School of Life escrita por Lola Brachovinsk


Capítulo 3
Capítulo 3




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/603742/chapter/3

Capitulo 3.

Viviane

A garota em sua cama respirava de forma leve. Com o um pouco de cabelo sobre o rosto, Fernanda parecia uma pintura dormindo e isso incentivou Viviane a virar sua mesa de desenhar de forma a ficar de frente para sua cama.

Com o lençol em cima de si, mostrando uma das coxas e um dos seios, Fernanda era realmente uma pintura pronta. Tinha um ar mais adulto do que seus apenas dezesseis anos e o corpo era realmente de uma mulher adulta. Viviane adorava aquele corpo. As pernas bem torneadas sem nem ao menos frequentar academias. A disposição para ficar acordada até o amanhecer fosse fazendo sexo, fosse assistindo um filme, fosse numa festinha qualquer.

Viviane, com vinte anos, estava longe de estar velha ou fadigada, mas era inegável que a rotina de noites e dias estressantes por causa da faculdade e entrega de trabalhos deixava um pouco para trás em relação às adolescentes. Isso tudo acumulado com sua vida que ultimamente andava bem sedentária.

Sedentária ao que tocava em exercícios musculares. Viviane não era do tipo que gostava de ficar parada. Acordava depois das duas da tarde, tomava seu café olhando para o nada, processando os fatos da noite passada. Ia para o quarto dar andamento aos projetos da faculdade e do trabalho. Saia de casa em torno das cinco da tarde. Passava na casa de amigos até chegar à faculdade. Saia às onze da noite e ia aproveitar o restante da noite.

Sim, Viviane era uma típica boemia, não negava. Seu pai era um comerciante do interior da cidade. Mandava o dinheiro do aluguel da casa, das compras do mês e mais o que Viviane pedisse. Tinha se tornado o orgulho do pai quando passou em uma faculdade de prestígio na cidade grande no tão badalado curso de arquitetura. E para completar, no primeiro ano Viviane já conseguia seu próprio dinheiro, que era destinado às estripulias.

Também fazia bastante sucesso com as mulheres e garotas. Com os homens também, mas estes não lhe interessavam. Viviane era uma mulher atraente, com ar misterioso, espontânea e mostrava traços de disposição para qualquer coisa que saciasse suas loucuras cotidianas. Seja fazer viagens repentinas no meio do semestre, fazer festas sem motivo aparente, fazer sexo em lugares inusitados ou experimentar todos os tipos de drogas.

Apesar de o curso ser de arquitetura, o hobby de Viviane era desenhar paisagens, animais e pessoas. Principalmente as mulheres com quem se relacionava. Era isso que estava fazendo naquele momento com Fernanda.

Tinha conhecido aquela menina numa festa dada por um amigo no meio do ano passado. Ela não conhecia ninguém, tinha ido com um amigo da escola. Era uma garota que ainda ia fazer dezesseis anos. Olhava firmemente para as pessoas, a postura era firme e quando falava não vacilava. Mas Viviane sabia que aquela era a primeira vez da garota em um lugar como aquele, cheio de homossexuais se beijando e trocando carícias sem medo da sociedade. Sabia que por dentro, o coração daquela garota batia acelerado e ela estava apreensiva. Apesar da postura firme, o sorriso daquela garota bonita era fácil e extremamente chamativo. Sorria discretamente sempre, mas de quando em quando, abria um largo sorriso sincero, com dentes perfeitos. Sua gargalhada era espontânea, mas não muito alta. Rapidamente formou-se um círculo de pessoas em volta da garota, a maioria eram mulheres. Enquanto um cara de cabelos cacheados tomava a atenção dela, provavelmente perguntando se o cabelo escuro era pintado para dar mais destaque aos olhos verdes, Viviane percebeu que duas garotas da roda estavam conversando entre si, muito provavelmente escolhendo como chegar à garota. Sabia disso, conhecia todos dali.

Viviane se aproximou casualmente:

– Samuca! Sabia que viria! Oi Patrícia. Tudo bom, Grazi?

– Ei, Vivi! Nem te vi. Estava onde?

– Socializando pela festa.

