Pretty little liars escrita por wendy


Capítulo 3
2. As meninas islandesas são fáceis e as finlandesas também




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— Ah, meu Deus, árvores. Estou tão feliz em ver árvores enormes de novo.

O irmão de quinze anos de Aria Montgomery, Michelangelo, botou a cabeça para fora da janela do Outback da família como um golden retriever. Aria, seus pais, Ella e Byron — que sempre quiseram que seus filhos os chamassem por seus primeiros nomes — e Mike estavam voltando de carro do Aeroporto Internacional da Filadélfia. Eles haviam acabado de descer de um voo vindo de Reykjavík, Islândia. O pai de Aria era professor de história da arte, e a família tinha passado os últimos dois anos na Islândia, enquanto ele ajudava nas pesquisas para um documentário de televisão sobre a arte escandinava. Agora que estavam de volta, Mike estava deslumbrado com todas as paisagens da Pensilvânia. E isso significava... todas mesmo. Cada... coisinha... visível. A pousada de pedra do século XVIII onde se vendiam vasos ornamentais de cerâmica; as vaquinhas pretas, que olhavam silenciosas para o carro por detrás das cercas de madeira que ladeavam a estrada; o shopping em estilo New England que havia sido construído enquanto eles estavam fora. Até mesmo o velho e sujo Dunkin' Donuts, de vinte e cinco anos. — Cara, eu não posso esperar para beber um café gelado! — Mike estava emocionado. Aria gemeu. Mike havia se sentido solitário em seus dois anos na Islândia — dizia que todos os garotos daquele país eram "uns maricas que cavalgavam em uns cavalinhos gays", mas Aria tinha florescido lá. Um novo começo era exatamente do que estava precisando na época, então, ficou feliz quando seu pai informou que a família ia se mudar. Foi no outono, depois do desaparecimento, que Aria e as meninas haviam se afastado, e ela ficara sem nenhum amigo de verdade em uma escola cheia de pessoas que sempre conhecera.

Antes de ir para a Europa, Aria às vezes via garotos olhando para ela de longe, intrigados, mas depois eles desviavam os olhos. Com sua vivacidade, seu jeitão de bailarina, seus cabelos pretos lisos e seus lábios carnudos,Aria sabia que era bonita. As pessoas estavam sempre dizendo isso, mas então por que ela não tinha um encontro desde a festa da primavera do sétimo ano? Numa das últimas vezes em que ela e Spencer tinham saído juntas — num dos encontros esquisitos com as meninas, no verão depois que Ali desaparecera — Spencer disse a Aria que ela provavelmente teria muitos encontros se tentasse se adaptar pelo menos um pouquinho.

Mas Aria não sabia como se adaptar. Seus pais haviam enfiado em sua cabeça que ela era um indivíduo, não apenas parte do rebanho, e que devia ser ela mesma. O problema era que Aria não sabia quem era Aria. Desde os onze anos, tentara a Aria punk, a Aria diretora de documentário e, pouco antes de se mudar, ela tentara ser Aria, a típica garota de Rosewood, do tipo que anda a cavalo e veste camisa polo e usa bolsa coach satchel que era tudo o que os meninos de Rosewood amavam, mas também tudo o que Aria não era. Ainda bem que eles se mudaram para a Islândia duas semanas depois daquele desastre e, na Islândia, tudo, tudo, tudo mudara.

Seu pai aceitara a oferta de emprego na Islândia pouco depois de Aria começar o oitavo ano, e a família fez as malas. Ela suspeitava que eles tivessem partido tão de repente por causa de um segredo sobre seu pai que só ela — e Alison DiLaurentis — sabiam. Ela havia jurado que

não ia pensar mais sobre isso no instante em que o avião da Icelandair decolou, e depois de viver em Reyjavík por alguns meses, Rosewood se transformou numa lembrança distante. Seus pais pareciam ter se apaixonado de novo, e até mesmo seu irmão provinciano aprendeu a falar islandês e francês. E Aria se apaixonou... algumas vezes, na verdade.

E daí se os meninos de Rosewood não gostavam de Aria? Os garotos islandeses — os ricos, cosmopolitas e fascinantes garotos islandeses — certamente gostavam. Assim que eles se mudaram para lá, ela conheceu um garoto chamado Hallbjorn. Ele era DJ, tinha dezessete anos, três pôneis e a estrutura física mais linda que Aria já vira na vida. Ele se ofereceu para levá-la para ver os gêiseres da Islândia e lá, quando eles viram um lançar um jorro de água quente produzindo uma enorme nuvem de vapor, ele a beijara. Depois de Hallbjorn veio Lars, que gostava de brincar com sua porquinha de pelúcia, Pigtunia — a única conselheira que Aria tinha em sua vida amorosa — e a levava para as melhores baladas no porto. Lá, ela se tornava a Aria islandesa, a melhor Aria de todas. Encontrou seu estilo — uma espécie de garota boêmia e festeira, com roupas cheias de camadas, botas de amarrar de cano alto e jeans APC, que comprara numa viagem a Paris — leu filósofos franceses e viajou no Eurail, com um mapa velho na mão e uma calcinha limpa na bolsa.

