Pretty little liars escrita por wendy


Capítulo 2
1. Laranjas, pêssegos e limas, ah, meu deus




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— Finalmente alguém comprou a velha casa dos DiLaurentis — disse a mãe de Emily Fields. Era sábado à tarde e a sra. Fields estava sentada à mesa da cozinha, com os óculos bifocais acomodados no nariz, fazendo suas contas tranquilamente.

Emily sentiu a Vanilla Coke que estava bebendo fazer cócegas em seu nariz.

— Acho que uma menina da sua idade se mudou para lá — continuou a sra. Fields. — Eu já ia entregar uma cesta de boas-vindas para eles. Talvez você queira ir em meu lugar. — A sra. Fields apontou para a monstruosidade envolta em papel celofane num canto da cozinha.

— Meu Deus, mãe, não — desde que se aposentara do cargo de professora na Escola Fundamental de Rosewood, no ano anterior, a mãe de Emily virara uma dessas senhoras que fazem parte de comitês de boas-vindas. Ela juntou um milhão de coisas — frutas secas, uma daquelas coisinhas achatadas de borracha para abrir potes, galinhas de cerâmica (a sra. Fields tinha obsessão por galinhas), um guia das ruas de Rosewood, e um monte de coisas — e arrumara tudo numa enorme cesta de vime para desejar boas-vindas. Ela era o protótipo das mães suburbanas — quer dizer, sem a caminhonete utilitária. Achava que aqueles carros eram uma ostentação, além de uns grandes bebedores de gasolina, então, dirigia um Volvo obsoleto. A sra. Fields levantou-se e passou os dedos pelos cabelos de Emily danificados pelo cloro.

— Você ficaria muito chateada em ir lá para mim, docinho? Talvez fosse melhor eu mandar Carolyn?

Emily deu uma olhada em sua irmã, Carolyn, que era um ano mais velha que ela e que parecia bem confortável, acomodada em uma poltrona deliciosa na frente da televisão, assistindo a Dr. Phil. Emily balançou a cabeça.

— Não, tudo bem. Eu vou lá.

Claro, Emily resmungava de vez em quando e, muitas vezes, até revirava os olhos. Mas a verdade era que ela fazia tudo o que a mãe pedia. Era uma excelente aluna, quatro vezes campeã estadual em nado borboleta e uma filha superobediente. Seguir as regras e atender aos pedidos era algo natural para ela.

E, lá no fundo, ela queria uma razão para ir à casa de Alison mais uma vez. Enquanto o restante de Rosewood parecia começar a superar o desaparecimento de Ali, três anos, dois meses e doze dias atrás, Emily não tinha superado nada. Mesmo depois de todo aquele tempo, não podia sequer olhar o livro da sétima série sem desejar se encolher em seu quarto e ficar quietinha. Às vezes, nos dias chuvosos, Emily ainda lia os velhos bilhetes de Ali, que guardava numa caixa de tênis Adidas, debaixo da cama. Ela até mesmo guardava uma calça de veludo cotelê Citizen — que Ali havia lhe emprestado — em um cabide de madeira no armário, mesmo que já fossem pequena demais para ela. Passara os últimos anos solitários em Rosewood, desejando outra amiga como Ali, mas o mais provável era que aquilo nunca mais acontecesse. Ali não havia sido uma amiga perfeita, mas mesmo com todos os seus defeitos, seria difícil substituí-la.

Emily se aprumou e pegou as chaves do Volvo no gancho perto do telefone.

— Volto daqui a pouco — disse, enquanto fechava a porta da frente.

A primeira coisa que viu quando chegou à velha casa de estilo vitoriano de Alison, no topo de uma rua cheia de folhas secas, foi uma grande pilha no meio-fio, com uma placa ao lado que dizia "De graça!". Ela apertou os olhos, dando-se conta de que algumas daquelas coisas eram de Ali — reconheceu a poltrona branca de veludo do quarto da amiga. Os DiLaurentis haviam se mudado quase nove meses antes. E, pelo jeito, haviam deixado algumas coisas para trás.

Ela estacionou atrás de um enorme caminhão de mudança e saiu do Volvo.