Viviane olhou diretamente para a garota. A menina não vacilou e olhou firme para a Viviane de volta.

Samuel agarrou no ombro da garota e disse:

– Essa é a Fernanda! Ela veio com o Carlos... e eu não faço ideia onde ele foi parar...

– Olá, Fernanda. Tudo bom?

Nem Patrícia, nem Graziele, Viviane já tinha decidido, aquela garota seria dela...

________________________________________________________

Carlos

Era noite de sexta-feira e Carlos estava na cafeteria e lanchonete de um bairro famoso da cidade. Estava acompanhado de seus amigos do condomínio que morava desde pequeno. Amanda, Suelen e Daniel, todos eles conheciam Carlos desde que tinham sete anos e nenhum sabia o segredo dele. As meninas falavam de como Carlos era bonito e se não fosse o sentimento fraterno que tinha por ele, seriam candidatas a namoradas, por isso ele ainda não tinha coragem de contar a elas, elas certamente se decepcionariam. Já Daniel se mostrava bem incomodado quando o assunto era homossexuais. Não ofendia, mas claramente ficava inquieto e tentava mudar o assunto. Os três estudavam em uma escola diferente de Carlos e admiravam ele por ter entrado na concorrida escola técnica.

Suelen virou-se para Daniel e disse:

– Você não desgruda da Carol, Dan.

– Eu estou ficando com ela...

– Desde quando?!

– Quarta-feira. Estávamos de aula vaga e fomos para o pátio atrás da lanchonete e o pessoal da sala cismou de fazer Verdade – Desafio. Numa dessas, desafiaram a Carol me beijar, aí eu aproveitei, né? Beijei pra dá o recado. No final da escola ela veio falar comigo e a gente começou a ficar.

Amanda aos risos falou:

– Gente, hoje em dia vocês vão brincar e sai namorando. Na minha época não era assim.

– Eu não estou namorando com ela. Estou dando uns beijos. E até parece que você é bem mais velha que a gente. Um ano só.

– É, mas em um ano parece que as coisas mudaram...

Carlos dava risadas forçadas. A Verdade é que aquele assunto lhe incomodava. Suelen namorava, Amanda tinha terminado recentemente o seu. Daniel era o único que dividia o status de solteiro com Carlos. Até agora...

Era questão de tempo para a conversa virar para o lado de Carlos. Era...

– O que tá acontecendo com aquela escola técnica que ninguém pega ninguém? Tá todo mundo concentrado em estudar? Ninguém pensa em sexo? Apalpadinha? Nem um beijinho? Também, quem dera! Vocês entram às 7 da manhã e só sai às 5 da tarde. Ainda tem trabalhos. E esse ano tem estágio, né? Eu iria estar morta!

Carlos pensou em cada palavra para dizer a Amanda. Dar todo o tipo de desculpa, mas se lembrou de que tinha uma saída melhor:

– Mas eu estou ficando com uma menina.

A cara de Amanda e Suelen era de total surpresa. Já Daniel tinha uma expressão no rosto de Carlos não saberia dizer o que ele estaria sentindo. Suelen abriu a boca, mas Amanda foi mais rápida:

– Porque não contou?

– Gente, é muito recente! Pode acabar amanhã. Vou falar e ai acaba...

– E daí? A gente é amigo, cara! Todos nós somos

– É só uma ficada. A gente tá namorando a pouco tempo...

– Namorando?

– Vocês querem ver ela?! Eu trago ela semana que vem...

Na hora em que Carlos viu o rosto sorridente de Suelen ele sabia que estava enrascado...

“Só não me mata, Fernanda...”.

________________________________________________________

Beatriz

Bia estava na calçada da casa de Daniele. Junto delas estava Cibele e Monique, ambas da escola. O irmão de Dani tocava violão enquanto cantava Legião Urbana de forma desafinada junto com seus amigos. Bia, apesar de olhar para a direção deles não prestava atenção. A imagem de mais cedo martelava a sua cabeça. Claramente poderia ser uma amiga de Fernanda, mas tinha alguma coisa de muito íntima no sorriso daquela mulher. Aliás, era, sim, uma mulher! Uma jovem mulher de dezoito á vinte e três anos. A curiosidade matava Beatriz.

