O Grande Palco da Vida - Live escrita por Celso Innocente


Capítulo 17
Lançamento Oficial.




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Como combinado, liguei na produção do programa Lauro Castro e consegui acertar a gravação do lançamento de seu disco na televisão no dia trinta de Janeiro, no período da tarde. Com isto, resolvemos deixar para ir à gravadora no mesmo dia pela manhã.

Às nove horas da manhã do dia combinado, estávamos na gravadora e tomamos ciência de que João Batista estava no estúdio acompanhando gravação, então seguimos a seu encontro, aonde chegamos por volta das dez horas e o encontramos entre os músicos e uma famosa dupla de cantores sertanejos, que produziam o playback de um novo disco.

João Batista nos cumprimentou e nos apresentou a todos os demais. A seguir, perguntou a Regis:

— E a namorada, como está?

— Qual delas? — deu de ombros, o pequeno.

— Qual?! Tá tão famoso assim que já tem namoradas pra escolher?

— Famoso ainda não! Elas gostam mesmo é do charme do menino aqui!

— Ah garanhãozinho! Me dá um beijinho!

— Sai de mim oh! Sou macho!

— Ai machinho! Como estão as namoradas, machinho?!

— Muito bem! Elas e eu também! Obrigado!

— Não perguntei de você! Não faço muita questão em saber de... machinhos!

— Um dia o senhor me disse que não gosta de mulheres!

— Isso foi um dia, hoje é outro dia! Mas diga lá, como está nosso artista machão? Fazendo muitos shows?

— Nenhum ainda! — negou Regis.

— Como não?! Está perdendo tempo! Aperte seu empresário, garoto!

— Viemos aqui, justamente pra falar com o senhor a esse respeito — alegou Regis.

— Nem me venha com rolo! — protestou ele. — Já fiz a minha parte!

— Podemos conversar! — Insistiu Regis, de um jeito até bravo.

— Não gosto de falar com homens!

— Mas nós gostamos! — ironizou o menino.

— Marcos, venha cá, por favor! — chamou João Batista.

O técnico de som apareceu.

— Este garotinho lindo quer falar com você.

— Sobre?

— Não sei! Ele quer falar com um homem. Como eu não falo com homens...

— Nós queremos falar é com o senhor! — protestou Regis. — E é sério! Além do mais, ainda não sou nenhum homem!

— Já desconfiava — riu o produtor tentando abaixar o short do garoto. — Deixe-me ver o que você tem no lugar do... minhoco! (Em referência a última música gravada em seu long-play).

— Eu sou criança! Sou um menino! E vou ser muito macho quando crescer! — insinuou ele escapando das garras do produtor.

— Vamos conversar na sala ao lado — chamou João. — Aqui está muito bagunçado.

Seguimos até a sala de espera que ficava ao lado, arranjamos três cadeiras e sentamos.

— Qual o motivo de honrosa visita? — Perguntou tal produtor.

— Que tal o disco de Regis? — perguntei-lhe. — Divulgando bem! Vendendo bem!

— Colocamos o disco praticamente no Brasil inteiro. Tanto em lojas pra vender, como em rádios pra divulgação. O investimento foi pesado. Cinquenta mil, meu! Evaporou igual água esquecida em chaleira fervendo. Estamos acreditando muito nesse menino lindo!

— Estou ouvindo a Rádio Nacional há uma semana e não ouvi nenhuma música minha por lá! — negou Regis.

— Ah não, é!? — retrucou o produtor. — E nem vai ouvir! Nem tem disco seu lá!

— Como não? — espantou-se Regis; afinal era uma das maiores rádios sertanejas do Brasil.

— Sonhar é lindo, garoto! Sonhar é preciso! Mas esqueça! Rádio Nacional, Globo, América... Se eu mandar seu disco pra eles, vão quebrar e jogar no lixo!

— Hem! — entristeceu-se o menino.

— Sejamos realista! Seu disco tem que ir pras rádios pequenas! Rádios de sua cidade e de onde você é conhecido! As rádios potentes só tocam José Rico, Tonico e Tinoco, Chitãozinho, Leandro e Leonardo...