— Uau — sussurrou, tentando não deixar que o lábio inferior tremesse.

Debaixo da poltrona havia varias pilhas de livros velhos. Emily se abaixou e olhou as lombadas. The Red Badge of Courage. O príncipe e o mendigo. Ela se lembrava de ter lido esses livros nas aulas de inglês do sétimo ano, com o sr. Pierce, e de conversar sobre simbolismo, metáforas e desfecho. Havia mais livros ali debaixo, e também alguns volumes que se pareciam com velhos cadernos. Havia caixas perto dos livros nas quais se podia ler: ROUPAS DE ALISON e TRABALHOS ESCOLARES DE ALISON. Havia uma fita vermelha e azul saindo de uma cesta. Emily puxou um pedacinho dela. Era uma medalha de natação do sexto ano que ela deixara na casa de Alison certo dia, quando elas inventaram um jogo chamado Deusas Olímpicas do Sexo.

—Você quer ficar com isso?

Emily deu um pulo. Ela viu uma menina alta e magricela, de pele bronzeada e com cabelos escuros e encaracolados.A garota vestia uma camiseta amarela cuja alça caía em seu ombro, deixando à mostra a alça do sutiã, laranja e verde. Emily não tinha certeza, mas pensou que tinha o mesmo sutiã em casa. Era da Victoria's Secret e tinha pequenas laranjas,pêssegos e limas estampadas por toda a ahm... parte dos peitos.

A medalha de natação saiu de suas mãos e caiu no chão, fazendo barulho.

— Hum, não. — Ela se abaixou para pegá-la.

—Você pode pegar o que quiser daí.Viu a placa?

— Não, mesmo, está tudo bem.

A garota estendeu a mão.

— Maya St. Germain. Acabo de mudar para cá.

— Eu... — As palavras ficaram presas na garganta de Emily. — Eu sou Emily — por fim, conseguiu dizer, aceitando a mão estendida de Maya e cumprimentando-a. Parecia muito formal apertar a mão de uma menina e Emily não tinha certeza de já ter feito aquilo antes. Ela se sentia um pouco tonta. Será que havia comido pouco cereal de mel no café da manhã?

Maya mostrou as coisas no chão, com um gesto.

—Você acredita que toda essa tralha estava no meu quarto? Tive que tirar tudo de lá eu mesma. Que saco.

— É, todas essas coisas eram da Alison. — Emily quase sussurrou.

Maya abaixou para dar uma olhada na papelada e colocou a alça da camiseta de volta no lugar.

— Ela é sua amiga?

Emily ficou paralisada. É? Será que Maya não tinha ouvido falar sobre o desaparecimento de Ali?

— Ah... ela era. Há muito tempo. Ela e um bando de outras garotas que viviam por aqui — Emily explicou, deixando de fora a parte sobre o sequestro ou assassinato, ou o que possa ter acontecido, que nem ousava imaginar. — No sétimo ano. E agora estou indo para o segundo ano do ensino médio na Rosewood Day. —As aulas começariam depois do final de semana. E os treinos de natação também. O que significava três horas de voltas na piscina todo dia. Emily não queria nem pensar nisso.

— Vou estudar em Rosewood também! — Maya sorriu. Ela sentou-se na velha poltrona de veludo de Alison, e as molas fizeram barulho.

— No voo para cá, meus pais só falavam sobre como eu tenho sorte de ter entrado em Rosewood e como vai ser diferente do meu colégio na Califórnia.Tipo, aposto que vocês não têm comida mexicana por aqui, certo? Nós costumávamos ter na cantina da escola e,

hummmmm, era tão bom. Vou ter que me acostumar com o Taco Bell. As gorditas que eles fazem me dão vontade de vomitar.

— Ah — sorriu Emily. Aquela garota falava um bocado. — É sim, a comida é uma droga.

Maya levantou da poltrona.

— Isso pode parecer estranho, já que eu acabei de conhecer você, mas será que você se importa de me ajudar a carregar o resto dessas caixas lá para o meu quarto?