Mas agora, tudo que via de Rosewood pela janela do carro fazia com que relembrasse o passado que quis esquecer. Lá estava o Ferra's Cheesesteaks, onde passara horas com suas amigas do ensino fundamental. Lá estava o Country Clube com portões de pedra — seus pais não eram sócios, mas ela já tinha ido lá com Spencer e, uma vez, se sentindo ousada, Aria foi até o menino do qual gostava, Noel Kahn, e perguntou se ele queria dividir um sanduíche de sorvete com ela. Ele lhe deu um fora, claro.

E lá estava a rua ensolarada e margeada por árvores onde Alison DiLaurentis costumava morar. Quando o carro parou no semáforo, Aria deu uma olhada e pôde vê-la, a segunda casa da esquina. Ela pôde olhar só por um momento, antes de cobrir os olhos. Na Islândia, havia dias em que quase se esquecia de Ali, seus segredos e tudo o que acontecera. Estava de volta a Rosewood há menos de dez minutos e praticamente podia ouvir a voz de Ali a cada curva da rua e ver seu reflexo em todas as varandas envidraçadas. Ela afundou no assento, tentando não chorar.

Seu pai seguiu por mais algumas ruas e freou em frente à casa antiga deles, uma caixa marrom pós-moderna e séria, com um único janelão quadrado bem no meio — uma enorme de-cepção depois da casa geminada islandesa, azul clarinha e de frente para a água. Aria seguiu seus pais para dentro e eles foram cuidar da vida, cada um num canto. Ela ouviu Mike atender o celular do lado de fora e agitou suas mãos entre as partículas brilhantes de pó que flutuavam no ar.

— Mamãe! — Mike entrou correndo pela porta da frente. —Acabo de falar com Chad, e ele disse que os primeiros testes para a equipe de lacrosse serão hoje!

— Lacrosse? — Ella apareceu, vinda da sala de jantar. — Agora?

— É — confirmou Mike. — Estou indo para lá! — Ele disparou pela escada de ferro batido que levava a seu antigo quarto.

— Aria, querida? — a voz da mãe a fez se virar. —Você pode levá-lo até o treino?

Aria deixou escapar uma risadinha.

— Hum... mãe? Eu não tenho carteira de motorista.

— E daí? Você dirigia o tempo todo em Reykjavík. O campo de lacrosse fica apenas a alguns quilômetros de distância, não é? A pior coisa que pode acontecer é você atingir uma vaca. E espere por ele até o teste acabar.

Aria ficou quieta. Sua mãe parecia esgotada. Ela ouviu o pai na cozinha, abrindo e fechando armários e reclamando baixinho. Seus pais continuariam a se amar aqui, como haviam feito na Islândia? Ou as coisas voltariam a ser como antes?

— Tudo bem — murmurou. Ela jogou as malas na entrada da casa, pegou as chaves do carro e sentou-se no banco do motorista.

O irmão dela sentou-se ao seu lado, já vestindo seu equipamento. Ele puxou a capa do taco com muito entusiasmo e deu um sorriso maldoso e astuto. — Feliz por estar de volta?

Aria apenas suspirou em resposta. Por todo o caminho, Mike ficou com as mãos pressionadas contra a janela do carro, gritando coisas como "Olha a casa do Caleb! Demoliram a rampa de skate!" e "O cocô das vacas ainda tem o mesmo cheiro!". Quando chegaram ao campo onde haveria o treino, ela mal havia estacionado quando Mike abriu a porta e pulou do carro na mesma hora.

Ela se recostou no banco, olhou pelo teto solar e suspirou.

— Superanimada por estar de volta — murmurou ela. Um balão de ar quente flutuava serenamente através das nuvens. Costumava ser delicioso olhar para eles, mas naquele dia ela o mirou, fechou um dos olhos e fingiu esmagar o balão entre o dedão e o indicador.

