Accelerator e Last Order- 6 anos depois... escrita por Emili Elens


Capítulo 31
A estranha área L e uma proposta sem sentido.




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Point of View – Accelerator.

Minha cabeça continuava doendo insuportavelmente, mesmo depois de passar uma hora deitado e olhando para o teto branco. Desliguei a luz do meu quarto, e abri a porta. Fui descendo as escadas lentamente até a cozinha. A casa estava muito silenciosa, não sei se isso era um bom, ou mal sinal! Não avistei a pirralha por perto.

Só por precaução, passei no quarto da Last Order, mas ela não estava lá. A porta do banheiro estava escancarada, e nos outros quartos também não vi ninguém. A Aiho com certeza, ainda estaria na Anti Skill; não sei da pirralha e nem da Kikyou, mas a Kikyou deve estar por aqui, ela nunca sai de casa mesmo...

O maldito felino da Kikyou apareceu com uma coleira preta no pescoço, tinham alguns números na coleira, mas preferi não prestar atenção naquela besteira. Ele estava sentado no corrimão da escada, e sempre me olhando, com aqueles olhos de peixe morto.

Desci as escadas lentamente, e olhando para o chão. Percebi que iria fazer uma semana, que eu estava com aquela muleta, e eu já estava me sentindo bem melhor, talvez nem precisasse mais dela. Ela incomodava bastante quando eu andava pela cidade, ou descia as escadas, sem falar que quase machuquei um idoso com a muleta enquanto andava pelo parque no Daihasei!

Ao chegar na cozinha, fui olhar na caixa de remédios o quê eu precisava. Peguei a caixa e coloquei em cima da mesa. Enquanto eu estava vasculhando a caixa de remédios, a Kikyou apareceu na cozinha, e sempre aquele gato estava atrás dela.

– Procurando o quê dentro desta caixa, Accelerator?

– Algum remédio para dor de cabeça.

– Você está com dor de cabeça?

– Claro, por que eu estaria procurando um remédio para dor de cabeça, Kikyou?

– Está forte?

– Não muito.

A Kikyou tomou a minha frente e rapidamente pegou uma caixinha de papelão verde e me entregou.

– Isso é?

– Seu remédio.

Abri a caixinha, e dentro dela haviam quatro cartelas, com três fileiras de seis comprimidos. Antes de qualquer coisa, li e reli a caixa e a bula.

– Não está confiando em mim? – Disse a Kikyou segurando o gato, que por sinal estava sem piscar por um ou dois minutos.

Aquele gato tinha preguiça até de piscar o olho...

– Por quê eu confiaria em alguém tão quieta e misteriosa?!

– Acha que estou escondendo algo de você?

– Claro.

– Por quê?

– Sua cara diz tudo.

Enchi um copo de água, e tomei junto com o comprimido. Eu sempre me sentia péssimo quando tomava comprimidos, uma sensação estranha...

– Onde está a pirralha?

– Ela importa bastante para você, não é? – Disse a Kikyou sorrindo, e acariciando o gato.

– Q-q-q-quê?! E-e-eu só... Perguntei onde ela estava!

– Você não respondeu a minha pergunta...

– E-e-e nem preciso!

– Será que é o quê eu estou pensando?

– Tanto faz.

– A Last Order disse que iria sair com uma amiga, mas até agora não voltou.

Uma amiga...

Já eram quase meio dia, e eu não estava com a menor fome. A Aiho também não estava em casa, claro que a Kikyou não almoçaria sem a Aiho... Elas gostam tanto uma da outra...

– Ah! Já estava esquecendo... A Aiho veio aqui, mas saiu de novo faz uns vinte minutos, ela pediu para eu te dar uma coisa.

– O quê?

– Está em cima da mesa de centro da sala da frente.

Fui andando até a sala, estava curioso para saber o quê ela havia deixado para mim...

Quando cheguei na sala, olhei na mesa de centro, e percebi que havia uma carta. O quê poderia ser? Peguei a carta, e olhei para trás, a Kikyou estava por peto, e sempre segurando o gato.

– O quê isso significa? – Perguntei encarando ela.

– Eu não sei, Accelerator. Achei melhor não abrir, então deixei aí enquanto você estava ocupado.

Abri a carta lentamente, e pensando se poderia ser a conta das coisas que a pirralha deixou cair e quebrar quando estava correndo desesperadamente daquela Sister...