Ela fez um gesto na direção de algumas caixas da empresa de mudanças Crate&Barrel, ao lado do caminhão.

Emily arregalou os olhos. Entrar no antigo quarto de Alison? Mas seria muito rude recusar ajuda, não seria?

— Ah, claro — respondeu ela, insegura.

O vestíbulo da casa ainda cheirava a sabonete Dove e a pétalas secas — exatamente como quando os DiLaurentis viviam lá. Emily parou na soleira e esperou que Maya lhe desse instruções, mesmo sabendo que poderia encontrar o velho quarto de Ali, no topo da escadaria, de olhos vendados. Caixas de mudança estavam por todos os lados, e dois galgos italianos magricelos latiram detrás de um portão, na cozinha.

— Deixa eles pra lá — disse Maya, subindo as escadas para seu quarto e segurando a porta aberta com seu quadril coberto por um tecido atoalhado.

Uau, tudo está igual, pensou Emily, enquanto entrava no quarto. Mas acontece que não estava: Maya havia posto sua cama queen size numa posição diferente, tinha um computador de tela plana enorme em sua escrivaninha e havia pôsteres colados por todo lado, cobrindo o velho papel de parede florido de Alison. Mas algo parecia igual, como se alguma coisa da velha amiga ainda flutuasse aqui. Emily se sentiu tonta e se apoiou contra a parede, para não cair.

— Pode colocar em qualquer lugar — disse Maya. Emily se forçou para ficar em pé, colocou a caixa aos pés da cama e olhou em volta.

— Gosto de seus pôsteres — comentou ela. A maioria era de cantoras e bandas: M.I.A., Black Eyed Peas, Gwen Stefani vestindo um uniforme de líder de torcida. — Eu amo a Gwen — completou ela.

— É — concordou Maya. — Meu namorado é completamente obcecado por ela. O nome dele é Justin, ele é de São Francisco, como eu.

—Ah, eu também tenho um namorado — acrescentou Emily. — O nome dele é Ben.

— Ah, é? — Maya sentou-se em sua cama. — Como ele é?

Emily tentou visualizar Ben, seu namorado há quatro meses. Ela o havia visto dois dias atrás — eles tinham assistido a Doom, em DVD, na casa dela. A mãe de Emily estava na sala ao lado, claro, fazendo aparições esporádicas para perguntar se eles queriam alguma coisa. Todos os amigos deles disseram que os dois deveriam sair juntos, então eles saíram.

— Ele é legal.

— Então, por que você não é mais amiga da menina que vivia aqui? — perguntou Maya.

Emily colocou seu cabelo louro-avermelhado atrás das orelhas. Uau. Então, Maya realmente não sabia nada sobre Alison. Se Emily começasse a falar sobre Ali, porém, poderia começar a chorar, o que seria bem esquisito. Mal conhecia Maya.

— Passei os últimos tempos meio afastada das minhas amigas do sétimo ano. Todo mundo mudou muito, eu acho.

Isso é que era atenuar as coisas. Sobre as outras melhores amigas de Emily, Spencer havia se tornado uma versão exageradamente perfeita de si mesma; a família de Aria havia se mudado do nada para a Islândia, no outono seguinte ao desaparecimento de Ali; e a esquisita-mas-adorável Hanna havia se tornado muito não esquisita, mas uma vaca completa. Hanna e sua nova melhor amiga, Mona Vanderwaal, haviam se transformado de forma radical no verão entre o oitavo e o nono anos. A mãe de Emily havia visto Hanna recentemente, entrando no Wawa, o supermercado local, e disse a Emily que Hanna parecia "mais vagabunda que aquela tal de Paris Hilton". Emily nunca tinha ouvido a mãe usar a palavra vagabunda.

— Sei como é quando nos afastamos. — Maya fez com que a cama balançasse para cima e para baixo quando se sentou. — Como com meu namorado, sabe? Ele está com tanto medo de que eu vá abandoná-lo, agora que estamos em lados diferentes do país... é um bebezão. — Meu namorado e eu estamos na equipe de natação, então nos vemos todo o tempo — respondeu Emily, procurando um lugar para se sentar também. Talvez o tempo todo tenha sido exagero, pensou.

