Azul para Carmesin escrita por Medusa


Capítulo 5
Paper Cuts


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo



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Me despedi das garotas assim que anoiteceu, ainda tentava entender o que estava acontecendo, mas não conseguia seguir nenhuma linha lógica que me levasse a qualquer lugar.

O garoto, Luiz, não falou muito. Na verdade, só abriu a boca para agradecer quando Fernanda lhe deu um saco de cheetos, e depois, olhou estranho para mim quando eu disse que aquilo ia acabar matando alguém. Acho que minha descrença com comida de gente de verdade podia ser assustadora para crianças, mas no fim das contas todos nós acabamos emergindo num silêncio constrangedor.

Saí de lá andando devagar, e a cada passo a ideia de chegar em casa me parecia menos agradável.

Não muito depois de ter virado a primeira rua o encontrei. Ele tinha uma expressão cansada, e quando me viu, franziu a testa.

Eu não fazia ideia do que lhe dizer, nem mesmo se havia algo que pudesse lhe dizer, então apenas acenei e continuei andando. Aquilo não podia ser categorizado como educado.

– Melanie... – Parei e me virei para ele

– Lucas? – Continuei olhando para ele sem ação. Aquilo era estranho. Bem estranho.

– Eu só...? – Seus olhos corriam de um lado para o outro no meu rosto, e ele pareceu querer dizer outra coisa, mas apenas suspirou e se calou depois de alguns segundos perguntou: – Ele está bem?

Pensei sobre aquilo, ele estava bem. Não estava falando, estava triste, mas estava bem. Então apenas assenti confirmando, ele olhou pra mim por mais alguns segundos e então deu as costas.

– Você está? – Perguntei depois de ele ter dado o primeiro passo – Bem, eu quero dizer. Não parecer estar.

Ele parou de novo, mas não se virou.

– Quer falar sobre isso?

Ele me olhou como se eu fosse louca, depois acenou negativamente.

– Você não precisa fazer isso.

– Eu não estou tentando fazer nada, só não quero ir pra casa. – Ele franziu mais as sobrancelhas e então sorriu.

– Você devia trabalhar esse egoísmo – Eu assumi que deveria ter me ofendido com aquilo, mas ri.

– Eu poderia dizer que nunca ouvi isso antes, mas não seria verdade.

– Você mora longe, está tarde, não é seguro ir andando daqui pra lá.

– Eu não estou com pressa.

– Posso levar você... – Ele baixou os olhos, sorriu minimamente e então me olhou com expectativa – Quero dizer, andar lentamente.

–Isso não me parece egoísta – Disse, e começamos a andar lado a lado, ele sorriu balançando a cabeça negativamente enquanto olhava para mim.

– O que foi?

– Você parece... bem melhor. Melhor do que ontem.

– Ahh – Baixei os olhos me sentindo estranha – Eu não... – O silêncio caiu como uma pedra. Olhei para trás pensando em algo, não sabia o que dizer mesmo.

– Desculpa. Não parece ser do tipo que compartilha.

– É um pouco complicado – Disse escondendo o cabelo atrás das orelhas – Você pode... Esquecer o que aconteceu ontem?

– Você pode esquecer o que aconteceu hoje?

Nós dois paramos de andar. Eu não podia. Nem deveria dizer. Mas também não queria falar sobre aquilo. Seu olhar ficou vago e triste. Ele me encarou com as sobrancelhas franzidas e se recostou à parede cruzando os braços. Desviei dos olhos dele e percebi que não estávamos na rua certa.

– Esse não é o caminho para minha casa.

– Eu sei.

– Então onde estamos? – Olhei para a esquina preocupada, mas grata por termos mudado de assunto.

– Na minha casa.

Franzi o cenho e olhei para o muro onde estava apoiado, depois outra vez para a rua, e percebi por fim que era o esmo lugar onde o encontrei quando passeava com Sol e Dourado.

– Mas...?

– Eu não vou deixar você atravessar a cidade à pé.

–Pensei que morasse...

– Não – Ele me interrompeu antes que conseguisse terminar de falar – Lá é a casa da minha irmã.

Acenei em resposta, mas então estávamos de volta àquele silêncio esquisito que permeava assuntos estranhos.

– Você parece preocupado.

– Tenho alguns motivos para isso – Ele riu de uma maneira triste e sacou um chaveiro do bolso.

Fiquei esperando quando ele entrou na garagem e manobrou o carro, e então abriu a porta. De repente, me senti terrivelmente constrangida, sem conseguir parar de pensar nas minhas lágrimas na tarde passada...