Mas, ao abrir a carta, tinha um texto tão grande que emendaram um papel em outro, e ainda tinha outro lado! A pirralha não poderia ter quebrado tantas coisas assim! Nem imagino o valor...

No outro lado havia um campo para preencher, e em cima estava escrito “assinatura”. Por que eu assinaria aquela coisa?! Voltei para o começo da carta, e como sempre começava: Caro Accelerator.

Criei coragem e comecei a ler aquele enorme texto, mas os parágrafos eram tão grandes, que a cada ponto final, eu fazia uma pequena pausa de dez segundos.

– Então... O quê tem nesta carta? – Perguntou a Kikyou.

– Papel. – Respondi sem o menor ânimo.

A Kikyou deu uma risada baixa, e continuava olhando para a carta.

– O quê faz você ser tão curiosa?

– Força do hábito.

Sentei-me em um dos sofás, e comecei a ler do começo, por a maldita Kikyou havia me desconcentrado, e eu tinha perdido a parte em que estava lendo.

Eu mal havia começado a ler, e o gato da Kikyou desceu rapidamente dela, e ficou tentando pular em cima de mim.

– Controle seu gato!

– Ele está agitado hoje.

– Desde quando esse gato é agitado? Ele até parece um gato idoso.

– Ele tem cinco anos.

– Ele me odeia.

A Kikyou começou a rir baixo, então foi tentar pegar o gato, mas ele acabou pulando em cima de mim. Virou brincadeira pular em mim...

Tentei tirar o maldito gato, mas as garras dele estavam na minha calça. Fiquei empurrando ele, mas mesmo assim ele continuava na minha calça!

– Desça daí! – Disse a Kikyou, voltando-se para o gato.

– Você fala como se ele fosse entender... – Eu retruquei, ainda empurrando o gato.

Quando o maldito gato da Kikyou tirou as garras da minha calça, segurei nas costas dele, e coloquei no chão. Aquele desgraçado havia me arranhado... Aquele gato era tão mal humorado que aparentava nem gostar da Kikyou, mas tanto faz... O problema é dela!

Acabei esquecendo completamente da carta, então peguei ela de novo, e comecei a ler do começo (tudo de novo!).

Notei que no envelope, havia o mesmo símbolo da Anti Skill, e na carta também. Se era uma carta da Anti Skill... Ainda bem que não era do supermercado!

As letras eram tão pequenas, quem lembravam uma bula de remédio. A preguiça estava começando a tomar conta de mim, mas como eu já estava no terceiro parágrafo, resolvi continuar lendo.

Os primeiros parágrafos falavam sobre bobagens e a defesa da Cidade Acadêmica. O quê eu tinha haver com aquilo?! As partes interessantes daquele enorme texto começaram a surgir do sexto parágrafo em diante. Foi então que eu percebi que deveria ter lido a partir da segunda página...

No começo, a carta falava que eu era o primeiro da lista dos níveis cinco da Cidade Acadêmica e blá blá blá (disso eu já sabia!). Mas depois de tanta ladainha, descobri que eles estavam solicitando um teste para ser um membro da Anti Skill, com privilégios, salários e outras baboseiras. Como é?! Por que eu entraria numa facção ridícula da Cidade Acadêmica?! Só poderia ser alguma pegadinha ou brincadeira de mau gosto...

Parece piada...

A Kikyou, que por sinal estava sentada em uma das poltronas, e acariciando o gato, percebeu minha expressão surpresa, e logo se levantou.

– O quê diabos esses palhaços acham que sou?!

– Algo de errado, Accelerator?

– Veja com seus próprios olhos. – Eu disse, entregando a carta para ela.

A Kikyou pegou a carta, olhou dos dois lados e começou a ler. Isso iria demorar um bom tempo...

Sentei no sofá de novo, e fiquei pensando se a Anti Skill realmente não estava querendo me fazer de idiota.

A Kikyou lia atentamente aquela carta, e nem percebeu que seu gato havia a arranhado, em seguida, descido. O estranho felino começou a subir e descer as escadas repetidamente. Aquele era um caso perdido de gato! Nunca, em toda a minha vida, eu havia visto um gato tão doido quanto aquele.

– Hum... Entendo... – Disse a Kikyou em tom baixo.

– Entendeu o quê?!