— Eles vão me tocar! — franziu o nariz, o menino. — O senhor vai ver!

— Claro que vão! Lá pelo terceiro disco. É pra isso que eu vou batalhar! E você também! Não basta ter seu disco nas pequenas rádios! Vá lá! Faça presença! Ligue! Peça músicas! Faça shows! Nem que for de graça em praças públicas!

— O disco está sendo bem aceito? — interferi.

— Muito bem aceito! Graças a ele ser criança. Só não gostei de ele ter só dez anos de idade!

— Oito — corrigiu Regis. — Quase nove!

— Pois é! Seria melhor se tivesse doze! — pensou um pouco. — Pelo menos iria gostar das garotas!

— Eu gosto mesmo é de meu disco! — reclamou o menino.

— Então prove isso, meu machinho! Não dependa só da gravadora! Não pode dar moleza! Precisam se apresentar em programas de rádios... Na televisão… divulgar… fazer shows… Esse menininho lindo precisa mostrar a cara, pra eu ganhar dinheiro com ele! Quantos shows vocês já fizeram?

— Como Regis disse, nada ainda! — neguei.

— Como não? O empresário está fraco! Precisam trabalhar!

— É sobre isso que viemos falar — aleguei. — O senhor sabe que somos pobres. Precisamos divulgar, fazer shows... tudo. Mas pra isso precisamos de um carro.

— Financie um! Procure um banco!

— Com qual salário? — perguntei-lhe. — O meu não é suficiente pra financiar nem a metade de um carro usado!

— E o salário do pai de nosso pequeno tocador?

— Papai ganha menos da metade do salário de Willian.

— O senhor não poderia oferecer um contrato a Regis?

— Não dá! — negou ele sério, virando a cadeira giratória, fugindo de nossos olhos como Drácula foge da luz. — Pro primeiro disco não dá!

— Precisamos de recursos! — insisti.

— Nós já investimos muito dinheiro no garoto. Só em discos que estamos distribuindo grátis por este Brasil afora, é uma nota preta. Vocês precisam lutar pra conseguir fazer sucesso. Eu garanto que estou dando minha força. Agora, pro segundo disco, que deveremos lançar ainda no final deste ano, aí sim, a gente faz um bom contrato, não exige pagamento pra gravação. Tudo será mais fácil. Por enquanto, vocês serão obrigados a batalhar.

— Sem carro não dá! — negou Regis. — Adeus sonho de ficar famoso.

— Tem que dar um jeito, garoto! — insistiu João Batista. — Não se pode desanimar não! Tá pensando que é só depenar o sabiá?

— A gente tá falando sério! — reclamou Regis.

— E eu também estou!

— Tá parecendo que o senhor não leva nada a sério! — retrucou Regis.

— Mas levo tudo muito a sério sim, pivetinho. Como já disse, você precisa me fazer ganhar dinheiro pra cobrir meus gastos, se não meus patrões cortam meu pescoço. Posso até fazer um negócio a vocês. Não com dinheiro, que eu não tenho. Mas posso fazer do tipo de um contrato, como se você ganhasse um salário xis da gravadora. Este documento servirá apenas pra que vocês financiem um carro. Garanto que só com o dinheiro dos shows, dá pra pagar o carro. Mas veja lá, o contrato só terá valor pra financiarem um carro; não venham querer criar caso comigo na justiça. Vocês devem saber que nem uma gravadora faz contrato com artista de primeiro disco.

— De quanto o senhor fará o contrato?

— Quando pode custar um carro novo?

— Uns trezentos e cinquenta mil cruzeiros.

— Um contrato de setenta mil dá pra financiar um carro zero. Não dá?

— Creio que sim — aleguei.

— Vou telefonar na gravadora e peço à menina pra preencher. Só tem um problema, eu preciso assinar e não posso agora. Faça o seguinte, deixem o endereço que lhes mandarei pelo correio.

— Tudo bem! — insinuei. — Mas eles irão financiar um carro a Regis?

— Por quê?

— A idade dele.