– Está tudo bem? – Ele perguntou quando fechei o cinto de segurança e apenas acenei. Quando o carro entrou em movimento, abracei meus joelhos apoiando os pés no banco e olhei pra fora durante os próximos cinco minutos sentindo um nó no estômago. Aquilo estava confuso.

– Você está chorando?

– Pode dirigir mais devagar? Por favor?

– Eu não... – Ele me olhou confuso. Ele não estava indo rápido, mas estar num carro ainda me dava más lembranças, e eu realmente não queria ir pra casa. E de repente todas as preocupações voltaram a me perturbar e me senti como se estivesse chorando, mas eu realmente não tinha mais lágrimas para derramar – Mel...? Você está bem?

Não consegui responder, apenas balancei a cabeça negativamente e continuei olhando pra fora.

– Melanie? – Ele soou preocupado, e comecei a me sentir tonta, percebi alguns segundos depois que ele havia estacionado – Melanie, o que há?

Lucas abriu seu cinto, e então se inclinou longe do banco olhando pra mim, depois, afastou meu cabelo do rosto prendendo atrás da orelha e chamou meu nome outra vez. Quando não respondi ele puxou meu queixou fazendo-me encará-lo.

– Ei, o que está acontecendo?

– Eu não sei... Só acho que... – Neguei com a cabeça sem saber o que dizer, me sentia estúpida por estar tão confusa, e triste e alta.

– Você é claustrofóbica? – Perguntou franzindo as sobrancelhas. Demorei alguns segundos pra entender pergunta e então ri escondendo rosto nas mãos. Ele pareceu irritado no início, mas logo estava rindo também.

– Estamos bem, ou não estamos? – Ele perguntou e eu realmente não saberia responder, apenas abri o cinto e depois a porta do carro, saí e quando a fechei, me recostei à este apoiando o rosto nas mãos novamente. Respirei fundo e olhei em volta, não havíamos nos distanciado muito.

– O que acabou de acontecer?

Lucas estava de pé à minha frente, tão perto que eu precisava olhar pra cima pra ver seu rosto.

– Eu acho que ainda não consigo lidar com automóveis...

– O quê? – Ele franziu o cenho e outra vez afastou o cabelo do meu rosto.

– Meu irmão morreu num acidente há algum tempo – Eu não sabia por que estava contando aquilo, mas era a segunda vez na semana que alguém parecia se preocupar e era o mesmo alguém.

Ele ficou calado me observando por algum tempo, depois deu mais um passo, sua mão repousou no meu rosto, emergindo no meu cabelo e então ele se inclinou e beijou minha testa.

– Não vai doer pra sempre – Ele sussurrou e seu hálito quente soprando meu cabelo realmente fez parecer que ia ficar tudo bem.

– Eu sinto que vai.

– Depois de um tempo, você se sente mal por não se sentir mal – Ele sustentou meu olhar e senti que aquilo já podia estar acontecendo. Ele sorriu e olhou para o seu braço, para parte superior onde começavam as tatuagens. Franzi o cenho e corri os dedos pelo Sol debaixo do passáro azul.

– Viu? Por mais escura que seja a noite, o sol sempre vai voltar.

– Quem você perdeu? – Sussurrei sem conseguir coragem para encará-lo, ainda correndo os dedos pela tatuagem.

– Minha mãe. Já faz algum tempo.

– Eu não acho que o tempo vá me curarde qualquer forma.

– Pode ser que não cure. Minha irmã, Jéssica. Você a viu hoje. Ela nunca se recuperou. Mas quais são as opções?

Respirei fundo. Como tínhamos chegado aquilo? Eu nunca tinha conversado com alguém sobre como eu realmente me sentia a respeito daquilo.

– Vamos, não temos o dia todo e pelo visto precisamos andar.

– Tem certeza, está perto e...?

– Você acha que vou deixar você sozinha?

– Eu não... – Olhei para os lados – Não acho que deveria deixar seu carro aqui.

– Você consegue aguentar dez minutos? Poderia fazer em cinco, mas acho que você tem um problema com a velocidade.

Ri balançando a cabeça.

– Vamos andar – Concordei – Aproveita e me conta a história das outras tatuagens...

– Não, não. Isso me deixaria em desvantagem – Nós começamos a andar outra vez – Me fala sobre você, algo legal, o que você gosta de fazer?

– Eu? – Pensei sobre aquilo. De certo era outro problema, era melhor não pensar em problemas, tentei me concentrar em procurar algo que realmente se enquadrasse em "algo que eu gosto"

– Olha... Eu gosto de tirar fotos...


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Notas finais do capítulo

E, então?



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