Andamos em silêncio por uns dez minutos, percebi que a pirralha havia guardado o lenço que eu tinha dado à ela, e começou a limpar o sangue da própria boca. Depois disso, começou a olhar para o lenço e guardou-o de volta no bolso.

– A-Acce...

– O quê foi, pirralha?

– Como vamos entrar dentro de casa, sem que a Kikyou perceba que...

– Não devemos satisfações à ela, pirralha.

– H-h-h-hum...

– O quê é?!

De repente, a Last Order começou a andar mais rápido e tentando esconder o rosto. Ela apontou para uma mulher alta de cabelos castanhos, que usava óculos e trajava uma roupa azul.

Eu não entendi o quê ela estava tentando dizer, parecia que estava com medo daquela mulher, ou algo parecido. Eu não estava conseguindo acompanhar o ritmo que ela estava andando, então puxei seu braço.

– O quê está querendo fazer, pirralha?

– Vamos, Acce! Ande o mais rápido que puder... – Disse ela baixando o tom de voz.

– Por quê?!

– Shh! – Disse a Last Order com um dedo na boca, pedindo silêncio.

Eu não disse nada, apenas fui andando junto com ela. Quando estávamos mais ou menos dez metros longe da “tal mulher”, ela aumentou o tom de voz e tirou a mão da cara.

– É a supervisora do dormitório de Tokiwadai. Eu deixei uma “Misaka Last Order falsa” por lá, e se ela descobrir que não estou em Tokiwadai... Serei castigada!

– Como é?! – Perguntei confuso, e tentando esconder o riso.

– Shiu! – Disse a Last Order, colocando sua mão direita em minha boca.

Olhei para trás, e percebi que a mulher ainda estava distraída com algumas revistas, então tirei a mão da Last Order de minha boca.

– Por favor, não me entregue! Não quero voltar para lá hoje...

– Por quê? – Perguntei desconfiado.

– H-h-h-hum... E-e-er... Porque não!

Eu ainda estava segurando a caixa de curativos, então peguei na mão da pirralha, e entreguei a caixa para ela.

– Obrigada, Acce. – Disse a Last Order com um tom de voz baixo, e sorrindo.

– N-n-na...

Antes que eu pudesse completar a palavra que iria dizer, a pirralha ficou na ponta dos pés e me deu um beijo na bochecha. Coloquei minha mão onde ela havia beijado e fiquei olhando para outra direção, para ela não notar minha cara “sem graça”.

– O quê você iria dizer, Acce?

– E-e-esquece...

A pirralha puxou o meu braço e pegou em minha mão, e fomos andando de mãos dadas. Comecei a suar e a tremer, mas eu já tinha comido! Por que eu estava assim?! Fiquei olhando para outra direção, tentando esconder minha tremedeira louca.

– Você está com frio, Acce?

– F-f-f-frio?! N-n-não!

A pirralha tinha notado! Vou admitir... Ela sempre nota! E desta vez não perguntei o porquê, ela com certeza iria falar “Porque você está tremendo”.

Enquanto andávamos, a Last Order deixou cair uma de suas moedas “riscadas” no chão. Abaixei para pegar, mas não percebi que ela também tinha abaixado. Quando percebi, o rosto da Last Order estava um palmo de distância do meu, então rapidamente levantei.

A pirralha estava me deixando constrangido a cada minuto que passava! Já estávamos em silêncio por quinze minutos, até que a pirralha resolveu quebrar o silêncio.

– Quantos anos você tem, Acce? – Perguntou a pirralha com uma expressão curiosa no rosto.

– Q-q-q-que pergunta é essa?! Pra quê você quer saber?

– Curiosidade – Respondeu ela, sorrindo.

– S-s-se eu não me engano... Vinte... e dois...

– Você não parece ter vinte e dois anos... – Disse a pirralha tentando esconder o riso.

– Como é?

– Você parece bem mais novo. – Retrucou a pirralha sorrindo.

– T-t-t-tanto faz!

Continuamos andando, e a pirralha me fazendo perguntas inúteis. Qual a necessidade de saber minha idade?! Isso me incomoda bastante...

– Você gosta de biscoitos, Acce? – Disse a pirralha tentando esconder o riso.

– Que perguntas são essas, pirralha?!

– São perguntinhas básicas...

– São “perguntinhas” anormais!

Depois de tanto andar e andar, finalmente estávamos chegando em nossa rua. A pirralha resolveu ir na frente, e neste mesmo instante, o vento começou ficou mais forte, e a saia da pirralha levantou-se. Foi naquele momento, que eu descobri que a pirralha não usava shorts por baixo da saia... Ela virou-se para trás, e segurou a saia.

– Você não viu nada, não foi? – Disse a pirralha sorrindo.

– N-n-n-não... – Respondi à ela, tentando olhar para qualquer coisa, além da Last Order.

– Me parece que você está mentindo...

– Hum... Falou a pessoa mais mentirosa que eu conheço...

A Last Order riu.

Quando estávamos perto da casa, avistamos o portão aberto. Eu e pirralha nos olhamos com expressão suspeita, e em menos de cinco segundos, a pirralha estava correndo até lá. Fui atrás dela, andando o mais rápido que pude, e ao chegar lá, a Last Order estava parada em frente ao portão, esperando que eu entrasse junto á ela.

Fui na frente da pirralha, e em seguida fomos andando devagar pelo jardim. A porta da frente estava aberta, e ao entrarmos, avistamos a Aiho e outras sete pessoas trajando o uniforme da Anti Skill, sentados no sofá e conversando alto até demais!

Quando eu e a Last Order entramos, todos param o quê estavam fazendo e focaram em nós dois!

– Last Order? Accelerator?!

– O-o-o quê?! – Eu e a pirralha respondemos juntos.

– Onde vocês estavam? – Perguntou a Aiho.

– O Acce e eu fomos comprar refrigerantes. – Disse a pirralha sorrindo.

– E o meu? – Perguntou a Aiho.

– Como é?! – Respondi tentando esconder o riso.

A pirralha ficou olhando para mim com uma expressão confusa, mas estava rindo.

– Aproveitem que já estão na porta... E comprem um refrigerante pra mim.

Era só o quê me faltava! A pirralha pegou em meu braço, e foi correndo até o portão.

– Vamos, Acce. – Disse a pirralha sorrindo, e me puxando pelo braço.

– Por que aceitou em ir comprar o maldito refrigerante dela?!

– É uma oportunidade de sair sem precisar armar uma fuga.

– Qualquer um pode fazer isso.

– Não mesmo. A supervisora não me deixa sair de Tokiwadai e a Kikyou está estranha ultimamente...

Ela sempre foi estranha! A única coisa que discordo na Kikyou é o fato de ela ser muito curiosa!

Não entendo a “sorte” que a Last Order tem! Ela foge de Tokiwadai, e não é descoberta; foge pela janela, e não é descoberta; Mente, e também não é descoberta!

Havia uma máquina de refrigerante perto, então e peguei no baço da pirralha, e fui andando o mais rápido que pude.

– Por que está com tanta pressa? – Perguntou a pirralha sorrindo.

– Será que não percebe que eu estou cansado de ficar andando por aí?! E por quê não está com pressa?

– Porque a noite é uma criança.

– Mereço!