—Você nada? — perguntou Maya. Ela a mediu com os olhos, o que fez Emily se sentir um pouco esquisita. —Aposto que você é boa mesmo.Você tem os ombros para isso. — Ah, eu não sei. — Emily ficou vermelha e se inclinou na direção da escrivaninha branca de Maya.

— Você é boa, sim! — sorriu Maya. — Mas... se você é toda certinha, isso significa que vai me matar se eu fumar um pouco de erva?

— O quê? Agora? — Emily arregalou os olhos. — Mas, e seus pais?

— Eles foram ao supermercado. E meu irmão está por aí, em algum lugar, mas ele não liga. — Maya pegou uma latinha de balas Altoids debaixo do colchão. Ela se inclinou na janela que ficava ao lado da cama, pegou um baseado e o acendeu. A fumaça saía do quarto na direção do quintal, e formou uma nuvem espessa em torno do velho carvalho.

Maya voltou para dentro do quarto com o cigarrinho.

— Um tapinha?

Emily nunca havia fumado maconha na vida — ela sempre achou que, de alguma forma, seus pais poderiam descobrir, cheirando seu cabelo, obrigando-a a fazer xixi num potinho, sei lá. Mas, quando Maya tirou o baseado com graça de seus lábios cor de cereja, pareceu sexy. Emily queria parecer sexy também.

— Hum... tudo bem. — Emily foi para mais perto de Maya e pegou o baseado. Suas mãos se tocaram e seus olhos se encontraram. Os olhos de Maya eram verdes, com pontinhos amarelos, como os de um gato. A mão de Emily tremeu. Ela estava nervosa, mas colocou o baseado entre os lábios e deu uma tragada curta, como se estivesse bebendo Vanilla Coke de canudinho.

Mas aquilo não tinha gosto de Vanilla Coke. Parecia que ela havia inalado um pote inteiro de tempero vencido. Ela tossiu como um velho.

— Uau! — Maya pegou o baseado de volta. — É sua primeira vez?

Emily não conseguia respirar e só sacudiu a cabeça, engasgando. Ela ofegou um pouco mais, tentando puxar algum ar para dentro do peito. Finalmente, conseguiu sentir o ar alcan-çando seus pulmões de novo. Quando Maya virou o braço, Emily viu uma cicatriz branca e comprida descendo por seu pulso. Uau. Lembrava uma cobrinha albina em sua pele escura. De repente, ouviu-se um barulho bem alto. Emily deu um pulo. E depois, ouviu o barulho de novo.

— O que foi isso? — ofegou ela.

Maya deu outra tragada e balançou a cabeça.

— São os pedreiros. Estamos aqui há um dia e meus pais já começaram as reformas — ela riu. —Você pirou como se achasse que os guardas estivessem entrando aqui.Você já foi presa antes?

— Não! — Emily caiu na risada; era uma ideia tão ridícula.

Maya sorriu e exalou a fumaça.

— Tenho que ir embora — disse Emily.

O sorriso de Maya se desfez.

— Por quê?

Emily se arrastou para fora da cama.

— Eu disse à minha mãe que ia ficar aqui só um pouquinho. Mas vejo você na escola na terça.

— Legal — respondeu Maya. —Talvez você possa me mostrar a escola.

Emily sorriu de volta.

— Claro.

Maya sorriu e deu tchauzinho para ela, acenando com os dedos. —Você consegue sair daqui sozinha?

— Acho que sim. — Emily deu mais uma olhada no quarto de Ali... Quer dizer, do quarto de Maya, e desceu as escadas que conhecia tão bem.

E só depois de ter ido para o ar fresco, passado pelas coisas antigas de Ali no meio-fio e entrado no carro dos pais, foi que Emily viu a bendita cesta de boas-vindas da mãe, no banco de trás. Dane-se, ela pensou, colocando a cesta entre a cadeira velha de Alison e as caixas de livros. Quem precisa de um guia para as pousadas de Rosewood, de qualquer forma? Maya já mora aqui.

E, de repente, Emily ficou feliz por isso.


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