— Claro que não! A gravadora também não pode contratar exclusivamente o Regis. Torna-se necessário que um maior seja o responsável por ele. No caso, pode ser você ou o pai dele. Quem vocês preferem?

— Willian, é claro! — foi incisivo o menino.

— Está bem! Eu mando pra vocês o mais rápido possível. Estão de acordo?

— Claro! — concordei.

— Apesar de eu confiar, principalmente neste gatinho — passou a mão no rosto de Regis. — Vou fazer dois contratos, um lhe concedendo a remuneração de setenta mil cruzeiros e outro, cobrando de vocês setenta mil cruzeiros, a título de divulgação. Isto é apenas uma garantia que preciso, pra que não venhamos a ter problemas na justiça. Eu te pago, você me paga. Se você não fugiu da escola, quanto que dá essa conta, gatinho?

— Zero! — respondeu o menino.

— Tudo bem então?

Era lógico que estava. Em um pedaço de papel usado, deixei nossos dados para os tais e justos contratos.

— Hoje à tarde, estaremos gravando o lançamento do disco, no programa Lauro Castro— disse Regis.

— Ótimo! — concordou animado o produtor. — É o melhor programa pra se divulgar disco de criança. Isso significa que vocês estão batalhando! Lauro Castro é cobiçado por centenas de crianças todas as semanas, pra se apresentarem! Se vocês conseguiram esta façanha, parabéns!

— Eu já me apresentei no Lauro Castro! — foi incisivo, o garoto.

— Sei disso! E na escola? Você é bom?

— Dez! — respondeu prontamente.

— Sabia que a criança artista geralmente se dá muito bem na escola?

— Regis é muito bom aluno! — afirmei.

— A criança artista, pelo fato de precisar estudar muito, violão, canto, coreografia... Acaba se dedicando muito à escola, se tornando excelentes alunos! Parabéns pelo seu esforço, garoto!

— Obrigado!

— Vamos nos dar muito bem! Agora me dá um beijinho!

©©©

Às quatorze horas, estávamos nos estúdios do programa Lauro Castro, aonde às dezessete horas, já com roupa de apresentação, Regis era anunciado:

— Vem aí, lançando seu primeiro elepê, de São João da Boa Vista, Réééégis Moura!

Ele entrou cantando sobre playback, a música título do disco: “Em tudo vejo amor”.

Em tudo vejo amor, eu vejo o amor de Deus.

Na ave que passa a voar, eu vejo o amor.

Em uma bela flor, eu sinto o amor de Deus.

Refrão Aqui, agora, em mim e em você,

Eu sinto o amor de Deus.

Nas lindas manhãs, quando o Sol começa a brilhar.

Eu vejo o amor de Deus

Numa criança que passa a sorrir

Eu sinto o amor de Deus.

Na chuva que cão regando a plantação

Eu vejo o amor de Deus,

Nos rios, nos mares, em toda a natureza,

Eu sinto o amor de Deus.

Ao final, Lauro Castro prosseguiu:

— Rééégis Moura!

O abraçou e continuou:

— Você cumpriu sua promessa! Veio fazer o lançamento de seu disco aqui em meu programa.

— Claro titio Lauro! Não poderia ser em local melhor! Quero agradecer primeiramente a Deus, que sempre me abençoou e me guiou na produção deste trabalho. Posso agradecer mais gente?

— Claro!

— Quero agradecer ao produtor João Batista e toda a equipe da Dáblio Esse A, pelo lindo disco que criaram pra mim. Agradecer a meus pais, que sempre me incentivaram neste lindo sonho e a todos os mais, meus professores de música e escola... As emissoras de rádio por onde passei e que agora estão me ajudando nesta divulgação e principalmente a meus amigos, que gostam de me ouvir cantando e ao senhor, pelo convite e oportunidade de levar este meu sonho para todo o Brasil.

— Este disco será um sucesso indiscutível. Sua gravadora está de parabéns pela ótima produção. Porque tem muitas gravadoras que cobram um absurdo dos artistas iniciantes, gravam uma porcaria, depois entrega o disco pra eles e óh… — Fez gesto com o pé direito. — Chuta pra escanteio.