Um bando de meninos vestindo camisetas da Nike, shorts largos e boné de beisebol virados para trás passaram devagar pelo carro dela, na direção do vestiário. Viu só? Todos os garotos de Rosewood eram cópias exatas uns dos outros. Aria piscou. Um deles estava até mesmo vestindo a mesma camiseta da Nike da Universidade da Pensilvânia que Noel Kahn, o menino do sanduíche de sorvete por quem ela era apaixonada no oitavo ano, costumava usar. Ela deu uma olhada para o cabelo escuro e ondulado do garoto. Espera aí. Será que era... ele? Ah, Deus. Era mesmo. Aria não podia acreditar que ele estava vestindo a mesma camiseta que costumava usar quando tinha treze anos. Provavelmente, fazia isso para ter sorte ou por algum outro tipo de superstição esquisita de hóquei.

Noel deu uma olhada curiosa para ela, e depois andou na direção do carro e deu uma batidinha na janela. Ela a abriu.

—Você é aquela garota que veio do polo Norte. Aria, certo? Você não era amiga da Ali D.? — perguntou Noel.

O estômago de Aria pareceu afundar.

— Hum... — ela disse.

— Não, cara —James Freed, o segundo menino mais bonito de Rosewood apareceu atrás de Noel. — Ela não foi para o polo Norte, foi para a Finlândia. Você sabe, a terra daquela modelo chamada Svetlana. Uma que se parece com a Hanna.

Aria coçou a nuca. Hanna? Como em... Hanna Marin?

Um apito soou e Noel chegou mais perto do carro para tocar no braço de Aria.

—Você vai ficar e assistir ao treino, não vai, Finlândia?

— Hum... ja —Aria disse.

— O que é isso? Um murmúrio sensual em finlandês? — James riu.

Aria revirou os olhos. Ela tinha certeza de que ja era sim em finlandês, mas claro que aqueles caras não iam saber disso.

— Divirta-se brincando com suas bolas — sorriu ela, cansada. Os garotos se empurraram e depois saíram correndo, agitando os tacos de lacrosse de um lado para outro antes mesmo de chegarem ao campo. Aria olhou pela janela. Que ironia. Aquela era a primeira vez que flertara com um garoto em Rosewood — e logo Noel — e ela nem mesmo se importou. Por entre as árvores, ela podia ver a ponta da torre que pertencia à capela em Hollis College, a pequena faculdade de ciências humanas, onde seu pai dava aulas. Na rua principal de Hollis havia um bar, o Snooker's. Ela se aprumou e olhou para o relógio. Duas e meia. Devia estar aberto. Ela podia ir até lá, beber uma ou duas cervejas e se divertir um pouco à sua própria maneira.

E, ei, talvez encher a cara de cerveja pudesse fazer os meninos de Rosewood parecerem interessantes.

Enquanto os bares de Reykjavík cheiravam a cerveja de trigo fresca, madeira antiga e cigarros franceses, o Snooker's cheirava a uma mistura de corpos mortos, cachorros-quentes podres e suor. E o Snooker's, como todos os lugares em Rosewood, trazia lembranças: numa sexta-feira à noite, Alison DiLaurentis havia desafiado Aria a ir ao Snooker's e pedir um drinque chamado Orgasmo Escandaloso. Aria esperou na fila atrás de um bando de garotos da faculdade e, quando o segurança na porta não a deixou entrar, ela gritou:

— Mas meu orgasmo escandaloso está lá dentro! — e então se deu conta do que acabara de dizer e voltou correndo para suas amigas que estavam curvadas se acabando de rir atrás de um carro no estacionamento. Elas riram tanto que ficaram com soluço.

— Uma cerveja Amstel — pediu ela ao barman, depois de passar pelas portas da entrada envidraçadas. Pelo jeito não havia necessidade de seguranças às duas e meia duma tarde de sábado. O barman deu-lhe uma olhada indagadora, mas depois colocou a garrafa de cerveja na frente dela e deixou para lá. Aria deu um grande gole. Tinha um gosto fraco e aguado. Ela cuspiu de volta no copo.

— Tudo bem com você?

Aria se virou. A três bancos de distância havia um cara de cabelo louro desgrenhado, e com os olhos azuis de um husky siberiano. Ele estava bebendo devagar num copo pequeno.

Aria franziu a testa.

— Sim, tudo, eu esqueci o gosto que este negócio tem por aqui. Estive na Europa por dois anos. A cerveja é melhor por lá.

— Europa? — o cara sorriu. Ele tinha um belo sorriso. — Onde?

Aria sorriu de volta.

— Islândia.

Os olhos dele brilharam.

— Certa vez eu passei algumas noites em Reykjavík, a caminho de Amsterdam. Fui a uma grande festa no porto.

Aria passou as mãos em torno de seu copo de 60 ml.