– E ai. Já pensou como vai chegar no Carlos?

Beatriz ouviu a voz de Dani de longe. Virou-se para ver e deparou com a garota bem próxima a ela.

– O que você disse?

– Já pensou em como chegar no Carlos?

– Você tá louca?! O cara já falou que tá namorando. E olha só, tenho uma novidade para você: A namorada dele vai estar lá! Para com essas ideias malucas, Dani! Não vou ficar brigando por homem não. O Carlos é um carinha legal, eu não estou perdidamente apaixonada pelo cara!

A cara de Daniele não deixava dúvidas que ela estava extremamente contrariada com as palavras de Beatriz.

Bia voltou sua atenção para o grupo de amigos do irmão de Dani, que agora ria de uma música em ritmo de reggae que parecia familiar para Bia, mas que ela tinha certeza que não era de sua época. Foi quando, ao meio de risos, batucadas e vozes, ela conseguiu ouvir o trecho da música que dizia:


“Há sempre um do seu lado
Se diz gato malhado
Mas não é nada disso...

A namorada, tem namorada, êtaaa!
A namorada, tem namorada...”

“Aaah cara! Vocês só podem estar de brincadeira!Que música é essa?!”

_______________________________________________________

Viviane

Sábado, onze da manhã. Isso era cedo para os padrões de Viviane, mas a julgar que ela estava dentro do quarto com Fernanda desde sexta-feira à tarde, alternando entre momentos de sexo e horas de sono, o horário se justificava.

Da cozinha viu a garota sair do quarto e ir para o banheiro no corredor, ficar alguns minutos e sair de lá já trocada e alinhada. Era incrível como Fernanda, mesmo tendo acabado de acordar, conseguia manter uma ótima aparência. Seu corpo longilíneo era incrivelmente elegante. Viviane sabia que ela era assim sem esforço nenhum.

Fernanda entrou na cozinha sem dizer nada, pegou um copo d’água e começou a tomar:

– Come alguma coisa aqui, Fê. Na geladeira tem...

– Compro alguma coisa na estação.

– Tá com raiva de mim, é?

– Não seja tão presunçosa. O que você faz o deixa de fazer não me interessa nem é da minha conta. Estou com pressa, tenho mais o que fazer...

Viviane sabia que Fernanda não era mais aquela menina que apesar de mostrar segurança era alguém sem grandes experiências. Restava saber se Viviane tinha contribuído para essa nova personalidade.

– Sua mãe não brigou com você?

– Falei que fiquei jogando na casa de uma amiga até tarde e ela pediu pra dormir na casa dela.

– Sua mãe confia tanto em você assim?

– Porque não confiar? Tiro boas notas, não dou preocupações para ela. Toda vez que ela me pede algo que eu possa fazer eu faço, não minto...

– Não mente?

– ... com frequência...

Viviane levantou e foi até a geladeira rindo. De costas para Fernanda disse:

– Você é igualzinha a mim, Fê. A diferença entre eu e você é que eu sou bem mais descarada. Você ainda faz pose.

Ela sabia que Fernanda estava lançando um olhar frio para suas costas.

– Estou indo...

________________________________________________________

Fernanda

Fernanda chegou em casa sua mãe já tinha ido trabalhar. A vontade de ir para o cinema era zero. Não tinha dormido direito e sentia o corpo pesado. Olhou-se no espelho e sua feição entregava tudo.

Fernanda despiu-se e foi para o banho se perguntando por que estaria indo para o cinema mesmo não querendo ir. Era por Carlos? Não, apesar de ser seu amigo, ele não teria mostrado que merecesse tamanha consideração.

Fernanda encontrou Carlos próximo a sua casa, para não correrem o risco das pessoas verem que eles tinham se encontrado na rua e desconfiarem da relação dos dois.

– Parece quieta...

– Não dormi direito...

– O que aconteceu?

– Fui para a casa da Viviane.

Carlos olhou para a cara de Fernanda incrédulo. Ele sabia de toda sua história com a Viviane e dos sumiços dela.

– Essa garota tá viva? E o que você foi fazer na casa dela?