Ela continuou lendo atentamente a cata, e eu comecei a ficar curioso sobre o quê teria no verso da carta. Eu ainda não havia lido atrás, mas naquele momento a Kikyou começou a ler justamente o primeiro parágrafo do verso da carta.

– Bem, pelo o quê eu entendi, a Anti Skill está solicitando teste para você ser um membro, Accelerator. Considere como um trabalho, mas não é um trabalho qualquer, eles te ofereceram vários benefícios, sem falar na quantia que você ganhará.

– Quer dizer que você está apoiando isso?!

– Claro. É uma boa proposta.

– Você só pode estar de brincadeira comigo...

– Não estou brincando. Essa carta chegou em uma boa hora.

– Sinceramente, participar desta uma facção estranha, é algo meio sem sentido.

– Nem tanto.

– Como é?!

– Acho que a Last Order ficará feliz em te ver em ação.

– O-o-o-o-o quê a pirralha tem haver com essa proposta ridícula?!

– É só incentivo pra você. A Last Order importa muito pra você, não precisa esconder, Accelerator. Eu percebo. Acho que você esta ficando menos grosseiro, e mais emotivo.

– N-n-n-não m-m-mesmo!

– Eu notei isso muito bem... – Disse a Kikyou sorrindo.

Ela só podia estar maluca. Mas depois do quê aconteceu no elevador, eu também poderia estar maluco, sem falar na pirralha! Vou imaginar que aquilo foi por acidente...

– O-o-o quê você notou?!

– Suas reações.

– Não tem reação nenhuma, a pirralha sempre vai ser uma pirralha e você está extremamente enganada.

– O quê você sente por ela?

– N-n-n-não é de sua conta! Que pergunta absurda...

– Não é absurda. É algo normal.

– Por que eu te contaria alguma coisa?

– Bem, agora você confessou que sente alguma coisa por ela.

– Eu não disse nada! Para de ser doida, Kikyou!

– Eu posso te ajudar.

– Me ajudar em quê?!

– A entender melhor o quê você sente por ela.

– Kikyou, me deixa em paz...

– Não seja tão negativo ás coisas boas da vida, Accelerator.

– Que coisas boas?! Você está querendo confundir minha mente!

– Vamos desenrolar esse nó na sua mente.

– Não estou afim.

– Você sempre fica eufórico quando citam o nome da Last Order?

– N-n-n-n-não!

– Você está gaguejando.

– M-m-me deixa em paz!

A Kikyou estava começando a me irritar seriamente. A que ponto ela queria chegar?! Ela precisava de uma internação!

– Já decidiu? – Perguntou calmamente a Kikyou.

– Sobre o quê?

– Sobre a Anti Skill.

A Kikyou poderia estar certa nesse ponto. Minha vida estava monótona, e aquilo me pegou de surpresa. Talvez a Aiho tenha me obrigado a ir para a Anti Skill para falar sobre isso... Naquela reunião demorada...

– Sei lá.

– Se eu fosse você, aceitaria.

– Já chega de palpites!

– E quanto os seus sentimentos?

– O quê você quer saber dos meus sentimentos?! – Eu disse quase gritando.

Meu nível de irritado estava quase no cem, ela iria começar a falar da maldita pirralha de novo, e eu não estava aguentando mais isso!

– Sobre a Last Order.

– Poderia deixar o assunto da pirralha de lado?! – Eu disse tentando manter a calma.

– Essa é uma boa hora para falar sobre isso, não acha? Last Order está fora, e segunda-feira ela irá pedir permissão no colégio, para ficar em casa, e abandonar seu dormitório. Ou seja, ela sempre estará por perto.

– Você é doida igual a este gato.

– Isso é um “não” para a minha ajuda?

– Claro!

– “Claro”? Quer dizer que aceita?!

– Claro que não!

Peguei minha muleta que estava no sofá, em seguida peguei a carta das mãos da Kikyou e fui andando até as escadas.

– Fugindo do assunto, Accelerator?

– Fugindo de você, e suas besteiras!

Subi as escadas lentamente, e olhando para o chão, para tentar disfarçar meu rosto vermelho depois que ela havia pronunciado as palavras “Last Order”. Ela disse que a pirralha iria pedir permissão para ficar em casa, isso significava, que eu seria perturbado todos os dias (isso já acontece), todas as tardes e todas as noites! Maldição...