— Estou muito feliz com a produção deste disco, titio Lauro!

— Parabéns Dáblio Esse A, pelo excelente trabalho que fazem com seus artistas!

Voltou a Regis e anunciou:

— De Zaías e Mauricio, versão de Pedro Bento, Regis canta, Galopeira.

Novamente sobre playback, ele cantou muito bonito, onde Lauro Castro o acompanhou na última estrofe.

— O Brasil está precisando de jovens talentos, pra continuar nossa geração de música popular sertaneja. E Regis é um destes talentos.

Voltou ao menino e insinuou:

— Você me prometeu que seguiria meu conselho. Eu não esqueci! E você, ainda se lembra dele?

— Claro! Jamais me esquecer das pessoas que me apoiaram e nunca permitir que a fama e o sucesso me transformem em pessoa orgulhosa!

— É isso! Você terá orgulho sim! Mas de ser o que você é! Terá orgulho de ter conseguido sucesso e fama! Mas jamais olhará os demais com desprezo.

— Este conselho eu seguirei com orgulho!

— O artista, por se tornar pessoa pública, tem uma responsabilidade a mais, além das demais. O artista precisa se tornar exemplo a ser seguido. Você sabia que muitas pessoas, principalmente crianças e adolescentes, se espelham em seus ídolos? Muitas vezes, passam a se vestir ou cortar o cabelo igual. Seguir seus exemplos. Portanto meu amigo Regis Moura, seja um orgulho de exemplo a ser seguido.

O menino respirou fundo, deu um pequeno assopro, dizendo:

— Puxa! Responsabilidade.

— Exatamente! Mas sua índole fará isso por você.

— Posso agradecer mais uma pessoa especial?

— Claro!

— Quero agradecer de coração meu amigo Willian Gustavo, o qual batalha comigo desde que comecei a aprender a tocar violão e cantar. Se não fosse por ele eu não teria gravado este disco. Amo você, Willian!

— Consigo sentir seu coração... Sua alma... Consigo saber que você é de boa índole.

Aproximou-se do menino e rindo perguntou:

— Sabe o que é boa índole?

Regis olhou a ele, pensou um pouco e disse:

— Não muito!

— Nem eu! — brincou Lauro.

— Minha professora disse que é o que tá dentro da gente!

— Dentro da gente? — ironizou o apresentador. — Pulmão... Coração... Rins... Fígado...

— Não isso! — negou o menino. — Sentimento... Bondade...

— Índole é relativo à criação! Significa que você é um menino que está sendo muito bem criado! Teve um berço Sagrado!

Olhando sua planilha de sequência, disse:

— Vamos cantar a última!?

— Petição!

— Sabe quem escreveu?

— Claro! Meu amigo, Willian Gustavo!

Regis era esperto e sabia que Lauro Castro valorizava muito o compositor, então para mostrar que também dava muito valor, sabia o nome de todos os compositores de suas músicas.

— Vamos lá maestro!

Jesus querido, eu gosto tanto de você.

Que é a razão de meu viver sou feliz e sei amar.

Papai do céu me ampare e me proteja,

Nunca deixe que eu seja, mau menino em meu lar.

Daí proteção a todos meus amiguinhos,

E também ao ser mesquinho, nunca deixem odiar.

Eu te agradeço, meu querido Jesus Cristo,

Pois no mundo sou bem visto e canto para te louvar.

Ao final daquela canção, Lauro Castro agradeceu:

— Obrigado Regis Moura pela visita! Seu disco será sucesso nesse Brasil! Que Deus lhe abençoe e lhe proteja sempre! Como diz em sua música, que seu papai do céu, nunca o deixe ser mau menino em seu lar. E olha que seu lar é este imenso Brasil inteiro!

Abraçou Regis e disse:

— Vamos encerrar o programa comigo!

E juntos, cantaram de autoria do apresentador Raul Gil:

“Obrigado Senhor, obrigado”,

“Por ter nos dado um programa feliz...”


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