– O que você acha?

– Acho que deveria ter mais consideração consigo mesmo, Fernanda. Não deveria dar bola para essa garota.

– Eu não dei bola para ela. Se você for falar que ela me usa, pode ter certeza, faço o mesmo com ela.

– Só acho que alguém vai acabar machucada nisso tudo

Fernanda ficou quieta. A verdade era que seus sentimentos pela Viviane eram maiores do que ela queria que fosse.

Estavam chegando ao shopping marcado. Carlos pegou na mão de Fernanda e então sua postura mudou radicalmente. Ficou mais relaxada, mais alta, mais próximo de Fernanda. Parecia realmente que tinha encarnado o personagem de namorado.

Chegando ao piso do cinema, Fernanda avistou dois rostos conhecidos, Beatriz e Daniele.

Daniele parecia não estar tão satisfeita com a situação. Beatriz, no entanto, tinha o semblante extremamente calmo. Quando as duas avistaram o casal, Daniele deu um “olá” animado até, e para a surpresa de Fernanda, Beatriz abriu um sorriso sincero.

– Oi gente!

Carlos se adiantou para cumprimentar com beijos as duas. Fernanda também fez o mesmo. Daniele usava um perfume adocicado, enquanto Beatriz usava um bem mais cítrico.

Carlos voltou para trás e abraçou Fernanda dizendo:
– E ai gente, vamos comprar os ingressos?

Fernanda não conseguiu deixar de lado a sensação estranha de ter um homem a abraçando de lado. A última vez que tinha estado com um garoto, foi aos 14 anos. O garoto era magro, mais baixo que ela. Carlos era alto e mais forte, seu peitoral era largo. Foram a bilheteria e compraram os ingressos, mas a sessão de cinema ia começar dali á uma hora e meia.

_______________________________________________________

Beatriz

Estavam numa lanchonete na praça de alimentação do shopping.

Beatriz estava feliz que Daniele tinha finalmente desistido do plano de tentar juntar ela e Carlos e agora sua postura era bem mais relaxada, o que era incrível porque Dani e Carlos juntos mais pareciam uma dupla de comédia. Contavam situações ridicularmente cômicas, o que fazia a barriga de Beatriz doer de tanto rir. Fernanda também contava situações que eram divertidas o que a aproximou de Dani substancialmente. Mas chegou um momentos, no meio de uma piada de Carlos de Fernanda levantou:

–Já chega! Vocês me fizeram rir tanto que preciso ir ao banheiro.

– Eu também estou precisando.

Fernanda esperou Bia para ir ao banheiro. Fernanda andava meio passo a frente, andava rápido, de uma forma extremamente elegante. Ela chamava atenção de todos. O contrário acontecia com Bia que evitava ter a atenção voltada para si desde criança, o que fez desenvolver um passo bem tímido, o que naquele momento era ruim, porque sofria para acompanhar Fernanda.

Chegaram ao banheiro e cada uma foi para um lado. No silencio do local, Beatriz se lembrou do dia anterior: Fernanda saindo apressada com a chuva, a garota de cabelos curtos avermelhados, óculos e um sorriso íntimo no rosto. A feição sem expressões de Fernanda.

Saiu antes de Fernanda do banheiro e foi lavar as mãos. Logo em seguida Fernanda aparece, com uma expressão sorridente no rosto:

– Carlos e Daniele não deixam a gente parar para respirar. Se eu soubesse que seria tão comédia assim, nem tinha gasto o dinheiro dos ingressos. Colocássemos os numa mesa e pronto, já teríamos diversão garantida.

Bia sorrio de forma a concordar com que a garota tinha dito, mas em sua cabeça. Aquela pessoa que foi encontrar com Fernanda no dia anterior parecia bem intima de Fernanda. Será que seria uma amante? Fernanda também ficava embaraçada com outras mulheres muito próxima a ela. Ficava incomodada com a presença de Bia lá? Beatriz olhou rapidamente para Fernanda que se olhava no espelho. Essa sorriu e falou:

– Vamos? Estão esperando a gente.

Como Beatriz ia encarar Carlos desconfiando que sua namorada o traia?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "School of Life" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.