Abri a porta do meu quarto, e quando entrei, tranquei rapidamente a porta, para evitar que a Kikyou aparecesse de surpresa com o papo sobre a Last Order, ou “meus sentimentos”.

Coloquei a carta sobre a escrivaninha e sentei-me na cama, colocando minha muleta encostada na parede. Fiquei pensando sobre o quê tinha na carta, Será que eu deveria aceitar aquilo? Não me parece uma proposta tão ruim... É ruim sim! Isso é estranho...

Point of View – Last Order

A Yue estava sentada ao meu lado, e estava olhando para o chão como se estivéssemos no lugar menos perigoso do mundo!

– Yue, você acha que um pombo enorme mágico apareça e nos leve de volta para casa?

– Calma, Last. Iremos agora mesmo.

– Voando, por acaso?! Você sabe muito bem que estamos muito longe do centro da cidade, e principalmente da minha casa.

– No teleporte.

– Yue, você só teleporta de dez em dez metros, acho que demoraremos uns quarenta e cindo minutos para chegar apenas teleportando.

– Isso é verdade... Já sei!

– O quê?

– Vou ligar para a Shirai de novo.

– Você tem noventa e oito por cento de chances de ela não atender.

– Esperança é tudo na vida.

Tentei não rir da hipótese da Yue, mas foi quase impossível. Depois de ligar vinte e cinco vezes para a Shirai, ela ainda tinha a esperança de que a Shirai atendesse.

A Yue levantou do banco, e ficou andando em círculos com o celular na direção da orelha, sempre olhando para mim e com os dedos cruzados. A Yue é muito supersticiosa! A Shirai não havia atendido, mas a Yue continuava insistindo em ligar. Levantei rapidamente, e fui até a direção da Yue. Tomei a frente dela, e fiquei encarando-a.

– Yue, desiste. A Shirai não vai atender.

– Last, você não tem esperanças...

– Isso não é questão de esperança, é questão de lógica! É óbvio que a Shirai deve estar “ocupada”, se não, por que acha que ela jogaria esse trabalho nas nossas costas e depois se safaria?!

– Eu sinceramente não aprovei o quê ela fez conosco...

A Yue ficou com uma expressão de raiva no rosto e ficou olhando para o chão, mas logo voltou a olhar fixamente para mim.

– Last, vamos embora por teleporte! – Disse a Yue, tocando em minha cabeça.

No instante em que ela tocou em mim, mudamos de lugar.

– Yue... Você sabe os riscos que temos de ir através de teleporte.

– Sim... Eu sei...

A Yue pegou em meu ombro, e foi teleportanto de dez em dez metros. Aquilo já estava me dando dor de cabeça! Estar em um lugar, e em menos de um segundo já estar em outro, parece até brincadeira.

Não pude deixar de notar que uma garota bem reconhecível, estava perto daquela casa misteriosa que eu havia visto uns trinta minutos atrás. Parecia bastante com uma Sister, não dava para ver direito, pois estávamos ficando mais e mais longe de lá. Fiquei um pouco assusta, será que a Sister está me perseguindo? Ou serão muitas Sisters espalhadas por aí?! Isso está acabando comigo...

– Vou tentar ir mais rápido.

– Assim espero, ainda estamos muito longe.

– Estou começando a ficar cansada, Last.

– Yue, aguente firme! Se ficar dando pequenas pausas no meio do caminho, não chegaremos tão cedo.

– Você tem razão, Last, mas meu fôlego não vai aguentar.

Percebi que a Yue estava indo mais rápido, como ela havia dito, mas as vezes dava uma pequena pausa de dois segundos.

Isso já era o bastante para mim! Não irei fazer mais tarefa alguma da Judgment hoje! Passei pouco tempo com o Accel... Estou com saudades do meu albino. O Accel é tão fofo! Quem imaginaria que logo EU seria o plano de fundo dele?! Fiquei tão feliz quando vi aquilo, mas acho que o Accel ficou meio sem jeito, percebi o rosto corado dele.

Quando eu chegar em casa, a primeira coisa que vou fazer é abraçar o Accel! Meu albino ficou tão envergonhado com o quê aconteceu no elevador. Talvez se eu fizesse aquilo de novo o Accel poderia perder sua timidez. Admito que estou “de olho” no Accel, desde que ele voltou do hospital estou começando a ver o Accel de outro jeito... Mas acho que pra ele, sempre vou ser uma pirralha.


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