— Ah, sim — sorriu ela. — Eles têm as melhores festas por lá.

—Você estava lá para ver as luzes do norte?

— Claro — respondeu Aria. — E também o sol da meia-noite. Nós tínhamos umas raves incríveis no verão... com a melhor música. — Ela olhou para o copo dele. — O que você está bebendo?

— Uísque — disse ele, já fazendo sinal para o barman. — Quer um?

Ela concordou. O cara se mudou para três bancos mais perto dela. Ele tinha mãos bonitas, com dedos longos e unhas um pouco roídas. Usava um pequeno bottom no seu paletó de veludo que dizia MULHERES INTELIGENTES VOTAM!

— Então, você morou na Islândia? — Ele sorriu de novo. — Foi passar um ano longe de casa?

— Bem, não — respondeu Aria. O barman colocou o uísque escocês na frente dela. Ela deu um gole como se fosse cerveja. Sua garganta e seu peito queimaram na mesma hora. — Eu estava na Islândia porque... — Ela se interrompeu. — Sim, foi meu, ah... ano fora de casa.

Deixe que ele pense o que quiser.

— Que legal. — Ele balançou a cabeça. — E onde você morava antes disso?

Ela deu de ombros.

— Hum... aqui em Rosewood.— Ela sorriu e acrescentou, rapidamente: — Mas eu gostava muito mais de lá.

Ele concordou.

— Eu fiquei muito deprimido de ter que voltar para os Estados Unidos, depois de Amsterdam.

— Eu chorei todo o caminho de volta — admitiu Aria, sentindo-se ela mesma, a nova e melhorada Aria da Islândia, pela primeira vez desde que voltara. Não só ela estava falando com um cara bonito e inteligente sobre a Europa, mas também este poderia ser o único cara em Rosewood que não a conhecera como a Aria de Rosewood: a amiga esquisita da menina bonita que desaparecera.

— Então, você estuda por aqui? — perguntou ela.

— Acabo de me formar. — Ele limpou a boca com um guardanapo e acendeu um

Camel. Ofereceu-lhe um. do maço, mas ela balançou a cabeça. — E vou dar aulas.

Aria deu outro gole em seu uísque e viu que tinha acabado com sua dose. Uau.

— Eu gosto de ensinar, acho. Quando acabar a escola vou fazer isso ou, então, escrever para o teatro.

— Mesmo? Para o teatro? No que você vai se formar?

— Hum... em inglês? — O barman colocou outro uísque na frente dela.

— É isso que eu ensino! — Quando o cara disse isso, colocou a mão sobre o joelho dela. Aria ficou tão surpresa que recuou e quase entornou sua bebida. Ele tirou a mão. Ela corou.

— Desculpe — ele falou, de um jeito doce e encabulado. —Ah, e meu nome é Ezra. — Aria. — De repente, seu nome pareceu engraçadíssimo. Ela riu, perdendo o equilíbrio.

— Opa! — Ezra a agarrou pelo braço para segurá-la.

Três doses depois, Aria e Ezra haviam resolvido que ambos haviam conhecido o mesmo barman marinheiro no bar Borg, em Reykjavík, adorado tomar banho na lagoa azul, cujas águas ricas em minerais eram mantidas quentes pelas fontes termais e os deixavam sonolentos, e até mesmo gostado de verdade do cheiro de ovo podre e enxofre das tais fontes. Os olhos de Ezra ficavam mais azuis a cada instante. Aria queria perguntar se ele tinha namorada. Ela se sentia quente e tinha certeza de que não era só por causa do uísque.

— Eu, hum, tenho que ir ao banheiro — disse Aria, meio bêbada.

Ezra sorriu.

— Posso ir junto?

Bem, isso respondia à pergunta sobre a namorada.

— Quero dizer, hum... — Ele coçou a nuca. — Isso foi muito ousado da minha parte? — Ele a olhou por sob as sobrancelhas franzidas.

A cabeça dela estava a mil. Encontros assim com estranhos não eram uma coisa que ela fazia, pelo menos não na América. Mas ela não havia dito que queria continuar sendo a Aria da Islândia?

Ela se levantou e o pegou pela mão. Eles se olharam por todo o caminho até o banheiro feminino do Snooker's. Havia papel higiênico jogado pelo chão do banheiro, que cheirava ainda pior que o resto do bar, mas Aria não deu a mínima. Quando Ezra a ergueu na pia e passou as pernas dela em volta de sua cintura, o único cheiro que ela conseguia sentir era o dele — uma mistura de uísque, canela e suor — e nada jamais tivera cheiro tão bom. Como eles dizem na Finlândia, ou seja lá onde for, ja.


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