o resto do dia. Fernanda não queria ser tão dura com ele, mas ela não podia ter feito menos. Carlos teria que aprender uma hora ou outra se aceitar.

Fernanda e Carlos estavam indo a escola. Apesar de ser férias, haveria um sarau.

A escola estava relativamente cheia, considerando que o período era de viagens.

Fernanda e Carlos compraram comida na cantina e subiram para achar uma sala vazia. No terceiro havia uma sala sem ninguém, porém havia uma mochila que Fernanda reconheceu imediatamente como sendo da Beatriz.

– A Bia está aqui. Depois vamos procurar ela. A mochila dela está aqui. Deve ter esquecido.

– Você não acha que você pode ser bi, Fernanda? Sabe, mesmo bêbados, nós fizemos e foi bom. Eu gostei! A gente se dá bem.

– Carlos, eu sinto muito. Velho, para de se esconder! É melhor você se assumir! Você é gay, eu sou lésbica e não iria dá cer...

Carlos olhava para a porta da sala, pálido. Fernanda olhou para a direção. Beatriz estava na porta. Ela estava visivelmente atordoada

– Gente, desculpa. Eu vim pegar minha mochila que eu deixei aqui. Eu não achei que teria gente...

– Bia, você ouviu, não foi?

– Fê, desculpa...eu cheguei na hora errada...

Fernanda pulou da cadeira e foi em direção a Beatriz. Carlos fez menção de segui-las.

– Fica ai, Carlos! Desce, vai para casa, sei lá. Eu resolvo. Vem comigo, Bia, por favor.

– Fernanda, olha, relaxa, viu? Eu não vou falar.

– Eu preciso falar com você, Bia. Por favor, só precisamos ir para onde não nos vejam.

Fernanda chegou ao fim do corredor do terceiro andar. Além do último andar ser o menos frequentado, mesmo em dias normais, o fim do corredor daria uma visão privilegiada de quem estaria chegando.

– Bia, olha, o que você ouviu...é segredo.

– Eu não vou falar nada pra ninguém.

– Desculpa mentir pra você e para a Dani assim. Mas o Carlos está grilado com o fato das pessoas desconfiarem dele. Por mim, eu quero que essa escola se dane! Eu não faço questão de esconder, mas se eu contar sobre mim vão saber dele. Eu sinto muito, Bia. Você é uma pessoa ótima, não queria que ficasse com raiva de mim.

– Eu não quero contar e não quero perder a amizade de vocês dois.

Fernanda ficou bem mais leve. Confiava em Bia. Nesses meses em que passaram juntas se mostrou sincera e fiel.

– Eu ficarei quieta, independente de qualquer coisa. Mas eu preciso de te pedir uma coisa. Você e o Carlos vão em festas GLS?

– O Carlos mais que eu, mas semana que vem, por exemplo, tenho uma...

– Me leva?

– Como é que é?!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "School of Life" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.